O rapto das filhas de Leucipo - Rubens, pintor renascentista.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
RUSSEL : E por falar em Familia ...
A humanidade transformou-se em uma grande família, tanto que não podemos garantir a nossa própria prosperidade se não garantirmos a prosperidade de todos.
POESIA CONTEMPORANEA
CONVIDO-TE
Charles Fonseca
Convido-te, amiga, às doces paragens
Campestres, ao silêncio dos prados,
Aos ternos murmúrios dos nossos regatos,
Aos roucos sussurros aquém das miragens.
Convido-te comigo a outros olhares,
A outros dizeres dos nossos silêncios,
A outros perfumes a nós como prêmios,
Tocar nossas harpas, frementes, vibrares.
Convido-te, amiga, pra caminhada
A dois pela praia, o mar por fronteira,
As nossas dores escrever na areia,
Do nosso amor gozar, madrugada.
Charles Fonseca
Convido-te, amiga, às doces paragens
Campestres, ao silêncio dos prados,
Aos ternos murmúrios dos nossos regatos,
Aos roucos sussurros aquém das miragens.
Convido-te comigo a outros olhares,
A outros dizeres dos nossos silêncios,
A outros perfumes a nós como prêmios,
Tocar nossas harpas, frementes, vibrares.
Convido-te, amiga, pra caminhada
A dois pela praia, o mar por fronteira,
As nossas dores escrever na areia,
Do nosso amor gozar, madrugada.
REFRESCANDO A MEMÓRIA ...
As Moiras
Cloto, Láquesis e Átropos.
A elas o destino humano estava submetido.
FILOSOFIA MEDIEVAL: DISCURSO SOBRE A DIGNIDADE DO HOMEM
Giovanni Pico Della Mirandola
"Ó Adão, não te demos nem um lugar
determinado, nem um aspecto que te seja próprio, nem tarefa alguma específica,
a fim de que obtenhas e possuas aquele lugar, aquele aspecto, aquela tarefa que
tu seguramente desejares, tudo segundo o teu parecer e a tua decisão. A
natureza bem definida dos outros seres é refreada por leis por nós prescritas.
Tu, pelo contrário, não constrangido por nenhuma limitação, determiná-la-ás
para ti, segundo o teu arbítrio, a cujo poder te entreguei.
Coloquei-te no meio
do mundo para que daí possas olhar melhor tudo o que há no mundo. Não te
fizemos celeste nem terreno, nem mortal nem imortal, a fim de que tu, árbitro e
soberano artífice de ti mesmo, te plasmasses e te informasses, na forma que
tivesses seguramente escolhido. Poderás degenerar até aos seres que são as
bestas, poderás regenerar-te até às realidades superiores que são divinas, por
decisão do teu ânimo". Ó suma liberalidade de Deus pai, ó suma e admirável
felicidade do homem! ao qual é concedido obter o que deseja, ser aquilo que
quer. As bestas, no momento em que nascem, trazem consigo do ventre materno,
como diz Lucilio, tudo aquilo que depois terão. Os espíritos superiores ou
desde o princípio, ou
pouco depois, foram o que serão eternamente. Ao homem nascente o Pai conferiu sementes de toda a espécie e germes de toda a vida, e segundo a maneira de cada um os cultivar assim estes nele crescerão e darão os seus frutos. Se vegetais, tornar-se-á planta. Se sensíveis, será besta. Se racionais, elevar-se-á a animal celeste. Se intelectuais, será anjo e filho de Deus, e se, não contente com a sorte de nenhuma criatura, se recolher no centro da sua unidade, tornado espírito uno com Deus, na solitária caligem do Pai, aquele que foi posto sobre todas as coisas estará sobre todas as coisas.
pouco depois, foram o que serão eternamente. Ao homem nascente o Pai conferiu sementes de toda a espécie e germes de toda a vida, e segundo a maneira de cada um os cultivar assim estes nele crescerão e darão os seus frutos. Se vegetais, tornar-se-á planta. Se sensíveis, será besta. Se racionais, elevar-se-á a animal celeste. Se intelectuais, será anjo e filho de Deus, e se, não contente com a sorte de nenhuma criatura, se recolher no centro da sua unidade, tornado espírito uno com Deus, na solitária caligem do Pai, aquele que foi posto sobre todas as coisas estará sobre todas as coisas.
Quem
não admirará este nosso camaleão? [...]
Blog Pensar:
Acesso em 28/12/2011
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
MÚSICA
Para o seu deleite, querido leitor, a beleza da música do grande Joshua Bell tocada por ele, graciosa e anonimamente, no Metrô de Nova York.
KANT E A PAZ PERPÉTUA
Em 1795, o filósofo Kant lançou um opúsculo que provocou um enorme sucesso junto ao público culto da sua época.
Era um projeto que visava estabelecer uma paz perpétua entre os povos europeus, e depois espalhá-la pelo mundo inteiro.
Tratou-se de um manifesto iluminista a favor do entendimento permanente entre os homens, retomando uma idéia anterior de consegui-la através da formação de uma sociedade das nações, defendida pelo padre Saint-Pierre.
A Influência da França Revolucionária
Transcorria o verão de 1795 e o setuagenário filósofo Emanuel Kant aguardava ansioso as notícias vindas da França. Seis anos antes, em 1789, os moradores da sua pequena cidade, o porto de Königsberg, capital do Ducado da Prússia Oriental, tomaram conhecimento de que algo espetacular havia ocorrido de uma maneira muito singular.
O velho professor, sempre pontualíssimo nas suas caminhadas cotidianas, num determinado dia, não se contendo, saiu às ruas uma hora antes do habitual.
Foi assim que eles se inteiraram da eclosão da Revolução Francesa.
A Paz de Basiléia
As notícias tardavam mais de semana para aportar naquele rincão remoto das terras alemãs, conquistadas pelos Cavaleiros Teutônicos nos tempos medievais. A fome por novidades deixava Kant enervado e desejoso de atividade. Finalmente elas chegaram. A jovem república francesa não só tinha conseguido sobreviver aos vários ataques das coligações monarquistas vizinhas, como conseguira impor uma paz vantajosa. Assinada em julho de 1795, na Basiléia, a paz forçara os reis da Prússia e da Espanha a aceitar um acordo de convivência com a França revolucionária.
