domingo, 19 de dezembro de 2010

FILOSOFIA MODERNA POR MARILENA CHAUI. PARTEVIII


3. Características gerais do saber no século XVII
A expressão "filosofia moderna ou filosofia do século XVII" é uma abstração, como já sugerimos ao mencionar a questão da cronologia. Mas é também uma abstração se considerarmos as várias filosofias que polemizaram entre si nesse período, os filósofos concebendo a metafísica, a ciência da Natureza, as técnicas, a moral e a política de maneiras muito diferenciadas. No entanto, para quem olha de longe, é impossível não reconhecer a existência de um campo de pensamento e de um campo discursivo comuns a todos os pensadores modernos e no interior dos quais suas semelhanças e diferenças se configuram. É desse campo comum que falaremos aqui.
Convém não esquecermos que a distinção entre filosofia e ciência é muito recente (consolidou-se apenas nos meados do século XIX), de modo que os pensadores do século XVII são considerados sábios (e não intelectuais, noção que também é muito recente) e não separam seus trabalhos científicos, técnicos, metafísicos, políticos. Para eles, tudo isso constitui a filosofia e cada sábio costuma ser um pesquisador ou um conhecedor de todas as áreas de conhecimento, mesmo que se dedique preferencialmente mais a umas do que a outras. Essa relação entre as atividades levou o filósofo Merleau-Ponty a designar a filosofia moderna como a época do Grande Racionalismo para o qual as relações entre ciência da Natureza, metafísica, ética, política, espírito e matéria, alma e corpo, consciência e mundo exterior estavam articuladas porque fundadas num mesmo princípio que vinculava internamente todas as dimensões da realidade: a Substância Infinita, isto é, o conceito do Ser Infinito ou Deus.
Das características gerais do campo de pensamento e de discursos da Filosofia Moderna, destacaremos os seguintes: o significado da nova ciência da Natureza, os conceitos de causalidade e de substância, a idéia de método ou de mathesis universalis, e a idéia de razão, explícita ou implicitamente elaborada por tais pensadores.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

ARTE DE VLADIMIR KUSH

A LEVEZA QUE ENCANTA E ENTERNECE NA ARTE DE VLADIMIR KUSH

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

FILOSOFIA MODERNA POR MARILENA CHAUI. PARTEVII.

Enfim, a Contra-Reforma, cuja expressão mais alta e mais eficaz será a Companhia de Jesus, define um novo quadro para a vida intelectual: por um lado, para fazer frente à escolaridade protestante, os jesuítas (mas não somente eles) enfatizam a ação pedagógico-educativa (não nos esqueçamos de Nóbrega e Anchieta ensinando índios a ler e a escrever!), e, por outro lado, enfatizam o direito divino dos reis, fortalecendo a tendência dos novos Estados Nacionais à monarquia absoluta de direito divino.
É no quadro da Contra-Reforma, como renovação do catolicismo para combate ao protestantismo, que a Inquisição toma novo impulso e se, durante a Idade Média, os alvos privilegiados do inquisidor eram as feiticeiras e os magos, além das heterodoxias tidas como heresias, agora o alvo privilegiado do Santo Oficio serão os sábios: Giordano Bruno é queimado como herege, Galileu é interrogado e censurado pelo Santo Oficio, as obras dos filósofos e cientistas católicos do século XVII passam primeiro pelo Santo Oficio antes de receberem o direito à publicação e as obras dos pensadores protestantes são sumariamente colocadas na lista das obras de leitura proibida (o Index). A Contra-Reforma realizará, do lado católico, o mesmo que a Reforma triunfante, do lado protestante: o controle da atividade intelectual que o Renascimento liberara e que cultivara como liberdade de pensamento e de expressão.
É no interior desse contexto polêmico, freqüentemente autoritário e violento que se desenvolve a Filosofia Moderna do século XVII.

ESCULTURA


Que as alegrias das festas natalinas acompanhe seus passos pelas estradas da evolução e do autoconhecimento;
Que a paz e o amor sejam sua bandeira de luz no decorrer do ano que se aproxima.
Obrigada por visitar o meu blog!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

FILOSOFIA MODERNA POR MARILENA CHAUI. PARTEVI.


Por seu turno, a Reforma destrói a crença (concretamente ilusória, pois jamais existente) da unidade da fé cristã, dos dogmas e cerimônias, e sobretudo da autoridade religiosa: questiona-se a autoridade papal e episcopal, questiona-se o privilégio de somente alguns poderem ler e interpretar os livros Sagrados, questiona-se que Deus tenha investido o papado do direito de ungir e coroar reis e imperadores, questionam-se dogmas e ritos (como a missa e até mesmo o batismo). O mundo cristão europeu cinde-se de alto a baixo em novas ortodoxias (luteranismo, calvinismo, anglicanismo, puritanismo) e em novas heterodoxias (anabatistas, menonitas, quakers, os "cristãos sem igreja"). As lutas religiosas não ocorrem apenas entre católicos e reformados, mas também entre estes últimos e particularmente entre eles e as pequenas seitas radicais e libertárias que serão freqüentemente dizimadas, com violência descomunal. Modifica-se a maneira de ler e interpretar a Bíblia, modifica-se a relação entre religião e política: todos devem ter o direito de ler o Livro Santo e nele Deus não declarou que a monarquia é o melhor dos regimes políticos. Dois resultados culturais decorrem dessa nova atitude: por um lado, o desenvolvimento de escolas protestantes para alfabetização dos fiéis, para que possam ler a Bíblia e escrever sobre suas próprias experiências religiosas, divulgando a nova e verdadeira fé (a panfletagem será uma das marcas características da Reforma, que produziu uma população alfabetizada); por outro lado, na fase inicial do protestantismo (que seria suplantada quando algumas seitas triunfassem e se tornassem dominantes), a defesa da idéia de comunidade, de república popular ou aristocrática e do direito político à resistência, isto é, da desobediência civil face ao papado e aos reis e imperadores católicos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

FILOSOFIA MODERNA POR MARILENA CHAUI. PARTE V.

3) Interesse pela ciência ativa ou prática em lugar do saber contemplativo,
isto é, crença na capacidade do conhecimento racional para transformar a realidade natural e política, donde o interesse pelo desenvolvimento das técnicas (respondendo a exigências intelectuais e econômicas da época, quando o capitalismo pede instrumentos que sejam aumentadores da capacidade das forças produtivas);

4) Alteração da perspectiva da fundamentação do saber,

isto é, passagem da visão teocêntrica (Deus como centro, principio, meio e fim do real) para a naturalista e para a humanista. Aqui, duas grandes linhas se desenvolvem: de um lado, a discussão sobre a essência da alma humana como racional e passional, de sua força e de seus limites, conduzindo àquilo que, mais tarde, seria conhecido como o Sujeito do Conhecimento ou a Subjetividade, que, no Renascimento, ainda se encontra mais próxima de uma "psicologia da alma" e de uma moral, enquanto na filosofia moderna estará mais voltada pelo que seria chamado de Epistemologia (dessa preocupação com o homem, Nicolau de Cusa, Ficino, Erasmo e Montaigne serão os grandes expoentes); e,


de outro lado, a discussão em torno dos fundamentos naturais e humanos da política.

Nesta, três linhas principais se desenvolvem. A primeira, vinda dos populistas e conciliaristas medievais e da história patriótica e republicana das cidades italianas, encontra seu ponto mais alto e controvertido em Maquiavel que, além de desmontar as concepções clássicas e cristãs sobre o "bom governante virtuoso" e de uma origem divina, ou natural ou racional do poder, funda o poder na divisão originária da sociedade entre os Grandes (que querem oprimir e comandar) e o Povo (que não quer ser oprimido nem comandado), a Lei sendo a criação simbólica da unidade social pela ação política e pela lógica da ação (e não pela força, como se costuma supor). Na segunda linha, a discussão se volta para a crítica do presente pela elaboração de uma outra sociedade possível-impossível, justa, livre, igualitária, racional perfeita — a utopia, cujos expoentes são Morus e Campanella. A terceira linha discute a política a partir dos conceito de direito natural e direito civil (linha que irá predominar entre os modernos), das causas das diferenças entre os regimes políticos e as formas da soberania, sendo seus expoentes Pasquier, Bodin, Grócio. Nas três linhas, encontramos a preocupação com a história, seja como prova de que outra sociedade é possível, seja como exame dos erros cometidos por outros regimes, seja como exemplo do que pode ser imitado ou conservado.

domingo, 21 de novembro de 2010

FILOSOFIA MODERNA POR MARILENA CHAUI. PARTE IV.

