sábado, 18 de setembro de 2010

DOUTRINA SOCIAL E DO DIREITO, DO PERÍODO HELÊNICO-ROMANO

Como tema de especulação, foi o social uma peculiaridade do período helênico-romano, e que foi patrocinado sobretudo pelo estoicismo e epicurismo, platonismo e cristianismo. Ainda que houvesse tido tratamento em Platão e Aristóteles, o social passa agora a ser um objetivo claramente proposto como transformação a ser efetivada.

Desde Alexandre até ao final do Império Romano, progrediu paulatinamente e sempre o espírito da lei natural, dos direitos da pessoa humana, vindo finalmente tudo configurar-se no código de Direito Romano, publicado em 529 d.C., sob o imperador Justiniano. Filósofos e juristas são os transformadores de seus princípios, mas também muitos dos seus lances foram representados por sangrentas lutas e habilidades dos políticos. Também as religiões, como o cristianismo, influíram.

Com a supressão do Estado-Cidade (após Aristóteles), o homem animal político perdeu esta vinculação com o seu grupo. Desde então o homem se sentiu mais como indivíduo. Teve que viver junto, com outros homens, de maneira mais impessoal e ampla, juntamente com todos os homens da humanidade e que circulavam por toda a parte.

Especial importância adquiriram as organizações particulares e religiosas, as quais substituíram a preocupação anterior com o Estado-Cidade.

Cresceu assim a preocupação Ética e Religiosa. Inquiria-se que fazer, para ser feliz, - e a resposta vem da filosofia, agora predominantemente ética. E como tratar os seres transcendentes, - e cada vez mais assumiram importância as religiões orientais, que prometiam algo para o futuro, seja em forma de fatalidade e fortuna, seja na modalidade de vitória sobre o mal, como na religião de Mitra ou de ressurreição, como na igreja cristã. Os deuses gregos e romanos (Zeus e Júpiter e Cia.) perdem simpatia sobre as massas, porque não tinham, mensagem para as novas situações criadas pelos tempos; eram antes Deuses com interesses sobre os homens do que soluções para os seus problemas.

As escolas socráticas menores, de que as pós-socráticas dos epicuristas e estóicos são as continuadoras, deram o sinal de abertura para os tempos novos.

Os cínicos, chefiados por Antístenes (444 - 370), são os anarquistas da antiguidade, porque condenam a distinção baseada no nascimento, no sexo, nas classes. Diógenes, o cínico, perguntado de onde era, respondeu, - sou cidadão do mundo!

O epicurismo, com sua Ética associada à natureza, favoreceu o individualismo e a descrença nas formas sociais, sobretudo daquelas cultivadas anteriormente pela sociedade do Estado-Cidade.

Mas foi sobretudo no estoicismo, herdeiro do cinismo, que se formaram os filósofos e juristas que plasmaram a filosofia social do mundo helênico e do direito romano. Zenão de Citium é fenício, embora atuasse em Atenas; mas só isto bastava para que sua filosofia não adotasse a diferença entre nações, como entre gregos e bárbaros. Rompendo com o cinismo, por causa de seu espírito anarquista, manteve o seu moralismo rijo e fundado na natureza universal do homem. A atenuação se deu só ao tempo dos estóicos, do segundo pórtico, que admitiram as honras da pátria e a glória; esta peculiaridade era uma concessão ao espírito romano.

Ainda que as religiões pregassem o bom tratamento aos servos, foram os estóicos os primeiros a conceberem uma sociedade sem servidão.

As lutas políticas conduzem paulatinamente o desenrolar das melhorias sociais.

No que se refere aos diferentes níveis de direito do Estado político, não foi possível de início mais que distinguir entre o direito local e o direito da cidade universal.

A República neste plano geral era difícil, porque deveria resultar de um Estado Jurídico. As circunstâncias favoreceram o regime de Império, à base de uma aristocracia militar. O Monarca seria pois uma figura imposta pelas circunstâncias, em vista da dificuldade de coordenar de outro modo populações muito distintas. Se em Roma ocorreram inicialmente tentativas de República, elas foram definitivamente abandonadas ao tempo dos primeiros Césares.

Conquistas sociais dos romanos:

Lex canuleia (do tribuno do povo romano Caio Canuleio), de 445 a.C. que votou pela validade dos casamentos entre patrícios e plebeus, as duas classes que dividiam a cidade. É a lei da igualdade civil.

Lei das Doze Tábuas (450 a.C.), em doze tábuas de bronze, as primeiras leis escritas de Roma; ainda que primitivas e rudes, serviram como ponto de partida do Direito Romano.

Declara:

"Aquilo que o povo mandar, por último será a lei".

Lei agrária (487a.C.) de proteção aos trabalhadores agrícolas.

As leis licínias estabeleceram a igualdade de patrícios e plebeus no plano militar, para ocupar o cargo de tribuno militar (366 a.C.), e no plano religioso, para exercer o sacerdócio (302 a.C.), antes privilégio dos patrícios.

Lei semprônia (133 a.C.) (dos Gracchos Tibério e Caio), -

"Ninguém poderá possuir mais de quinhentas geiras de fazenda. Quem tiver filhos poderá conservar 500 para si e 250 para cada um dos filhos; o que sobrar será devolvido à República".

