quarta-feira, 1 de junho de 2011

ARISTÓTELES

Sobre a responsabilidade de construção de nosso próprio caráter.

Segundo Aristóteles, os homens só se tornam justos (ou virtuosos, pois a justiça é a virtude que abarca todas as outras), através do hábito e da prática de atos justos. Mas para se praticar atos justos, é estritamente necessário um mestre (um tipo de treinador), que já tenha adquirido uma disposição de caráter permanente (hexis), e necessariamente virtuosa, para que possa ensinar, e despertar a virtude nos homens que se submetem (ou são submetidos) à tal educação. Mas assim como atletas olímpicos, que só conseguem se sair vitoriosos porque treinaram voluntariamente e habitualmente, para se adquirir a “hexis” virtuosa, os homens devem querer agir e praticar atos voluntários, pois apenas o ensino do mestre, sem a prática (e a vontade) do estudante, não lhes garante a aprendizagem das virtudes.
(…)mas porque os atos que estão de acordo com as virtudes tenham determinado caráter, não se segue que sejam praticados de maneira justa ou temperante. Também é mister que o agente se encontre em determinada condição ao praticá-los:
- em primeiro lugar deve ter conhecimento do que faz;
- em segundo, deve escolher os atos, e escolhê-los por eles mesmos;
- e em terceiro, sua ação deve proceder de um caráter firme e imutável(…), aquelas mesmas que resultam da prática amiudada de atos justos e temperantes – são, numa palavra, tudo” .
Logo, os próprios homens são co-responsáveis pela disposição de caráter que adquiriram através da práxis.

http://projetophronesis.wordpress.com/category/filosofia-antiga/aristoteles/

domingo, 29 de maio de 2011

MITOS

Os mitos, forneceram-nos instrumentos para o crescimento e o fortalecimento da nossa tão valorizada razão.
É bom, votarmos, nossos generosos agradecimentos a eles que nos encantaram,   nos ensinaram, nos preparam para percorrer o sinuoso caminho da reflexão formal.
Como pais generosos, continuam conosco, embora com outras vestes, menos formosas, o que nos faz pensar que se foram.
Vale a pena, vez por outra, deixar o pensamento voar até seu reino natural e embebedar-se
com suas suculentas fantasias.
Experimente!



Venus desarma Marte (pintura de Jacques-Louis David (1748-1825)).
Pela mitologia grega, Afrodite (Venus dos romanos) era a deusa do amor e da beleza.
Ares (Marte dos romanos) era o deus da guerra, representando o espírito de batalha.



A ninfa Eco observa Narciso contemplando seu reflexo na água (tela de J. William, 1903).
O belo Narciso era filho do deus Cefiso e da ninfa Liríope.
Conta a lenda que ele se apaixonou pela própria imagem, afogando-se no rio ao contemplá-la.


Dédalo e Ícaro (pintura de Lord Leighton). Conta a lenda que para fugir de Creta, Dédalo confeccionou asas de cera para ele e para seu filho Ícaro.
Durante o vôo, Ícaro chegou muito perto do sol, derretendo suas asas e caindo no mar.

Os Mitos da Infancia guardam o Roteiro da Perfeição

Suely Monteiro

Estamos sentados na beira da estrada, sem rumo, entre muitas opções, pois não temos lembranças de nosso roteiro de viagem que ficou perdido, lá atrás, num tempo diferente do contado cronologicamente; tempo em que o tempo não existia como agora, e que a fantasia gerava tantos seres extraordinários quanto a nossa capacidade de imaginá-los e conviver com eles. 
Perdemos nosso roteiro e com ele, na mesma sacola, ficou o doce encanto da fantasia que tornava nossa jornada mais bela, mais agradável, mais assertiva e, sobretudo não nos deixava perder a consciência do ser que éramos.
Distanciados da história de nossa origem, não sabemos quem somos e, claro, nem para onde vamos. Fingimos acreditar que estamos no caminho certo. No entanto, nossos mergulhos nas sensações, nas emoções de superfície, nas muitas roupagens exageradamente descompostas, mostram somente o quanto fomos enganados pelo orgulho, pela vaidade e pela presunção de acreditar  saber mais do que de fato sabíamos.
Elevamos a mais alta hierarquia um conjunto de pressupostos mal examinados  que  nos tornavam capazes de realizar inventos grandes, mas de maus sortilégios que nos afastavam cada vez mais do nosso centro a que nos dirigíamos.
Fomos ficando atrás do ser que éramos.
Fomos perdendo a elegância de fazer grandes versos que nos tornavam o centro das atenções dos corações. Voltamos nossa face para o cérebro e com ele realizamos grandes obras que, no entanto, não servem para nos colocar de volta ao nosso caminho.
Encontramos o desespero, a dor, a desconfiança, o medo e a solidão muitas vezes disfarçados para nos enganar. Vezes sem conta caímos em suas pérfidas armadilhas, entregando-lhes os poucos recursos que nossa alma ainda possuía. Mas a vida seguindo seu curso,  nos seus fluxos nos arrastou até que um dia, cansados, machucados, humilhados, nos vimos sem outra opção a não ser deixar o coração voar e com ele seguir por sobre os montes, montanhas e  florestas, numa estrada, aparentemente sem fim.
Depositados ali, sentados, depauperados, nos demos conta de que havíamos nos afastado do roteiro porque havíamos negado nossa origem e negar a origem é perder a caminhada.
Nossa saída, é encontrar entre as várias opções, a  serenidade para, da maneira mais delicada possível, desobrigar-nos dos compromissos com o fútil e obsoleto, voltarmos as costas para as tiranias do poder  e do ter, e, finalmente, reconhecer,  em meio a  eloqüência da sinfonia do silêncio, a fantasia que brota dos lábios da criança, as canções dos amantes, as pedras do caminho, as flores da estrada, as dores sofridas e compensadas, que  o mapa do caminho tão ardentemente procurado estava guardado nos mitos da infância.
Feito isso, nenhum encantamento nos livrará de retomar o caminho que nos conduzirá à Perfeição.