sábado, 16 de agosto de 2008
A Oratória de vieira
É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e, quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades em que não há mal nenhum que ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro: — o pai não tem seguro o filho; o rico não tem segura a fazenda; o pobre não tem seguro o seu suor; o nobre não tem segura a honra; o eclesiástico não tem segura a imunidade; o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus, nos templos e nos sacrários, não está seguro.» Padre António Vieira , s.XVII.
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Extraido de http://www.silva.fonseca.blogspot.com/
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Platão e a Educação
Através dos programas descritos em duas das grandes obras de Platão, a República e as Leis, sabemos o que Platão pensava que deveria ser a educação.Platão, o mais famoso discípulo de Sócrates, divergiu do mestre num aspecto: não acreditava na difusão ampla, democrática da sabedoria. Para ele, ela só poderia ser alcançada pelo confinamento voluntário de aprendiz, da separação do iniciado do restante da sociedade. Nada de andar caminhando em meio a ágora (agora) tentando converter a gente comum às grandes idéias, embaraçando-as com exercício dialéticos como Sócrates costumava fazer. O conhecimento, episteme (episteme), era apanágio de alguns poucos, mantendo-se no alto, afastado do comum, como a acrópole encontra-se em relação à cidade. A fortaleza do saber demandava uma arte especial para conquistá-la, uma técnica que requeria o domínio da geometria, do raciocínio, da meditação e da reflexão disciplinada.
Na sociedade que Platão idealizou existem três classes: a classe dos artífices e comerciantes, cuja virtude é a temperança; a classe dos guerreiros, cuja virtude é a coragem e a classe dos filósofos cuja virtude é a sabedoria. Se a classe dos filósofos governar, se a classe dos guerreiros se encarregar da defesa e a classe dos artífices e comerciantes mantiver as duas outras classes, existirá harmonia e equilíbrio e a justiça poderá ser alcançada.Na República e nas Leis, para além de desenhar o seu estado ideal, Platão também define o sistema educacional que o manterá, apresentando assim as suas ideias sobre a educação, o valor da poesia e da música, a utilidade das ciências, da filosofia e do filósofo.
Platão começa por defender uma sólida formação básica que evolui até elevados estudos filosóficos, considerando que só indivíduos especialmente dotados poderiam chegar à filosofia.
Para se chegar a este nível de educação é necessário passar por um nível de formação básica, à qual terá dado o nome de educação preparatória. Esta terá por função desenvolver de forma harmoniosa o espírito e o corpo.
Segundo Platão, Atenas negligenciava a educação da juventude, desinteressava-se e deixava-a nas mãos dos particulares. O estado deveria preocupar com a formação daqueles que seriam os futuros cidadãos.
Para ele, a educação deveria tornar-se algo público, os mestres deveriam ser escolhidos pela cidade e controlados por magistrados especiais. Platão defendia ainda que a educação deveria ser igual para rapazes e raparigas, mas só até aos seis anos. A partir desta idade teriam mestres e classes diferentes.
Platão defendia que o ensino deveria durar 50 anos.Nos primeiros anos de vida, dos 3 aos 6 anos, as crianças deveriam participar em jogos educativos, em jardins especialmente concebidos para elas e sob atenta vigilância.
No entanto, para Platão, como para todos os gregos, a educação propriamente dita, só começaria aos 7 anos.
Como formação inicial, Platão conservou a antiga Paideia grega, escolha que se revestiu de enorme importância para o desenvolvimento da tradição clássica, permitindo a sua continuidade e o seu enriquecimento com a cultura filosófica.
