quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Madona dos Cravos, 1507-08 - Rafael.


Esta obra, Madona dos Cravos, 1507-08, conhecida em inglês como Madonna of the Pinks, esteve a ponto de ser vendida no exterior até que a National Gallery conseguiu angariar 22 milhões de libras para poder comprá-la do seu dono britânico. O quadro é o centro de exposição.
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A teoria do conhecimento

1 – Posição da teoria do conhecimento na filosofia

A filosofia se divide em três grandes campos de investigação. A Teoria da Ciência, a Teoria dos Valores e a Concepção de Universo. Esta última é na verdade a Metafísica; a teoria dos valores se divide em Ética e Religião e a primeira se divide em Lógica e Teoria do Conhecimento. É interessante fazer a distinção entre as duas modalidades da Epistemologia.A Lógica trata do pensamento puro, dos princípios básicos que norteiam o nosso pensamento, dos mecanismos inerentes a nossa mente. A Teoria do Conhecimento trata da referencia do pensamento aos objetos, da verdade no conhecimento e de como ocorre e evolui o nosso conhecimento, ou seja, a explicação filosófica do conhecimento humano

2 - A história da teoria do conhecimento

A preocupação epistemológica vem desde a Grécia, entretanto o aparecimento da teoria do conhecimento como disciplina filosófica aparece só na idade moderna com Locke. Ele foi o primeiro a tratar de forma sistemática a origem , a essência e a certeza do conhecimento.

3 - O conhecimento

O conhecimento constitui-se no encontro da consciência (sujeito) com o objeto. Essa relação pressupõe uma dupla conotação : Na medida que o sujeito apreende o objeto, este é apreendido por aquele. Desta forma, o sujeito sai de sua esfera e adentra na esfera do objeto criando uma imagem do mesmo na sua consciência cognoscente.
O conceito de verdade relaciona-se com a essência do conhecimento. Mas o que é verdade ? A verdade é a concordância da imagem apreendida com o objeto. Assim, conclui-se que o objeto não pode ser nem verdadeiro nem falso e está além da verdade e da falsidade.
Contudo não basta que um conhecimento seja verdadeiro. É necessária a certeza de sua verdade. Mas como alcançar esta certeza? É a questão do critério de verdade que veremos a diante.
Outro ponto que está no cerne do conhecimento é a intrigante pergunta: É possível o sujeito de fato apreender o objeto? Esta é a questão da possibilidade do conhecimento humano (gnosiologia ??). Por outro lado, a questão da origem do conhecimento trata de descobrir qual é a fonte do conhecimento: a razão ou a experiência.
Além das questões supraditas é mister citar outras duas que serão comentadas ao longo do trabalho. A essência do conhecimento reza sobre a seguinte indagação: é o objeto que determina o sujeito ou o inverso? Também iremos discutir sobre as formas do conhecimento : intuição ou razão?

4 - A possibilidade do conhecimento

Basicamente, esta parte da teoria do conhecimento destina-se a responder a seguinte pergunta: É realmente possível apreender o objeto? Algumas das respostas dadas pela filosofia à essa pergunta estão dispostas a seguir.

A – Dogmatismo

Esta posição defende que não existe o problema do conhecimento . É evidente que a apreensão por parte do sujeito do objeto ocorre e é válida. A razão humana é suficiente e a dúvida quanto a sua eficácia inexiste.
Esta é a primeira posição sobre a possibilidade do conhecimento na filosofia e denota um falta de reflexão epistemológica. Era a posição predominante na Grécia, com exceção dos sofistas que foram os primeiros a levantar o problema do conhecimento. Daí surge o adjetivo dogmático que é aquele que aceita sem contestação o que lhe é proposto.


B – Ceticismo

Apresenta-se como antítese do dogmatismo. O ceticismo defende a impossibilidade de apreensão do objeto, logo não devemos formar nenhum juízo sobre os objetos, e sim , nos abster de julgar. Essa postura deve-se a constatação de como o sujeito e a cultura influenciam o conhecimento, o que acaba por fazer o objeto invisível, pelo menos na sua forma real. Assim pode-se inferir que não há conhecimento e que dois juízos contraditórios são igualmente verdadeiros.
Na era moderna, o ceticismo também tem lugar. Montaigne e Hume defendem o ceticismo, mas em áreas especificas com a ética e a metafísica, respectivamente. Assim como Descartes em sua dúvida metódica que se apresenta como um ceticismo metódico. Comte com o positivismo mostra o ceticismo metafísico, pois defende só a experiência fugindo da metafísica
É deveras interessante assinalar a contradição inerente ao ceticismo. Ele ao afirmar que não existe o conhecimento está concomitantemente exprimindo um conhecimento, implicando contradição. Contudo, isto não lhe tira o mérito de ajudar o desenvolvimento da teoria do conhecimento, pois esta posição desperta a dúvida e afasta a confiança exagerada do filosófo .