Ainda ao tempo da era pré-cristã se conhecem as lutas liberticidas dos escravos, sob a chefia de Espartaco (+ 71 a.C.) e as reformas de César favorecendo a Plebe. Seguiu-se o tempo feliz de César Augusto (30 a.C. - 14 d.C.).

O imperador Caracala (211 - 217) estendeu o direito de cidadania a todos os habitantes das Províncias (212); de outra parte isto trouxe melhorias para o tesouro.

Paralelamente desenvolveram-se os direitos da mulher.

Depois da publicação do Código Justiniano (530-534), adquiriu a Igreja vários privilégios e ainda outros, quando finalmente na Idade Média se desviou para o Direito Feudal.

São conhecidos juristas romanos:

Gaio ou Caio (c. 100 - 180); Paulo; Papiniano; Ulpiano; Modestino; Triboniano (codificador chamado pelo Imperador Justiniano).

TERCEIRO PERÍODO DA FILOSOFIA ANTIGA: O ESTOICISMO

Introdução
Como escola, o estoicismo tomou seu nome, de um pórtico (no grego stoá), onde seu fundador, Zenão de Citio, ensinava, ao estabelecer-se em Atenas.
Exerceu o estoicismo notória influência em todo o período helênico-romano, pela profundidade de suas doutrinas, como ainda por ter sido o sistema da elite romana. Influenciou também o rigorismo da moral cristã.
Perderam-se os livros dos primeiros estóicos, dos quais restam apenas fragmentos. Toda a doutrina ainda se encontra nos livros dos autores latinos. Em decorrência, o estoicismo é tratado como um corpus doutrinário. Entretanto se conhecem fases, com diferenças apreciáveis. E que se fizeram conhecer pelas denominações pórtico antigo, pórtico médio e pórtico moderno.

O pórtico antigo, do 3-o século a.C. representado por Zenão de Citio (c. 336-264 a.C.). Como comerciante naufragou no Pireu, vindo depois estabelecer-se em Atenas, onde passou a estudar. Por volta de 300 a.C. criou sua escola.
O pórtico antigo segue a rigidez moral de Sócrates e da escola socrática menor dos cínicos. E ainda o monismo materialista dos jônicos, num sentido mais panteístico. O logos, como forma das coisas, seria a expressão da inteligência ou alma do mundo. A forma das coisas é denominada também fogo racional (pyr noeron). A conformidade com a necessidade geral que tudo comanda (em decorrência do monismo) traz a impertubabilidade (= ataraxia). Esta é a virtude e a felicidade.

