quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

PARA QUEM TEM MEDO DA VELHICE



 Tilly Monteiro

A Maturidade abriu os portais da minha vida para a chegada da Velhice.


Recebi-a e, como eu imaginava desde a juventude, foi amor à primeira vista.
A simpática senhora sorriu-me de modo doce e quand
o a convidei para conversarmos no jardim de inverno, preferiu que fossemos para o salão de visitas por ser mais amplo. 

Explicou-me que gostava de ser vista, admirada e , também de mostrar seus dotes ao mundo. Como é Vaidosa essa senhora - eu pensei -, mas notei pelo seu sorriso que lera meu pensamento e não se importou muito com minha opinião sobre o assunto. 

Disse-me que sua chegada mudaria minha vida. 

Amei o jeito suave com que tomou meu braço e, talvez por isto, não esbocei reação negativa quando percebi que ela foi ocupando todos os espaços que considerava razoável e redecorando-os (à medida em que conversávamos sobre diferentes assuntos ) com sobriedade, elegância e muito bom gosto, mas a seu modo. 


Arrastando algumas peças que considerava pesadas para mim , confidenciou-me que guardaria na galeria central as obras da minha infância, adolescência e maturidade, mas que elas não deveriam servir , daquele momento em diante, senão como suporte ou base para as novas construções que faríamos juntas. Riu, como uma menina levada, e continuou detalhando seu projeto para o meu futuro com ela. 

Gente, vcs não imaginam com que rapidez ela tomou conta da minha vida!


Parecíamos velhas conhecidas perfeitamente harmonizadas passeando por avenidas, ruas, vielas, lagos, montanhas, sob climas variados e coloridos de emoções , sentimentos, enfim, de reações de gradações tão ricas, diferentes e, algumas vezes, tão sutilmente discordantes entre si, que eu quase não me dava conta de que aquelas paisagens musicadas que serviam de mobiliário para meu novo ambiente, nada mais eram do que a minha vida que readquirira valor e beleza pela forma com que a sábia cenógrafa a estava dispondo...
Ela ensinou-me a olhar e sentir de um modo totalmente novo, rápido e eficiente.
Mostrou-me como mergulhar fundo nas coisas sem me machucar, usando a instrumentação adequada.


Como num passe de mágica retirou muitas de minhas arestas adelgando meu perfil psicológico ao mesmo tempo em que o enrijecia sem ser em demasia, esculturando-o com o mármore do amor (material que só então compreendi), se constitui ou pelo menos se encontra em abundância no self.


Descobri que ao expandir a visão e percepção de mim, das pessoas e, consequentemente, do mundo, a Velhice estava, sim, mudando minha vida, pra melhor.


Eu estava encantada!
 


Eu continuo encantada!