A Paz Perpétua
O filósofo exultou. Apesar dos horrores provocados pelo terror jacobino, ele continuava simpatizando com os acontecimentos franceses. Entusiasmado com o armistício de Basiléia, resolveu também dar a sua colaboração para o clima de concórdia que, momentaneamente, a todos enlaçou. Em pouco tempo aprontou um opúsculo denominado de Zum ewigem Frieden (A paz perpétua), que teve um acolhida espetacular. Os seus primeiros 1.500 exemplares esgotados em uma semana
.
Fonte: Site Cultura e Pensamento: História por Voltaire e Schilling http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/kant_paz.htm Acesso em 16/12/2011
sábado, 26 de novembro de 2011
A ARTE DE WASSILY KANDINSKY
Wassily Kandinsky
Nasceu em 1866, em Moscou, na Russia. Sua primeira vontade
foi ser músico. Entretanto, formou-se em direito e economia política na
Universidade de Moscou. Aos 30 anos, encantado com um quadro de Monet,
abandonou a carreira jurídica. Em 1900, em Munique, formou-se pela Academia
Real.
Seus primeiros trabalhos exprimiam a musicalidade e o
folclore russo. Em Paris, onde viveu por um ano, Kandinsky entusiasmou-se pelas
artes aplicadas e gráficas, bem como pelo estilo de pintura dos fauvistas. Em
1908, voltou a Munique. Publicou o ensaio Do Espiritual na Arte , em 1911, onde
tratou a manifestação artística como expressão de uma necessidade interior. Em
1912, publicou o almanaque Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), nome de um
quadro e do primeiro grupo expressionista, cuja vertente é mais lírica do que
dramática, em relação ao grupo expressionista Die Brücke.
Voltou à Russia durante a Primeira Guerra, onde permaneceu
até 1921. Acompanhou a Revolução Socialista e como membro do Comissariado para
a Cultura Popular fundou vários museus. Reorganizou a Academia de Belas Artes
de Moscou. Foi também professor da Bauhaus a partir de 1922. Escreveu Ponto e
Linha sobre o Plano onde reflete sobre os elementos da linguagem plástica e
suas correlações, colocando os problemas da abstração.
Tornou-se cidadão alemão em 1928. Em 1933, a Bauhaus foi fechada pelos nazistas e, em 1937, seus quadros foram confiscados. Em 1939, fugiu para a França, onde naturalizou-se. Morreu em Neuilly-sur-Seine, na França em 1944.
Fonte
http://estudandoarteecristianismo.blogspot.com/2011/10/wassily-kandinsky.html
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
MINHA FAMILIA
Minha família tem a leveza das nuvens, o colorido do arco-íris, a elegancia da garça, a generosidade dos deuses, o olhar inocente da criança e guarda a constante presença de Deus.
Minha família congrega valores da tradição ao mesmo tempo que avança, sem preconceitos, nos novos caminhos que a modernidade aponta.
Minha família comporta tanto os gestos delicados de amor quanto as grandes explosões que cortam os ares como raios nas noites de tempestades.
Minha familia canta, ri, dança e, se preciso, chora, esperneia, geme e reclama unida.
Minha família prega a paz, a harmonia e a união entre todos e, dois minutos depois, separa-se em tribos furiosas, para reajuntar-se, sem explicações num grande abraço, depois que a bronca passa.
Minha família não comunga com a mentira, mas se o telefone toca e há preguiça em atender, não se importa em mandar dizer que o procurado está no banho ou deu uma rápida saída.
Minha família economiza dinheiro e esbanja prazeres.
Minha família viaja, com todos os seus membros, várias vezes ao ano, através dos sonhos de cada um.
Ah minha família curte o carnaval na roça e nem se lembra do jantar se a novela das nove está passando.
Minha família filosofa durante horas tentando demonstrar a banalidade da filosofia.
Minha família adoece quando um dos membros sente dor e rejuvenece quando nasce um novo componente no grupo.
Minha família, certamente, é igual a muitas outras famílias, mas se reveste de grande significado, apenas, por ser
A MINHA FAMILIA.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
BOÉCIO (480-525)
Boécio
acreditava que a cultura latina do seu tempo estava em crise e buscou na
preservação e difusão da cultura grega a solução para essa fase difícil que
passava o conhecimento romano. Para fazer com que os latinos conhecessem a
cultura grega Boécio planejou traduzir para o latim as obras de Aristóteles e
Platão, mas conseguiu traduzir somente alguns livros.
Para o
filósofo, os seres universais como O Belo, O homem, O Universo, existem somente
enquanto idéias em nosso intelecto. Eles são portanto imateriais pois são
abstrações que nós criamos para entender a realidade. No mundo material o belo
existe somente como atributo de coisas singulares e é através dessas coisas
singulares que podemos abstrair, formar uma idéia do Belo universal.
Sendo a
filosofia o amor à sabedoria e causa suficiente de si mesma, ela é também a
busca pelo conhecimento de Deus, pois ele é a sabedoria absoluta. E é nessa
sabedoria absoluta que devemos buscar a felicidade e não nas coisas terrenas.
Deus é a felicidade e o máximo bem. O Uno, Deus e o Bem são para Boécio a mesma
coisa.
Para
responder a pergunta da origem do mal, já que o mundo é dirigido por Deus,
Boécio utiliza a providência divina e diz que está fora do nosso entendimento
percebermos todos os desígnios de Deus. Todas as coisas são feitas para atingir
o bem, e não o mal. O mal é um erro de análise feito por pessoas de pouco conhecimento.
Elas buscam o bem, mas por um cálculo falho, por um exame imperfeito causado
pela falta de conhecimento, elas fazem o mal.
Boécio
Outra questão
que preocupou o filósofo foi a do destino e da liberdade. Se Deus tem um
destino para os seres humanos esse destino destrói a liberdade de sermos quem
quisermos ser e fazermos o que quisermos fazer. Para Boécio Deus realmente sabe
tudo o que vai acontecer, mas não existe a necessidade de que tudo o que ele
sabe que possa acontecer aconteça realmente. Para Deus não existe passado ou
futuro, mas um constante presente e um conhecimento completo de tudo que
aconteceu ou pode acontecer.