2. Alguns aspectos do Renascimento, da Reforma e da Contra-Reforma
Do lado do que denominamos Renascimento, encontramos os seguintes elementos definidores da vida intelectual:
1) surgimento de academias laicas e livres, paralelas às universidades confessionais, nas quais imperavam as versões cristianizadas do pensamento de Platão, Aristóteles, Plotino e dos Estóicos e as discussões sobre as relações entre fé e razão, formando clérigos e teólogos encarregados da defesa das idéias eclesiásticas; as academias redescobrem outras fontes do pensamento antigo, se interessam pela elaboração de conhecimentos sem vínculos diretos com a teologia e a religião, incentivam as ciências e as artes (primeiro, o classicismo e, depois da Contra-Reforma, o maneirismo);
2) a preferência pelas discussões em torno da clara separação entre fé e razão, natureza e religião, política e Igreja. Considera-se que os fenômenos naturais podem e devem ser explicados por eles mesmos, sem recorrer à continua intervenção divina e sem submetê-los aos dogmas cristãos (como, por exemplo, o geocentrismo, com a Terra imóvel no centro do universo); defende-se a idéia de que a observação, a experimentação, as hipóteses lógico-racionais, os cálculos matemáticos e os princípios geométricos são os instrumentos fundamentais para a compreensão dos fenômenos naturais (Bruno, Copérnico, Leonardo da Vinci sendo os expoentes dessa posição). Desenvolvem-se, assim, tendências que a ortodoxia religiosa bloqueara durante a Idade Média, isto é, o naturalismo (coisas e homens, enquanto seres naturais, operam segundo princípios naturais e não por decretos divinos providenciais e secretos);

FILOSOFIA MODERNA POR MARILENA CHAUI. PARTE III.

O resultado da transição, da indefinição e da crise, conforme muitos historiadores, foi o ceticismo filosófico, cujos maiores expoentes teriam sido Montaigne e Erasmo.
Só muito recentemente, os historiadores das idéias e da história sócio-política desfizeram essa imagem da transitoriedade e indefinição renascentistas, mostrando haver o Renascimento criado um saber próprio, com conceitos e categorias novos e sem os quais a filosofia moderna teria sido impossível.
Assim, por exemplo, o historiador das idéias e das instituições européias, Michel Foucault, no livro As Palavras e as Coisas (Les Mots et les Choses), considera o Renascimento um período em que os conhecimentos são regulados por um conceito fundamental: o conceito de Semelhança, graças ao qual são pensadas as relações entre seres que constituem toda a realidade, motivo pelo qual ciências como a medicina e a astronomia, disciplinas como a retórica e a história, teorias sobre a natureza humana, a sociedade, a política e a teologia empregam conceitos como os de simpatia e antipatia (nas doenças e nos movimentos dos astros), de imitação ou emulação (entre os seres humanos, entre as coisas vivas, entre humanos e coisas, entre o visível e o invisível, como no caso da alquimia), conceitos que nada têm a ver com a "magia" como superstição, mas com a magia como forma de revelação do oculto pelos poderes da mente humana, isto é, a Semelhança define um certo tipo de saber e um certo tipo de poder. Também é central o conceito de amizade, como atração natural e espontânea dos iguais (animais, humanos) e que serve de referência para pensar-se a figura do tirano como inimigo do povo e criador de reinos regulados pela inimizade recíproca (forma de compreender as divisões sociais e os conflitos entre poder e sociedade).
A Natureza é pensada como um grande Todo Vivente, internamente articulado e relacionado pelas formas variadas da Semelhança, indo dos minerais escondidos no fundo da terra ao brilho dos astros no firmamento, das coisas aos homens, dos homens a Deus. Essa idéia de totalidade vivente se exprime na frase de Giordano Bruno: "A Natureza opera a partir do Centro" (La Natura opra dal centro). Essa mesma idéia permite distinguir uma história humana e uma história natural no sentido da diferença entre ações humanas, que têm poder de transformação sobre a realidade, e as ações que nada podem sobre a Natureza enquanto obra divina, idéia que se exprime na filosofia da história de Vico.
A idéia de imitação aparece na teoria política quando alguns humanistas (sobretudo os humanistas cristãos como Erasmo e Thomas Morus) consideram que as qualidades (virtudes ou vícios) dos governantes são um espelho para a sociedade inteira, de tal modo que num regime tirânico os súditos serão tiranos também. Essa idéia de um imenso espelho reaparece no ensaio de La Boétie, Discurso da Servidão Voluntária, mas com uma grande inovação: não é o tirano que cria uma sociedade tirânica, mas é a sociedade tirânica (a sociedade onde homens desejam a servidão) que produz o tirano, o seu espelho.
A imitação também aparece no grande prestígio da retórica que ensina a imitação dos grandes autores e artistas clássicos da antigüidade, mas não como repetição ou reprodução do que eles pensaram, escreveram ou fizeram, e sim como recriação a partir dos procedimentos antigos. A erudição, uma das principais características dos humanistas, não é acúmulo de informações, mas uma atitude polêmica perante a tradição (recusar a apropriação católica da cultura antiga). Isto aparece com grande clareza nos historiadores que procuram conhecer fontes primárias e documentos originais a fim de elaborar uma história objetiva e patriótica, isto é, uma história nacional que seja, por si mesma, a refutação da legitimidade da dominação da Igreja Romana e do Império Romano Germânico sobre os Estados Nacionais. A erudição também serve, juntamente com a retórica, para um tipo muito peculiar de imitação dos antigos: aquela que é feita pelos escritores com a finalidade de criar uma língua nacional culta, rica, bela e que substitua o imperialismo do latim. Assim, em todas as esferas das atividades culturais pode-se perceber que a famosa "renascença dos antigos" não tem uma finalidade nostálgica e sim polêmica e criadora, que diz respeito ao presente e às suas questões.

FILOSOFIA MODERNA POR MARILENA CHAUI. PARTE II.

