segunda-feira, 31 de outubro de 2011

CONFLITOS NA FAMÍLIA MODERNA

                                                                                                                       Suely Monteiro            
                           Filha do Iluminismo e da Revolução Francesa, a Modernidade nasce com a incumbência de realizar o sonho de uma sociedade feliz fundada nos parâmetros da razão, da livre escolha, da ciência e da tecnologia. 

                         A humanidade anseia por novos rumos libertadores. Está cansada da submissão à Igreja. Quer constituir novas instituições mais imanentes que lhe  proporcionem a visão imediata do seu poder de ação.

                       Para atender a essas ambições, a Modernidade Investe na Ciência, na Tecnologia e ganha horizontes nunca antes experimentados.
                       Sorridente e confiante em seu poder de ação e resolução, ela se lança com toda a força de sua jovialidade ao desbravamento do insondável, do inimaginável, do impossível.

Entrega-se às Artes e gera o Modernismo, movimento que se volta primeiramente para a Estética e mais tarde, para a Ética, imiscuindo segundo alguns até na política com o objetivo de fomentar uma sociedade exemplarmente estabelecida nos rigores das leis, do direito e do respeito ao outro.
                Ambiciosa, ansiando entrar para a História, a Modernidade insufla em sua filha predileta, o desejo de conseguir  maior penetração na sociedade que ela quer transformar. E a Modernização se encarrega de atender o desejo da mãe, especializando-se em desenvolver processos técnicos e econômicos, marcados pela avidez de renovações em tempos cada vez menores.
                   Armada de coragem e criatividade, ela vai à luta e constrói máquinas engenhosas, sistemas de telefonia sofisticados, impulsiona  a navegação, promove grandes avanços naCiência em consequência dos invenções que facilitam os diagnósticos e os tratamentos.
                 Na Administração, a cada dia, cria novas técnicas de aprimoramento das relações, como por exemplo, as redes sociais que ganham espaço e conquistam lugares de destaque em todos os setores da sociedade.
                 Nos Transportes e na Indústria, promove inovações surpreendentes que reduzem distâncias. O mundo em suas mãos vira uma aldeia: aldeia global.
                O sucesso da Modernização é rápido e graças a ela o mundo se modifica, elevando alguns setores, embrutecendo outros, gerando riquezas, conforto, miséria, medo  e  sentimento de obsoletismo.

                 Nas suas ávidas mãos, com exceção do Capital,  todas as coisas duram muito pouco, obrigando o consumidor a perpetuar renovações.
                Com ela as pessoas passaram a ser valorizadas pelos bens que possuem.
O individualismo  é exacerbado e, com ele a indiferença pelo outro, pelo ser humano.
                 As dores, as alegrias e os sucessos só ganham importância no âmbito do eu.
O “nós” ainda aparece, mas nas tragédias que envolvem multidões e somente por pouco tempo.
                 Dia após dia, os males são mais difundidos e aumenta a sensação de não pertencimento, de isolamento, entre as pessoas,  o que torna  impossível à Contemporaneidade esconder que há uma crise na família Moderna.

                 Sob o amparo da autonomização, a Modernização e o Modernismo seguem seus rumos, produzindo tecnologias, beleza e conforto para uma minoria, enquanto muitos outros filhos da Vida permanecem nas periferias, sobrevivendo com grande dificuldade.
                Por tudo isso que descrevemos, algumas pessoas pensam que a Modernidade  está vivendo os estertores da morte, frutos da sua má gestão dos assuntos caseiros, enquanto  outras juram que ela já morreu e ainda não se deu conta, em função do alto grau de indiferença que a mantém e, a cada um de nós, ilhados,  ignorando  ou desqualificando os acontecimentos fora do âmbito pessoal. 
     
                Muito triste é vermos as promessas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que deveriam transformar a Terra num Paraíso com a promoção do bem estar geral, continuarem sendo um sonho a ser retomado (quem sabe?), pela  sofisticada senhora Pós-Modernidade.

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