Sobre a
música Boécio distingue três gêneros: a música cósmica, que os homens não
percebem, pois é uma música gerada pelos astros do universo; a música humana,
que é a mescla do movimento de nossa alma e do nosso corpo e que só poderemos
ouvir através de um exame profundo do nosso interior; e por último a música
prática que é a música criada pela vibração dos instrumentos musicais e pela
voz.
- A música é
parte de nós e enobrece ou degrada o nosso comportamento.
- O homem é
um animal bípede e racional.
- O homem é
um mundo em miniatura.
- Se Deus
existe de onde vem o mal? E se não existe de onde vem o bem?
- De todos os
infortúnios da fortuna, de ter sido feliz é a mais infeliz tipo de desventura.
- Quem pode
julgar os amantes? O amor é uma lei para si mesmo.
- Nada é mais
fugaz do que a forma exterior, sua aparência muda como as flores do campo.
- Quem caiu
foi porque não soube se sustentar em seus passos.
- O homem
justo paga a culpa do injusto.
Fonte:
Acesso em
16/11/2011
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
O BELO EM PLATÃO
Segundo Moderno (1997) o senso comum na Grécia Antiga usava a palavra kalón como significando a qualidade daquilo que agrada, que causa admiração ou satisfação à sensibilidade. O conceito de kalón foi para os gregos antigos muito mais amplo que o nosso conceito de Belo estético. Apesar disso considera-se a palavra kalón como referente ao que designamos como belo.
Segundo Platão, para se encontrar a verdade sobre o belo deve-se seguir o caminho da investigação do conhecimento, que é capaz de conduzir a todas as verdades do mundo real, onde o conhecimento é irrefutável e sem contradições. Assim, Platão acredita que a verdade sobre o belo seja um conhecimento racional. Veja onde Platão afirma a existência do belo como conhecimento verdadeiro, o belo em si, a verdade eterna, universal, irrefutável e sem contradições
O BELO EM SI: O BELO COMO "CONHECIMENTO VERDADEIRO"
—E que existe o belo em si, e o bom em si, e, do mesmo modo, relativamente a todas as coisas que então postulamos como múltiplas, e , inversamente, postulamos que a cada uma corresponde a uma idéia, que é única, e chamamo-la a sua essência.
—É isso.
—E diremos ainda que aquelas são visíveis, mas não inteligíveis, ao passo que as idéias são inteligíveis, mas não visíveis.
—Absolutamente.
(Platão, p. 204).
- Os amadores de audições e de espetáculos encantam-se com as belas vozes, cores e formas e todas as obras feitas com tais elementos, embora o seu espírito seja incapaz de discernir e de amar a natureza do belo em si.
- É assim, realmente.
- Mas aqueles que são capazes de subir até ao belo em si e de o contemplar na sua essência, acaso não serão muito raros?
- Mesmo muito.
- Ora quem acreditar que há coisas belas, mas não acreditar que existe a beleza em si nem for capaz de seguir alguém que o conduzisse no caminho do seu conhecimento, parece-te que vive em sonho ou na realidade? Repara bem. Por ventura sonhar não é quando uma pessoa, quer durante o sono, quer desperta, julgar que um objeto semelhante a outro não é uma semelhança, mas o próprio objeto com que se parece?
- Eu, por mim, chamaria sem dúvida sonhar a uma coisa dessas.
- Pois bem! Aquele que, ao contrário deste, entende que existe o belo em si e é capaz de o contemplar, na sua essência e nas coisas em que tem participação, e sabe que as coisas não se identificam com ele, nem ele com as coisas, uma pessoa assim parece-te viver em sonho ou na realidade?
- Claro que na realidade.
- Por conseguinte, diríamos com razão que o pensamento deste homem era conhecimento, visto que sabe, ao passo que o do outro era opinião, visto que se funda nas aparências?
- Absolutamente.
(Platão, p.173).
(...) me dê a réplica esse honrado homem que não acredita que exista algo de belo em si e na idéia do belo absoluto que se mantém sempre da mesma maneira, mas entende que há muitas coisas belas, esse amador de espetáculos que não consente de modo nenhum que alguém diga que o belo é um só, e o justo, e do mesmo modo as outras realidades. “Ora, dentre estas coisas, meu excelente amigo, diremos que, das muitas que são belas, acaso haverá alguma que não pareça feia? E, das justas, uma que não pareça injusta? E, das santas, uma que não seja ímpia?”.
— Não, mas é preciso que as mesmas coisas pareçam, de certo modo, belas e feias, e bem assim as outras por que perguntas.
— E agora as quantidades duplas? Podem parecer menos metades do que
duplas?
duplas?
— De modo nenhum.
— E as coisas grandes ou pequenas, leves ou pesadas, não lhes cabem mais estas qualificações que lhe damos do que as inversas?
— Não, mas cada uma delas terá sempre algo de ambas.
— Ora então cada uma destas numerosas coisas é antes aquilo que nós dizemos que é, ou não o é?
(...) Também estas coisas podem ter dois sentidos, e não é possível ter delas uma concepção fixa como sendo ou não sendo, nem como sendo as duas coisas, ou nenhuma delas.
— Que hás de então lhes fazer?
— perguntei eu. — Ou poderás dar-lhes melhor colocação do que entre o Ser e o Não-ser? Porquanto não parecerão mais obscuras do que o Não-ser relativamente a terem mais existência que o Não- ser, nem mais claras do que o Ser relativamente a terem mais existência que o Ser.
— É verdade.
— Descobrimos, portanto, ao que parece, que as múltiplas noções da multidão acerca da beleza e das restantes coisas como que andam a rolar entre o Não-ser e o Ser absoluto.
— Descobrimos.
— Mas estabelecemos previamente em que se uma coisa destas nos aparecesse, teríamos de a considerar do domínio da opinião, e não da ciência, pois, como objeto errante no espaço intermédio, é apreendida pela potência intermediária.
— Sim.
