terça-feira, 14 de setembro de 2010

TERCEIRO PERÍODO DA FILOSOFIA ANTIGA: O CETICISMO HELÊNICO-ROMANO

Introdução
Pela via de transformações diversas, também as escolas socráticas menores tiveram continuidade nas escolas cética, epicuréia e estóica. Todas continuam caracterizadas pela tendência ética de Sócrates. Mas esta maneira ética de ver se adatou contudo ao espírito do novo tempo, no qual desaparecera o Estado-Cidade, em troca do grande Império Helênico. Neste o cidadão se converteu em um indivíduo mais abstrato, com referência ao grande todo político, no qual não exerce funções.
Desligado do antigo esquema político local, em que devera ser muito ativo, ficou agora entregue a si mesmo. Em decorrência deveu criar uma ética pessoal, com base no direito natural. Também a religião se tornou para ele institucionalmente mais importante, em vista da ausência da atividade política local. E, mesmo porque ela passara à esfera dos assuntos particulares, quando anteriormente se prendia à organização do Estado-Cidade.

O ceticismo, fundado por Pirro de Elis (c.360 - 270 a.C.) é antes um movimento ideológico, do que uma escola de ensino organizada. Foi Pioro aluno dos megáricos, cujo unicismo pregava a ilusão da multiplicidade. Em Atenas conviveu com os representantes das mais variadas escolas, aprendendo deles a versatilidade da disputa e a notar a fragilidade dos argumentos.
Nada escreveu Pioro. Mas transmitiu seu pensamento através de Timon, seu discípulo.
Declama este:
"Nobre ancião, Pioro, como e por que caminho tens podido escapar a esta escravidão de doutrinas e fúteis ensinamentos dos sofistas? Como pudeste romper as ligaduras do erro e da crença servil? Tu não te extenuaste esquadrinhando a natureza do ar que rodeia a Grécia, o princípio e o fim de todas as coisas" (Frag. do Silos, conservado por Diógenes Laércio IX).
Em resumo, ensinou que não é possível conhecer as coisas: por isso devemos suspender o juízo e nos conservar imperturbáveis ( = ataraxia), como objetivo ético a atingir. Aliás, este foi o objetivo subtil da ética de Sócrates e que perdura nas escolas pós-socráticas, assumindo o acento cético na escola deploro.
Nestes termos, o pensamento pirrônico e de Timon, nos veio através de uma referência fragmentária de Eusébio de Cesaréia, em sua Preparação Evangélica, que tinha por função comparar o pensamento cristão e o pagão:

"Pirro de Elis não deixou nenhum escrito, mas seu discípulo Timon diz que aquele que quer ser feliz deve considerar estes três pontos:
em primeiro lugar, que são as coisas em si mesmas?
Depois, com que disposições devemos nos colocar em seu respeito?
Enfim, que resultará para nós dessa disposição?
As coisas não se diferenciam entre si, igualmente incertas e indiscerníveis. Também, nem as nossas sensações, nem nossos juízos nos apreendem nem o verdadeiro, nem o falso. Por conseguinte não nos devemos fiar, nem nos sentidos, nem na razão, mas conservar-nos sem opinião, sem inclinar nem de um lado, nem de outro, impassíveis. De qualquer coisa que se trata, nós diremos não é possível mais afirmar que negar, ou que é possível tão bem afirmá-la, como negá-la, ou que não é possível nem afirmá-la e nem negá-la.
Se nos encontrarmos em tais disposições, diz Timon, alcançamos primeiramente a afasia, depois a ataraxia" (Prep. Evang., XIV, 18,2).

Céticos novos.
Depois de haver influenciado os neo-acadêmicos, a escola de Pirro terá excelentes continuadores nos chamados Céticos Novos, situados geralmente em Alexandria.
Destacam-se Enesidemo, do 1-o século a.C., autor de Discursos pirronianos, de que se conservam extratos;
Agripa, do 1-o século d.C., do qual se conservam os "tropos" ou modos de argumentar pelo ceticismo;
Sexto Empírico, do 2-o século d.C., autor de Esquemas pirronianos ( = Pyrroneioi hupotypóseis) e outros livros.

Sexto Empírico.
Em vista de se haverem conservado os livros de Sexto Empírico, converteram-se estes na melhor fonte de informação sobre o ceticismo antigo, em especial dos céticos novos e dele mesmo.
Insiste Sexto Empírico no sentido exato do ceticismo de seu tempo, o qual é antes a dúvida sobre a realidade, do que sobre a aparência como simples representação.
"Aqueles, que pretendem que os céticos negam as aparências, parece que não entendem o que nós dizemos. Nós não recusamos as impressões que a representação recebe passivamente e que nos levam involuntariamente ao assentimento, como o dissemos antes, das aparências.
Toda a vez que nós indagamos se o objeto é tal como aparece, estamos de acordo com as aparência e pomos em questão, não a aparência, mas aquilo que se diz da aparência; tal coisa é diferente do que pôr em questão a mesma aparência. Assim o mal nos parece doce; nós o admitimos, porque efetivamente possuímos a sensação do doce. Nós procuramos saber se o mel é doce por essência; isto não é aparência.
Se propomos diretamente argumentos contra as aparências, nós os expomos sem querer negar as aparências, mas para mostrar a precipitação do juízo dos dogmáticos. Se com efeito a razão é assaz enganosa para nos subtrair quase aos olhos as aparências, como não tê-la por suspeita a propósito daquilo que é obscuro?" (Sexto, - Hypotyposeis I, c.10, 19-20).

Pouco adiante:
"ninguém nos contesta que o objeto aparece tal e tal, mas o que se indaga, se é tal como ele aparece" (Ibidem, I, c. 11, 22).
Aliás, cepticismo (do grego Skepsis, por sua vez de skopeuo examinar, observar), não significa literalmente duvidar.
Fonte: Enciclopedia Simpozio

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