sábado, 12 de julho de 2008

Hércules - O herói dentro de nós.


Fanny Zygband

A saga de Hércules, que foi imortalizado ao realizar com sucesso 12 árduas tarefas, é uma das passagens mais conhecidas da mitologia da antiga Grécia. O herói enfrentou a ira dos deuses e lutou contra seres horríveis para transcender sua condição de simples mortal. “Hércules não aceitava a imperfeição de sua condição humana e saiu em busca de algo maior, transcendental, assim como muitos de nós fazemos hoje. À primeira vista, o mito parece apenas um relato fantástico, mas por meio dele podemos descobrir formas de superar desafios”, acredita o professor Efraim Rojas Boccalandro, coordenador do curso de mitologia grega da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.“O mito de Hércules ensina que nós também podemos vencer nossos defeitos e nos tornar pessoas melhores, mais éticas e dignas. Esse caminho exige esforço, persistência e coragem, principalmente para encarar monstros internos, como a agressividade, o egoísmo e a falta de respeito ao próximo”, interpreta Viktor Salis, grego radicado em São Paulo, especialista em mitologia grega e autor do livro Os Doze Trabalhos de Hércules para o Caminho do Herói em Busca da Eternidade (edição do autor).Superar obstáculosO herói era filho de Zeus, deus supremo, e de uma mortal. Por isso, tornou-se alvo do ódio e das armadilhas da ciumenta Hera, esposa de Zeus, que não poupou esforços para destruir Hércules. Foi por causa dos estratagemas de Hera que o herói se viu obrigado a realizar os 12 trabalhos. E, embora tenha alcançado grandes vitórias, Hércules amargou também várias derrotas. “O que o distingue é sua maneira de encarar os desafios. Em vez de imobilizá-lo, os obstáculos funcionavam como alavanca, levando-o a se superar. É outra lição que podemos aprender”, afirma a paulista Ana Figueiredo, colaboradora da Fundação Joseph Campbell, instituição americana dedicada ao estudo dos mitos.Apesar de Hércules ser retratado como um homem extremamente musculoso, muitas de suas vitórias foram fruto não de sua força, mas do uso da inteligência e da sabedoria. Doze tarefasOs desafios enfrentados por Hércules são metáforas das diversas fases do processo de desenvolvimento interior. Eles estão relacionados aos 12 deuses do Olimpo, o panteão divino dos gregos, e com os 12 signos do zodíaco, que representam forças cósmicas. Para o especialista em mitologia Viktor Salis, os trabalhos podem ser divididos em quatro etapas.Os três primeiros tratam da violência, dos vícios e da criação de limites. O quarto, o quinto e o sexto estão relacionados com a descoberta dos talentos, com ritos de purificação física e mental e com a transformação do instinto em intuição. O sétimo, o oitavo e o nono trabalhos, por sua vez, falam da sexualidade e da arte de amar. Enquanto o décimo, o décimo primeiro e o décimo segundo são dedicados à criação, ao desapego e à conquista da espiritualidade.Conheça a seguir as façanhas do herói:


1 O leão de Neméia: o aperfeiçoamento começa dentro de nósO desafio de Hércules foi vencer um leão de pele invulnerável, que devastava rebanhos e devorava todos os que tentavam matá-lo. Aconselhado por Atena, deusa da sabedoria, a não usar a força, o herói estrangula a fera em sua caverna. “Nesse teste, Hércules ensina que a luta pelo aperfeiçoamento começa dentro de nós. Os leões de hoje são a violência e a agressividade e o desafio é buscar a harmonia, procurando antes de mais nada nossos recursos internos”, explica o mitólogo Viktor Salis.

2 A hidra de Lerna: combate aos víciosHércules teve de destruir um monstro de nove cabeças que soltavam fogo: oito renasciam quando cortadas e a nona era imortal. O herói decepou as oito cabeças enquanto um amigo as cauterizava com fogo. A nona foi enterrada, mas vigiada eternamente por Hércules. “As cabeças simbolizam os vícios. Lutamos contra eles, mas, como são imortais, se não estivermos atentos, renascem. Além dos vícios físicos, como drogas e álcool, temos de combater os vícios éticos, como a ganância”, acredita Salis.

