segunda-feira, 10 de junho de 2013

IGOR SAVITSKY - O HOMEM QUE ENGANOU A MORTE .


Suely Monteiro


Hoje, a saudade bateu no meu coração. Saudade de minha infância, dos brinquedos que eu fazia com barros e pequenos vegetais, dos livros que eu tomava emprestado na biblioteca do bairro e, sobretudo, da solidariedade que reinava entre meus irmãos e eu, naquela distante cidade do interior de Minas Gerais. A cidade, não oferecia recursos para o crescimento sócio cultural dos seus jovens e, assim os pais que tinham dinheiro enviavam seus filhos para estudarem no Rio. Eu, no entanto, precisava permanecer ali, trabalhando numa fábrica de tecidos para ajudar na despesas domésticas, uma vez que éramos muito pobres. Mas, o desejo de estudar, de saber mais era meu mais fiel companheiro e me estimulava a vasculhar a biblioteca em busca de livros sobre diversos assuntos, mas em especial, Filosofia, Literatura e Arte.

Assim, eu vivia minha vidinha descompromissada de compromissos intelectuais, de crenças e desejos de “um dia ser alguém”, como eu ouvia os vizinhos falarem. Lia, trabalhava e estudava na solidão das noites, à luz de lamparina.  Eu era, apesar de toda pobreza, uma menina feliz, e hoje, ao relembrar o passado me dou conta de que minha felicidade advinha do fato de eu ter descoberto e preservado na alma o valor do ser humano. E ao recordar minha infância, eu olho pela janela e uma bonita paisagem me leva a pensar na grandiosidade de Deus, o Artista Inigualável, que a criou linda para nos prestigiar, que proporcionou ao homem a oportunidade de conhecer e aprimorar suas leis vivenciando a irmandade, o respeito ao outro, a solidariedade. Penso no quanto nossa época cresceu intelectualmente o no quanto ainda permanece presa da ignorância, do vício e da indiferença moral. Quantos sofrimentos são causados por estes sentimentos menores que ainda habitam em nossos corações! 
Museu de Nukus
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Mas, qual é afinal a relação de Igor Savitsky e minha história de vida? Nenhuma a não ser o fato de que ele descobriu e preservou da “morte” nas mãos desrespeitosas de Stalin a arte da vanguarda modernista russa e hoje me acalenta nesses momentos de doce recordações com belas imagens, registros de pessoas que não se comprometeram em falsear a verdade, em negar os impulsos de suas almas e que seguiram criando o Belo, usando as cores fortes como os sentimentos que as sustinham e  forçavam a avançar a despeito do medo e da dor; pessoas que mesmo não se dizendo crentes em Deus agiram com a dignidade, a solidariedade e a sensibilidade que Ele espera de Seus filhos. Nenhuma relação,  além do fato de nos mostrar com cores muito fortes o atraso em que nos encontramos enquanto seres privados de generosidade, com capacidade de causar sofrimento e morte movidos somente pelo orgulho e pela vaidade.
Igor Savitsky
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Interior do Museu
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Savitsky  com sua arrojada vontade angariou recursos, por vias indiretas, do próprio governo de Moscou e ergueu , sob as áreas do deserto do Uzbequistão o  Balés Clássico e Moderno, templo das artes proibidas que o             Estado Soviético tentou sufocar. Como fruto de sua sensibilidade e persistência conhecemos hoje nomes e obras que estavam destinados a desaparecerem em função da vaidade dos dirigentes de uma nação que não amava igualmente a seus filhos, mas que exigia deles sangue e vida para que alguns pudessem se manter no pedestal erigido pelo orgulho. Aproximadamente quarenta mil obras foram salvas pelo "Schindler" do Deserto com o gesto de enganar a morte encarnada no poder soviético .


Imagens : 
Fazendo Artehttp://fazendoartedmc.blogspot.ca/2013_01_01_archive.html
Acesso em 15/07/2015