A cronologia pode ser enganadora quando pretendemos traçar os contornos de uma época de pensamento. Assim, por exemplo, a inauguração da idéia moderna da política como compreensão da origem humana e das formas do Poder, como compreensão do Poder enquanto solução que uma sociedade dividida internamente oferece a si mesma para criar simbolicamente uma unidade que, de fato, não possui, é uma inauguração bem anterior ao século XVII, pois foi feita por Maquiavel. Por outro lado, a idéia de que a política é uma esfera de ação laica ou profana, independente da religião e da Igreja, tema caro aos filósofos modernos, foi desenvolvida no final da Idade Média por um jurista como Marsílio de Pádua. Também a idéia do valor e da importância da observação e da experiência para o conhecimento humano aparece nos fins da Idade Média com filósofos como Roger Bacon ou Guilherme de Ockam. A extrema valorização da capacidade da razão humana para conhecer e transformar a realidade — a confiança numa ciência ativa ou prática em oposição ao saber contemplativo — é uma das características principais do chamado Humanismo, desenvolvido durante a Renascença. Em contraposição à perspectiva medieval, que era teocêntrica (Deus como centro do conhecimento e da política), os humanistas procuram laicizar o saber, a moral e a política, tomando como centro o Homem Virtuoso.
Para contornar essas dificuldades, muitos historiadores da filosofia se habituaram a designar o Renascimento como um período de transição para a modernidade ou a ruptura inicial face ao saber medieval que preparou o advento da filosofia moderna. Nesta perspectiva, o Renascimento apresentaria duas características principais: por um lado, seria um momento de grandes conflitos intelectuais e políticos (entre platônicos e aristotélicos, entre humanistas ateus e humanistas cristãos, entre Igreja e Estado, entre academias leigas e universidades religiosas, entre concepções geocêntricas e heliocêntricas, etc.), e, por outro lado, um momento de indefinição teórica, os renascentistas não tendo ainda encontrado modos de pensar, conceitos e discussões que tivessem abandonado definitivamente o terreno das polêmicas medievais. O Renascimento teria sido época de grande efervescência intelectual e artística, de grande paixão pelas novas descobertas quanto à Natureza e ao Homem, de redescobertas do saber greco-romano liberado da crosta interpretativa com que o cristianismo medieval o recobrira, de desejo de demolir tudo quanto viera do passado, desejo favorecido tanto pela chamada Devoção Moderna (a tentativa de reformar a religião católica romana sem romper com a autoridade papal) quanto pela Reforma Protestante e pelas guerras de religião, que abalaram a idéia de unidade européia como unidade político-religiosa e abriram as portas para o surgimento dos Estados Territoriais Modernos.
Ao mesmo tempo, no entanto, a indefinição e os conflitos teriam feito da Renascença um período de crise. Em primeiro lugar, crise da consciência, pois a descoberta do universo infinito por homens como Giordano Bruno deixava os seres humanos sem referência e sem centro; em segundo lugar, crise religiosa, pois tanto a Devoção Moderna quanto a Reforma Protestante criaram infinidade de tendências, seitas, igrejas e interpretações da Sagrada Escritura, dos dogmas e dos sacramentos, de modo que a referência à idéia de Cristandade, central desde Carlos Magno, se perdera; em terceiro lugar, crise política, pois a ruptura do centro cósmico (o universo é infinito), a perda do centro religioso (o papado), a perda do centro teórico (geocentrismo, aristotelismo tomista, mundo hierárquico de seres e de idéias) foi também a perda do centro político (o Sacro Império Romano Germânico destroçado pelos reinos modernos independentes e pelas cidades burguesas do capitalismo em expansão) e de suas instituições (papa, imperador, Direito Romano, Direito Canônico, relações sociais determinadas pela hierarquia da vassalagem entre os nobres e pela clara divisão entre senhores e servos, das relações econômicas definidas pela posse da terra e pela agricultura e pastoreio, com o artesanato urbano apenas subsidiário para o pequeno comércio dos burgos).

terça-feira, 9 de novembro de 2010

FILOSOFIA MODERNA POR MARILENA CHAUI. PARTE I.

1. Problemas de cronologia: Quando começa a "filosofia moderna"?

Freqüentemente, os historiadores da filosofia designam como filosofia moderna aquele saber que se desenvolve na Europa durante o século XVII tendo como referências principais o cartesianismo — isto é, a filosofia de René Descartes —, a ciência da Natureza galilaica — isto é, a mecânica de Galileu Galilei —, a nova idéia do conhecimento como síntese entre observação, experimentação e razão teórica baconiana — isto é, a filosofia de Francis Bacon — e as elaborações acerca da origem e das formas da soberania política a partir das idéias de direito natural e direito civil hobbesianas — isto é, do filósofo Thomas Hobbes.
No entanto, a cronologia pode ser um critério ilusório, pois o filósofo Bacon publica seus Ensaios em 1597, enquanto o filósofo Leibniz, um dos expoentes da filosofia moderna, publica a Monadologia e os Princípios da Natureza e da Graça em 1714, de sorte que obras essenciais da modernidade surgem antes e depois do século XVII. Muitos historiadores preferem localizar a filosofia moderna no período designado como Século de Ferro, situado entre 1550 e 1660, tomando como referência as grandes transformações sociais, políticas e econômicas trazidas pela implantação do capitalismo, enquanto outros consideram decisivo o período entre 1618 e 1648, isto é, a Guerra dos Trinta Anos, que delineia a paisagem política e cultural da Europa moderna.
Entretanto, essas datas e períodos podem convidar a um novo equivoco, qual seja, o de estabelecer uma relação causal direta entre acontecimentos sócio-políticos e a constituição dos conhecimentos filosóficos, científicos e técnicos, ou a criação artística. Relação entre eles, sem dúvida, existe. Mas não é linear nem causal: idéias e criações podem estar em avanço ou em atraso com relação aos acontecimentos sócio-políticos e econômicos, não porque pensadores e artistas sejam criaturas fora do espaço e do tempo, mas porque tudo depende da maneira como enfrentam questões colocadas por sua época, indo além ou ficando aquém delas. Em resumo, a relação entre uma obra e seu tempo não é a do mero reflexo intelectual de realidades sociais dadas. Um pensador e um artista se dirigem aos seus contemporâneos, mas isto não significa que sejam, em suas idéias e criações, contemporâneos de seus destinatários. Captam as questões colocadas por sua época, mas isto não significa que sua época capte as respostas por eles encontradas ou criadas. Por esses motivos, muitos historiadores das idéias consideram que pensadores e artistas, afinal, criam seu próprio público, as obras produzem seus destinatários, tanto os contemporâneos quanto os pósteros
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HISTÓRIA

RENASCIMENTO

Renascimento, período da história européia caracterizado por um renovado interesse pelo passado greco-romano clássico, especialmente pela sua arte. O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e difundiu-se por toda a Europa, durante os séculos XV e XVI.

A fragmentada sociedade feudal da Idade Média transformou-se em uma sociedade dominada, progressivamente, por instituições políticas centralizadas, com uma economia urbana e mercantil, em que floresceu o mecenato da educação, das artes e da música.

O termo “Renascimento” foi empregado pela primeira vez em 1855, pelo históriador francês Jules Michelet, para referir-se ao “descobrimento do Mundo e do homem” no século XVI. O historiador suíço Jakob Burckhardt ampliou este conceito em sua obra A civilização do renascimento italiano (1860), definindo essa época como o renascimento da humanidade e da consciência moderna, após um longo período de decadência.

O Renascimento italiano foi, sobretudo, um fenômeno urbano, produto das cidades que floresceram no centro e no norte da Itália, como Florença, Ferrara, Milão e Veneza, resultado de um período de grande expansão econômica e demográfica dos séculos XII e XIII.

Uma das mais significativas rupturas renascentistas com as tradições medievais verifica-se no campo da história. A visão renascentista da história possuía três partes: a Antigüidade, a Idade Média e a Idade de Ouro ou Renascimento, que estava começando.

A idéia renascentista do humanismo pressupunha uma outra ruptura cultural com a tradição medieval. Redescobriram-se os Diálogos de Platão, os textos históricos de Heródoto e Tucídides e as obras dos dramaturgos e poetas gregos. O estudo da literatura antiga, da história e da filosofia moral tinha por objetivo criar seres humanos livres e civilizados, pessoas de requinte e julgamento, cidadãos, mais que apenas sacerdotes e monges.

Os estudos humanísticos e as grandes conquistas artísticas da época foram fomentadas e apoiadas economicamente por grandes famílias como os Medici, em Florença; os Este, em Ferrara; os Sforza, em Milão; os Gonzaga, em Mântua; os duques de Urbino; os Dogos, em Veneza; e o Papado, em Roma.

No campo das belas-artes, a ruptura definitiva com a tradição medieval teve lugar em Florença, por volta de 1420, quando a arte renascentista alcançou o conceito científico da perspectiva linear, que possibilitou a representação tridimensional do espaço, de forma convincente, numa superfície plana.

Os ideais renascentistas de harmonia e proporção conheceram o apogeu nas obras de Rafael, Leonardo da Vinci e Michelangelo, durante o século XVI.

Houve também progressos na medicina e anatomia, especialmente após a tradução, nos séculos XV e XVI, de inúmeros trabalhos de Hipócrates e Galeno. Entre os avanços realizados, destacam-se a inovadora astronomia de Nicolau Copérnico, Tycho Brahe e Johannes Kepler. A geografia se transformou graças aos conhecimentos empíricos adquiridos através das explorações e dos descobrimentos de novos continentes e pelas primeiras traduções das obras de Ptolomeu e Estrabão.

No campo da tecnologia, a invenção da imprensa, no século XV, revolucionou a difusão dos conhecimentos e o uso da pólvora transformou as táticas militares, entre os anos de 1450 e 1550.

