segunda-feira, 2 de abril de 2012

As raízes do riso e a ética emocional brasileira


Márcia Junges
Experiência humana diversificada
O humor, em geral, é um dos mais elevados instrumentos de comunicação. Rir aproxima as pessoas, provoca suas emoções e mobilizam suas mentes – além, é claro, de aliviar a tensão. Isto é universal. Basta ver alguns ditados folclóricos que são comuns a todos os povos, tanto ocidentais como orientais, e que existem, com pequenas alterações, em todas as línguas – como “O mais perdido dos dias foi o dia em que não se riu”, ou “Quem não sabe sorrir, não deve abrir uma loja.”
Como produção cultural, o humor exerceu um papel importante em várias sociedades e em várias épocas. Tanto na Antiguidade quanto no período medieval, o humor era mais difuso por não existir ainda uma separação entre as esferas pública e privada. A comédia originalmente era um evento no qual todos participavam e todos riam em conjunto. Quando a modernidade cria propriamente uma esfera pública – o que ocorre, na história ocidental, entre os séculos XVII e XVIII – é que o humor se fortalece como uma das mais disseminadas e universais formas de comunicação, já que todos os comportamentos humanos ganham repercussão coletiva (pública), suscitando reações emocionais (que incluem, é bom que se digam, tanto o choro quanto o riso).
Mas o riso é uma experiência humana tão diversificada que não necessariamente ele resulta sempre do “bom humor”. Portanto, como ele é uma experiência extremamente rica e variada, ele se liga a muitos aspectos da vida humana. É impossível enumerar todos. Por exemplo, o humor seduz? Sim, primeiro porque ele tende a produzir intimidade e proximidade. Neste sentido, rir é como almoçar ou jantar juntos – em certos casos, favorece até a aproximação sexual.
Lembrar, portanto, que o humor – sobretudo o humor que nasceu com o século XX – possui uma fortíssima vocação para a ambiguidade: se uma piada agrada e gratifica alguns, ela acaba por ferir outros. Não há remédio. Se fui eu quem escorreguei na casca de banana, eu não vou rir... Se o escorregão for de alguém que tem poder (político, pessoal ou qualquer outro), ele não só não vai rir, como vai proibir os outros de rirem.
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