O método socrático, como é denominado, consiste numa dialética, em que a discussão se desenvolve em dois tempos, - a ironia e a maiêutica.
A ironia socrática consiste em perguntar, fingindo desconhecer o assunto (= dúvida fictícia e metódica), com vistas a refutar a tese contrária e preparar a tese verdadeira. A maiêutica ( = parir) de Sócrates conduz o interlocutor a descobrir paulatinamente o conhecimento sobre o objeto de discussão. No caso de Sócrates que supunha haver idéias inatas, a maiêutica consistia, mais precisamente, em fazer recordar, despertando os conhecimentos virtualmente possuídos.
Como método, a dialética vinha sendo praticada pelos últimos pré-socráticos, como Zenão de Eléia e especialmente os sofistas. Sócrates imprime a ela uma peculiaridade própria, em vista de seu temperamento irônico e seu propósito de combater os sofistas.
Além disto, a maiêutica era caracterizada pela sua concepção inatista, bem como pelo fato de havê-la denominado em função à profissão de sua mãe, que era parteira.
A ciência é um conhecimento do geral. Ou seja, é a explicação das coisas singulares, percebendo-as sob o prisma de uma idéia universal. Eis uma definição de ciência, que se atribui como sendo descoberta de Sócrates.
Com isto teria também esclarecido o conceito de definição, que oferece a noção geral da coisa (conforme texto já citado Met. 897b). Igualmente veio a mostrar o que é uma indução, - um caminhar para o universal, a partir de dados singulares. Isto o fez sobretudo com assuntos morais. Determina, por exemplo, a idéia de justiça, arrolando os elementos comuns em muitos casos particulares.
Teria sido excelente se tivesse aplicado o método indutivo ao estudo da natureza.
"Duas coisas podem ser atribuídas com justiça a Sócrates: os argumentos indutivos e a definição universal, ambos os quais se relacionam com o ponto de partida da ciência" (Arist., Metaf. 1078b 28).
A psicologia de Sócrates desenvolveu consideravelmente os conceitos sobre a pessoa humana. Distinguiu entre matéria e alma, conforme o dualismo, praticado nos termos do orfismo e pitagorismo, ao menos na linguagem de Platão.
Prosseguiu, determinando também as qualidades peculiares do espírito. Suas diversas faculdades são hierarquizadas, com distinção entre sentidos e inteligência, além de uma vontade dotada de liberdade. Esta, portanto, seria capaz de exercer um comportamento ético.
Deus é admitido por Sócrates. Mas não é sem reservas que aborda o assunto, pois nem Deus e nem o mundo diziam respeito à pessoa humana, da qual cuidava em primeiro lugar.
Repudiando os episódios míticos comentava:
"Se, por incredulidade, se procura dar verossimilhança a esses seres, usando para isso de uma curiosa e grosseira sabedoria, perde-se nisso o tempo e não podemos apreciar a vida como convém. O meu lazer, não o destino a essas explicações e eis aí a razão da minha atitude: ainda não cheguei a ser capaz como recomenda a inscrição délfica de conhecer a mim próprio. Parece-me ridículo, pois não possuindo eu ainda esse conhecimento, que me ponha a examinar coisas que não me dizem respeito. Não interessam essas fábulas e conformo-me, nesse sentido com a tradição. Não são as fábulas que investigo; é a mim mesmo" (Platão, Fedon 230).