3 O javali de Erimanto: vencer o egoísmoForam necessários dois anos para Hércules capturar um javali feroz que devastava tudo por onde passava. Esse trabalho está relacionado ao aprendizado da vida em sociedade, segundo Salis. “O javali é um monstro sem fronteiras, que não respeita limites. Cada um de nós tem dentro de si essa fera, que é preciso dominar, aprendendo a reconhecer nosso espaço e o das outras pessoas. É um teste para vencer o egoísmo e a tendência a achar que o mundo gira em torno do próprio umbigo”, interpreta o especialista

4 A corça cerinita: cultivar a delicadezaA missão de Hércules era capturar viva uma corça extremamente veloz, com chifres de ouro e cascos de bronze, que pertencia a Ártemis, deusa da caça. Orientado por Atena, o herói dominou o animal sagrado segurando-o pelos chifres. “Os chifres representam a iluminação, e os cascos de bronze, o mundo material. O aprendizado nesse trabalho é substituir os impulsos por qualidades mais nobres, como sabedoria, delicadeza e paciência”, explica Efraim Rojas Boccalandro.

5 Os estábulos de Áugias: purificação do sentimentosHércules se ofereceu para limpar em um só dia os currais imundos de um rei que possuía um rebanho numeroso. Desviando dois rios para os estábulos, Hércules cumpriu a promessa, que parecia impossível. Segundo Viktor Salis, nossa sujeira acumulada é composta por raiva, angústia e emoções negativas. “Para fazer uma limpeza interior, devemos observar diariamente e com honestidade a qualidade de nossas reações e emoções”, recomenda.

6 Os pássaros do lago Estínfalo: recuperar a lucidezPara derrotar aves antropófagas que tinham penas de bronze e as lançavam como flechas, Hércules atordoou-as com o som ensurdecedor de um címbalo. “O teste de Hércules é igual ao de qualquer um de nós: conseguir reconhecer e usar a intuição. Os pássaros simbolizam a falta de lucidez e o som é nossa voz interior. O trabalho em excesso, a pressa e o estresse são pássaros que nos atordoam. O antídoto para essa situação é nos aquietarmos para ouvir o que verdadeiramente queremos fazer”, acredita Viktor Salis.

7 O touro de Creta: governar os instintosNesse trabalho, Hércules domou o furioso touro de Creta, ao qual eram oferecidos jovens em sacrifício. Essa tarefa chama a atenção para o controle dos instintos, especialmente da sexualidade. “Hércules precisava manter o animal vivo: tinha que domar e governar seu instinto, mas não matá-lo. Em um mundo com tantos apelos eróticos e sensuais, esse é um desafio para todos, em especial para os jovens”, diz Salis.

8 As éguas de Diomedes: a arte de amarHércules teve de enfrentar quatro éguas que se alimentavam de náufragos estrangeiros. Como no trabalho anterior, esse é mais um passo para o herói se aperfeiçoar na arte de amar. “Essa é uma iniciação: aprender a entregar o coração com sinceridade, não se deixar levar pela tentação, movido apenas pela atração física”, afirma Viktor Salis.

9 O cinturão de Hipólita: a coragem de ser autênticoA missão do herói era conseguir o cinturão da rainha das amazonas, mulheres conhecidas por sua bravura. Mas não poderia obtê-lo pela força: precisaria ganhá-lo conquistando o coração da guerreira. “Esse trabalho fala sobre a importância de construirmos laços afetivos duradouros”, diz Viktor Salis. “Ensina que a arte de conquistar uma pessoa não se faz pela força nem criando ilusões e falsas aparências, mas pelo respeito ao outro e pela coragem de mostrar quem verdadeiramente somos.”