— Por conseguinte, dos que contemplam a multiplicidade de coisas belas, sem verem a beleza em si, nem serem capazes de seguir outra pessoa que os conduza até junto dela, e sem verem a justiça. E tudo da mesma maneira, desses, diremos que têm opiniões sobre tudo, mas não conhecem nada daquilo sobre que as emitem.
— Exatamente.
— E agora os que contemplam as coisas em si, as que permanecem sempre idênticas? Porventura não é isso conhecimento, e não opinião?
— Também isso é evidente.
— Não diremos também que tem entusiasmo e gosto pelas coisas que são objeto de conhecimento, ao passo que aqueles só o têm pelas que são do domínio da opinião? Ou não nos lembramos que dissemos que esses apreciam e contemplam vozes e cores belas e coisas no gênero, mas não admitem que o belo em si seja uma realidade?
— Lembramo-nos.
— Logo, não os ofenderemos de alguma maneira chamando-lhes amigos da opinião em vez de amigos da sabedoria? Acaso se irritarão fortemente conosco, se dissermos assim?
— Não, se acreditarem no que eu digo, porquanto não é licito irritar-se contra a verdade.
— Portanto, devemos chamar amigos da sabedoria, e não amigos da opinião, aos que se dedicam ao ser em si?
— Evidentemente.
(Platão,p.177).
Platão desejava que o ser humano vivenciasse o mundo pelo caminho da razão. Segundo Platão, o desenvolvimento racional é a chave para o desenvolvimento humano. Sem a razão não há desenvolvimento moral nem estético ou qualquer outro possível.
Na filosofia de Platão, o elemento racional está contido apenas na “alma” ou na “psique” do Homem. E o corpo é a morada dos elementos que induzem o Homem ao caos ou à desordem. As emoções e as paixões atrapalham a capacidade de bem pensar e de se perceber a diferença entre a realidade e a ilusão. Pensando assim, Platão procura mostrar que o conhecimento é sempre a vitória da ordem sobre o caos. Alguns provérbios populares são produtos dessa concepção filosófica:
“Quando a cabeça não pensa, o corpo padece.”
“Não se deixe iludir: as aparências enganam.”
Pode-se afirmar que para Platão não existe coisa melhor ou que cause mais prazer à alma do que ver a vitória da ordem sobre o caos. Não há nada que dê mais prazer ou agrade mais à alma. Essa afirmação não é coerente com as afirmações platônicas de que o belo é o útil, de que belo é o bem, de que o belo é a harmonia, a simplicidade, a simetria, de que o belo é o bem pensar e a ordem? Todas essas afirmações sobre o belo estão em “A República” e pode-se sintetizá-las numa frase como a seguinte:
O belo é sempre a expressão de uma ordem que sensibiliza pela força que consegue emergir do caos
Fonte:
KALOKAGATHIA
O BELO E A JUSTIÇA SEGUNDO PLATÃO EM "A REPÚBLICA
O BELO E A JUSTIÇA SEGUNDO PLATÃO EM "A REPÚBLICA
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
HERÁCLITO: FILOSOFIA COM MÚSICA.
Por Francisco Renaldo
“Nada do que foi será/De novo do jeito que já foi um dia/Tudo passa/Tudo sempre passará…” (Cantado por Caetano Veloso).
http://blogfilosofiaevida.com/index.php/2011/04/18/conheca-a-idade-do-seu-cerebro/
“Nada do que foi será/De novo do jeito que já foi um dia/Tudo passa/Tudo sempre passará…” (Cantado por Caetano Veloso).
Como afirma Heráclito (filósofo pré-socrático aprox. 540 a .C. – 470 a .C.) “O homem não entra duas vezes no mesmo rio, da segunda vez á não é o mesmo homem e nem o mesmo rio” , na verdade “tudo flui”. Significa então que tudo é devir, movimento, mudança. E nós… cidadãos do século XXI estamos preparados para estas mudanças? Ou melhor, entendemos o que se passa em nossa sociedade veementemente tecnológica?
Precisamos adaptar-nos, mudar nossos paradigmas, compreender o devir tecnológico para elaborarmos estratégias (diga-se aqui, em todas as áreas do ser humano: profissional, familiar, espiritual, relações…) que melhor nos realize como pessoas e não como máquinas, auxiliando-nos na busca da felicidade que é tornar-se cada vez mais humano!
Quando olhamos para a história da humanidade e comparamos a sociedade contemporânea com a tradicional, percebemos que a mudança é um eixo norteador. A primeira, muda lentamente, o que permite às novas gerações a adaptação segura à herança recebida. A nossa, a extrema rapidez das mudanças, ultimamente tem nos deixados atordoados.
As crenças antes solidificadas perderam sua força. Por sua vez, as decisões importantes encontram o caminho das possibilidades, outrora não conhecido por nós. A “verdade absoluta” deu lugar ao relativo.
Vivemos em um período privilegiado: de quebra de paradigma ( parâmetros que orientam a compreensão de mundo e de nós mesmos, estruturando assim uma “visão de mundo”). De uma maneira simples podemos afirmar que os paradigmas são como os nossos óculos… é a forma que enxergamos.
Se ontem as empresas eram máquinas e as pessoas engrenagens, hoje, as empresas são um sistema dinâmico/integrado e as pessoas seu principal patrimônio. Ontem não se mexia em time que está ganhando, hoje, devemos estar sempre abertos e rever nossos produtos, serviços e formas de agir.
É o momento de perguntar: que óculos você usa como ferramenta para alcançar seus objetivos?
Você está preparado para as mudanças que ocorrem a todo instante?
Você escolhe a Gabriela que diz ”eu nasci assim, eu vivi assim“… ou Heráclito :tudo flui, tudo muda.
Fonte:http://blogfilosofiaevida.com/index.php/2011/04/18/conheca-a-idade-do-seu-cerebro/
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
LÓGICA
A lógica nos ensina pensar correto e além do mais, é um ótimo exercício para o cérebro!
Relaxe e venha jogar para conhecer a idade do seu cérebro!
Este jogo (teste) japonês vai mostrar se o seu cérebro é mais jovem ou mais velho do que o resto do seu corpo.