O pórtico médio, do 2-o e 1-o século a.C., representado por Panécio de Rodes (c.180-1110 a.C.) e Possidônio de Apaméia (+51 a.C.), foi mais eclético, com aproximações à Platão e Aristóteles.
Abandonou a doutrina monista da identidade de Deus e do mundo.
Amenizou a moral cínica, de sorte a converter o estoicismo mais adequado ao espírito romano, eminentemente dedicado ao sentimento coletivo do Estado.
No curso do pórtico médio ocorreu a expansão de estoicismo nos meios romanos.
Panécio de Rodes (c. 180-110 a.C.), de origem nobre, ligara-se a Scipião Emílio na época em que se iniciava a expansão do Império Romano, acompanhando-o em 143 à Alexandria e à costa ocidental da África, até estabelecer-se em Roma; aqui teve amizades com o sumo sacerdote Múcio Scevola e outros. Por algum tempo retornado ao oriente grego, para estabelecer-se na Escola de Atenas, de 129 a 110 a.C., onde faleceu.
Acontecia então a fase estóica eclética, de aproximação do estoicismo ao platonismo e aristotelismo denominada pórtico médio. Substituiu Panécio a doutrina da conflagração períodica do mundo pela da eternidade do mesmo conforme Aristóteles. Abandonou as posições rígidas do anterior estoicismo por um modelo de vida mais suave. Em vez da física e da dialética, preferiu os temas morais e religiosos.
Dos seus livros restam apenas fragmentos e informações. Um deles, o Tratado do dever, serviu de modelo ao Sobre os ofícios (De Officiis), de Cícero. Destacam-se ainda os títulos: Da Providência; Comentário ao Timeu.
Possidônio de Apaméia (c.135-c.51 a.C.), Síria. Filósofo de expressão grega estudou em Atenas com Panécio. Estabeleceu-se em Rodes, onde abriu escola e onde Cícero o ouviu e Pompeu o conheceu. Viajou em torno de todo o Mediterrâneo, havendo estado também em Roma, o que o tornou muito conhecido.
Como filósofo estóico pertenceu ao pórtico médio. Nesta condição abandonou algumas doutrinas do estoicismo anterior, aproximando-se do ceticismo da Academia, e mesmo do aristotelismo. Acentuou o lado mítico, ao contrário do estóico Panécio, mais racional.
Escreveu muito mas restam apenas menções do seu pensamento nos escritores contemporâneos, como Cícero, Sêneca, Plotino e outros.
O pórtico moderno se desenvolveu na época imperial romana. Dos seus representantes uns escreveram em grego, como Arius Didimus (último sec. A. C.), Epicteto (50-130 d.C.), Marco Aurélio, imperador (+180 d.C.). Outros em latim, como Sêneca (3 - 65 d.C.), Mussônio Rufo (1-o séc. d.C.).
Uns e outros influenciaram os ideais sociais e a formação do Direito Romano, que mais adiante será codificado.
Arius Didimus (último século a.C.)
Filósofo estóico, familiar do imperador Augusto. Era um entre outros tantos estóicos, que então eram frequentes no Império Romano.
Em Alexandria, de onde Arius Didimus era originário, encontravam-se também os estóicos Eudoro e Potamon.
Em Atenas, Cícero contatou ao estóico Antíoco, levando suas idéias para Roma, não demorando a aparecer a geração dos estóicos que escreverá em latim.
Como os estóicos em geral, também Arius Didimus foi um eclético, porquanto combinou elementos tomados a Platão e a Aristóteles. Escreveu uma história da filosofia, de que se conservam fragmentos sobre Platão, Aristóteles, e os estóicos.
Epicteto (50 - 138), nascido na Ásia Menor, foi escravo em Roma. Depois de liberto, foi chefe de escola em Nicópolis (Epiro).
Pregou o amor aos homens e à cidadania universal. Autor de Dissertações (notas tomadas por Arriano); Enquiridion; ou Manual de moral. Escreveu em grego.
Marco Aurélio (121-180), imperador de 161 a 180, do qual se conserva famosa estátua equestre e apreciáveis escritos. Nascido em Roma, filho do prefeito da cidade, que também fora três vezes cônsul. Ao morrer este seu pai, o adotou o Imperador Antonino Pio, ao qual sucedeu aos 40 anos.
Praticou Marco Aurélio a filosofia estóica, que conheceu através de Epicteto. Não é, todavia, tão estóico quanto este, e nem tão teórico. Seu estilo contém um caráter de doçura e agrado, não obstante ser o estoicismo um sistema de normas rijas. O homem é parte da natureza Universal, devendo tomar o governo de si para guiar-se de acordo com esta posição no todo. Proibiu a introdução de novas religiões no Império, de onde haver-se colocado contra o cristianismo. Marco Aurélio e Epicteto são os expoentes mais destacados da moral estóica.
Escreveu suas cartas em latim, e que se conservam, enquanto seu livro em grego, sob o título Para mim mesmo (I  , Æ H © " L J @ < ), e que se fez conhecer nas traduções por Meditações (Meditationes), e também por Soliloquia (Solilóquios). É possível também que o título grego tenha sido aplicado por um edito, presumindo-se que Marco Aurélio tenha usado o de ß B @ <>Estoicismo romano latino.
Depois de vários nomes ilustres, convivendo com os de expressão grega, termina o estoicismo romano absorvido pelo neoplatonismo, que teve em Roma o magistério pessoal de Plotino e Porfírio (escritores de língua grega) e logo também pelo neoplatonismo cristão.
Não é adequado tratar da filosofia romana em separado das escolas da filosofia em língua grega, senão para destacar os nomes daquelas que usaram a língua latina. Esta passará a ser usada sobretudo na Idade Média, porque então já não será tão conhecida no ocidente a língua grega.
Marcus Tullius Cícero (106-43 a.C.).
Político, escritor, filósofo romano, de expressão latina, nascido em Arpino. Atuou em Roma e em diferentes regiões do mundo romano. Havendo ganho no foro uma causa contra Sila, atraiu contra si a perseguição deste.
Para ver-se longe do ditador, foi passar dois anos em Atenas, onde estudou e absorveu a filosofia grega, da qual se tornou um tradutor para a língua latina.
Morto o ditador Sila, em 77 a.C., retornou a Roma. Foi questor em 76, na Sicília. Pretor em 66 e cônsul em 63. Denunciou a conspiração de Catilina contra a república. Ao tempo que é aliado de Pompeu, foi procônsul na Silícia, no Oriente. Reconciliado com César, mas assassinado este, e subindo Marco Antônio, quando foram sistematicamente sacrificados os oponentes deste, foi morto também Cícero, que teve as mãos e a cabeça decepadas.
Exerceu Cícero excepcional influência através de todos os tempos, dada a sua boa maneira de escrever e enunciar pensamentos. Não obstante, se ocupou da filosofia quase apenas adicionalmente, enquanto esta lhe prestava apoio nos seus debates e ideais de homem público. Ideologicamente, foi um eclético, com a característica principal de filósofo neo-acadêmico; isto significava um platônico com elementos céticos e estóicos.
Defendeu a existência de uma lei natural, interpretada como a razão divina a governar o mundo, este de acordo com a concepção estóica, isto é, de um monismo constituído de um logos a reger a matéria, como um todo monístico.
Obras:
sobraram cerca de 900 cartas; 58 discursos políticos ou orationes, sem contar 48 perdidos; diversos discursos forenses, mais de 10 obras filosóficas.
Escritos morais redigidos mais ou menos na seguinte sequência:
Da república (De republica, ano 54);
Sobre as leis (De legibus,52)
Sobre a consolação (De consolatione, 45);
Sobre os fins das boas e más ações (De finibus bonorum et malorum, 45);
Assuntos acadêmicos Academica (Academica, 45);
Disputas tusculanas (Tusculanae disputationes, 45-44),
Sobre a dor, a morte e a virtude;
Sobre a natureza dos deuses (De natura deorum, 44);
Catão o Velho, ou sobre a velhice (Cato maior, sive de senectute, 44);
Sobre a adivinhação (De divinatione, 44);
Da amizade (De amititia, 44);
Dos deveres (De officiis, 44)
Lucius Annaeus Sêneca (2-65 d.C.) é expressivo representante da filosofia romana de expressão latina. Nasceu em Córdoba, na então Espanha Romana, onde temporariamente estivera sua família de procedência itálica. Advogado e questor sob Calígula, a cuja tirania veio a se opor. Exilado por Cláudio para a Córsega, 41-49. Retornou sob influência de Agripina, para a função de preceptor de seu filho Domício, depois feito Imperador Nero.
Em 62 retirou-se da vida pública, quando se dedicou mais a escrever. Envolvido na conspiração de Piso, foi compelido a se dar o suicídio pela abertura das veias.
Filósofo estóico, dos mais representativos em língua latina, com uma sabedoria e independência de pensamento superior a de Cícero do século anterior. Pertenceu a um período em que sua escola já não se concentrava nos estudos da lógica e da física, mas nas questões morais, com um certo ecletismo e tendência humanizante.
Cuidou menos de uma visão global do mundo, e sim de uma atitude de vida, em que os termos derivam da ética, psicologia, educação, política. Influenciou a moral cristã.
A correspondência entre Sêneca e Paulo Apóstolo, apesar da aproximação entre o pensamento moral de um e outro, é contudo uma falsificação cristã do 4-o século.