1O Os bois de Gerião: a lição do desapegoHércules empreendeu uma grande viagem para derrotar o rei Gerião e se apoderar de seus bois. Enfrentou também o gigante Anteu, invencível porque, cada vez que tocava a terra, recobrava as forças. Para derrotá-lo, ergueu-o no ar. “Essa é uma lição de desapego, sobre derrotar a cobiça e o materialismo. Gerião e os bois simbolizam as posses. A verdadeira riqueza, que é eterna, está dentro de nós. São nossos sentimentos e valores”, explica Salis.

11 Os pomos de ouro do jardim das Hespérides: descoberta de talentosO herói teve que superar vários percalços para obter os frutos de ouro de uma árvore maravilhosa, que representam a força fecunda e criadora dos homens, protegidos por um dragão imortal. “Assim como Hércules teve que ir aos extremos do mundo para descobrir esses frutos, nós também precisamos fazer uma viagem a nosso mundo interior para descobrir nossos talentos e potenciais, que são os pomos de ouro”, diz Salis.

12 A captura de Cérbero: valorizar as qualidades da almaO desafio era descer ao inferno para vencer Cérbero, cão de três cabeças que guardava o Mundo Inferior. O herói agarrou o animal pelo pescoço e não o soltou até que concordasse em acompanhá-lo. “Esse trabalho fala da imortalidade. Ensina que o corpo pode perder o viço, mas a alma deve irradiar cada vez mais a beleza construída ao longo dos anos. É um ensinamento importante para estes tempos, em que o envelhecimento e as transformações do corpo não são aceitas com naturalidade”, conclui Salis.
Imagem retirada de : http://www.occultopedia.com/images_/hercules.jpg

Histórias de Amor no Reino da Filosofia

Suely Monteiro

Existiu certa vez, nos tempos em que nossa memória não alcança a não ser por meio de muito esforço, um poderoso deus, senhor de todos os deuses e de todos mortais da época. Era muito diferente de nós com seus poderes, mas possuía muitas de nossas características, as emocionais, principalmente. Forte, decidido, nasceu para dominar e começou a vida destronando o próprio pai. Seu nome: Zeus - o Senhor do Olimpo.

Zeus, apesar de seus poderes e força, não conseguia resistir aos encantos femininos e mesmo tendo se casado com Hera, consagrou-se a aventuras extraconjugais (naquela época este termo nem havia sido criado), o que certamente não agradavam nem um pouco a sua ciumenta esposa.

Nas suas muitas idas e vindas pelo seu grande reino deparou-se com a jovem Leto, filha dos Titãs Coeus e Phoebe e que possuía o feitiço da lua, como aliás, quase todas as mulheres.

Leto encanta Zeus que não resiste à paixão e tem com ela dois filhos, para desespero de Hera que, em vão, tudo faz para impedir o nascimento dos gêmeos. Hera ficou tão furiosa que determinou à Gaia não ceder lugar para que Leto gerasse seus filhos. O cerco apertou e a titã teve que fugir para a Ilha de Ortigia, onde finalmente deu à luz à Ártemis e Apolo.

Cronos, que comandava o tempo, fez com que ele transcorresse célere para que os infantes crescessem e se transformassem em dois jovens e belos orgulhos para seus pais. Mas, mesmo naquele distante reino a vida era cheia de mistérios e imprevistos.

Ártemis se apaixona perdidamente pelo gigante Órion. Apolo enciumado repreende várias vezes à irmã, exigindo que ela abdicasse daquele amor. E, exatamente como acontece nos dias atuais, nenhuma das partes cedeu.

Um dia, estando os dois irmãos na praia, Apolo a desafia a atingir um longínquo ponto negro no horizonte. Ártemis, vaidosa, retesa o arco e lança a flecha atingindo o alvo. Imediatamente as águas do oceano se tingem do sangue de Órion que nadava fugindo do escorpião enviando por Apolo para persegui-lo.

