sábado, 18 de setembro de 2010

TERCEIRO PERÍODO DA FILOSOFIA ANTIGA: O EPICURISMO HELÊNICO-ROMANO

Introdução

Resultou o epicurismo da junção, com algumas modificações, da lógica de Aristóteles, da física atomista de Demócrito, da moral do prazer de Aristipo de Cirene. Combatido embora pelos moralistas mais rigoristas, foi o epicurismo da antiguidade uma filosofia de equilíbrio, e ainda hoje continua sendo um ideal de vida.
Particularmente é o epicurismo a continuação da escola socrática menor de Aristipo de Cirene (vd 114), caracterizada pela moral hedonista. Em tal condição está em conflito com a escola socrática menor dos cínicos e seus sucessores, os estóicos; estes outros acentuam a presença do Logos e a rigidez moral.

Epicuro de Samos (341-270 a.C.) é fundador da escola, que tomou seu nome, e estava situada num jardim. Escreveu muito, restando fragmentos e algumas páginas, a que se acrescentam alguns livros reencontrados modernamente. De sua obra Sobre a natureza conservam-se dois livros, qual Diógenes Laércio informa conter ao todo 37 (encontrados na biblioteca de Herculano, editados pela primeira vez em 1818, em Leipzig).
Temos ainda, graças a Diógenes Laércio, os Axiomas principais e três Epistolas didáticas.
O fim da atividade humana é o prazer:
"Consideramos o prazer como o princípio e o fim da felicidade; este é o primeiro bem que nós conhecemos, inerente à nossa natureza; é o princípio de todas as nossas determinações, de nossos desejos e de nossas aversões; é este para o qual aspiramos sem cessar e em todas as coisas o sentimento é a regra que nos serve para medir o bem" (III Carta).
Logo adiante diz:
"Todo o prazer, portanto, considerado em si mesmo e em sua natureza é um bem" (Ibidem I).
"O que prova (diz Epicuro citado por D. Laércio), que o prazer é o fim da vida e que os animais, desde que nascem, são atraídos pelo prazer e repelem a dor, por puro instinto e sem nenhum raciocínio. Nós fugimos naturalmente do sofrimento, com Hércules, que, consumido pela túnica fatal, estremece..." (D. Laércio, X).

Hierarquizou Epicuro as diferentes espécies de prazer, criando assim um conceito para a honestidade.
"Pela mesma razão que faz o prazer de todos os bens, o bem inato, não nos sujeitamos indiferentemente a toda a classe de prazeres; deixamos o prazer de um lado, quando se lhe segue um mal. Muitos sofrimentos nos parecem preferíveis à voluptuosidade, quando estes sofrimentos, por muito tempo suportados, são recompensados com vantagens pelo prazer resultante.
Todo o prazer, portanto, considerado em si mesmo e em sua natureza íntima, é um bem; nem todos, porém, devem ser igualmente buscados. Do mesmo modo também, todo o sofrimento é um mal, nem todos porém devem por sua natureza ser evitados.
Em uma palavra, é preciso examinar, pesar as vantagens e os inconvenientes, antes de pronunciar-se sobre o valor dos prazeres e das penas; porque um bem pode resultar-nos num mal, em certas circunstâncias e reciprocamente um mal pode chegar a ser um bem" (III Carta).

No plano social e político, o epicurismo apresenta apenas a amizade, como o comportamento aconselhado. Prega o individualismo e o cosmopolitismo. Não existe sociedade política natural.
"O poder e a realeza não são bens absolutos, pertencentes à ordem natural; bens enquanto nos põem ao abrigo dos malvados desígnios dos homens" (Epicuro, em Axiomas fundamentais).
"De todas as fontes de felicidade que devemos à sabedoria, nenhuma tão abundante como a amizade: o que preferentemente deve confirmar-nos na esperança de que nenhum mal é eterno, nem tão pouco de grande duração, é o pensamento de que a amizade nos oferece recursos inexgotáveis, ainda durante o curto espaço da vida" (Ibidem).
Quanto à morte:
"Adquira o hábito de pensar que a morte para nós é coisa indiferente...
O mais agudo de todos os males, a morte, nada é para nós, porque, quando existimos, não existe a morte; quando a morte chegar, não existiremos mais.
A morte não interessa, pois, nem aos vivos, nem aos que deixaram a vida;
para os primeiros não existe a morte; os outros já não existem mais" (III Carta).

O modelo da vida feliz é, como no ceticismo pirrônico, a calma (ou atarraxia).
O epicurismo se mantém no decurso de todo o período helênico-romano. Representa naquela época o positivismo e o sensismo dos modernos.

Entre os romanos se tornou conhecido Lucrécio Caro (98-55 a.C.), poeta e filósofo, autor do poema De rerum natura (= Da natureza das coisas). Nele expõe uma filosofia atomista, gnosiologia sensista, uma ética natural positiva e uma sociedade resultante da amizade.
"Então também os vizinhos começaram a unir-se em amizade, desejosos de não sofrer, nem fazer-se mutuamente violências; e entre si recomendaram a seus filhos e mulheres, indicando com suas vozes e gestos ser de justiça que todos se apiadem dos débeis. Não poderia ser geral este acordo; porém uma grande parte observava os pactos com escrúpulo; se não, já então o gênero humano teria percebido por inteiro e sua descendência não haveria podido propagar-se até nós" (De rerum natura, 1019-1027).
Do desenvolvimento deste pacto inicial, resulta finalmente a sociedade organizada por meio de governantes:
"E assim, graças ao fogo e a novos inventos, mostravam como podia melhorar-se uma vida anterior. Os que sobressaíam em engenho e prudência, começaram a fundar cidades e, como reis delas, a estabelecer cidadelas que asseguravam refúgio" .

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