No campo do direito, procurou-se substituir o abstrato método dialético dos juristas medievais por uma interpretação filológica e histórica das fontes do direito romano. Os renascentistas afirmaram que a missão central do governante era manter a segurança e a paz. Maquiavel sustentava que a virtú (a força criativa) do governante era a chave para a manutenção da sua posição e o bem-estar dos súditos.

O clero renascentista ajustou seu comportamento à ética e aos costumes de uma sociedade laica. As atividades dos papas, cardeais e bispos somente se diferenciavam das usuais entre os mercadores e políticos da época. Ao mesmo tempo, a cristandade manteve-se como um elemento vital e essencial da cultura renascentista. A aproximação humanista com a teologia e as Escrituras é observada tanto no poeta italiano Petrarca como no holandês Erasmo de Rotterdam, fato que gerou um poderoso impacto entre os católicos e protestantes.


Galileu

O físico e astrônomo italiano Galileu afirmava que a Terra girava ao redor do Sol, contra as crenças da Igreja Católica, segundo a qual a Terra era o centro do Universo. Negou-se a retratar-se, apesar das ordens de Roma, e foi sentenciado à prisão perpétua.

Lourenço de Medici, O Magnífico
O político e banqueiro italiano Lourenço de Medici (1449-1492) foi um influente mecenas das humanidades durante o Renascimento. A família Medici governou Florença, desde meados do século XV até 1737, dominando a vida política, social e cultural da cidade. O próprio Lourenço foi poeta, construiu bibliotecas em Florença e patrocinou artistas e literatos, tais como o pintor Michelangelo e o poeta e humanista Angelo Poliziano.

Fonte:
http://www.historiadomundo.com.br/

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.Últimos patrísticos latinos e gregos, ou primeiros medievais.

Beda, o Venerável (673-735).
Teólogo e historiador inglês, nascido na região da diocese de Durham. De origem anglo-saxônica, exerceu um papel inteletual importante na fase de instalação da nova sociedade que se formava na Inglaterra desde a chegada dos ingleses pela volta de 450. Ingresso na Ordem dos beneditinos, Beda estudou no mosteiro de Iarrow e foi ordenado sacerdote pelos 30 anos.
Dedicado ao ensino, ocupou-se dominantemente sobre exegese bíblica e história. Humanista, abordou a filosofia só eventualmente, mas desta eventualidade surgiu a nova tradição, em cujo caminho se encontrarão pouco depois Alcuíno e Escoto Erígena. Mas foi sobretudo pela sua exegese bíblica que se fez um mestre da Idade Média; além de tratar do sentido literal, examinou também significados alegóricos e místicos. Destaca a vida comunitária dos primeiros cristãos, em seu Comentário aos Atos dos Apóstolos.

Obras:
Cerca de 45 livros, com várias edições desde a invenção da imprensa:
História eclesiástica da nação inglesa (Historia ecclesiastica gentis anglorum), que lhe garante o título de pai da história da Inglaterra;
História dos abades, do seu mesmo mosteiro;
Obras didáticas (Opera didascalica), reunindo hoje tratados científicos diversos, como Ortografia (De orthographia), Das figuras retóricas (De schematibus et tropis) Da arte métrica (De arte metrica), Da natureza das coisas (De natura rerum), Dos tempos (De temporibus), Da celebração da Páscoa (De celebratione Paschae).
E ainda: sermões; e comentários sobre quase todos os livros bíblicos.

Ao término da época antiga, a situação, embora bastante tumultuada no Ocidente com a queda de Roma, em 476, no Oriente é menos tumultuada, havendo ocorrido uma certa continuidade linear da cultura grega anterior no Império Bizantino.
De qualquer maneira, uma nova época veio pela frente, mais depressa no Ocidente, mais devagar no Oriente.

Chegou ao fim a época antiga, com seu último período, o greco-romano.

domingo, 31 de outubro de 2010

FOTOGRAFIA


COM AMOR E CARINHO, VAMOS VIVENDO NOSSA BELA VIDA!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA: Últimos Patrísticos latinos e gregs, ou primeiros medievais.

Isidoro de Sevilha (Hispalis) (c.560-636).

Teólogo e filósofo latino cristão, espanhol, nascido em Cartagena. Viveu todo o seu tempo em Sevilha (Hispalis), que lhe deu por isso o nome, de começo como monge, a partir de 600 como bispo, sucessor de seu irmão. Presidiu ao 2-o Concílio de Sevilha (ano 619) ao 4-o Concílio de Toledo (ano 633), quando o catolicismo em vez do arianismo se tornou a igreja oficial da Espanha.
Sem dúvida o mais erudito da Espanha visigótica, Isidoro influenciou o ensino medieval.
Como pensador foi um neoplatônico-agostiniano. Sem ter sido original, foi um compilador erudito, havendo por esta via influenciado todo o ensino de sua época.
Desenvolveu a gramática. Acreditou que todas as línguas derivam do hebraico, a partir de uma diversificação ocorrida na construção da Torre de Babel; ainda que errasse no detalhe, estava certo ao considerar que as línguas evoluem e se derivam umas em outras.

Obras:
Etimologias, com se fez conhecer sua obra principal cujo título primitivo é Originum sive etymologicarum libre viginti, representada por uma sucessão enciclopédica dos mais variados temas;
Diferenças (Differentiae) ou Da propriedade das palavras (De proprietate sermonum), explicação de conceitos teológicos e filosóficos, asselhando-se pois à obra precedente;
Da ordem das criaturas (De ordine creaturarum), sobre Deus, a criação, o pecado e a vida futura.
Ainda um grande número de obras sobre história, teologia, direito eclesiástico, espiritualidade, além de comentários à Bíblia.
Fonte:

Enciclopédia Simpózio

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

FOTOGRAFIA.


MEUS AMORES EM VISITA AO TEMPLO BUDISTA DE TRÊS COROAS -
RIO GRANDE DO SUL.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.Últimos patrísticos latinos e gregos, ou primeiros medievais.



Cassiodoro (Flavius Magnus Aurelius Cassiodorus) (c. 477-c.570).

Filósofo e político, latino, mas de origem siríaca, nascido em Scilaceo (Scylasceum), Calábria, Itália. Ministro de Teodorico, imperador ostrogodo, então estabelecido em Ravena.
Retirou-se do serviço público pelos seus 60 anos, quando fundou um mosteiro em propriedade da família, na Calábria, onde exerceu o ensino e talvez ele mesmo se fizesse monge.
Prosseguiu o trabalho iniciado por Boécio, havendo sido como ele um cristão neoplatônico. Ainda como Boécio, foi um dos salvadores da cultura clássica, ao tempos das grandes migrações. Pugnou pela fusão de godos e romanos, o que efetivamente ocorreu no curso dos anos, como também haveria de acontecer com os lombardos. Foi antes de tudo um didata e por este caminho influenciou o ensino medieval, notadamente pela sua organização das artes em trivio e quadrívio.
Obras:
Da origem e história dos godos (De origine actibusque gotorum), de que resta um longo resumo;
Várias (Variae), ordenação de 400 cartas, que serviram de modelo a diplomacia medieval;
Sobre a alma (De anima), opúsculo sobre a imortalidade da alma, em que se detecta a influência de Agostinho de Hipona e de Cláudio Mamert;
Instruções sobre as coisas divinas e não divinas (Institutiones divinarum et saecularium lectionum), um programa completo para o então ensino superior em dois livros, - sendo o primeiro uma introdução aos livros sagrados e a teologia, - o segundo sobre as demais ciências, havendo circulado como obra a parte, sob o título Sobre as artes e os estudos liberais (De artibus ac disciplinis liberalium), abordando as 7 artes liberais, subdivididas em trívio, (gramática, retórica, dialética) e quadrívio (aritmética, música, geometria, astronomia);
e publicou ainda uma história da Igreja e comentários exegéticos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

FOTOGRAFIA


A VIDA OFERECE MUITOS PRAZERES, MAS NADA SUBSTITUI O AMOR.
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terça-feira, 12 de outubro de 2010

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.

Últimos patrísticos latinos e gregos ou primeiros medievais.


Boécio (Anitius Manlius Torquatus Severinus Boethius) (c. 470-524).