Ao perceber o que fizera a deusa fica desesperada. Pede auxilio ao Pai. Zeus compadece da filha e transforma Órion em constelação para do alto ele iluminar, sempre, o caminho da bela caçadora.

É a partir daí que a deusa desiste de amar qualquer outro deus ou mortal.

Passa a viver pelas florestas acompanhada de suas ninfas, seu cão , vestida com uma túnica, trazendo na cabeça um crescente e suas flechas.

Mas é o irmão enciumado, o que foi feito dele?

Apolo passou à contemporaneidade com muitos títulos e dentre eles, o de deus da Verdade, da Luz, do Sol, do Pastoreio, da Beleza da Poesia das Artes e da Medicina.

Tornou-se, desde os tempos remotos, um modelo de moderação. A antiguidade ofertou-lhe (e à irmã também) muitos templos. Ele distribuiu entre os mortais os dons da profecia. Deixou uma receita simples de purificação de ambientes que, dizem, durante muito tempo os sacerdotes a usaram com sucesso. Segundo contam bastava queimar a folha do loureiro e espargi-la no ambiente para acabar com todas as impurezas e mal fluidos. Não se sabe como exatamente, a receita caiu em domínio público e, creio que ainda hoje é usada pela população.

Interessante é que Apolo, apesar da beleza estonteante e do envolvimento com belas ninfas, não teve muitos êxitos sexuais. Teve um único filho, Asclépio, que se dedicou à medicina.

O deus Boato espalhou que o belo Apolo, em sua longa trajetória até os nossos dias, continua a dedicar parte do seu tempo aos jovens, auxiliando-os na difícil travessia da puberdade. Veste-se somente com a túnica da pureza que lhe deixa transparecer a beleza escultural. É, portanto, um deus perfeito!
Imagem Artemis/Diane, de Versailles. Retirada da Wikipedia (domínio público) em 09-07-08.

Os Paraísos.




Da Ilha de Lesbos que abrigou, no exílio, Safo, a grande musa da Grécia , é possível avistar o Olimpo, de onde Zeus administrava seus súditos.

A poetisa cantou e encantou não apenas os povos da antiguidade, mas continua nos dias atuais a envolver em doce esperança os corações que amam e que desejam a felicidade do amado. Sem convites para integrar o Olimpo, Safo, integra os corações indepentemente de onde se encontrem e, desta forma, mesmo sem ser empossada, sem imortaliza como uma grande deusa.
Imagem retirada da Wikipedia enciclopedia livre da internet.

terça-feira, 8 de julho de 2008

A Décima Deusa - Safo com Alceo.




Ricardo Sérgio

Irremediavelmente, como à noite estrelada segue a rosada aurora, a morte segue todo o ser vivo até que finalmente o alcança...
Psappha - como assinava, no dialeto eoliano - foi a maior poetisa lírica da Antigüidade. Nasceu em Eresso, na ilha grega de Lesbos, por volta do ano de 612 a.C. (século VII). Ainda menina mudou-se para Mitilene, capital da lésbia e ativo centro cultural grego. Na capital, Safo estudou dança, retórica e poética, o que era, então, permitido só a mulheres da aristocracia. Em 593 a.C., juntamente com Alceu e outros cidadãos influentes, foi deportada para a cidade de Pirra (ilha de Lesbos) por conspiração urdida contra o ditador Pitacos. O ditador, temendo-lhe a escrita, condenou-a a um exílio mais distante, na Sicília.
No primeiro exílio, consta que Alceu lhe enviou um convite amoroso:

" Oh! pura Safo, de violetas coroada e de suave sorriso, queria dizer-te algo, mas a vergonha me impede."

Safo lhe respondeu:

"Se teus desejos fossem decentes e nobres e tua língua incapaz de proferir baixezas, não permitirias que a vergonha te nublasse os olhos - dirias claramente aquilo que desejasses".

Não se sabe se esta “paquera” de Alceu teve conseqüências. Mas, certo é, que ele lhe dedicou muitas odes e serenatas.

