segunda-feira, 26 de agosto de 2013

POPPER E A QUESTÃO DA INDUÇÃO


SUELY MONTEIRO

                 A questão que se coloca é quanto à posição de Popper em relação à inferência indutiva na prática cientifica e, este trabalho defenderá a tese de que ele é radicalmente contrário à sua validade.  Para isto, portanto, é preciso esclarecer, inicialmente que por inferência indutiva entende-se a prática da ciência empirista, baseada na repetição dos fatos observáveis para alcançar às leis, de modo generalizado. Ou como no dizer do próprio Popper citado por Silveira (Silveira, 1994, pg. 200):

“É comum dizer-se “indutiva” uma inferência, caso ela conduza de enunciados singulares (...), tais como descrições dos resultados de observações ou experimentos, para enunciados universais, tais como hipóteses ou teorias.”  

               Na concepção de Popper esta é uma maneira equivocada de proceder cientificamente, e ele se opõe a ela radicalmente, alegando dentre alguns de seus muitos argumentos que

Está longe de ser óbvio, de um ponto de vista lógico, haver justificativa   no inferir enunciados universais singulares, independentemente de quão numerosos sejam estes; com efeito qualquer conclusão colhida desse modo sempre pode revelar-se falsa; isto não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos” (Silveira, pág. 200 .1994).

                   Ou seja basta um dado, neste caso, o aparecimento de um único cisne não branco para a teoria perder a validade abrir campo para novas perquirições. Ou dizendo de outro modo, tanto a indução repetitiva que se baseia em observações de fatos muito bem observados para daí concluir uma teoria, quanto a indução eliminatória que, aparentemente se aproxima da posição de Popper, mas que difere dela na medida em que é impossível eliminar, indefinidamente, toda teoria rival e firmar uma verdade única é carente de validade cientifica.  No entendimento de Popper as observações não são puras. São mescladas dos pressupostos e teorias com as quais os cientistas se harmonizam e, à partir delas, fazem testes que as confirmam ou não.

                      Por outro lado, a posição de Popper em relação aos problemas da indução, e consequentemente, de verificação, também não se assemelha às dos céticos uma vez que ele não suspende juízo de valores diante de duas teorias com igual valor de verdade e aceita que uma teoria pode “ser mais verdadeira do que a outra sem que jamais se possa afirmar estar-se contemplando a verdade finalmente desvelada”. (Lacoste, 1998, pg.71).

                     Popper tem uma posição que aproxima de certo modo, ciência e metafísica na medida em que aceita o conhecimento cientifico como um saber não somente objetivo, mas também, conjectural, possível de ser refutável. Fazer ciência implica uma dose de imaginação criadora, de capacidade de gerar hipóteses.

                     Também para Targa a postura de Popper é radicalmente contrária à inferência indutiva na prática cientifica na medida em que afirma que

“...nenhuma teoria pode ser considerada verificada ou definitivamente verdadeira. Mesmo as mais consagradas teorias cientificas consistem em conhecimento provisórios, explicações bem sucedidas, que a qualquer momento, podem ser derrubadas por novos problemas ou teorias mais adequadas “(Targa.2011, pág. 83).

                     E, para concluir, nada melhor do que as palavras do próprio Popper, citado por Lacoste “... Não existe indução: jamais argumentamos fatos à teoria a não ser por intermédio da refutação ou da ‘falsificação’.”  (Lacoste, 1998. pg.169).
Bibliografia:
TARGA, Dante Carvalho. Filosofia da Ciência: Livro Didático Disciplina de Modalidade à Distância. 1ª. Ed. Revista. Ed. Unisul Virtual. Palhoça, Santa Catarina. 2011.
LACOSTE, Jean. A Filosofia no Século XX: Ensaios e textos. 2ª. Ed.Papirus Editora. Campinas. SP. 1998.
SILVEIRA. Fernando Lang. A Filosofia da Ciência de Karl Popper: o Racionalismo Crítico. Disponível em:  http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/view/7046/6522. Acesso em 18.ago.2013.