Filósofo de expressão latina, o último dos romanos e de certo modo o primeiro dos escolásticos, além de haver sido o maior em seu tempo. Nascido em Roma, na família nobre dos Anícios, estudou no Oriente grego, não se sabendo se em Atenas ou em Alexandria. Foi aproveitado pelo imperador ostrogodo Teodorico o Grande como cônsul em Roma (ano 510).
Posteriormente foi para Ravena, como ministro da corte (magister palatii) do mesmo imperador. Acusado de favorecer os interesses do novo imperador de Constantinopla sobre o Ocidente, foi preso, aprisionado em Pavia, e finalmente decapitado.
Foi mais platônico, de acordo com as tendências da época, do que Aristotélico, tudo combinado com alguns elementos estoicistas, como a da doutrina da providência divina. Com ele se consolidou a orientação platônica e agostiniana do primeiro período da filosofia medieval, que tem início em Boécio. Influenciou os conceitos medievais sobre Deus e a Trindade cristã, sobre a pessoa e a felicidade, e ainda sobre toda a lógica através da tradução do grego ao latim de livros lógicos, sobre os quais fez ainda comentários. Os conceitos podem originar-se nos sentidos. Não se referiu ao inteleto agente, como capacidade de abstração, conforme Aristóteles. Defendeu a preexistência das almas, doutrina frequente entre neoplatônicos, mesmo cristãos.
Obras:

Da consolação de Filosofia (De consolatione Philosophiae), obra principal, escrita na prisão de Pavia, como diálogo estabelecido entre o autor e a Filosofia, esta se apresentando como mulher dotada de sabedoria; tradução do grego ao latim da Eisagogé de Porfírio; tradução igualmente das Categorias de Aristóteles, com comentário. Opúsculos filosóficos de Boécio: Introdução aos silogismos categóricos (Introductio ad categoricos syllogismos); Do silogismo categórico (De syllogismo categorico); Do silogismo hipotético (De syllogismo hypothetico); Da divisão (De divisione); Sobre a definição (De definitione); Sobre as diferenças dos tópicos (De differentiis topicis). Opúsculos teológicos: Como a Trindade é um Deus e não três (Quommodo Trinitas unus Deus ac non tres); Se o Pai e o Filho e o Espírito Santo se predicam da divindade); Como as substâncias, enquanto são, são boas (Quommodo substantiae in eo quod sint, bonae sint). conhecido também como Livro das semanas (Liber de hebdomadibus); opúsculo mais filosófico que teológico; Sobre a fé católica (De fide catholica); Livro sobre a pessoa e sobre as duas naturezas contra Eutico e Nestório (Liber de persona et duabis naturis contra Euthychen et Nestorium); o mais significativo dos opúsculos mencionados. Escreveu ainda sobre as ciências: Sobre a música (De musica); Sobre a aritmética (De arithmetica); Sobre a geometria (De geometria), de autoria apenas provável.


Fonte:

Enciclopédia Simpozio


sábado, 9 de outubro de 2010

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.


Últimos patrísticos latinos e gregos, ou primeiros medievais

No Ocidente, o período entre os últimos patrísticos é aquele entre a decadência do Império Romano e a ascensão de Carlos Magno. Mais precisamente, entre a morte de S. Agostinho, em 430, e as Cartas Capitulares, emitidas em 787, por Carlos Magno, instituindo as escolas, - palatinas, catedrais, monacais.
É verdadeiramente um tempo de transição em que não somente se civilizam as novas nações, mas também os pensadores remanescentes salvam a velha cultura. Destacam-se nomes, como Boécio e Cassiodoro, na Itália, Isidoro na Espanha, Beda, na Grã Bretanha.
O Império Romano cedera paulatinamente às nações bárbaras em progressão, perdendo territórios e fazendo concessões acomodatícias. O Império do Ocidente é o que declina mais rapidamente, até ser destituído seu último imperador, Rômulo Augústulo, em 476, por Odoacro. Já antes da queda havia sido penetrado na Itália pelos ostrogodos, na Espanha pelos visigodos, em Portugal pelos suevos, na França pelos francos. Somente no Oriente o antigo Império Romano se mantém firme em Constantinopla, passando agora a ser mais conhecido como Império de Bizâncio.
Os regimes se sucederão sob influência indireta de Constantinopla, até o advento da política dos francos. Em 493 Odoacro é assassinado pelos ostrogodos, sob o comando do rei Teodorico, que agia apoiado, em alguns casos, por Constantinopla. Teodorico governa até 526, ao mesmo tempo que se desenvolve a cultura, ocorrendo neste tempo nomes tais como Boécio e Cassiodoro, os principais da patrística ulterior. O mesmo Teodorico era cristão ariano.
Constantinopla retomou o poder em Roma em 536. Neste obscuro período da história italiana, cresceu a influência do Papa, herdeiro do Pontífice pagão.
Em 568 entram os lombardos, no norte da Itália, conseguindo estabilizar-se. Pretendendo unificar a Itália, resiste o Papa, que apela aos francos. Estes, depois da vitória de Pepino, O Breve, transformam o poder papal em instrumento político de retenção dos lombardos, fazendo-lhe dotação dos chamados "Estados pontifícios", em 774. Os planos de unificação da Itália se concretizarão apenas em 1870, um milênio após.
Cessa também com a queda do Império Romano do Ocidente, o período chamado Patrístico. A expansão e a prosperidade dos francos abrirá novos caminhos. No ano 800, o Papa coroará o rei Carlos Magno, Imperador do Sacro Império Romano do Ocidente, que assim se julga restaurado depois da queda do mesmo em 476.
Apesar das consequências divisionistas do tratado de Verdun, em 841, a visão de uma unidade política das nações cristãs do Ocidente inspirará toda a Idade Média, ainda que nunca se realize plenamente. Ocorre a mesma persistência com a idéia de que o poder político vem do Alto e que o Papa é o ministro para ungir os governantes cristãos, em especial seu Imperador.
Mas, antes que a escolástica se desenvolvesse nas escolas criadas por Carlos Magno, atuaram os últimos patrísticos, os quais, sem chegarem a ser escolásticos, foram os primeiros mestres da Idade Média.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.

A filosofia natural agostiniana segue os caminhos de Platão, retificados alguns aspectos. Deus criou a matéria (contra a eternidade da matéria, peculiar à filosofia grega).

A ontologia de Agostinho se concentrou na parte que diz respeito à divindade, como sua transcendência e suas relações com a criação. Mantendo embora a doutrina cristã da Trindade, diferenciou-se das emanações plotinianas.
A filosofia da história é abordada por Agostinho, que pretendeu ver nos acontecimentos um desenrolar sob o controle da providência divina. O material histórico analisado por Agostinho é o da decadência do Império Romano. Ocorrendo esta decadência sob o domínio cristão, esta circunstância impunha aos cristãos uma análise apologética.
Fonte: Enciclopédia Simpozio

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

FOTOGRAFIA


MERCADO CENTRAL ARACAJU -SERGIPE - BRASIL.
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domingo, 3 de outubro de 2010

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.

A filosofia natural agostiniana segue os caminhos de Platão, retificados alguns aspectos. Deus criou a matéria (contra a eternidade da matéria, peculiar à filosofia grega).
Todas as criaturas teriam composição com a matéria, inclusive os anjos, ainda que de espécie diferente. A doutrina do espírito, como forma pura, é aristotélica e será desenvolvida sobretudo por Tomás de Aquino.
Ergueu a tese da criação simultânea, de todos os germes (= rationes seminales). O despertar no tempo oportuno, dá à natureza a feição de uma contínua evolução e aparente criação de espécies novas. Sua posição favorável ao evolucionismo não foi seguida pela escolástica medieval.
A alma é substancialmente distinta do corpo, como substância completa. Aqui está de novo ao lado de Platão, contra Aristóteles. Inspirava-se na mentalidade órfica e neopitagórica em vigor entre as religiões helênico-romanas. Esta separação total cria dificuldades na explicação da união entre as duas substâncias tão diferentes.
"O modo como aderem ao corpo o espírito e as almas animais é totalmente admirável e não pode ser compreendido pelo homem".
Apesar de sua teoria das razões seminais, fica em dúvida quanto à maneira como surgiria a alma. Não decidiu entre o processo generativo (= traducianismo) e a criação imediata em cada nascimento (criacionismo).
Fonte:
Enciclopédia Simpozio

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.