A educação antiga da Grécia, era constituída por duas partes: gymnastiké (ginástica) para o corpo e mousiké para alma. Em relação à ginástica, Platão recrimina a função de competição que lhe fora atribuída ao longo dos tempos. Segundo ele, a ginástica deveria regressar à sua forma original, incidindo exclusivamente em exercícios de carácter militar, desempenhados tanto por rapazes como por raparigas, preparando-os para o combate. O seu programa de jogos incluia a luta, as corridas a pé, os combates de esgrima, os combates de infantaria pesada e de infantaria leve, o arremesso de flecha com arco, a funda, marcha e manobras tácticas, a prática do acampamento e a caça.
Esta preparação militar deveria ocorrer nos ginásios e nos estádios públicos, sob a direcção de monitores profissionais cujos honorários seriam pagos pelo Estado.
A ginástica seria iniciada neste nível mais elementar e continuaria até à idade adulta. A sua finalidade não era alcançar a força física de um atleta, mas contribuir para a formação do carácter e da personalidade. Platão considerava que os homens que se dedicavam exclusivamente à ginástica, acabavam por se tornar insensíveis à cultura e eram pouco mais do que selvagens.
Ainda em relação à ginástica, refira-se que Platão inclui nela todo o domínio da higiene, as indicações em relação ao regime de vida e especialmente ao regime alimentar, assunto intensamente tratado na literatura médica do tempo.
À ginástica Platão acrescentava ainda a dança, insistindo bastante na sua prática e ensino, pois considerava-a um meio de disciplinar a espontaneidade dos jovens, contribuindo para a disciplina moral.
No ciclo entre os 10 e os 13 anos, a criança deveria aprender a ler e a escrever, iniciando em seguida o estudo dos autores clássicos, integralmente ou em antologias (trechos escolhidos). Para além dos poetas, Platão defende também o estudo de autores em prosa.
Platão criticava o ensino dos poetas como Homero pois considerava que os mitos pervertiam a criança e não lhe ensinavam a virtude. Assim, para ele, as obras de poetas como Homero e Hesíodo davam uma ideia maliciosa das divindades. No período dos 13 aos 16 anos, a música ocupa um lugar de distinção. Para Platão a pessoa rectamente educada pela música, pelo facto de a assimilar espiritualmente, sente desabrochar dentro de si, desde a sua mocidade e numa fase ainda recuada do seu desenvolvimento, uma certeza infalível de satisfação pelo belo e de repugnância pelo feio, a qual o habilita mais tarde a saudar alegremente, como algo que lhe é afim, o conhecimento da verdade, quanto ele se apresentar.
A música contribui, assim, para a formação harmoniosa da alma. Segundo Platão, ela não abrange apenas o que se refere ao tom e ao ritmo, mas também, e até em primeiro lugar, a palavra falada, o logos.
O estudo das matemáticas foi sempre reservado a um grau superior do ensino. Para Platão, no entanto, as matemáticas deveriam encontrar o seu lugar em todos os níveis, começando pelo mais elementar, sendo aprofundada a partir dos 16 anos e prolongada nos estudos superiores.
Esta inovação de Platão inspira-se provavelmente nas práticas egípcias a que a ele teve acesso. Assim, à aritmética, acrescentou a prática dos exercícios de cálculo ligados a problemas concretos da vida e dos negócios. Estes primeiros exercícios possuíam já uma virtude formadora, sendo seu objectivo a aplicação da matemática à vida prática, à arte militar, ao comércio, à agricultura e à navegação.
Para além da geometria, a que dava a maior importância, Platão defende também o ensino uma ciência totalmente nova, a estereometria (cálculo do volume de sólidos). Prevê o estudo da astronomia que deveria permitir adquirir os conhecimentos mínimos para o uso do calendário. Segundo Platão, são precisamente as matemáticas que servem como meio de pôr à prova os espíritos mais aptos a tornarem-se um dia dignos da filosofia. Ao mesmo tempo que seleccionam os futuros filósofos, formam-nos e preparam-nos para os seus futuros trabalhos.
Aos 17 e aos 18 anos os estudos intelectuais interrompem-se por dois ou três anos porque aos jovens era imposto o serviço militar. Neste período, segundo Platão, a fadiga e o sono impedem qualquer estudo.