Obras:
Citadas as vezes em grupos, outras vezes pelos títulos individuais dos opúsculos, destacam-se como filosóficas:
Livros de diálogos (Dialogorum libri), que reúne Da Providência (De providentia);
Da constância do sábio (De constantia sapientis);
Da ira (De ira);
Consolo à Márcia (Consolatio ad Martiam);
Da vida feliz (De vita beata);
Da brevidade da vida (De brevitate vitae);
Consolo a Políbio (Consolatio ad Polybium);
Consolação à mãe Hélvia (Consolatio ad Helviam matrem).
Seguem, com o mesmo caráter filosófico:
Da clemência (De clementia);
Dos favores (De benefitia);
Questões naturais (Naturales, quaestiones), em que o tema deriva também para a geografia, astronomia e meteorologia;
Cartas morais a Lucílio (Epistolae morales ad Lucilium).

Entre as obras perdidas se mencionam principalmente títulos filosóficos e científicos, e que de qualquer modo revelam a atividade de Sêneca:
Da forma do mundo (De forma mundi); Da geografia da Índia (De situs Indiae); Da geografia e coisas sagradas dos egípcios (De situ et sacris Aegyptiorum); de que restam fragmentos, quando citadas: Do movimento das terras (De motu terrarum); Da natureza das pedras (De lapidum natura); Da natureza dos peixes (De piscium natura); Moralis philosophiae libri (Livros de filosofia moral); De officiis (Dos deveres); Da morte prematura (De immatura morte); Exortações (Exhortationes); Da superstição (De superstitione); Do casamento (De matrimonio); Da amizade (De amicitia); Dos ... (De remediis fortuitorum ad Gallionem).
No campo da literatura, várias tragédias, algumas para leitura, contendo lições morais: Hércules furioso (Hercules furens); Troades, ou Hecuba; Phoenissae, ou Thebais; Medea; Phaedra, ou Hyppolytus; Oedipus; Agamemnon; Thyestes; Hercules Octaeus, e outros escritos.

Ainda é filósofo latino o poeta Lucrécio Caro (96 - 55 a.C.), nascido provavelmente la Luîania itálica. É o apreciado autor dos versos de Sobre a natureza das coisas (De rerum natura). Nele se propôs a tudo descrever na base da visão do atomismo e da moral naturalista de Epicuro, combinado com um pouco de estoicismo em moda, ao mesmo tempo que é típico do ecletismo da fase final do período helênico-romano.
A obra de Lucrécio Caro revela também a tendência romana de assimilar o pensamento grego.

TERCEIRO PERÍODO DA FILOSOFIA ANTIGA: O EPICURISMO HELÊNICO-ROMANO

Introdução

Resultou o epicurismo da junção, com algumas modificações, da lógica de Aristóteles, da física atomista de Demócrito, da moral do prazer de Aristipo de Cirene. Combatido embora pelos moralistas mais rigoristas, foi o epicurismo da antiguidade uma filosofia de equilíbrio, e ainda hoje continua sendo um ideal de vida.
Particularmente é o epicurismo a continuação da escola socrática menor de Aristipo de Cirene (vd 114), caracterizada pela moral hedonista. Em tal condição está em conflito com a escola socrática menor dos cínicos e seus sucessores, os estóicos; estes outros acentuam a presença do Logos e a rigidez moral.

Epicuro de Samos (341-270 a.C.) é fundador da escola, que tomou seu nome, e estava situada num jardim. Escreveu muito, restando fragmentos e algumas páginas, a que se acrescentam alguns livros reencontrados modernamente. De sua obra Sobre a natureza conservam-se dois livros, qual Diógenes Laércio informa conter ao todo 37 (encontrados na biblioteca de Herculano, editados pela primeira vez em 1818, em Leipzig).
Temos ainda, graças a Diógenes Laércio, os Axiomas principais e três Epistolas didáticas.
O fim da atividade humana é o prazer:
"Consideramos o prazer como o princípio e o fim da felicidade; este é o primeiro bem que nós conhecemos, inerente à nossa natureza; é o princípio de todas as nossas determinações, de nossos desejos e de nossas aversões; é este para o qual aspiramos sem cessar e em todas as coisas o sentimento é a regra que nos serve para medir o bem" (III Carta).
Logo adiante diz:
"Todo o prazer, portanto, considerado em si mesmo e em sua natureza é um bem" (Ibidem I).
"O que prova (diz Epicuro citado por D. Laércio), que o prazer é o fim da vida e que os animais, desde que nascem, são atraídos pelo prazer e repelem a dor, por puro instinto e sem nenhum raciocínio. Nós fugimos naturalmente do sofrimento, com Hércules, que, consumido pela túnica fatal, estremece..." (D. Laércio, X).