Como jogar:
1. Clique no site abaixo:
http://flashfabrica.com/f_learning/brain/e_brain.html
2. Quando abrir a página, tecle ‘start’
3. Aguarde sempre pelo 3, 2, 1.
4. Memorize muito rapidamente a posição dos números e depois clique nos círculos, sempre do menor para o maior número.
5. No final do jogo, o computador vai dizer-lhe a idade do seu cérebro.
Boa Sorte!
Fonte:
http://blogfilosofiaevida.com/index.php/2011/04/18/conheca-a-idade-do-seu-cerebro/
Relaxe e venha jogar para conhecer a idade do seu cérebro!
Este jogo (teste) japonês vai mostrar se o seu cérebro é mais jovem ou mais velho do que o resto do seu corpo.
Como jogar:
1. Clique no site abaixo:
http://flashfabrica.com/f_learning/brain/e_brain.html
2. Quando abrir a página, tecle ‘start’
3. Aguarde sempre pelo 3, 2, 1.
4. Memorize muito rapidamente a posição dos números e depois clique nos círculos, sempre do menor para o maior número.
5. No final do jogo, o computador vai dizer-lhe a idade do seu cérebro.
Boa Sorte!
Fonte:
http://blogfilosofiaevida.com/index.php/2011/04/18/conheca-a-idade-do-seu-cerebro/
POLÍTICA: REPÚBLICA DESTROÇADA
Colaboração de Roberto Brasil, a quem agradeço.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
CONFLITOS NA FAMÍLIA MODERNA
Suely Monteiro
Filha do Iluminismo e da Revolução Francesa, a Modernidade nasce com a incumbência de realizar o sonho de uma sociedade feliz fundada nos parâmetros da razão, da livre escolha, da ciência e da tecnologia.
A humanidade anseia por novos rumos libertadores. Está cansada da submissão à Igreja. Quer constituir novas instituições mais imanentes que lhe proporcionem a visão imediata do seu poder de ação.
Para atender a essas ambições, a Modernidade Investe na Ciência, na Tecnologia e ganha horizontes nunca antes experimentados.
A humanidade anseia por novos rumos libertadores. Está cansada da submissão à Igreja. Quer constituir novas instituições mais imanentes que lhe proporcionem a visão imediata do seu poder de ação.
Para atender a essas ambições, a Modernidade Investe na Ciência, na Tecnologia e ganha horizontes nunca antes experimentados.
Sorridente e confiante em seu poder de ação e resolução, ela se lança com toda a força de sua jovialidade ao desbravamento do insondável, do inimaginável, do impossível.
Entrega-se às Artes e gera o Modernismo, movimento que se volta primeiramente para a Estética e mais tarde, para a Ética, imiscuindo segundo alguns até na política com o objetivo de fomentar uma sociedade exemplarmente estabelecida nos rigores das leis, do direito e do respeito ao outro.
Ambiciosa, ansiando entrar para a História, a Modernidade insufla em sua filha predileta, o desejo de conseguir maior penetração na sociedade que ela quer transformar. E a Modernização se encarrega de atender o desejo da mãe, especializando-se em desenvolver processos técnicos e econômicos, marcados pela avidez de renovações em tempos cada vez menores.
Armada de coragem e criatividade, ela vai à luta e constrói máquinas engenhosas, sistemas de telefonia sofisticados, impulsiona a navegação, promove grandes avanços naCiência em consequência dos invenções que facilitam os diagnósticos e os tratamentos.
Na Administração, a cada dia, cria novas técnicas de aprimoramento das relações, como por exemplo, as redes sociais que ganham espaço e conquistam lugares de destaque em todos os setores da sociedade.
Nos Transportes e na Indústria, promove inovações surpreendentes que reduzem distâncias. O mundo em suas mãos vira uma aldeia: aldeia global.
O sucesso da Modernização é rápido e graças a ela o mundo se modifica, elevando alguns setores, embrutecendo outros, gerando riquezas, conforto, miséria, medo e sentimento de obsoletismo.
Nas suas ávidas mãos, com exceção do Capital, todas as coisas duram muito pouco, obrigando o consumidor a perpetuar renovações.
Nas suas ávidas mãos, com exceção do Capital, todas as coisas duram muito pouco, obrigando o consumidor a perpetuar renovações.
Com ela as pessoas passaram a ser valorizadas pelos bens que possuem.
O individualismo é exacerbado e, com ele a indiferença pelo outro, pelo ser humano.
O individualismo é exacerbado e, com ele a indiferença pelo outro, pelo ser humano.
As dores, as alegrias e os sucessos só ganham importância no âmbito do eu.
O “nós” ainda aparece, mas nas tragédias que envolvem multidões e somente por pouco tempo.
O “nós” ainda aparece, mas nas tragédias que envolvem multidões e somente por pouco tempo.
Dia após dia, os males são mais difundidos e aumenta a sensação de não pertencimento, de isolamento, entre as pessoas, o que torna impossível à Contemporaneidade esconder que há uma crise na família Moderna.
Sob o amparo da autonomização, a Modernização e o Modernismo seguem seus rumos, produzindo tecnologias, beleza e conforto para uma minoria, enquanto muitos outros filhos da Vida permanecem nas periferias, sobrevivendo com grande dificuldade.
Por tudo isso que descrevemos, algumas pessoas pensam que a Modernidade está vivendo os estertores da morte, frutos da sua má gestão dos assuntos caseiros, enquanto outras juram que ela já morreu e ainda não se deu conta, em função do alto grau de indiferença que a mantém e, a cada um de nós, ilhados, ignorando ou desqualificando os acontecimentos fora do âmbito pessoal. Sob o amparo da autonomização, a Modernização e o Modernismo seguem seus rumos, produzindo tecnologias, beleza e conforto para uma minoria, enquanto muitos outros filhos da Vida permanecem nas periferias, sobrevivendo com grande dificuldade.
Muito triste é vermos as promessas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que deveriam transformar a Terra num Paraíso com a promoção do bem estar geral, continuarem sendo um sonho a ser retomado (quem sabe?), pela sofisticada senhora Pós-Modernidade.