Aos 20 anos realiza-se uma selecção por meio da qual os menos dotados eram destinados ao exército; numa segunda selecção, levada a efeito mais tarde, a maioria dos jovens era encaminhada para diversas profissões e ofícios civis e só os mais dotados iniciariam os estudos superiores, mas não directamente para a filosofia. Durante ainda 10 anos, continuam o estudo das ciências, mas agora a um nível superior.
O programa é a aritmética, a astronomia e a música, a geometria (plana e no espaço). Todas estas ciências devem eliminar qualquer experiência prática tornando-se totalmente racionais, por exemplo, a astronomia deve ser uma ciência matemática e não uma ciência da observação.
As matemáticas são o instrumento da formação dos filósofos, que através dos problemas elementares de cálculo, devem ser encaminhados para um grau superior de abstracção. Platão diz que as matemáticas não devem preencher a memória com conhecimentos úteis, mas formar um espírito capaz de receber a verdade inteligível.
É interessante verificar que Platão não esquece o papel da educação literária, artística e física na personalidade e na harmonia do todo, mas este papel não tem comparação com o desempenho pela matemática na iniciação da cultura que leva à busca da verdade.
Somente aos 30 anos, no fim de um ciclo de matemáticas transcendentes e depois de um última selecção, se inicia o método propriamente filosófico, a dialéctica, discussão do problema do bem e do mal, do justo e do injusto, caminho para o conhecimento e a verdade.
Passados cinco anos os estudantes estarão na plena posse deste instrumento, o único que conduz à verdade. Os que chegarem a esta fase devem ser capazes de ultrapassar a percepção dos sentidos e penetrar o próprio Ser.
Durante quinze anos ainda, o homem já assim formado deve adquirir experiência participando na vida activa da cidade.
Aos cinquenta anos, estará completa a sua educação, se tiver sobrevivido e superado todas as provas. Ele reconhecerá a possibilidade de atingir a meta suprema que é a ideia do Bem. Poderá então exercer um cargo na direcção do estado, não como uma honra mas como um dever.
Este plano de Platão, que abarca a vida inteira, tem unicamente como objectivo formar um pequeno grupo de governantes - filósofos, aptos a tomar as rédeas do governo para o bem do estado.
Em suma, todo o sistema educativo de Platão se baseia na procura da Verdade cuja posse definirá o verdadeiro filósofo e também o verdadeiro político.
O curso de estudos, para Platão deveria ser de cinco períodos:
1º- dos 3 aos 6 anos:Prática do pentatlo (Nome colectivo de cinco exercícios que constituíam os jogos da Grécia, em que entravam os atletas: salto, carreira, luta, pugilato e disco. Dança e música para ambos os sexos).
2º- dos 7 aos 13 anos:Introdução paulatina da cultura intelectual e acentuação dos exercícios físicos. A partir dos 10 anos, aprendizagem da leitura e escrita e cálculo por processos práticos. Afasta-se assim dos costumes atenienses que começavam a educação intelectual antes dos 10anos.
3º- dos 13 aos 16 anos:Período da educação musical. O programa é dividido em duas secções: uma literária, compreendendo gramática e aritmética; outra musical, compreendendo poesia e música. Ensina-se a tocar a cítara e prefere-se a música dórica, enérgica e viril.
4º- dos 17 aos 20 anos:Período da educação militar. Os jovens deverão adquirir resistência e uma saúde a toda a prova. Será preciso harmonizar a música à ginástica, faziam-se os homens ferozes. Somente com a música, produzir-se-iam os afeminados.
5º- dos 21 anos em diante:Apenas os jovens mais capazes devem continuar a educação já com carácter superior e baseada nas Matemáticas e Filosofia. Entre eles, seleccionam-se os futuros governantes, prosseguindo sua educação até os 50 anos.