Hierarquizou Epicuro as diferentes espécies de prazer, criando assim um conceito para a honestidade.
"Pela mesma razão que faz o prazer de todos os bens, o bem inato, não nos sujeitamos indiferentemente a toda a classe de prazeres; deixamos o prazer de um lado, quando se lhe segue um mal. Muitos sofrimentos nos parecem preferíveis à voluptuosidade, quando estes sofrimentos, por muito tempo suportados, são recompensados com vantagens pelo prazer resultante.
Todo o prazer, portanto, considerado em si mesmo e em sua natureza íntima, é um bem; nem todos, porém, devem ser igualmente buscados. Do mesmo modo também, todo o sofrimento é um mal, nem todos porém devem por sua natureza ser evitados.
Em uma palavra, é preciso examinar, pesar as vantagens e os inconvenientes, antes de pronunciar-se sobre o valor dos prazeres e das penas; porque um bem pode resultar-nos num mal, em certas circunstâncias e reciprocamente um mal pode chegar a ser um bem" (III Carta).

No plano social e político, o epicurismo apresenta apenas a amizade, como o comportamento aconselhado. Prega o individualismo e o cosmopolitismo. Não existe sociedade política natural.
"O poder e a realeza não são bens absolutos, pertencentes à ordem natural; bens enquanto nos põem ao abrigo dos malvados desígnios dos homens" (Epicuro, em Axiomas fundamentais).
"De todas as fontes de felicidade que devemos à sabedoria, nenhuma tão abundante como a amizade: o que preferentemente deve confirmar-nos na esperança de que nenhum mal é eterno, nem tão pouco de grande duração, é o pensamento de que a amizade nos oferece recursos inexgotáveis, ainda durante o curto espaço da vida" (Ibidem).
Quanto à morte:
"Adquira o hábito de pensar que a morte para nós é coisa indiferente...
O mais agudo de todos os males, a morte, nada é para nós, porque, quando existimos, não existe a morte; quando a morte chegar, não existiremos mais.
A morte não interessa, pois, nem aos vivos, nem aos que deixaram a vida;
para os primeiros não existe a morte; os outros já não existem mais" (III Carta).

O modelo da vida feliz é, como no ceticismo pirrônico, a calma (ou atarraxia).
O epicurismo se mantém no decurso de todo o período helênico-romano. Representa naquela época o positivismo e o sensismo dos modernos.

Entre os romanos se tornou conhecido Lucrécio Caro (98-55 a.C.), poeta e filósofo, autor do poema De rerum natura (= Da natureza das coisas). Nele expõe uma filosofia atomista, gnosiologia sensista, uma ética natural positiva e uma sociedade resultante da amizade.
"Então também os vizinhos começaram a unir-se em amizade, desejosos de não sofrer, nem fazer-se mutuamente violências; e entre si recomendaram a seus filhos e mulheres, indicando com suas vozes e gestos ser de justiça que todos se apiadem dos débeis. Não poderia ser geral este acordo; porém uma grande parte observava os pactos com escrúpulo; se não, já então o gênero humano teria percebido por inteiro e sua descendência não haveria podido propagar-se até nós" (De rerum natura, 1019-1027).
Do desenvolvimento deste pacto inicial, resulta finalmente a sociedade organizada por meio de governantes:
"E assim, graças ao fogo e a novos inventos, mostravam como podia melhorar-se uma vida anterior. Os que sobressaíam em engenho e prudência, começaram a fundar cidades e, como reis delas, a estabelecer cidadelas que asseguravam refúgio" .

terça-feira, 14 de setembro de 2010

FOTOGRAFIA


FACULDADE SÃO BENTO DA BAHIA
LUGAR ONDE VIVI MUITOS BONS MOMENTOS.
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TERCEIRO PERÍODO DA FILOSOFIA ANTIGA: O CETICISMO HELÊNICO-ROMANO

Introdução
Pela via de transformações diversas, também as escolas socráticas menores tiveram continuidade nas escolas cética, epicuréia e estóica. Todas continuam caracterizadas pela tendência ética de Sócrates. Mas esta maneira ética de ver se adatou contudo ao espírito do novo tempo, no qual desaparecera o Estado-Cidade, em troca do grande Império Helênico. Neste o cidadão se converteu em um indivíduo mais abstrato, com referência ao grande todo político, no qual não exerce funções.
Desligado do antigo esquema político local, em que devera ser muito ativo, ficou agora entregue a si mesmo. Em decorrência deveu criar uma ética pessoal, com base no direito natural. Também a religião se tornou para ele institucionalmente mais importante, em vista da ausência da atividade política local. E, mesmo porque ela passara à esfera dos assuntos particulares, quando anteriormente se prendia à organização do Estado-Cidade.