Safo não era dotada da chamada beleza grega - embora Sócrates a houvesse denominado "A Bela" –, pois, era baixa e magra, olhos e cabelos negros, e de refinada elegância.

Em Metilene, Safo montou uma escola para moças, onde lecionava poesia, dança e música - a primeira escola de aperfeiçoamento da História. E a mestra apaixona-se por suas alunas, que eram chamadas de hetairai (amigas) e não de alunas. Em especial, aquela que viria a tornar-se sua maior amante, Átis. Mas Atis apaixona-se por um jovem e, Safo, com ciúmes, dedica a amante os versos “À Amada”, considerados até hoje como um dos mais perfeitos versos líricos de todos os tempos (tradução de Castilho):

Ventura que iguala aos deuses,
Em meu conceito desfruta
Quem junto de ti sentada,
As doces falas te escuta,
Goza teu mago sorrir.
Quando imagino em tal gosto
É minha alma um labirinto;
Expira-me a voz nos lábios;
Nas veias um fogo sinto;
Sinto os ouvidos zunir.
Gelado suor me inunda;
O corpo se me arrepia;
Fogem-me as cores do rosto,
Como ao vir da quadra fria
Entra a folha a desmaiar.
Respiro a custo, e já cuido
que se esvai a doce vida!
Arrisquemo-nos a tudo...
Contra uma angustia sofrida
Tudo se deve tentar.

Diz a lenda (recolhida por Ovídeo) que Safo, já na idade madura, voltou a amar os homens. Existem duas versões: a primeira, é de que, apaixonada por um marinheiro chamado Faon e por ele desprezada, suicidou-se pulando, ao mar, de um rochedo da Leucádia. Na outra, Safo serenamente resignada com a sua sorte - segundo manuscrito achado no Egito - recusa um pedido de casamento:

"Se meu peito ainda pudesse dar leite e meu ventre frutificasse, iria sem temor para um novo tálamo. Mas o tempo já gravou demasiadas rugas sobre minha pele e o amor já não me alcança mais com o açoite de suas deliciosas penas."

A investigação moderna, porem chegou à conclusão que a suicida era uma homônima, igualmente de Lesbo, que foi famigerada prostituta de luxo e que viveu posteriormente. O certo é que não se sabe como, nem quando morreu Safo.

Sua poesia era considerada das mais sublimes. No entanto, devido ao conteúdo erótico, foi censurada na Idade Média por parte dos monges copistas, e sua obra (nove volumes) foi queimada pela igreja em Constantinopla, misturadas as de Anacreonte, no pontificado de Gregório VII. Só em fins do século XIX dois arqueólogos ingleses descobriram, por acaso, em Oxorinco, sarcófagos envoltos em tiras de pergaminho, num dos quais eram legíveis uns seiscentos versos de Safo. Isso é tudo o que restou de sua obra poética. Safo passa por ter inventado o modo mixolidiano, que se baseia no [si], e que se tornou o genuíno modo eólio.
Dizem que há nove musas, que falta de memória! Esqueceram a décima, Safo de Lesbos.
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Autor: Sergio Ricardo
Publicado Originariamente no Recanto das Letras em 01/04/2008Código do texto: T926790
Obs.: O título foi mudado para atender às necessidades do Blog, mantendo-se o conteúdo.
Safo de Lesbos, Poesia Completa. Rio de Janeiro, 1990.
FONTES, J.B. Eros, A Poesia de Safo de Lesbos. São Paulo: Estação Liberdade, 1991.
MALHADAS, D. & MOURA NEVES, M.H. Antologia de Poetas Gregos de Homero a Píndaro - Araraquara: FFCLAr-UNESP, 1976
SAFO DE LESBOS. Trad. P. Alvim. São Paulo: Ars Poetica, 1992.
S. Caticha Ellis, Safo, versos imortais; in, http://kplus.cosmo.com.br
Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe.


















O Senhor do Olimpo - Zeus.