Essa educação pode ser distribuída da seguinte forma:· Dos 21 aos 30 anos: estuda-se com profundidade: aritmética, geometria e astronomia.· Dos 31 aos 35 anos: predomínio da formação filosófica e dialéctica, sem prejuízo dos estudos matemáticos.· Dos 35 aos 50 anos: O magistrado será incumbido de uma função pública e empregará os seus talentos para a prosperidade do Estado. Ninguém será admitido ao governo, antes dos 50 anos de idade.
Na sociedade que Platão idealizou existem três classes: a classe dos artífices e comerciantes, cuja virtude é a temperança; a classe dos guerreiros, cuja virtude é a coragem e a classe dos filósofos cuja virtude é a sabedoria. Se a classe dos filósofos governar, se a classe dos guerreiros se encarregar da defesa e a classe dos artífices e comerciantes mantiver as duas outras classes, existirá harmonia e equilíbrio e a justiça poderá ser alcançada.Na República e nas Leis, para além de desenhar o seu estado ideal, Platão também define o sistema educacional que o manterá, apresentando assim as suas ideias sobre a educação, o valor da poesia e da música, a utilidade das ciências, da filosofia e do filósofo.
Platão começa por defender uma sólida formação básica que evolui até elevados estudos filosóficos, considerando que só indivíduos especialmente dotados poderiam chegar à filosofia.
Para se chegar a este nível de educação é necessário passar por um nível de formação básica, à qual terá dado o nome de educação preparatória. Esta terá por função desenvolver de forma harmoniosa o espírito e o corpo.
Segundo Platão, Atenas negligenciava a educação da juventude, desinteressava-se e deixava-a nas mãos dos particulares. O estado deveria preocupar com a formação daqueles que seriam os futuros cidadãos.
Para ele, a educação deveria tornar-se algo público, os mestres deveriam ser escolhidos pela cidade e controlados por magistrados especiais. Platão defendia ainda que a educação deveria ser igual para rapazes e raparigas, mas só até aos seis anos. A partir desta idade teriam mestres e classes diferentes.
Platão defendia que o ensino deveria durar 50 anos.Nos primeiros anos de vida, dos 3 aos 6 anos, as crianças deveriam participar em jogos educativos, em jardins especialmente concebidos para elas e sob atenta vigilância.
No entanto, para Platão, como para todos os gregos, a educação propriamente dita, só começaria aos 7 anos.
Como formação inicial, Platão conservou a antiga Paideia grega, escolha que se revestiu de enorme importância para o desenvolvimento da tradição clássica, permitindo a sua continuidade e o seu enriquecimento com a cultura filosófica.
A educação antiga da Grécia, era constituída por duas partes: gymnastiké (ginástica) para o corpo e mousiké para alma. Em relação à ginástica, Platão recrimina a função de competição que lhe fora atribuída ao longo dos tempos. Segundo ele, a ginástica deveria regressar à sua forma original, incidindo exclusivamente em exercícios de carácter militar, desempenhados tanto por rapazes como por raparigas, preparando-os para o combate. O seu programa de jogos incluia a luta, as corridas a pé, os combates de esgrima, os combates de infantaria pesada e de infantaria leve, o arremesso de flecha com arco, a funda, marcha e manobras tácticas, a prática do acampamento e a caça.
Esta preparação militar deveria ocorrer nos ginásios e nos estádios públicos, sob a direcção de monitores profissionais cujos honorários seriam pagos pelo Estado.
A ginástica seria iniciada neste nível mais elementar e continuaria até à idade adulta. A sua finalidade não era alcançar a força física de um atleta, mas contribuir para a formação do carácter e da personalidade. Platão considerava que os homens que se dedicavam exclusivamente à ginástica, acabavam por se tornar insensíveis à cultura e eram pouco mais do que selvagens.