ARTE GRAGA ANTIGA
A Vênus de Milo, uma das mais célebres estátuas de todos os tempos, obra de Alexandros de Antióquia, atualmente no Louvre de Paris.
Fonte: Wikipédia
Acesso em 31/10/2011
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
REFLEXÕES SOBRE A AMIZADE
Suely Monteiro
Sou naturalmente acolhedora e
isto faz com que as pessoas desabafem comigo seus segredos, seus problemas, suas mágoas.
Inúmeras vezes eles são tão graves que me limito a ouvir com atenção sem
pretensão de ajudar.
Problemas financeiros, com
vizinhos, com colegas de trabalhos, cônjuges, filhos e outros eram muito
constantes. Mas, ultimamente as queixas tem sido em relação à solidão, ao vazio
na alma, a falta de amigos.
Ontem, uma pessoa me disse que
possuía quase tudo para ser feliz: bom emprego, bela casa, dinheiro para viajar
e atender aos seus desejos de comprar, mas nada disso adiantava, pois o seu sonho de consumo não estava à venda: a
amizade.
Eu, que até então, nunca havia
parado para pensar sobre a amizade disparei a perguntar mentalmente: podemos
situar a amizade na lista de bens de consumo? O que significa ser amigo? O que
uma pessoa precisa fazer pelo outro para ser considerada amiga? Amigo é o que
abre mão de si para agradar o outro? É aquele que vive fazendo graças? É o que
empresta dinheiro, carros, celulares etc.?
No livro “Ética a Nicômaco” Aristóteles
discorre sobre três espécies de amizades: amizade segundo o prazer, segundo a
utilidade e segundo a virtude.
Vamos ver o que significa isto?
A amizade segundo o prazer é aquela
amizade cujo elo se dá pelo prazer de estar juntos, ou seja, amigos que fazem
rir contando piadas, que são engraçados que deixam tudo “correr frouxo” e estão
sempre de "bem com a vida". Os amigos segundo o prazer fazem programas juntos, vão
às danceterias, aos bares, futebol etc.
Compartilham todos os prazeres, e
nesse tipo de amizade não se leva em conta o caráter. O foco da relação está na
quantidade, na qualidade e na durabilidade do prazer que se proporcionam
mutuamente.
O segundo tipo de amizade é a
amizade segundo a utilidade. E, ainda desta vez o caráter da pessoa não conta
na seleção. Conta o que ela pode receber.
Eu conheci duas pessoas que se
relacionavam com base nessa amizade.
Elas trabalhavam juntas, faziam
supermercados juntas, iam ao cinema juntas e, aos domingos a mais jovem sempre
almoçava na casa da mais velha.
Elas não eram namoradas. Tinham interesses
mútuos: uma tinha carro e não gostava de dirigir, a outra adorava dirigir, mas
não tinha dinheiro para comprar carro. Uma cozinhava divinamente, a outra não
sabia fritar um ovo e por aí vai...
Finalmente, a amizade segundo a
virtude é baseada na bondade já desenvolvida na pessoa, ou dizendo de outra
maneira, é a amizade despretensiosa entre pessoas que se buscam por que têm em
comum os mesmos ideais, os mesmos gostos, o mesmo padrão de conduta. O bem manifestado nessa relação é originário da evolução alcançada. Tem poder de atrair pelo ser que é.
Diferentemente das duas primeiras que acabam
tão logo tenham conseguido realizar seus objetivos, a amizade com base na
virtude é duradoura, pois está fundamentada em valores que não são perecíveis e
que se realimentam constantemente. Ela é fruto do auto-desenvolvimento, do aprimoramento da alma, além de ser essencial à vida.
Esta breve reflexão me faz concluir que para termos amigos
verdadeiros, pelo menos segundo Aristóteles, precisamos desenvolver a virtude,
elevar o padrão
de nossos pensamentos, de nossos comportamentos e de nossas ações e atos pessoais e socias.
Não significa virar santo. Significa sermos, pelo menos, éticos.
ARTE
William-Adolphe
Bouguereau (1825-1905)
A cena Retrata
Homero no Monte Ida seguido por cães e
guiado pelo criador de cabras Glaucus.
Fonte:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/mylinks/viewcat.php?cid=0&letter=H&min=560&orderby=titleA&show=10
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Filosofia Política
Poder,
Violência e Política
Jairo Salles
O presente ensaio é uma breve reflexão sobre as
visões de Hannah Arendt e Max Weber sobre as intrincadas questões que envolvem
as relações de poder, violência e liberdade. Tudo realmente dependerá do poder
por trás da violência ? Como identificar estes fenômenos e
compreendê-los como são? Como examinar suas raízes e sua natureza ? O que é Poder ? Quem detém o poder? Qual o papel da filosofia política ?
Realmente no momento histórico em que vivemos,
temos condições no século XXI reformular
estas perguntas e avaliar de forma mais clara onde nasce a violência e que
correntes profundas movem o iceberg destes fenômenos, onde nascem, quais suas faces e sobre o que exatamente se
discute?
"Portanto,
fiquemos alerta - alerta em duplo sentido. Desde Auschwitz nós sabemos do que o
ser humano é capaz. Desde Hiroshima nós sabemos o que está em jogo.”(Viktor E.
Frankl).
Hannah Arendt levanta a questão da violência no
campo da política referindo-se a relutância geral em tratar este tema como um
fenômeno em seu próprio direito.
Discutindo o fenômeno do poder depara-se com um consenso político de que
a violência nada mais é do que uma flagrante manifestação de poder, citando C.
Wrigth Wills que diz que “Toda política é uma luta pelo poder; a forma
básica de poder é a violência” que reforça a definição de estado de Max
Webber: “ domínio do homem pelo homem por
meio da violência legítima, isto é, supostamente legítima.” Arendt friza a estranheza de tal conceito que
iguala poder político com “organização da violência”, o que só faz sentido se
aceitarmos a estimativa de Marx de estado como um instrumento de opressão nas
mãos da classe dominante.