O pensamento filosófico agostiniano, nem sempre sistemático, se encontra na linha de Platão e Plotino, sendo racionalista radical como estes. Influenciou os filósofos cristãos futuros, situados nesta diretriz chamada com propriedade neoplatônica. Os que o seguiram, criaram o que passou a ser denominado agostinianismo, corrente filosófica e teológica atuante ao longo de toda a Idade Média (vd 283), sobretudo até antes de Tomás de Aquino (1225-1274).
Em teoria do conhecimento abordou a questão da certeza inicial, contestando o probabilismo neo-acadêmico.
As idéias universais são inatas, resultantes de uma iluminação divina (= iluminismo agostiniano), porém divino-natural. Embora com reformulações, mantém-se, por conseguinte, no inatismo platônico.
Como já fez Plotino, substitui os arquétipos de Platão, por idéias exemplares situadas na mente divina. Estas retificações seguem as tendências do neoplatonismo de Plotino, a cuja luz examina a Trindade cristã.
A Providência divina, a predestinação eterna, o concurso de Deus nos atos livres do homem, a existência do mal, preocupam a Agostinho. Sua solução é bastante limitadora da liberdade humana. Qual sua maneira exata de pensar, tem criado polêmicas e inspirado teologias de rija predestinação como as do calvinismo e do jansenismo .

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.

Agostinho de Hipona (354-430), de pai pagão e mãe cristã, nasceu em Tagaste, Numídia (África argelina). Retórico latino, de juventude tumultuada e simpático ao maniqueísmo e admirador do neoplatônico Plotino, lecionou em Cartago, Roma e finalmente em Milão. Aqui, aos 33 anos, se converteu ao cristianismo, quando retornou à então África latina. Fundou mosteiros. Finalmente foi Bispo de Hipona (no atual território da Argélia).
Ressentiu-se o pensamento de Agostinho da falta de seu conhecimento da língua grega, de cuja literatura leu em traduções. O toque humano e existencial tornaram seus livros apreciáveis, além do seu elan retórico.
Obras:
Cerca de 100 tratados de teologia e filosofia, de que alguns são de grande destaque na história da patrística latina.
Pertencem à literatura universal:
Confissões (Confessiones);
Cidade de Deus (De civitate Dei);
Do mestre (De magistro);
Solilóquios (Soliloquia);
Contra os acadêmicos (Contra academicos );
Da Trindade (De Trinitate);
Retratações (Retractationes);
Da vida feliz (De beata vita);
Da ordem (De ordine);
Da imortalidade da alma (De immortalitate animae);
Da quantidade da alma (De quantitate animae);
Da música (De musica);
Da verdadeira religião (De vera religione).

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.



PRISCILIANO

No século IV, nasceu, viveu e morreu Prisciliano, fundador do priscilianismo.

A maior parte das informações sobre ele são dadas por Sulpício Severo na sua Historia Sacra, datando logo do início do século V.
O priscilianismo foi uma doutrina gnóstica cristã que proliferou inicialmente no noroeste peninsular, onde Prisciliano nasceu, tendo-se depois alargado um pouco por toda a Península Ibérica e, além Pirenéus, no sul de França - o mesmo local onde viria a florescer, cerca de mil anos depois, o catarismo, essa outra gnose cristã, tão semelhante em variados aspectos ao priscilianismo.
O gnosticismo foi introduzido na Península por um gnóstico egípcio, de Mênfis, chamado Marcos que iniciou Ágape nos mistérios dessa doutrina, que por sua vez iniciou Prisciliano. Este último chegou mesmo a converter altas personalidades da hierarquia cristã e foi ordenado bispo de Ávila.
As principais teses do priscilianismo são as seguintes: de Deus emanou uma série de seres divinos, entre os quais se incluem os anjos e as almas dos homens; o corpo de Cristo era espiritual e tinha apenas a aparência da carne (docetismo); a matéria foi criada pelo demónio para aprisionar os filhos de Deus. Prisciliano esforçou-se por adaptar a doutrina cristã à realidade pagã de fundo celta, o druidismo, que impregnava o norte da Península Ibérica.
Santo Agostinho, consultado por Paulo Orósio (filósofo português do século V) acerca desta heterodoxia, escreveu um livro contra o priscilianismo.
Tem sido muito discutida a heterodoxia ou ortodoxia de Prisciliano no seio do cristianismo. Dos seus próprios escritos não é fácil decidir por uma ou por outra. O que resulta certo é que o priscilianismo se tornou, após a morte do seu fundador, uma heterodoxia. Convém, portanto, manter a distinção entre Prisciliano e o priscilianismo.
Prisciliano foi condenado à morte por decapitação, juntamente com alguns dos seus discípulos, por ser julgado heterodoxo. Esta condenação foi muito criticada no seio da cristandade. De qualquer modo, a condenação acabou por servir o priscilianismo, ao tornar mártir o seu mentor, e contribuir, assim, para a sua maior divulgação.
O priscilianismo esteve presente desde o século IV até, pelo menos o século VI. Vários autores têm defendido que a sua importância foi tão grande que permaneceu como um substracto perene no fundo da cultura galaico-portuguesa, dando como exemplo o poeta Teixeira de Pascoaes.
Obras:
Livro apologético (Liber Apologeticus), defesa no Sínodo de Saragoça;
Livro ao bispo Dámaso (liber ad Damasum Episcopum), carta ao Papa;
Sobre a fé e os apócrifos (De fide et apocryphis);
Tratado da páscoa (Tractatus paschalis);
Tratado do Êxodo (Tractatus Exodi);
Tratado dos primeiros salmos (Tractatus primi Psalmi);
Tratado do terceiro Salmo (Tractatus Psalmi tertii);
Tratado para o povo I - II (Tractatus ad populum - I - II);
Bênção do povo (Benedictio super populum).
Demais textos que se lhe atribuem, são todavia duvidosos.

Fontes: Infopedia, Enciclopedia Simpozio

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.

Basílio Magno (c.330-379)
Escritor e teólogo cristão, de expressão grega, nascido em Cesaréia da Capadócia (Asia Menor). Estudou em Constantinopla e Atenas, retornando em 356 a Capadócia, onde instruiu retórica. Posteriormente se fez monge. Por último foi escolhido para ser sacerdote e bispo de Cesaréia da Capadócia.
Sob influência platônica, desenvolveu uma filosofia sobre Deus, ao qual apresentou como transcendente, cujas propriedades positivas e negativas também estudou.
Sua filosofia da natureza a apresentou a criação conforme a sequência do Gênesis.
Largamente se ocupou de assuntos morais.
Escreveu regras para os monges, razão porque foi considerado organizador do monaquismo oriental.
Obras:
Contra Eunômio, tratado contra o arianismo, o mais filosófico;
Sobre o Espírito Santo, abordando a Trindade e de novo o problema ariano;
Assuntos morais (I  0 2 4 6 V ), explicando textos morais da Bíblia;
Grandes regras (Ð D @ 4 6 " J  B 8 V J @ H ), 55 questões da vida religiosa;
Pequenas regras (Ð D @ 4 6 " J r , B 4 J @ : Z < ), 313 respostas sobre a vida religiosa; Homilias, destacando-se aqueles sobre o Exaémeron, ou seja, sobre os seis dias da criação; Cartas, em número de 365; Discursos, sendo alguns sobre assuntos dogmáticos.


Fonte: Enciclopédia Simpozio http://www.cfh.ufsc.br/

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.

Arius (256-336)


Teólogo líbio, de expressão grega, e que gerou a maior controvérsia cristã, em torno da divindade ou não divindade de Jesus.
Foi a questão decidida favoravelmente no calor do voto no Concílio ecumênico de Nicéia (325), em favor da divindade de Jesus.
Arius estudou em Antioquia, da Síria, depois se localizando em Alexandria, onde foi ordenado sacerdote em 310.
Para Arius, não poderia Jesus ser mais do que a figura do Logos, segundo a filosofia neoplatônica então vigente, portanto a inteligência emanada de Deus transcendente, sem ser Deus, ainda que anterior ao mundo.

