sexta-feira, 10 de julho de 2009

O Nome e o Aspecto Cognoscível do Ser.


Crátilo é um diálogo do filósofo grego Platão (428 a.C.-347 a.C.), e uma obra de grande importância porque, tratando do problema da linguagem, aborda uma questão mais profunda, que é o aspecto cognoscível do ser. Em cena, Hermógenes e Crátilo (este, discípulo de Heráclito) estão discutindo sobre a natureza dos nomes, o primeiro sustentando que estes se devem a uma simples convenção, daí poderem variar como num divertimento; e o segundo, ao contrário, argumentando que os nomes correspondem à íntima natureza das coisas que os designam. Dessa forma, os nomes seriam como o único meio de se conseguir o conhecimento das coisas. Sócrates intervém, e Hermógenes lhe confia o problema: o grande mestre objeta que, se os entes designados são falsos, também os nomes que os designam serão falsos, pois que deve haver uma correlação entre as coisas e o modo de denominá-las. Os homens devem ter examinado as coisas e tentado exprimir com vocábulos a impressão reportada. Nesse momento, Sócrates parece estar do lado de Crátilo, pois que ele se reporta a numerosas etimologias para demonstrar como tantos nomes conservam a impressão do motivo que o primeiro homem deve ter experimentado. Chega-se, portanto, ao ponto decisivo: afinal, pode-se ou não atingir a íntima natureza das coisas, por meio da linguagem? Em oposição a Crátilo, Sócrates revela que os nomes correspondem à imagem que o homem faz das coisas, e portanto, não às coisas propriamente, e que, se os nomes servem para se conhecer as coisas, o primeiro a nomeá-las, não podendo servir-se delas para as conhecer, nomeou-as ao acaso; e por fim, que se tivesse sido um deus a criar a linguagem, não teria deixado lugar para incertezas e contradições. Portanto, para se atingir o conhecimento das coisas, não se deve recorrer a seus nomes, mas às idéias, pois que, do contrário, ter-se-ia o conhecimento de imagens imperfeitas. Assim Sócrates conclui, exortando Crátilo a não se fiar excessivamente nos nomes.
Dizionario Bompiani delle opere e dei personaggi di tutti i tempi e ti tutte le letterature. Vol. 2: Opere. Milano: Bompiani, 1989.
Fonte: Crátilo: Revista discente de Estudos Lingüísticos
http://www.unipam.edu.br/cratilo/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=7&Itemid=7
Centro Universitário de Patos de Minas

Fotografia. Rua Chile (Salvador-BA), na década de 40.

A rua mais elegante de Salvador na década de 40.
Atentem para a chic carruagem!

domingo, 5 de julho de 2009

Poesia.

Eros e Psiquê
Fernando Pessoa
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.