domingo, 25 de julho de 2010

SEGUNDO PERÍODO DA FILOSOFIA ANTIGA: AS DOUTRINAS DE PLATÃO.

Racionalismo Radical, Inatismo, Dialética de Reminiscência.

A filosofia de Platão é racionalista radical, porque o pensamento é considerado capaz de se exercer sem os dados dos sentidos como ponto de partida. Ainda que o diálogo com as coisas sensíveis possa estimular o enlevo, que sobe à contemplação dos universais, estes não têm no sensível a origem do seu conteúdo.
Esta doutrina racionalista marcará uma tradição futura, que passará por Plotino, Agostinho, agostinianos medievais, Descartes, Leibniz. Estará sempre em contraste com o racionalismo moderado de Aristóteles e de Kant, sobretudo dos empiristas, que fazem a inteligência inicializar o conhecimento no fenômeno sensível, cujo conteúdo operam para subirem além, sem nunca desprender-se dele; os empiristas permanecem neste fenômeno sensível, os kantianos lhe sobrepõem formas apriorísticas, os aristotélicos, já com Parmênides, admitem que nele a inteligência intui o ser, ainda que seja somente o ser do sensível, a partir do qual, por analogia, vão ao ser em geral.

O racionalismo platônico, como já referido, tomou elementos à filosofia pitagórica, a qual, por sua vez se encontra influenciada pelas doutrinas dualistas do orfismo, que separam radicalmente o psíquico e o corpóreo, como substâncias distintas, em tudo irredutíveis.
O método dialético de Platão segue a índole de suas posições gnosiológicas. Uma vez colocada a distinção entre idéias singulares e idéias gerais (sendo estas inatas), a dialética conduz dos conhecimentos singulares aos universais (portanto à ciência no sentido Socrático); estes despertam aqueles, mas aqueles não dependem destes.
O constante esforço dos diálogos platônicos consiste numa procura incessante, com vistas a descobrir conceitos gerais, e que em última instância são universais reais, arquétipos eternos. Platão é racionalista radical, na acepção de admitir uma fonte de idéias autônoma em relação aos sentidos, a qual a alma teve acesso já antes de penetrar no corpo humano atual. Há idéias de origem empírica e idéias inatas; só estas são universais, isto é, de objeto imutável. As outras colhem notícia de objetos em constante possibilidade de fluxo. Ainda que as idéiasadventícias tenham o caráter empírico, não se confundem todavia com as sensações.

O conteúdo das idéias inatas e universais não se encontra nos objetos do mundo empírico. Se possuímos tais idéias universais, devem ter outra origem. São inatas. Fazer ciência é despertá-las (Menon 85). A ciência, como pesquisa do universal, é uma reminiscência.
Apelando ao mito, Platão esclarece que as idéias inatas foram conhecidas em uma vida anterior, quando as almas tiveram a oportunidade de contemplar os objetos universais (Fedro, 246-248). Aristóteles, ao contestar Platão, dirá que as idéias universais existem, mas enquanto apreendidas, por abstração, a partir da intuição do ser nas coisas sensíveis: opõe portanto a Platão um racionalismo moderado. Finalmente o positivismo, que já era o ponto de vista dos sofistas, nega mesmo o racionalismo moderado de Aristóteles.
As idéias universais da mente humana reproduzem as idéias arquétipas. Foram geradas e adquiridas pela mente no estágio anterior à vida presente, quando os espíritos puros contemplavam os arquétipos. Foram as almas instaladas nos corpos materiais por punição, a fim de pagarem delitos anteriores. Eis um resto das doutrinas órficas acolhidas por pitagóricos e agora também por Platão.
No futuro Agostinho dirá que ditas idéias universais surgem na mente por efeito de uma iluminação divino-natural, sem todavia afastar a doutrina judaico-cristã do pecado original. Descartes dirá que as idéias são inatas, isto é, criadas juntamente com a alma. Kant dirá que são formas apriorísticas do entendimento. Mas, desde a antiguidade Aristóteles defende que os universais são nada mais que abstrações, pelo acolhimento de uma noção sem os respectivo sujeito singular, sem que tenham sido colhidas em um momento anterior a partir de um arquétipo.
Para Platão os conhecimentos recebidos pelos sentidos são singulares. Podendo também generalizar-se, nunca equivalem às ideias inatas, porque estas equivalem diretamente às idéias reais arquétipas, as quais foram conhecidas com anterioridade à qualquer generalização. Contudo, os conhecimentos sensíveis, pelo seu caráter similar, podem despertar as idéias inatas adormecidas. A ciência empírica, na medida que se desenvolve, poderá, pois, desenvolver a ciência propriamente dita, a que se dá pelo desenvolvimento das idéias inatas universais. Considerando que tais ideias surgem por recordação, a ciência propriamente dita se diz ser uma reminiscência.

Fonte: Enciclopédia Simpozio
http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/novo/2216y098.htm#TopOfPage

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