O ceticismo, fundado por Pirro de Elis (c.360 - 270 a.C.) é antes um movimento ideológico, do que uma escola de ensino organizada. Foi Pioro aluno dos megáricos, cujo unicismo pregava a ilusão da multiplicidade. Em Atenas conviveu com os representantes das mais variadas escolas, aprendendo deles a versatilidade da disputa e a notar a fragilidade dos argumentos.
Nada escreveu Pioro. Mas transmitiu seu pensamento através de Timon, seu discípulo.
Declama este:
"Nobre ancião, Pioro, como e por que caminho tens podido escapar a esta escravidão de doutrinas e fúteis ensinamentos dos sofistas? Como pudeste romper as ligaduras do erro e da crença servil? Tu não te extenuaste esquadrinhando a natureza do ar que rodeia a Grécia, o princípio e o fim de todas as coisas" (Frag. do Silos, conservado por Diógenes Laércio IX).
Em resumo, ensinou que não é possível conhecer as coisas: por isso devemos suspender o juízo e nos conservar imperturbáveis ( = ataraxia), como objetivo ético a atingir. Aliás, este foi o objetivo subtil da ética de Sócrates e que perdura nas escolas pós-socráticas, assumindo o acento cético na escola deploro.
Nestes termos, o pensamento pirrônico e de Timon, nos veio através de uma referência fragmentária de Eusébio de Cesaréia, em sua Preparação Evangélica, que tinha por função comparar o pensamento cristão e o pagão:

"Pirro de Elis não deixou nenhum escrito, mas seu discípulo Timon diz que aquele que quer ser feliz deve considerar estes três pontos:
em primeiro lugar, que são as coisas em si mesmas?
Depois, com que disposições devemos nos colocar em seu respeito?
Enfim, que resultará para nós dessa disposição?
As coisas não se diferenciam entre si, igualmente incertas e indiscerníveis. Também, nem as nossas sensações, nem nossos juízos nos apreendem nem o verdadeiro, nem o falso. Por conseguinte não nos devemos fiar, nem nos sentidos, nem na razão, mas conservar-nos sem opinião, sem inclinar nem de um lado, nem de outro, impassíveis. De qualquer coisa que se trata, nós diremos não é possível mais afirmar que negar, ou que é possível tão bem afirmá-la, como negá-la, ou que não é possível nem afirmá-la e nem negá-la.
Se nos encontrarmos em tais disposições, diz Timon, alcançamos primeiramente a afasia, depois a ataraxia" (Prep. Evang., XIV, 18,2).

Céticos novos.
Depois de haver influenciado os neo-acadêmicos, a escola de Pirro terá excelentes continuadores nos chamados Céticos Novos, situados geralmente em Alexandria.
Destacam-se Enesidemo, do 1-o século a.C., autor de Discursos pirronianos, de que se conservam extratos;
Agripa, do 1-o século d.C., do qual se conservam os "tropos" ou modos de argumentar pelo ceticismo;
Sexto Empírico, do 2-o século d.C., autor de Esquemas pirronianos ( = Pyrroneioi hupotypóseis) e outros livros.

Sexto Empírico.
Em vista de se haverem conservado os livros de Sexto Empírico, converteram-se estes na melhor fonte de informação sobre o ceticismo antigo, em especial dos céticos novos e dele mesmo.
Insiste Sexto Empírico no sentido exato do ceticismo de seu tempo, o qual é antes a dúvida sobre a realidade, do que sobre a aparência como simples representação.
"Aqueles, que pretendem que os céticos negam as aparências, parece que não entendem o que nós dizemos. Nós não recusamos as impressões que a representação recebe passivamente e que nos levam involuntariamente ao assentimento, como o dissemos antes, das aparências.
Toda a vez que nós indagamos se o objeto é tal como aparece, estamos de acordo com as aparência e pomos em questão, não a aparência, mas aquilo que se diz da aparência; tal coisa é diferente do que pôr em questão a mesma aparência. Assim o mal nos parece doce; nós o admitimos, porque efetivamente possuímos a sensação do doce. Nós procuramos saber se o mel é doce por essência; isto não é aparência.
Se propomos diretamente argumentos contra as aparências, nós os expomos sem querer negar as aparências, mas para mostrar a precipitação do juízo dos dogmáticos. Se com efeito a razão é assaz enganosa para nos subtrair quase aos olhos as aparências, como não tê-la por suspeita a propósito daquilo que é obscuro?" (Sexto, - Hypotyposeis I, c.10, 19-20).

Pouco adiante:
"ninguém nos contesta que o objeto aparece tal e tal, mas o que se indaga, se é tal como ele aparece" (Ibidem, I, c. 11, 22).
Aliás, cepticismo (do grego Skepsis, por sua vez de skopeuo examinar, observar), não significa literalmente duvidar.
Fonte: Enciclopedia Simpozio

ARTE ANTIGA: CERÂMICA.


Foto retirada dos arquivos do Blog Graecia Antiqua.

domingo, 12 de setembro de 2010

TERCEIRO PERÍODO DA FILOSOFIA ANTIGA: O PLATONISMO PÓS-SOCRÁTICO.