Ainda em relação à ginástica, refira-se que Platão inclui nela todo o domínio da higiene, as indicações em relação ao regime de vida e especialmente ao regime alimentar, assunto intensamente tratado na literatura médica do tempo.
À ginástica Platão acrescentava ainda a dança, insistindo bastante na sua prática e ensino, pois considerava-a um meio de disciplinar a espontaneidade dos jovens, contribuindo para a disciplina moral.
No ciclo entre os 10 e os 13 anos, a criança deveria aprender a ler e a escrever, iniciando em seguida o estudo dos autores clássicos, integralmente ou em antologias (trechos escolhidos). Para além dos poetas, Platão defende também o estudo de autores em prosa.
Platão criticava o ensino dos poetas como Homero pois considerava que os mitos pervertiam a criança e não lhe ensinavam a virtude. Assim, para ele, as obras de poetas como Homero e Hesíodo davam uma ideia maliciosa das divindades. No período dos 13 aos 16 anos, a música ocupa um lugar de distinção. Para Platão a pessoa rectamente educada pela música, pelo facto de a assimilar espiritualmente, sente desabrochar dentro de si, desde a sua mocidade e numa fase ainda recuada do seu desenvolvimento, uma certeza infalível de satisfação pelo belo e de repugnância pelo feio, a qual o habilita mais tarde a saudar alegremente, como algo que lhe é afim, o conhecimento da verdade, quanto ele se apresentar.
A música contribui, assim, para a formação harmoniosa da alma. Segundo Platão, ela não abrange apenas o que se refere ao tom e ao ritmo, mas também, e até em primeiro lugar, a palavra falada, o logos.
O estudo das matemáticas foi sempre reservado a um grau superior do ensino. Para Platão, no entanto, as matemáticas deveriam encontrar o seu lugar em todos os níveis, começando pelo mais elementar, sendo aprofundada a partir dos 16 anos e prolongada nos estudos superiores.
Esta inovação de Platão inspira-se provavelmente nas práticas egípcias a que a ele teve acesso. Assim, à aritmética, acrescentou a prática dos exercícios de cálculo ligados a problemas concretos da vida e dos negócios. Estes primeiros exercícios possuíam já uma virtude formadora, sendo seu objectivo a aplicação da matemática à vida prática, à arte militar, ao comércio, à agricultura e à navegação.
Para além da geometria, a que dava a maior importância, Platão defende também o ensino uma ciência totalmente nova, a estereometria (cálculo do volume de sólidos). Prevê o estudo da astronomia que deveria permitir adquirir os conhecimentos mínimos para o uso do calendário. Segundo Platão, são precisamente as matemáticas que servem como meio de pôr à prova os espíritos mais aptos a tornarem-se um dia dignos da filosofia. Ao mesmo tempo que seleccionam os futuros filósofos, formam-nos e preparam-nos para os seus futuros trabalhos.
Aos 17 e aos 18 anos os estudos intelectuais interrompem-se por dois ou três anos porque aos jovens era imposto o serviço militar. Neste período, segundo Platão, a fadiga e o sono impedem qualquer estudo.
Aos 20 anos realiza-se uma selecção por meio da qual os menos dotados eram destinados ao exército; numa segunda selecção, levada a efeito mais tarde, a maioria dos jovens era encaminhada para diversas profissões e ofícios civis e só os mais dotados iniciariam os estudos superiores, mas não directamente para a filosofia. Durante ainda 10 anos, continuam o estudo das ciências, mas agora a um nível superior.
O programa é a aritmética, a astronomia e a música, a geometria (plana e no espaço). Todas estas ciências devem eliminar qualquer experiência prática tornando-se totalmente racionais, por exemplo, a astronomia deve ser uma ciência matemática e não uma ciência da observação.
As matemáticas são o instrumento da formação dos filósofos, que através dos problemas elementares de cálculo, devem ser encaminhados para um grau superior de abstracção. Platão diz que as matemáticas não devem preencher a memória com conhecimentos úteis, mas formar um espírito capaz de receber a verdade inteligível.