Se violência e poder estão relacionados
precisamos compreender o que entendemos por poder, se é propriamente um
instrumento de domínio, e domínio, logo deveria
assim sua existência “ao instinto de dominação”. Arendt cita Alexander Passerin d´Entrèves,
como o único autor de seu conhecimento que diferencia as duas coisas: “ Temos que decidir quando , e em que
sentido “poder” pode ser diferenciado de “força” para averiguarmos de que forma
o fato de usar força dentro da lei altera a qualidade da força em si e nos sugere uma imagem
totalmente diferente das relações humanas” já que a “força pelo próprio fato de
ser qualificada, deixa de ser força”.
Porém sinaliza que mesmo nesta distinção não se chega a raiz da questão.
As descobertas sobre um congênito instinto de
dominação e uma inata agressividade do animal humano foram precedidas por
afirmações filosóficas muito semelhantes. Sabe-se que o instinto de submissão,
um desejo ardente de obedecer e ser dominado pelo mais forte é tão proeminente
na psicologia humana quanto o desejo de poder, e politicamente, talvez segundo
Arendt, seja mais relevante, e certamente estão interligados.
Citando John Stuart Mill “Submissão pronta a tirania” não é causada sempre por “extrema passividade” , uma forte
indisposição a obedecer é freqüentemente acompanhada igualmente por uma forte
indisposição para dominar e mandar.
Leva esta reflexão tomando como ponto de partida
o campo da tradição da experiência democrática da cidade-estado Atenas onde se
tinha em mente um conceito de poder e lei que essencialmente não identificava
poder na relação ordem-obediência ou lei com ordens. Inspirados neste, os revolucionários do
século dezoito, procuraram constituir uma forma de governo onde o domínio da
lei repousaria sobre o poder do povo, tencionando por um fim ao domínio do
homem sobre o homem, infelizmente ainda enfatizavam a obediência – as leis em
vez de aos homens; sendo que o que realmente queriam era apoio as leis com o
aval da coletividade. Este apoio do povo
empresta poder às leis, e em respeito à obediência difere da “incondicional obediência” que um ato de
violência pode exigir. Uma das
diferenças que Arendt sinaliza entre poder e violência neste sentido é de que o
poder necessita de quantidade, enquanto a violência que é baseada em
implementos pode ocorrer sem isto., mesmo um controle legalmente irrestrito da
maioria, pode ser terrível na supressão dos direitos das minorias e eficaz na sufocação
de dissensões sem lançar mão de violência, e ainda assim não significa que
sejam a mesma coisa.
A forma extrema de poder para Arendt é Todos
contra Um, a forma extrema de violência é Um contra Todos, e esta não é
possível sem instrumentos.
Arendt sinaliza que o mais crucial dos problemas
políticos sempre foi e é a questão de “Quem
domina Quem?” e Poder, fortaleza, força, autoridade,
violência, apenas palavras consideradas sinônimos servindo para indicar os
meios pelos quais o homem domina o homem.
Quando cessarmos de reduzir assuntos políticos a questão de domínio
aparecerão ou será resgatada em sua autêntica diversidade os termos dados
originais no campo dos assuntos humanos.
Para Arendt, Poder corresponde à capacidade
humana não somente de agir, mas de agir em comum acordo. O poder não pertence à
alguém, sim a um grupo e sustenta-se enquanto este grupo permanece unido. Dizer que alguém está no poder, quer dizer
que este alguém está autorizado por um certo número de pessoas a atuar em nome
delas. Poder é uma realização, para Arendt a política não é um meio, é um fim,
e necessita de constante atualização, sob este ponto de vista de poder,
significa o agir de forma plural, no campo na palavra e da decisão.
Afirma que jamais existiu um governo baseado
exclusivamente nos meios da violência. Mesmo o mandante totalitário, que tendo
como maior instrumento de domínio a tortura precisa de uma base de poder. Mesmo homens sozinhos, sem apoio de outros
nunca terão suficientemente poder para usar a violência com sucesso.
O poder está realmente na essência de todo
governo, a violência não. O poder não necessita de justificação, pois é
inerente a existência de comunidades políticas, e necessita sim de legitimidade. A violência poderá ser justificada porém
jamais será legitima e sua justificação perderá plausibilidade conforme seu fim
pretendido se esvai no tempo.
Enfim, apesar de fenômenos distintos, poder e
violência aparecem juntos com freqüência.
Não basta dizer que não são a mesma coisa. Poder e violência se opõem para Arendt, onde
um dominar totalmente o outro se extinguirá. Quanto maior a violência, menor o
poder e vice-versa. A violência aparecerá onde o poder estiver em perigo, e se
permitirem que ela siga seu caminho sem controle, ela destruirá o poder. Enfatiza ainda que pensar no oposto da
violência como não violência é uma redundância.
A violência pode sim destruir o poder, mas será totalmente incapaz de
criá-lo.
Diferente de Hannah Arendt, para Max Weber, a
violência poderá no campo político e somente nele ocorrer de forma legítima
precisamente para evitar que haja violência em outros campos, cita Trotski que
diz que “Todo o Estado se funda na violência”. Weber afirma que
naturalmente que a violência não é nem o meio normal nem o único meio de que o
Estado se serve, mas é realmente o seu meio
específico..e há intima relação do Estado com a violência. Assim diz, que o Estado seria a comunidade
humana que, dentro de um determinado território (tendo este como elemento
definidor “domínio”), reclama (com êxito) para si o monopólio da violência física legítima,o próprio
estado só permite o uso da violência quando legitimada por ele próprio Para Weber
em nenhuma outra forma de poder (pedagógico, econômico...) haverá
possibilidade desta legitimação da violência.
Falando em liberdade, enquanto para Weber a
liberdade ocorre no campo político quando os governantes não estão submetidos à
lei, por exemplo no estado de sítio (só assim o poder é decisivo), como no
período da Revolução Francesa, a liberdade tem espaço enquanto a revolução se
dá, em contrapartida para Hanna Arendt a liberdade é o exercício da política,
partindo de um pressuposto consensual a partir do campo da opinião, viver
politicamente é aceitar que se vive neste campo que é o da liberdade, da
possibilidade do plural, que também inclui o discenso.
Webber fala sobre motivações internas de justificação para a relação de domínio do
homem sobre o homem suportada pelo meio da violência legitima, sendo:
Em primeiro lugar a legitimidade tradicional, do costume consagrado, com
validade imemorial para determinado grupo, como a que exerciam os patriarcas de
regimes antigos.