Neoplatonismo

Desenvolveu-se o neoplatonismo a partir da cidade de Alexandria, sobretudo com Amônio Saccas (c.175-242). Será levado para Roma por Plotino (204-269), onde leciona também Porfirio, o Fenício (233-c.300), este autor da famosa Eisagogé, novos desenvolvimentos dados à doutrina das categorias de Aristóteles.
A importância do neoplatonismo está em haver dado apoio intelectual às religiões orientais e finalmente ao próprio cristianismo, sobretudo na forma concebida pelo neoplatonismo de Agostinho de Hipona.

Amônio Saccas (c.175-242).
Filósofo de língua grega, com atuação em Alexandria. Seu nome Saccas, que geralmente se interpreta como carregador de sacas, pode entretanto ser um toponímio egípcio; neste caso nos informaria seu país de origem, como sendo o Egito. Inicialmente cristão, aderiu depois ao helenismo. Foi mestre de Plotino entre os anos 232 a 243. Dado como fundador da Escola Neoplatônica de Alexandria.
Muito genericamente terá ensinado o que de maneira geral significa o neoplatonismo: a interpretação trinitária da divindade e por via de processão, isto é, colocando em sequência gerativa os princípios eternos já estabelecidos por Platão.
Considerando que os neoplatônicos variaram muito entre si, não podemos atribuir a Amônio Saccas nenhuma doutrina particular deles. Atribuiu-se, entretanto, a Ammônio a declaração de que Platão e Aristóteles coincidem no essencial. Nada deixou escrito.

O neoplatonismo judaico (a que se associará depois o neoplatonismo cristão) resultou da fusão do platonismo e do judaísmo formulada em Alexandria, onde os intelectuais judeus tinham contato com a cultura helênica. Entre o 2-o e 3-o séculos traduziram do hebraico para o grego a Bíblia, e que se fez conhecida como a Septuaginta. Escrevem os judeus livros religiosos em grego. São de Alexandria alguns livros em grego do Velho Testamento, como o Livro da Sabedoria, acolhidos pelos cânon católico. Neles é evidente a melhoria dos conceitos teológicos mais depurados dos grosseiros antropomorfismos bíblicos dos textos bíblicos mais antigos.

Aristóbulo, que uns põe a nascer pelo ano 200 a.C. e outros pelo ano 100 a.C., é o mais antigo filósofo judeu, conhecido todavia apenas através de fragmentos deixados pelos cristãos Clemente de Alexandria e Eusébio de Cesaréia.
Ensinou Aristóbulo a transcendência da divindade, o que é platônico. Admitiu seres intermediários, o que também é neoplatônico, mas sobretudo neopitagórico e oriental. A revelação divina é peculiar sobretudo dos mais purificados. Imaginou que Platão houvesse recebido de Moisés, mais antigo, a filosofia, tese que o judeu Filon repetirá, e que os cristãos Taciano, Justino e Clemente de Alexandria também difundirão. Aceita, como os pitagóricos, a revelação à personalidades mais purificadas e santas.

Filo de Alexandria (c. 20 a.C. - c. 40 d.C.), viveu exatamente no tempo em que atuava Jesus (c.6 a.C. - 30 d.C.). O cristão Eusébio de Cesaréia escreveu:
"Nos tempos deste Imperador (Tibério) floresceu Filo, varão tido em máxima estima, não somente por muitos dos nossos, senão também dos gentios..." (História eclesiástica, II, 5).

A atuação de Deus, não podendo ser direta, como dizia o neoplatonismo, se faz através de um Logos, que é o termo com que Filo denomina as forças intermediárias entre Deus e a matéria. Estas forças se afiguram, ora como propriedades de Deus, como idéias e pensamentos, ora como mensageiros e demônios (=anjos), executores das ordens de Deus.

O Logos é concebido por Filo como algo um tanto separado dele, quase como segundo Deus. Filo compara o Logos à palavra (ou verbo); tem esta num só tempo fisionomia sensível e significação inteligível, de onde ter contato simultâneo com Deus e a matéria.

Ocorre assim que, ao mesmo tempo que nascia na Judéia o cristianismo, como um movimento de crenças singelas, já se formava em Alexandria o embasamento racional de sua teologia trinitária. De ecletismo em ecletismo, haveria de encontrar três séculos depois uma formulação mais coerente para a concepção de Deus com pluralidade de pessoas.

Plotino (c. 205- c. 270).
Filósofo de expressão grega, n. em Licópolis, Egito. Estudou em Alexandria, com Amônio Saccas, de 233 a 244, a cujas doutrinas neoplatônicas aderiu e cultivou, fazendo-se o principal filósofo do neoplatonismo, ao mesmo tempo que asceta e celibatário.
Plotino se integrou, em 244, na expedição romana do imperador Gordiano na guerra de conquista da Pérsia. Mas Gordiano foi assassinado na Mesopotâmia e Plotino se refugiou em Antioquia, transladando-se em 245 para Roma, e ali fundou uma escola. Celibatário, por último se retirou para uma localidade próxima, na Província de Campânia, onde faleceu.

O sistema neoplatônico de Plotino abandonou as idéias reais de Platão, situando estes exemplares arquétipos na mente do Logos divino. Desdobrou o ser em sucessões, que emanam na forma de uma trindade divina, - o Uno, o Logos, a Alma do mundo. Esta última, finalmente, faz emanar as almas humanas e a matéria.