Na prova da existência de Deus, este é avocado como autor da ordem universal (argumento teleológico, ou 5-a via em Tomás de Aquino) (vd n 305). Esta ação de Deus é vista nos detalhes mínimos, até a harmonia do ser humano, conforme texto de Xenofonte, companheiro do mesmo Sócrates:
"Não lhe parece que aquele que fez os homens desde o início lhes deu órgãos, a fim de que lhes sejam úteis: os olhos, para ver os objetos visíveis; as orelhas, para ouvir os sons? Para que nos serviriam os odores, se não tivéssemos narinas? Que idéias teríamos do que é doce, do que amargo, do que satisfaz agradavelmente ao paladar, se a língua não estivesse ali para decidir? Não é acaso uma maravilha da providência, que nossos olhos, órgãos delicados, estejam munidos de pálpebras, que se abrem como portas, quando deles precisamos e se fecham durante o sono? Que estas pálpebras estejam munidas de cílios, que, à maneira de crivos, os defendem contra o furor dos ventos? Que os sobrecílios se colocam à maneira de telhado por sobre os olhos para impedir que o suor a escorrer da frente os estorve? Que os ouvidos recebam todos os sons, sem se encher jamais? Que os dentes dianteiros de todos os animais sejam cortantes e os molares próprios para triturar os alimentos recebidos dos incisivos? Que direi da boca, que, destinada a receber o que excita o apetite do animal, é colocada junto dos olhos e das narinas? E como as dejeções excitam a aversão, não têm elas afastados os seus canais, de maneira a se encontrarem distantes dos órgãos mais delicados? Duvidais ainda que estas obras feitas com tanta ordem sejam produzidas ao azar ou por uma inteligência? - Percebo bem [concorda Aristodemo, participante do diálogo] que as considerando sob este ponto de vista são reconhecidamente obra dum sábio artista, animado por um terno amor por suas criaturas" (Xenofonte, Ditos memoráveis, I, 37).
Sócrates não levou ainda em conta o princípio da seleção das espécies e outros entraves do argumento que apresentava; para ser válido, o argumento deverá analisar mais sutilmente, até atingir o fundamento dos fatos admiráveis da natureza.
Todavia, a prova, como Sócrates a estruturou, já era um silogismo estruturado, ainda que as premissas não fossem suficientemente fundamentadas, conduzia à existência de Deus e a um conceito elevado do mesmo, muito superior ao das religiões tradicionais. A criação da matéria não foi proposta por Sócrates; nem o fora pelos outros gregos. Pelo contrário, os eleatas haviam tentado provar que a criação era impossível.
A ação divina se limitava em aperfeiçoar as formas ordenadoras da matéria, criando uma ordem superior, com a atenção nos arquétipos; esta função será destacada por Platão.
Fonte: Enciclopédia Simpozio
http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/novo/2216y098.htm#TopOfPage
A ironia socrática consiste em perguntar, fingindo desconhecer o assunto (= dúvida fictícia e metódica), com vistas a refutar a tese contrária e preparar a tese verdadeira. A maiêutica ( = parir) de Sócrates conduz o interlocutor a descobrir paulatinamente o conhecimento sobre o objeto de discussão. No caso de Sócrates que supunha haver idéias inatas, a maiêutica consistia, mais precisamente, em fazer recordar, despertando os conhecimentos virtualmente possuídos.
Como método, a dialética vinha sendo praticada pelos últimos pré-socráticos, como Zenão de Eléia e especialmente os sofistas. Sócrates imprime a ela uma peculiaridade própria, em vista de seu temperamento irônico e seu propósito de combater os sofistas.
Além disto, a maiêutica era caracterizada pela sua concepção inatista, bem como pelo fato de havê-la denominado em função à profissão de sua mãe, que era parteira.
A ciência é um conhecimento do geral. Ou seja, é a explicação das coisas singulares, percebendo-as sob o prisma de uma idéia universal. Eis uma definição de ciência, que se atribui como sendo descoberta de Sócrates.
Com isto teria também esclarecido o conceito de definição, que oferece a noção geral da coisa (conforme texto já citado Met. 897b). Igualmente veio a mostrar o que é uma indução, - um caminhar para o universal, a partir de dados singulares. Isto o fez sobretudo com assuntos morais. Determina, por exemplo, a idéia de justiça, arrolando os elementos comuns em muitos casos particulares.
Teria sido excelente se tivesse aplicado o método indutivo ao estudo da natureza.
"Duas coisas podem ser atribuídas com justiça a Sócrates: os argumentos indutivos e a definição universal, ambos os quais se relacionam com o ponto de partida da ciência" (Arist., Metaf. 1078b 28).
A psicologia de Sócrates desenvolveu consideravelmente os conceitos sobre a pessoa humana. Distinguiu entre matéria e alma, conforme o dualismo, praticado nos termos do orfismo e pitagorismo, ao menos na linguagem de Platão.