Em segundo lugar; a autoridade do encanto, do carisma, a entrega puramente pessoal e a
confiança, igualmente pessoal na capacidade e heroísmo que um indivíduo
possui. É a autoridade que tiveram os
profetas, os heróis, os guias, chefes guerreiros.
E por último, a legitimidade baseada na legalidade dos preceitos legais e na competência objetiva, ou seja fundada sobre
normas racionalmente criadas, ou seja, na orientação para uma obediência à
obrigações legalmente estabelecidas.
Weber não é defensor claro de nenhuma destas
três formas de legitimidade.
De toda forma
vivenciamos em nossa civilização como citados anteriormente, fatos tão
contundentes nos alertando para a
urgência de refletirmos sobre poder, violência, liberdade, delimitarmos isto ,
atuar sobre e evoluir no campo das relações.
Será realmente
possível esta organização no campo plural? A realização não
de um poder sobre, mas de um poder com, que dê continente a uma
resignificação destes conceitos e caminhe em direção a uma organização política
que vá além da corporiedade e contemple o que todos buscamos juntos.
É o retrato de uma
realidade chocante quando Arendt fala, citando o exemplo de um incidente em uma
universidade alemã, que trago agora para o âmbito de uma realidade atual e mais
abrangente, sobre a recusa da maioria em tomar partido e atuar em algumas
decisões, porque ninguém tem vontade de
fazer qualquer outra coisa pelo status
quo além de levantar o dedo para votar.
Há o desejo de mudança, porém poucas atitudes que tragam concretude
neste campo, tomando por modelo nosso contexto sócio-político atual, entre os que
realmente desejam mudanças, percebe-se a fraqueza de investidas intermitentes e
tímidas em relação a realidade que queremos mudar e revela-se tão clara a
partir destas reflexões.
Já estabelecemos os
limites, e apesar da possibilidade de invocarmos o paradigma da “situação
extrema” na tentativa de avançar da teoria para a prática neste campo, retomo a
observação de Karl Barth, citado por Giorgio Agambem em “ O que resta de Auschwitz”:
“ De acordo com o que podemos observar hoje –
escrevia ele em 1948 – pode-se afirmar com certeza que, até no dia depois do
Juízo Final, se fosse possível, cada bar, ou dancing, cada grupo carnavalesco,
cada editora ávida de assinaturas e de publicidade, cada grupo de politiqueiros
fanáticos, cada reunião mundana, assim como cada cenáculo cristão agrupado em
torno de sua imprescindível xícara de chá, e qualquer sínodo eclesiástico,
procurariam reconstruir da melhor forma possível e continuar como antes sua
atividade, sem serem absolutamente afetados nem anulados, sem ficarem seriamente
modificados de ontem para hoje. Nem os
incêndios, nem as inundações, nem os terremotos, nem as guerras, nem as
epidemias da peste, nem sequer um eclipse do sol ou qualquer outra coisa que se
queira imaginar podem levar-nos por si mesmos à angústia verdadeira e,
posteriormente conduzir-nos, talvez, à verdadeira paz.”
Há necessidade de
compreender que o oposto à paz, não é o conflito, mas como já preconizava o
milenar Livro das Mutações Chinês há
3000 anos, a partir do hexagrama exatamente oposto ao hexagrama da paz, que seu
oposto é a estagnação. O conflito, o bom combate sim é um caminho para a paz,
e certamente no campo da opinião, da decisão, da pluralidade em que Hannah
Arendt situa o poder, pode-se estabelecer o poder
com e a partir deste atuar sobre os conflitos sem a necessidade do uso da violência, sem dúvida
haverá debate, que pode evoluir ao diálogo, e o que não encontrar diálogo há de
encontrar convivência pacífica. Na arena
mundial, o olhar sobre a história e a “situação
extrema” já carregam material suficiente para saber o que queremos e o que
não queremos como humanidade, podemos
seguir aniquilando os oásis dispensadores de vida, alimentando tudo o que
generaliza as condições do deserto ou nesta mesma arena havendo boa
vontade, ação e bom combate encontrar o campo é fértil para dissolver a
separatividade, a inércia e a estagnação.
De que forma a
filosofia poderá contribuir com a política, para além da mera teorização acerca
dos fenômenos ? Quais são as ferramentas disponíveis ? Insistindo que o passado já nos legou mais que o
suficiente e conforme Arendt vivemos hoje em um mundo em que nem mesmo o senso
comum faz mais qualquer sentido, e percebo isto como muito atual, isso
significa que, o que Hannah Arendt mesmo afirma, o problema com relação à
filosofia e a política, ou a necessidade de uma atualizada filosofia política
da qual pudesse surgir uma nova ciência da política, está novamente e cada vez
mais em pauta.
Bibliografia:
1.
A política segundo Max Weber: conceito de política; ética e
política -Texto: A política. In: O político e o cientista. Trad. port. Lisboa,
1979, pp.7-41; 73-99.(Há outras traduções, inclusive aquela, mais acessível, da
Editora Martin Claret
2.
.O conceito de poder segundo Hannah Arendt: poder e
violência - Texto: Da violência (excerto). In: Crises da República. S. Paulo,
Perspectiva, 1973, pp.166-133.Subsídio/comentário: DUARTE, André. Modernidade,
biopolitica e violência. Acessível
em:http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/1558,1.shl. Auxiliar: ARENDT, H.
Filosofia e política. In: A dignidade da política. Rio de Janeiro,
Relume-Dumará, 1993, pp.91-115;
3.
ARENDT,
Hannah. Sobre o deserto e os oásis. Trad. port. de S.A In: LEIS, H.R. & ASSMANN, S.J. Críticas
minimalistas. Florianópolis,
Cidade Futura, 2007.;
AGAMBEN, Giorgio O que resta de
Auschwitz. O arquivo e a testemunha. Trad. port. Selvino Assmann. S. Paulo,
Boitempo, 2008, pp. 9-17 (apresentação de Jeanne M. Gagnebin), e pp..19-48, e
pp.165-169