O tom gnosiológico de Plotino é o do racionalismo platônico, segundo o qual o pensamento opera independizado da experiência. Nesta forma racionalista o neoplatonismo se retransmitiu aos primeiros cristãos em geral, notadamente a Agostinho e ao agostinianismo medieval. Na oposição está o racionalismo moderado de Aristóteles, com a experiência como ponto de partida da inteligência, que a partir dela, mediante abstração, sobe aos universais. A peculiaridade do sistema de Plotino é, pois, o seu monismo panteísta por emanação. O pleno existe antes dos graus menores de perfeição. O nosso conhecimento percorre o caminho inverso; vai dos graus menores de perfeição, subindo de retorno ao conhecimento do pleno.

Por acréscimo, o neoplatonismo de Plotino inseriu a doutrina da emanação mediante processões entre os seres eternos. Enquanto Platão havia estabelecido 3 categorias de seres eternos não interdependentes (Ideías reais, Demiurgo, matéria eterna), os neoplatônicos os colocam num processo de sucessão.

O neoplatonismo de Plotino se reduz à escola neoplatônica de Alexandria, porque obedece ao esquema trinitário ali desenvolvido anteriormente por Filo e Numênio. O situamento de Plotino em Roma difundiu amplamente no Ocidente romano, inclusive na África latina, a filosofia neoplatônica.

Na ordem das processões desenvolvidas por Plotino, no início está o Uno (tò Hén) . Entre as características do Uno se destacam a bondade e a total transcendência em relação à matéria. Esta, no extremo oposto, não é nem una, nem boa.

Do Uno emana o Lógos, com caráter de pensamento hipostasiado, substancializado. Nesta primeira processão eterna ocorrem as idéias, já contendo a dualidade, peculiar ao conhecimento.

A Alma do Mundo procede do Logos, o que também acontece desde sempre. Até aqui temos o modelo neoplatônico aproveitado pelos cristão para montar uma doutrina racionalizada da Trindade das pessoas divinas. Na continuação do processo emanativo proposto por Plotino, a Alma do Mundo gera as almas individuais e respectivamente a matéria.

Consiste a moral e a ascese no esforço de retorno desde esta última irradiação material do ser. A degradação se inverte em reunificação.

A doutrina da transcendência radical não permitiu a criação direta do mundo material, porque o Uno não poderia tocar a extremidade inferior. A idéia da intermediação é também visível na doutrina cristã, segundo a qual o Lógos (como João denomina a Jesus) é o intermediário entre a humanidade e a pessoa do Pai Eterno. É também ao Lógos que se atribui a sabedoria que governa o mundo. É ainda ao Espírito Santo que se incumbe a santificação. Numerosos temas particulares são tratados por Plotino. A alma existe antes da vida presente e se conserva depois. O belo, já definido por Platão, pelos estóicos e tantos outros, recebe especial tratamento de Plotino, cujo texto se tornou por isso apreciável, a Enéada I,6. Situa o belo na proporção das partes. Encontra-se mais nos objetos vistos, mas também está nos objetos dos demais sentidos, bem como na ciência e na virtude.

Proclo (Proklos) (410-485).
Filósofo de expressão grega, nascido em Constantinopla. Filho de um advogado da Lícia, foi por isso denominado também o Lício. Pelos 20 anos veio para Atenas, estudando sob Plutarco, da Academia, e logo pelo seu sucessor Siriano, a quem se referiu com admiração (Teologia platônica I,1). Em 437 o mesmo Proclo assumiu a direção da Academia. Esta aliás não demoraria de ser fechada repressivamente em 529 pelo imperador Cristão, Justiniano, de Constantinopla.
Foi Proclo o último grande representante do neoplatonismo pagão, que então acabava de se substituir pelo neoplatonismo cristão, dos patrísticos.
Inspirado embora em Plotino, desenvolveu uma nova forma triádica de processão emanativa. O primeiro momento é o repouso, o permanecer (moné). O segundo produz o sair (próodos). O terceiro é o retorno (Epistrofé).
Em cada nível da processão, mesmo no primeiro, se dão derivações dos deuses da mitologia clássica.
Com referência à matéria, que em Plotino deriva da alma, em Proclo já deriva do uno inicial e infinito.
Notadamente sistemático, Proclo se tornou o escolástico do helenismo e um precursor da escolástica medieval, como comentador que foi principalmente dos livros de Platão, e ainda de Aristóteles, do qual foi o editor .
Obras:
Comentários aos diálogos platônicos República, Parmênides, Timeu, Alcibíades I (os quais se conservam ainda hoje), Fedon, Górgias (desaparecidos); Comentários aos Oráculos caldaicos (desaparecidos); Teologia platônica (didaticamente similar a um comentário); Elementos de teologia (Stoicheíoosis theologiké), sistemático, impresso 1-a vez 1618; Elementos de física (sistemático).
Ensaios menores e de circunstância, dos quais alguns subsistem apenas em traduções medievais de Guilherme de Moerbeke:
Sobre dez dúvidas a respeito da providência (De decem dubitationibus circa providentiam); Sobre a providência e a sorte (De providentia et fato); Sobre a permanência do mal (De malorum subsistentia).
Ainda entre as obras perdidas: Dos símbolos míticos; Da teurgia; Contra os cristãos; Teologia órfica; harmonia de Orfeo; Pitágoras; Platão, etc. As edições modernas completas atingem cerca de 6 volumes.