C - Subjetivismo e relativismo

O subjetivismo postula que existe uma verdade que é suscetível de apreensão, mas que não existe uma verdade universalmente válida. A verdade é limitada ao sujeito individual do conhecimento e não compreende todo o conjunto dos seres humanos.
O relativismo é um parente próximo do subjetivismo na medida em que afirma que não há verdade universalmente válida. Mas difere dele porque afirma que a validade da verdade é limitada pelo meio e pelo tempo onde ela é cognoscível, em detrimento a consciência cognoscente do subjetivismo.
Essas duas posturas também são acusadas de ferirem o princípio da não –contradição. Se a verdade é a concordância do juízo com a realidade objetiva não tem sentido limitar esta concordância a determinados indivíduos, ela teria que ser universal.

D – Pragmatismo

Esta é outra corrente influenciada pelo ceticismo (além das duas últimas citadas) que abandona o conceito de verdade como concordância entre o juízo e o ser do objeto. Mas o pragmatismo vai além. Ele adquire um matiz positiva (benéfica) em relação ao ceticismo porque cria um novo conceito de verdade. A verdade significa útil, valioso e fomentador de vida.
O pragmatismo muda este conceito porque considera o homem um ser de ação e não teórico. Assim, o conhecimento humano tem seu valor dado em função de seu destino prático. Um dos notórios filósofos que de certa forma acolheram o pragmatismo foi Nietzsche.

E - Criticismo

É comum dividir as correntes supraditas em dois grandes campos: o dogmatismo e o ceticismo (e seus apêndices pragmatismo, subjetivismo e relativismo). O criticismo aparece como a síntese dos dois campos, aparecendo como um meio termo.
O criticismo une a confiança na razão em conhecer a realidade ( e esta apresenta-se como una e cognoscível) com a desconfiança do ceticismo frente ao conhecimento já determinado, não aceitando nada despreocupadamente. Desse modo, seu comportamento não é nem dogmático nem céptico e sim, crítico e reflexivo. Platão, Descartes, Hume e Leibnitz valeram- se desta postura em seus estudos mas foi Kant seu fundador de fato.

5 – A origem do conhecimento

Esta parte da teoria do conhecimento diz respeito a descobrir qual é a fonte de todo o nosso conhecimento, quais são os elementos que permitem a formulação do nosso saber. A seguir, as principais posições epistemológicas no que tange à origem do conhecimento.

A – Racionalismo

A fonte principal de nosso conhecimento é a razão, o pensamento por si só. A razão produz os verdadeiros conhecimentos, que seriam aqueles universalmente válidos e logicamente coerentes ,como por exemplo : o todo é maior que a parte e as matemáticas. Este tipo de conhecimento é a priori, ou seja não é baseado na experiência, o que o torna inconteste assim provando que o conhecimento verdadeiro só provém do pensamento puro.
O primeiro expoente de tal doutrina foi Platão que aboliu o devir e o mundo sensível, dedicando-se ao inteligível. Daqui ele formula a teoria da reminiscência pela qual afirma que nossas almas teriam contemplado o supra-sensível e nossa aprendizagem terrena é somente a recordação dessas idéias através da experiência.
Santo Agostinho defendia a tese que o conhecimento tem lugar sendo o espirito humano iluminado por Deus. As verdades são irradiadas por Deus para o nosso espírito o que também se caracteriza como racionalismo, só que teológico.
Na Idade Moderna outra forma de racionalismo brotou. Trata-se da teoria das idéias inatas proposta por Descartes e Leibtnitz. Segundo ela, são nos inatos certos conhecimentos , os fundamentais, que na verdade é a razão. Leibnitz defende que estes conhecimentos são em Gérmen (potencial) ao passo que Descartes acha que eles já estão acabados. Fala-se então de um racionalismo imanente.
No século XIX, o racionalismo adquire uma nova nuance. O pensamento continua sendo a única fonte do conhecimento. O conhecimento total humano é deduzido da forma lógica que é inerente ao pensamento e que dá o nome a esse racionalismo lógico.

B – Empirismo

Esta é a tese que se opõe ao racionalismo. A única fonte do conhecimento humano é a experiência. O espírito humano é vazio , uma tábula rasa.. Seus maiores defensores são aqueles provenientes das ciências naturais, onde a experiência tem papel preponderante. Locke foi o fundador moderno de tal postura afirmando que a psique era um papel em branco e que tudo provinha da experiência não existindo conhecimento inato. Mill e Hume seguem a mesma linha afirmando que não há proposições a priori e até mesmo as leis básicas do pensamento são resultado de experiências de outrora.