Deus do céu e regente dos deuses do Olimpo, Zeus corresponde ao deus Júpiter romano.

Zeus era o filho mais jovem do Titã Cronos e Réia, e o irmão das divindades Possêidon, Hades, Héstia, Deméter e Hera. De acordo com um dos mitos antigos do nascimento de Zeus, Cronos, temendo que ele talvez fosse destronado por um de seus filhos (assim como fizera, outrora, com o seu pai), engolia-os assim que nasciam. Quando do nascimento de Zeus, Réia embrulhou uma pedra com fraldas e a deu a Cronos para que engolisse pensando que fosse seu filho, e ocultou o deus infante em Creta, onde foi alimentado com o leite da cabra Amaltéia e criado por ninfas. Quando Zeus chegou à maturidade, ele forçou Cronos a vomitar as outras crianças, que estavam ávidas para se vingar de seu pai. Na guerra que se seguiu, os Titãs lutaram ao lado de Cronos, mas Zeus e os outros deuses foram bem sucedidos, e os Titãs foram confinados no abismo do Tártaro.

Zeus, a partir de então, dominou o céu, e a seus irmãos Possêidon e Hades foi conferido o poder para dominar o mar e o mundo subterrâneo, respectivamente. A terra seria governada em comum por todos os três. Zeus se casou com Hera, sua irmã, mas teve muitas amantes, tanto humanas quanto divinas. Apareceu sob as mais diversas formas nos seus encontros com as mortais.

Para Homero, Zeus era imaginado de duas maneiras diferentes. É representado como o deus da justiça e da misericórdia, o protetor dos fracos e o punidor do mal. Como marido de sua irmã Hera, ele é o pai de Ares, o deus da guerra; Hebe, a deusa da juventude; Hefesto, o deus do fogo; e Eileitia, deusa do parto. Ao mesmo tempo, Zeus é descrito como um deus que se apaixona por uma mulher a cada instante e usando de todos os artifícios para esconder sua infidelidade da ciumenta e irascível esposa. Os relatos de suas travessuras eram numerosos na mitologia antiga, e muitos de seus filhos eram o produto de seus casos de amor tanto com deusas quanto com mulheres mortais.

Acredita-se que, com o desenvolvimento de um sentimento de ética na vida grega, a idéia de um deus lascivo se tornou desagradável e, então, as lendas posteriores tenderam a apresentar um Zeus mais comedido. Seus muitos casos com mortais às vezes são explicados como o desejo dos primeiros gregos a traçar sua linhagem até o pai dos deuses. A imagem de Zeus era representada na escultura como a figura de um rei barbado. A mais célebre de todas as estátuas de Zeus era a colossal em ouro e marfim feita por Fídias, em Olímpia, a qual foi erigida quando da realização dos primeiros Jogos Olímpicos.


Eros Mítico

Dalva de Fátima Fulgeri

“Então no princípio era o caos; depois a terra de largos flancos, base oferecida para sempre a todos os seres vivos, e Eros, o mais belo dentre os deuses imortais, aquele que desequilibra os membros e subjuga, no peito de todos os deuses e de todos os homens, o coração e a sábia vontade.”
(Hesíodo, Teogonia, in: Enciclopédia de Mitologia Greco-romana, pág.32, v. I).


O Eros primitivo é uma força de natureza espiritual. É ele quem assegura a coesão do universo nascente. É o dominador, o elemento primordial, o liame que une os elementos entre si; princípio e fonte de todo impulso gerador. Sua força fertilizadora rege o destino de todo o universo.