Destituído de suas funções em 320, por um concílio regional, retirou-se para a Palestina e depois para a Nicomédia, Ásia Menor.

Sobre a questão escreveu o livro Banquete (TaMia).

Depois do Concílio de Nicéia foi desterrado para a Ilíria (Croácia).

A filha do Imperador consegue trazê-lo de volta, sendo integrado no clero de Constantinopla em 336, quando logo morreu.
Entretanto, sua idéia proliferou no Oriente e Ocidente, e deu muito a discutir aos filósofos e teólogos.

Resisitiram os arianos por vários séculos, vindo a desaparecer somente dos anos 700, em consequência das perseguições oficiais que lhes foram movidas.

A questão conservou sua importância, porque ainda hoje se pergunta se a crença na divindade de Jesus tem, ou não, origem no neoplatonismo e nos mitos da época.

Os unitarianos, surgidos no decorrer da Renascença, continuam a luta de Arius.

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.

A Grande Patrística

Mudaram inteiramente as circunstâncias políticas do cristianismo a começar da ação do Imperador Constantino, no começo do século 4-o. Com seu poderio, Constantino não somente criou a nova capital Constantinopla, como ainda mudou o destino futuro das antigas religiões.
Convocou, em 325, o Concílio de Nicéia, o primeiro na contagem dos assim chamados concílios ecumênicos. Estruturou-se então a Igreja Cristã no modelo territorial do Império, em províncias eclesiásticas, ganhando agora grande destaque os bispos e arcebispos.
Estimulou-se ainda a definição doutrinária, pelo voto dos bispos em concílios ecumênicos. Com isto deu-se lugar ao aparecimento da Grande Patrística.
Até então bastante elástico em suas doutrinas, passou agora o mesmo cristianismo a lutar por uma unificação interna do seu pensamento. Introduzindo a força do voto para decidir sobre a verdade, os concílios começaram a estabelecer um cristianismo oficial, em que os da minoria passam a ser tratados como hereges. Assim o foram Arius (Ario) Pelágio, Eutiques, e muitos outros, devendo amargar por vezes o caminho do exílio.
Destacaram-se, neste segundo período, os patrísticos gregos: Santo Atanásio (c. 295-373), Gregório Nazianzeno (c. 329-c. 390), Basílio Magno (c. 330-379), Gregório de Nissa (c. 335- c. 395), Nemésio de Emesa (sec. 5-o), Cirilo de Alexandria (c. 375-444).
Surgem agora grandes nomes latinos: S. Hilário de Poitiers, S. Ambrósio, S. Agostinho, sendo este último o maior de todos os patrísticos, com um pensamento sistematizado, ainda que não chegasse a um suma escrita do mesmo.
São representativos também os que foram rejeitados, até porque sem eles não se entendem as polêmicas que geraram: Arius, Prisciliano e outros.

domingo, 26 de setembro de 2010

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.

Início da Patrística, - grega e latina.

Primeiros patrísticos de língua latina. Ainda com caráter de religião oriental, a Carta aos Romanos, do Apóstolo Paulo, foi escrita em grego. Aos poucos o latim se torna a língua da Igreja do Ocidente, que finalmente a introduzirá em sua liturgia oficial; esta iniciativa trouxe o latim até aos dias atuais, em um uso que foi sua fortuna.
Em língua latina destacaram-se primeiramente os cristãos:


- Minúcio Felix, autor do diálogo apologético Octavius (c. 200);

- Tertuliano (c. 160-245), profícuo e rigorista, com tendências maniquéias e montanistas, contrárias ao matrimônio, além de destacar o lado irracional da fé cristã, sendo-lhe atribuída a expressão "creio, porque é absurdo"; Arnóbio, autor de Adversus gentes;

- Lactâncio (+ 320), autor de Instituições divinas, sendo conhecido como "Cícero cristão", pelo seu estilo clássico.

MÚSICA




SE EU QUISER FALAR COM DEUS - ELIS REGINA.

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.

Início da patrística, - grega e latina.

O pensamento cristão apresenta uma primeira fase, conhecida como Patrística - referência aos padres da Igreja - situada em grande parte ainda dentro da época Helênico-Romana e nos tempos imediatamente após a queda, em 476, de Roma.
Depois de 700 divide-se o mundo civilizado em três áreas culturais, mais ou menos estanques e hostis entre si:
a Europa Ocidental, em que se desenvolveu a filosofia escolástica;
o Império Bizantino, continuador direto do Império Romano Cristão, em que subsiste a língua grega, com uma chamada filosofia bizantina, de diretriz cristã;
o Mundo Árabe, seguidor de Maomé, porém com uma filosofia dominantemente aristotélica.
Antes de Agostinho de Hipona (354-430), a filosofia patrística é apenas incidental, exposta em meio aos assuntos teológicos, aos quais servia como esclarecimento. Depois cresce e alcança um relativo desenvolvimento. Todos os patrísticos estão na linha do platonismo e neoplatonismo.
Os primeiros patrísticos são na maioria escritores de língua grega:
- Aristides, autor de uma Apologia (c. 140);
- São Justino (+166), autor de duas Apologias e do Diálogo com o judeu Trifão; e assim outros, como
-Taciano, Atenágoras, Santo Irineu, São Hipólito, este autor de Philosophoumena.
Ainda gregos, da Escola de Alexandria:
-Panteno (fundador da escola);
-Clemente Alexandrino (150-216), já representativo;
-Orígenes (185-254), notável pela sua exegese alegorista.
Clemente de Alexandria (c. 150-216).
Filósofo cristão, patrístico, de expressão grega, nascido em Atenas. Estabeleceu-se em Alexandria, cerca do ano 180. Dirigiu a escola cristã, desde a morte de Panteno, até seu fechamento em 202. Seguiu depois para a Ásia Menor.
O pensamento de Clemente de Alexandria, se desenvolveu em clima neoplatônico peculiar aos cristãos da época. Tratou sobre a certeza, a existência de Deus, principalmente a moral e o direito natural.
Obras:
Discurso de persuasão aos gregos (Protreptikós), persuadindo a deixar o paganismo; Pedagogo (Paidagogôn), de instrução ao cristão, principalmente moral; Tapetes (Strômata), miscelânea erudita, dos assuntos mais diversos sobre do saber antigo, citando inclusive no original textos pré-socráticos; e escritos menores.

Origenes (c.185 -c. 255).
Escritor cristão de vasta erudição, de expressão grega, inicialmente com ação em Alexandria, onde provavelmente nasceu. Estudou letras e aprendeu de cor textos bíblicos, com seu pai. Morto este por ocasião da repressão de Septímio Severo às novas religiões, o bispo de Alexandria passou à Orígenes a direção da Escola Catequética . Estudou na escola neoplatônica de Ammonios. Viajou a Roma, em 212, onde ouviu ao sábio cristão Hipólito. Em 215 organizou Origenes em Alexandria uma escola superior de Exegese Bíblica. Sacerdote em 230. Viajou muito e falava ao público nas igrejas.
O fato de se haver castrado por devoção, lhe criou dificuldades com alguns bispos, que contrariavam o sacerdócio dos eunucos. Em 232 se transferiu para Cesaréia, Palestina, onde se dedicou exaustivamente aos seus escritos. Sobreviveu aos tormentos de que foi vítima sob o Imperador Décio (250-252). Posteriormente a esta data morreu em Tiro, não se sabendo exatamente quando.
Foi mais um exegeta, que um teólogo. Também não centralizou sua atenção na filosofia. Mas é representante do pensamento eclético dos cristãos de sua época.
O contexto filosófico é claramente neoplatônico. Deus é tratado como totalmente transcendente. O Logos é Deus por participação. Esta participação é descrita de maneira bastante subordinada e que irá favorecer aos arianos (vd 216). O mundo é criado do nada, não sendo por conseguinte apenas uma reelaboração demiúrgica da matéria eterna.
A alma preexiste, e está subordinada à metempsicose; eis uma tese tipicamente pitagórica e platônica. Abandonada depois pelo cristianismo oficial, é todavia relembrada por aqueles que ainda hoje, - espíritas, - a defendem como cristã.
A moral visa a purificação, que se processa nos sucessivos retornos da alma à vida neste mundo. Não há condenação em Inferno eterno. Todas as criaturas, mesmo os anjos decaídos, chegarão à purificação final, ou seja à apocatastase, por que assim é mais digno de Deus.
A exegese de Orígenes buscou a interpretação meramente alegórica, e não literal, de muitos dos episódios fantásticos da Bíblia. Tomou, pois, como método o que já desde tempos vinham fazendo escritores pagãos a respeito dos seus mitos, bem como também já faziam judeus eruditos de Alexandria. Não obstante, no Ocidente prevaleceu a exegese literal de Santo Agostinho.