É interessante verificar que Platão não esquece o papel da educação literária, artística e física na personalidade e na harmonia do todo, mas este papel não tem comparação com o desempenho pela matemática na iniciação da cultura que leva à busca da verdade.
Somente aos 30 anos, no fim de um ciclo de matemáticas transcendentes e depois de um última selecção, se inicia o método propriamente filosófico, a dialéctica, discussão do problema do bem e do mal, do justo e do injusto, caminho para o conhecimento e a verdade.
Passados cinco anos os estudantes estarão na plena posse deste instrumento, o único que conduz à verdade. Os que chegarem a esta fase devem ser capazes de ultrapassar a percepção dos sentidos e penetrar o próprio Ser.
Durante quinze anos ainda, o homem já assim formado deve adquirir experiência participando na vida activa da cidade.
Aos cinquenta anos, estará completa a sua educação, se tiver sobrevivido e superado todas as provas. Ele reconhecerá a possibilidade de atingir a meta suprema que é a ideia do Bem. Poderá então exercer um cargo na direcção do estado, não como uma honra mas como um dever.
Este plano de Platão, que abarca a vida inteira, tem unicamente como objectivo formar um pequeno grupo de governantes - filósofos, aptos a tomar as rédeas do governo para o bem do estado.
Em suma, todo o sistema educativo de Platão se baseia na procura da Verdade cuja posse definirá o verdadeiro filósofo e também o verdadeiro político.
O curso de estudos, para Platão deveria ser de cinco períodos:
1º- dos 3 aos 6 anos:Prática do pentatlo (Nome colectivo de cinco exercícios que constituíam os jogos da Grécia, em que entravam os atletas: salto, carreira, luta, pugilato e disco. Dança e música para ambos os sexos).
2º- dos 7 aos 13 anos:Introdução paulatina da cultura intelectual e acentuação dos exercícios físicos. A partir dos 10 anos, aprendizagem da leitura e escrita e cálculo por processos práticos. Afasta-se assim dos costumes atenienses que começavam a educação intelectual antes dos 10anos.
3º- dos 13 aos 16 anos:Período da educação musical. O programa é dividido em duas secções: uma literária, compreendendo gramática e aritmética; outra musical, compreendendo poesia e música. Ensina-se a tocar a cítara e prefere-se a música dórica, enérgica e viril.
4º- dos 17 aos 20 anos:Período da educação militar. Os jovens deverão adquirir resistência e uma saúde a toda a prova. Será preciso harmonizar a música à ginástica, faziam-se os homens ferozes. Somente com a música, produzir-se-iam os afeminados.
5º- dos 21 anos em diante:Apenas os jovens mais capazes devem continuar a educação já com carácter superior e baseada nas Matemáticas e Filosofia. Entre eles, seleccionam-se os futuros governantes, prosseguindo sua educação até os 50 anos.
Essa educação pode ser distribuída da seguinte forma:· Dos 21 aos 30 anos: estuda-se com profundidade: aritmética, geometria e astronomia.· Dos 31 aos 35 anos: predomínio da formação filosófica e dialéctica, sem prejuízo dos estudos matemáticos.· Dos 35 aos 50 anos: O magistrado será incumbido de uma função pública e empregará os seus talentos para a prosperidade do Estado. Ninguém será admitido ao governo, antes dos 50 anos de idade.
