Suely Monteiro
Jogado no mundo como um projeto condenado a se realizar, o homem é livre para fazer escolhas e o único responsável pelas escolhas que faz e à medida que faz escolhas vai se construindo em pessoa.
Refúgio para meditar em Terrebone-CA. |
Desta forma, e diferentemente do ser potencial que se atualiza, na concepção de Aristóteles, para Sartre o ser é somente aquilo que é, e mais nada. A este ser que apenas é, ele chama de ente-em-si e o contrapõe ao ser especificamente humano que é o ente-para-si. O ente-para-si não tem a plenitude do ente-em-si. Ele é um espaço sem nada, “aberto”, às múltiplas possibilidades. Com este entendimento, Sartre faz do nada a principal característica humana e, consequentemente, impossibilita de falar da existência humana como uma coisa universal, mas ela é entendida somente como uma condição humana.
Mas, se cabe ao homem fazer escolhas e adotar comportamentos auto realizadores, auto constituidores, cabe a ele, também, respeitar os limites do outro, ou dizendo de outro modo, ele não pode fazer o que quiser, pois existem obstáculos que precisam ser superados (situação) ao longo do tempo, na busca da sua construção a partir do projeto.
Portanto, para Sartre Projeto, Liberdade, Situação e Responsabilidade são vigas estruturadoras da realidade do homem, e, também, para ele, a existência precede a essência, na medida em que o homem só se realiza através da existência e o desvelamento da sua essência está subordinada à sua realização.
Por tudo o que foi dito, a busca constante de si mesmo, a autoconstrução, o caminhar em direção à realização é o que entendo por autenticidade no sentido sartreano, pois se é verdade que para Sartre a autenticidade é adquirida de vez, em bloco, não é menos verdadeiro que ele considera que é preciso inventá-la a cada minuto novo, a cada nova situação, do mesmo modo que o homem se realiza, no mundo, de minuto a minuto a cada escolha. É importante considerar, nesta análise, que a autenticidade não apenas livra o homem de ser inautêntico, de não realizar o seu projeto, como também, lhe confere a responsabilidade pelo seu modo de agir e de construir –se como pessoa.
Todavia, compreender a autenticidade vinculada ao modo de agir, de se autoconstruir, também favorece o desenvolvimento do egoísmo, do individualismo, uma vez que, se ele não pode acusar Deus, a família e o Estado pelas consequências de suas escolhas, ele se desobriga de ajudar, de colaborar com o outro, porque vê nas escolhas do outro, os seus desejos de realizar sua essência e entende que não deve interferir. O amor solidário poderia virar uma opressão.
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