Prosseguiu, determinando também as qualidades peculiares do espírito. Suas diversas faculdades são hierarquizadas, com distinção entre sentidos e inteligência, além de uma vontade dotada de liberdade. Esta, portanto, seria capaz de exercer um comportamento ético.
Deus é admitido por Sócrates. Mas não é sem reservas que aborda o assunto, pois nem Deus e nem o mundo diziam respeito à pessoa humana, da qual cuidava em primeiro lugar.
Repudiando os episódios míticos comentava:
"Se, por incredulidade, se procura dar verossimilhança a esses seres, usando para isso de uma curiosa e grosseira sabedoria, perde-se nisso o tempo e não podemos apreciar a vida como convém. O meu lazer, não o destino a essas explicações e eis aí a razão da minha atitude: ainda não cheguei a ser capaz como recomenda a inscrição délfica de conhecer a mim próprio. Parece-me ridículo, pois não possuindo eu ainda esse conhecimento, que me ponha a examinar coisas que não me dizem respeito. Não interessam essas fábulas e conformo-me, nesse sentido com a tradição. Não são as fábulas que investigo; é a mim mesmo" (Platão, Fedon 230).
Na prova da existência de Deus, este é avocado como autor da ordem universal (argumento teleológico, ou 5-a via em Tomás de Aquino) (vd n 305). Esta ação de Deus é vista nos detalhes mínimos, até a harmonia do ser humano, conforme texto de Xenofonte, companheiro do mesmo Sócrates:
"Não lhe parece que aquele que fez os homens desde o início lhes deu órgãos, a fim de que lhes sejam úteis: os olhos, para ver os objetos visíveis; as orelhas, para ouvir os sons? Para que nos serviriam os odores, se não tivéssemos narinas? Que idéias teríamos do que é doce, do que amargo, do que satisfaz agradavelmente ao paladar, se a língua não estivesse ali para decidir? Não é acaso uma maravilha da providência, que nossos olhos, órgãos delicados, estejam munidos de pálpebras, que se abrem como portas, quando deles precisamos e se fecham durante o sono? Que estas pálpebras estejam munidas de cílios, que, à maneira de crivos, os defendem contra o furor dos ventos? Que os sobrecílios se colocam à maneira de telhado por sobre os olhos para impedir que o suor a escorrer da frente os estorve? Que os ouvidos recebam todos os sons, sem se encher jamais? Que os dentes dianteiros de todos os animais sejam cortantes e os molares próprios para triturar os alimentos recebidos dos incisivos? Que direi da boca, que, destinada a receber o que excita o apetite do animal, é colocada junto dos olhos e das narinas? E como as dejeções excitam a aversão, não têm elas afastados os seus canais, de maneira a se encontrarem distantes dos órgãos mais delicados? Duvidais ainda que estas obras feitas com tanta ordem sejam produzidas ao azar ou por uma inteligência? - Percebo bem [concorda Aristodemo, participante do diálogo] que as considerando sob este ponto de vista são reconhecidamente obra dum sábio artista, animado por um terno amor por suas criaturas" (Xenofonte, Ditos memoráveis, I, 37).
Sócrates não levou ainda em conta o princípio da seleção das espécies e outros entraves do argumento que apresentava; para ser válido, o argumento deverá analisar mais sutilmente, até atingir o fundamento dos fatos admiráveis da natureza.
Todavia, a prova, como Sócrates a estruturou, já era um silogismo estruturado, ainda que as premissas não fossem suficientemente fundamentadas, conduzia à existência de Deus e a um conceito elevado do mesmo, muito superior ao das religiões tradicionais. A criação da matéria não foi proposta por Sócrates; nem o fora pelos outros gregos. Pelo contrário, os eleatas haviam tentado provar que a criação era impossível.
A ação divina se limitava em aperfeiçoar as formas ordenadoras da matéria, criando uma ordem superior, com a atenção nos arquétipos; esta função será destacada por Platão.
Fonte: Enciclopédia Simpozio
http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/novo/2216y098.htm#TopOfPage
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