Eros preside a mistura das essências primárias.
Eros é o desejo insaciável, desejo de tudo unir, de tudo conhecer, a via de acesso ao reino do perfeito equilíbrio. Figura como o agente que interfere na constituição do universo e do próprio mundo. Nesta perspectiva é um principio que exerce seu poder sobre os homens, força obscura e potente, poder saudável criador de virtude. Força que não tem origem por conter em si mesma o princípio de tudo. Elemento de união entre os mortais e os imortais. Sua natureza é ao mesmo tempo forma, sentido e símbolo impalpável. O Eros de raiz cósmica, esse Eros que invade e informa, é um conceito de valor contínuo e influente.
Aparentemente não há uma separação radical, e muito menos contraposição, entre o conceito de Eros e a phisis (natureza), tendo presente o espírito em que o grego compreendia essas naturezas. Aspectos de uma mesma força vital, física, espiritual e intelectual, na qual o elemento humano, sentindo-se imerso na natureza, anseia por desvendá-la e descobrir seus mistérios; uma ânsia que visa seu desejo de imortalidade. O Eros é essa força que a tudo une em uma mesma natureza, mesma dinâmica, pertencente ao mesmo impulso que faz com que as coisas perceptíveis e sensíveis busquem assemelharem-se às verdades eternas.
A concepção mítica do Eros, entretanto, sofreu grandes transformações através dos tempos. Filósofos e poetas atribuem-lhe pais: um o faz filho da Pobreza e do Recurso, outros de Zeus e Afrodite. Primitivamente, sua representação como princípio incriado figurava como pedras toscas, despidas de qualquer elaboração. Em época posterior, por sua associação com Afrodite, Eros perde seu caráter original e passa a ser representado como um menino travesso, caprichoso, tormento dos deuses e dos hímens; estando assim de ora em diante, inseparavelmente associado à Afrodite tanto no mito quanto nas artes.

“Todos, com efeito, sabemos que sem amor não há Afrodite. Se, portanto, uma só fosse esta, um só seria o amor; como porém são duas,é forçoso que dois também sejam os amores.
E como são duas deusas. Uma a mais velha, sem dúvida, não tem mãe e é filha de Urano, é à ela que chamamos de Urânia, a Celestial;a mais nova filha de Zeus e de Dione, chamamo-la de Pandêmia, a popular. É forçoso então que também o Amor coadjuvante de uma,se corretamente Pandêmio, o Popular,e o outro Urânio, o Celestial.” (Platão,Banquete,180d.e.).


Eros enquanto associado à Afrodite figura com um duplo aspecto: Um Eros Popular que representa o instinto irrefletido que tende a satisfação dos apetites sensuais. O outro aspecto, o Eros Celestial, é o que serve à verdade, ao bem e a perfeição do amado.
Afrodite nessa simbologia, enquanto manifestação pandêmica encarna o amor erótico em seu mais amplo significado, o próprio impulso amoroso, a infinitude do amor; tanto no sentido humano da procriação, da eternização do processo de perpetuidade da geração da vida humana, bem como o próprio sentido de atração universal dos seres!
Já a Afrodite Celeste ama as belas almas, o amante de caráter bom e constante. Um Eros que não compactua com o feminino, por isso não participa do mesmo apetite sensual do Eros Pandêmio. Uma ordem espiritual promotora da atração e geração universal, harmonia dos contrários que no amor habitam.
Enquanto associada a Eros, Afrodite seria a própria revelação do mundo enquanto amor. A presença infinita do amor universal, a universalidade das possibilidades de ser.
Nessa concepção, como genitora de Eros, Afrodite personifica a que da a vida ao amor, o sentido forte da geração, gênese transcendental atuando no universo físico como processo de criação material da vida, onde Eros figura como filho e súdito.
Eros é assim, o duplo, amor e paixão, inteligível e ininteligível sob o mesmo momento e aspecto. O apelo sensual da carne e a sobriedade calma dos instintos mais elevados. Atestando que não há amor despido de paixão, atração geração, corrupção; seja divina ou humana, sensual espiritual ou intelectual, há sempre a excelência e equilíbrio do ciclo vital que o amor preside.

Dalva de Fátima Fulgeri
Licenciada em Filosofia/Unisantos

http://www.paradigmas.com.br/parad05/p4.5.htm

Foto: A jovem se defendendo de Eros - Adolphe Bouguereau - Enciclopedia livre -Wikipedia