C – Intelectualismo

A direção epistemológica que vai mediar o encontro entre os dois extremos supracitados é o intelectualismo. Este afirma que tanto a experiência quanto o pensamento fazem parte da produção do conhecimento. Ele difere do racionalismo porque diz que os conceitos não são a priori, mas, sim abstraídos da experiência e esses conceitos são decodificados pela razão humana que organiza e julga as percepções e impressões cedidas pela experiência. Logo, fica claro que o intelectualismo também difere do empirismo na medida em que a razão humana atua de sobremaneira no conhecimento. Aristóteles e Tomas de Aquino eram representantes de tal posição

D – Apriorismo

Esta é segunda tentativa de mediação entre o racionalismo e o empirismo. Razão e experiência são os constituintes de nosso conhecimento e nos temos elementos a priori que nos ajudam a formular o saber ( aproximação com o racionalismo). Esses elementos são formais, ou seja, recipientes que recebem o conteúdo, que é a experiência. A diferença do apriorismo para o intelectualismo é que os conceitos para este derivam da experiência enquanto para aqueles são a priori. Kant foi o fundador do apriorismo afirmando que a matéria do conhecimento é a experiência mas a forma é o pensamento que é responsável por organizar o mesmo.

6 – A essência do conhecimento

A questão da essência do conhecimento está intimamente ligada a relação entre o sujeito e o objeto em que se constitui o conhecimento. Será que o sujeito determina o objeto ou ocorre justamente o contrário? As posições a seguir discorrem sobre este assunto. Dividiremos as soluções em três categorias: Pré-metafisica ( sem levar em conta a ontologia), a metafísica e teológica.

A – Pré-metafísica

I – Objetivismo

O objeto determina o sujeito e este tem que se reger-se sobre aquele. O objeto é algo acabado e definido e a consciência reconstrói a estrutura do mesmo criando sua respectiva imagem.

II - Subjetivismo

O centro das atenções é agora o sujeito e o conhecimento fundamenta-se nele. A verdade está assentada no consciência e não há objetos fora dela.

B – Metafísica

I - Realismo

Aqui afirma-se que existem coisas reais que independem da consciência. O mundo é totalmente objetivo e a realidade é única. Existem diversas variações de realismo como por exemplo o Aristotélico (realismo natural) que reza que as propriedades percebidas por nos são necessariamente inerentes as coisas, independentes de nossa psique. Essas variações variam quanto ao grau de reflexão epistemológicos delas, sendo o mais alto grau o realismo crítico da Idade moderna.

II – Idealismo

É mister fazer a distinção do idealismo metafísico e do epistemológico. O primeiro diz que a realidade tem por fundamento as forças espirituais e ideais (oposto de materialismo). O epistemológico é o que nos interessa. Ele diz que não existem coisas reais independente da consciência. A realidade se encerra na consciência e que o ser do objeto consiste em ser apercebida Para defender sua tese, os idealistas argumentam que no momento em que pensamos ou exprimimos algo acerca de um objeto ele já faz parte da nossa consciência logo, dizer que existe algo fora da nossa mente é se contradizer porque ao exprimir isto você já está fazendo uso de sua consciência. A crítica feita a esse argumento é que nem sempre o pensamento corresponde a verdade.

7 – Verdade

Alem de descobrir o que é verdade é preciso provar que realmente aquilo é verdade. Como ter esta certeza? A seguir, o conceito e os critérios de verdade para tentar elucidar tão atroz dúvida.

A – O conceito de verdade

O primeiro conceito de verdade que apresentaremos é o já visto anteriormente. A verdade é a correspondência do objeto com o conteúdo do pensamento. Este conceito é dito transcendente pois ele transcende o pensamento e alinha-se com o realismo que se baseia em conteúdos supramentais. O segundo conceito demonstra que a realidade é a concordância entre o pensamento com o próprio pensamento, ou seja, se ele está de acordo com as leis e normas do pensamento. Este conceito é dito imanente pois se encerra no próprio pensamento e alinha-se com o idealismo.

B – O critério de verdade

Quando se leva em conta o idealismo e a verdade imanente, o critério de verdade é a ausência de contradição, pois assim o juízo está consoante com as premissas básicas do pensamento. Outro critério é o da realidade imediata segundo o qual todos os juízos são verdadeiros se se assentarem na presença imediata do objeto (evidência).
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Texto retirado de:
http://www.geocities.com/vinivasc/filosofia/conhecimento.htm