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Texto e imagem retirados de:http://www.beatrix.pro.br/educacao/platao.htm
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Universais
E. J. Lowe
Os universais são os hipotéticos referentes de termos gerais como "árvore", "mesa" e "vermelho", e consideramo-los entidades distintas de quaisquer das coisas particulares que podemos descrever com eles. Mas por que razão havemos de supor que tais entidades existem, e qual é a sua natureza, se é que existem realmente? Um dos argumentos tradicionais a favor da sua existência, que remonta a Platão, é que a sua existência é necessária para explicar por que razão todas as coisas que, digamos, são vermelhas, e apenas essas, podem ser correctamente descritas como vermelhas. É claro que todos estes objectos particulares devem possuir algo em comum para que possamos legitimamente classificá-los como idênticos — e o que é comum a todas as coisas vermelhas, e apenas a elas, é precisamente o universal vermelho. De acordo com a perspectiva "realista" tradicional, os objectos vermelhos são vermelhos em virtude da relação que mantêm com este universal. No entanto, se nos interrogarmos quanto à natureza desta relação e dos próprios universais, concluímos que os realistas se encontram divididos. Os "platónicos" sustentam que o universal vermelho possui uma existência não-espacio-temporal distinta de todas as coisas vermelhas que deve ser considerada em separado; nem é necessário que alguma dessas coisas particulares exista para que o universal exista. Os "aristotélicos", conversamente, defendem que a existência do universal vermelho é inseparável das coisas vermelhas particulares. A perspectiva platónica dá origem a dificuldades a respeito da relação existente entre os objectos vermelhos particulares e o universal vermelho, enquanto o ponto de vista aristotélico parece enfraquecer o sentido em que os universais são ditos "reais". Além disso, o argumento já mencionado a favor da existência de universais não é inteiramente convincente. O "conceptualismo" defende que as classificações que efectuamos dos objectos particulares segundo termos gerais são um produto de interesses humanos selectivos, e não o reflexo de qualquer verdade metafísica; por sua vez, os "nominalistas" defendem que as semelhanças existentes entre particulares é suficiente para justificar que lhes apliquemos o mesmo termo geral sem apelar a uma entidade adicional.
No entanto, o fracasso do argumento tradicional a favor do realismo e as dificuldades inerentes a certas posições realistas não são suficientes para rejeitar o realismo. Em anos recentes, foram propostos novos argumentos a favor do realismo que evocam os universais com o objectivo de explicar o estatuto das leis naturais bem como as generalizações causais que efectuamos. Filósofos como D. M. Armstrong afirmaram que a necessidade natural deve ser explicada como uma relação entre universais, e que apenas recorrendo a esta noção se torna possível estabelecer a distinção entre generalizações acidentais e generalizações baseadas numa lei. De acordo com esta perspectiva, não é necessário supor que qualquer termo geral dotado de sentido refere um universal dado apenas ser necessário admitir a existência daqueles universais que desempenham um papel nas leis científicas. A observação de Wittgenstein de que existem termos gerais como "jogo" para os quais é impossível isolar uma característica comum a todas as coisas a que o termo se aplica, não coloca dificuldades especiais a esta perspectiva.
Uma outra razão para que um realista não proceda indiscriminadamente a respeito de termos gerais é que esses termos recaem claramente sob diferentes categorias semânticas, e nem todas exigem ser tratadas de uma forma realista. Assim, dos termos gerais acima mencionados — "vermelho", "mesa" e "árvore" — apenas os dois últimos são termos categoriais, e destes, apenas o segundo diz respeito a uma categoria natural. Os termos categoriais distinguem-se dos termos gerais como "vermelho" pelo facto de fornecerem não apenas um critério para a sua aplicação como também um critério de identidade para os particulares a que se aplicam. Dado que os particulares não podem ser identificados excepto relativamente a uma classificação categorial apropriada, é argumentável que o realismo acerca de particulares exige o realismo acerca de pelo menos alguns universais, nomeadamente, aqueles universais que são a referência de categorias naturais bona fide.
E. J. LoweTradução de Paulo Ruas
Retirado de Crítica : http://criticanarede.com/fil_universais.html
Universidade de Durham
Os universais são os hipotéticos referentes de termos gerais como "árvore", "mesa" e "vermelho", e consideramo-los entidades distintas de quaisquer das coisas particulares que podemos descrever com eles. Mas por que razão havemos de supor que tais entidades existem, e qual é a sua natureza, se é que existem realmente? Um dos argumentos tradicionais a favor da sua existência, que remonta a Platão, é que a sua existência é necessária para explicar por que razão todas as coisas que, digamos, são vermelhas, e apenas essas, podem ser correctamente descritas como vermelhas. É claro que todos estes objectos particulares devem possuir algo em comum para que possamos legitimamente classificá-los como idênticos — e o que é comum a todas as coisas vermelhas, e apenas a elas, é precisamente o universal vermelho. De acordo com a perspectiva "realista" tradicional, os objectos vermelhos são vermelhos em virtude da relação que mantêm com este universal. No entanto, se nos interrogarmos quanto à natureza desta relação e dos próprios universais, concluímos que os realistas se encontram divididos. Os "platónicos" sustentam que o universal vermelho possui uma existência não-espacio-temporal distinta de todas as coisas vermelhas que deve ser considerada em separado; nem é necessário que alguma dessas coisas particulares exista para que o universal exista. Os "aristotélicos", conversamente, defendem que a existência do universal vermelho é inseparável das coisas vermelhas particulares. A perspectiva platónica dá origem a dificuldades a respeito da relação existente entre os objectos vermelhos particulares e o universal vermelho, enquanto o ponto de vista aristotélico parece enfraquecer o sentido em que os universais são ditos "reais". Além disso, o argumento já mencionado a favor da existência de universais não é inteiramente convincente. O "conceptualismo" defende que as classificações que efectuamos dos objectos particulares segundo termos gerais são um produto de interesses humanos selectivos, e não o reflexo de qualquer verdade metafísica; por sua vez, os "nominalistas" defendem que as semelhanças existentes entre particulares é suficiente para justificar que lhes apliquemos o mesmo termo geral sem apelar a uma entidade adicional.
No entanto, o fracasso do argumento tradicional a favor do realismo e as dificuldades inerentes a certas posições realistas não são suficientes para rejeitar o realismo. Em anos recentes, foram propostos novos argumentos a favor do realismo que evocam os universais com o objectivo de explicar o estatuto das leis naturais bem como as generalizações causais que efectuamos. Filósofos como D. M. Armstrong afirmaram que a necessidade natural deve ser explicada como uma relação entre universais, e que apenas recorrendo a esta noção se torna possível estabelecer a distinção entre generalizações acidentais e generalizações baseadas numa lei. De acordo com esta perspectiva, não é necessário supor que qualquer termo geral dotado de sentido refere um universal dado apenas ser necessário admitir a existência daqueles universais que desempenham um papel nas leis científicas. A observação de Wittgenstein de que existem termos gerais como "jogo" para os quais é impossível isolar uma característica comum a todas as coisas a que o termo se aplica, não coloca dificuldades especiais a esta perspectiva.
Uma outra razão para que um realista não proceda indiscriminadamente a respeito de termos gerais é que esses termos recaem claramente sob diferentes categorias semânticas, e nem todas exigem ser tratadas de uma forma realista. Assim, dos termos gerais acima mencionados — "vermelho", "mesa" e "árvore" — apenas os dois últimos são termos categoriais, e destes, apenas o segundo diz respeito a uma categoria natural. Os termos categoriais distinguem-se dos termos gerais como "vermelho" pelo facto de fornecerem não apenas um critério para a sua aplicação como também um critério de identidade para os particulares a que se aplicam. Dado que os particulares não podem ser identificados excepto relativamente a uma classificação categorial apropriada, é argumentável que o realismo acerca de particulares exige o realismo acerca de pelo menos alguns universais, nomeadamente, aqueles universais que são a referência de categorias naturais bona fide.
E. J. LoweTradução de Paulo Ruas
Retirado de Crítica : http://criticanarede.com/fil_universais.html
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