Obras
Muitas se perderam, em decorrência de haver sido o autor combatido pelos mais ortodoxos. Dentre a que se conservaram, destacam-se:
Bíblia sextupla (Eksapla Biblia), distribuindo em 6 colunas, para os textos na versão grega e hebrea;
Sobre os princípios (Perì archôn), tratado teológico e filosófico, sobre Deus, matéria, moral, exegese, contendo os fundamentos do que veio a ser denominado origenismo;
Contra Celso (Katà Kelsou), resposta à críticas deste o filósofo neopitagórico aos cristãos;
São ainda de sua autoria; Strômata; A ressurreição; Exortação ao martírio; Comentário sobre o Gênesis; Comentário sobre São João. E assim também comentários a outros livros bíblicos, bem como ainda notas, homilias, tratados de espiritualidade, cartas.

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA: Gênese do Cristianismo.


O imperador Constantino, no poder de 306 a 337, consolidou definitivamente o sucesso do cristianismo. Rompendo as regras da sucessão do trono, então organizado na forma de uma tetrarquia, por Diocleciano (285-305), em que sucederiam pela ordem os dois Augustus e os dois Césares, venceu sucessivamente seus contendores, até alcançar a posição de imperador único.
Nesta longa luta apoiara-se nos cristãos, apesar de ele mesmo não ser um deles. Constantino era filho de Constâncio Cloro, que de César passara a Augusto, governando as Gálias e a Grã Bretanha, com capital em Tréveris, nas fronteiras da Gêrmania.
Constantino sucedeu a Constância que morreu cedo, em 306. Tentando unificar o império, em 307 vencia Maximino, que governava em Milão, e conquistava, a seguir, Roma a Maxêncio.
Emite, então, o importante Edito de Milão (313), introduzindo a liberdade de culto, integrando desta forma os cristão ao mesmo nível da religião tradicional. Em 324 completava a unidade do poder, cuidando logo de transferir a capital para Bizâncio, que tomou o nome de Constantinopla.
Constantino trata da religião como se fosse ele o chefe da igreja, como antes fora grande pontífice do paganismo. Convocando o Concílio ecumênico em Nicéia (325), deu à Igreja cristã a estrutura hierarquizada e territorializada, que hoje ainda conserva, principalmente as Igrejas Católica e Ortodoxa. Adepto de uma religião solar monoteísta, deixa-se batizar apenas no final de sua vida, no leito de morte, ainda assim na fé de Arriano (+ 336). Pelas dificuldades que criou ao judaísmo e ao paganismo em geral, foi o imperador que traçou a sorte definitiva do cristianismo.

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA

Gênese do Cristianismo:
Jesus de Nazaré


Nascido cerca do ano 6 antes de nossa era, morto no ano 30 da era atual, foi a personalidade central na formação do cristianismo, ainda que depois dele houvesse inovações e atitudes que foram decisivas para o seu sucesso.
A crença dos discípulos de Jesus, em um messias espiritual foi uma destas atitudes decisivas para a separação crescente do grupo cristão em relação ao judaísmo oficial.
Uma vez morto, já não poderia haver dúvida aos olhos de seus discípulos, de que Jesus não era um Messias temporal, restando ser um Messias espiritual. Firma-se o conceito desta modalidade messianista.
Crêem ainda os discípulos de Jesus, de que ele tenha ressuscitado, devendo mui proximamente voltar sobre as nuvens, para julgar os povos e estabelecer o reino dos céus com a seleção dos bons.

O contato com os judeus helenistas, no dia de Pentecostes, foi (se a narrativa for exata), o principal impulso para a transformação da comunidade cristã. Até ali, os discípulos de Jesus têm a feição tradicionalista dos essênios e do mesmo Jesus. Mas, os judeus helênicos, vindos de outras regiões do mundo e agora fixados em Jerusalém, tinham melhores condições de organização e falavam inclusive idiomas estrangeiros.
O fenômeno das línguas (que eles interpretaram sobrenaturalisticamente, apesar de poder haver sido uma situação parapsicológica, conforme aqueles que não crêem) atraiu a atenção dos judeus helênicos para o movimento dos cristãos. Aderindo, acomodaram-se por pouco tempo aos usos essênios de economia coletiva.
Em decorrência das transformações motivadas pelas novas adesões, não tardaram os cristãos a abandonar o coletivismo, estabelecendo novas maneiras de estruturar a comunidade, todavia sempre insistindo na caridade. Este aspecto tornou os cristãos simpáticos.
Os sete diáconos, - dentre os quais mais se destacou Estevão, eram eminentemente ativos. A reação judaica se faz sentir.
A adesão do fariseu Paulo de Tarso foi mais uma grande conquista helenística, dos primeiros cristãos. Ela resultou até na eliminação da desagradável prática do corte do prepúcio masculino (a circuncisão), uma prática, que dificultava a adesão dos gentios aos fariseus. O novo dispositivo facilitou o proselitismo cristão.

Por último, o contato com o mundo dos mesmos pagãos, trouxe para dentro do cristianismo hábitos de outras religiões. Influíram certamente os mistérios (ou sacramentos) da religião de Mitra sobre os rituais equivalentes do cristianismo.
Na comunidade cristã, o ritualismo judaico, de transformação em transformação, desapareceu paulatinamente, inclusive os paramentos.
Os bispos e o Pontífice romano dos cristãos passaram a ter, com o tempo, algo de similar aos chefes das religiões pagãs. Até mesmo o Natal de Jesus em 25 de dezembro é a substituição, por imitação da festa do nascimento de Mitra.
Finalmente a Filosofia é aproveitada para formular mais adequadamente as doutrinas religiosas cristãs. Surge, pois agora, a maravilha de uma teologia cristã, precedida por uma filosofia também cristã.
Hoje se dividem as opiniões sobre a verdade do cristianismo. Para os que têm fé em sua sobrenaturalidade, ele resultou de uma obra intencionada por Deus, de tal maneira que Jesus seria um Deus encarnado em natureza humana e autor sobrenatural da Igreja, como ainda fiador de todas as promessas de uma vida futura espetacular de felicidade celestial.
Para outros, - defensores de uma interpretação histórico-crítica, - o cristianismo seria apenas uma transformação cultural progressiva e selecionante, todavia substancialmente falso no que diz respeito às convicções sobrenaturais.
Fonte:
Enciclopédia Simpozio
http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/novo/2216y098.htm#TopOfPage

CRISTIANISMO E FILOSOFIA PATRÍSTICA.

A Gênese do cristianismo

O cristianismo é um movimento de formação paulatina, resultante do contato judeu semita com o mundo indo-europeu.
Primeiramente ocorreu o processo pelo qual dentro do judaísmo se desdobraram as seitas conhecidas pelos nomes de saduceus, fariseus, zelotas, essênios; no curso deste processo deriva finalmente um grupo chamado cristão.
A seguir, também este desenvolveu no mesmo cristianismo um processo interno de transformação, influenciado pelo mundo helênico, tomando dele inclusive a língua grega para escrita de seus novos livros sagrados, os Evangelhos, Atos, Epístolas e Apocalipse.
As seitas judaicas contribuíram em diferentes dimensões para a formação do cristianismo.
Os saduceus eram tradicionais, do ponto de vista doutrinário, restringindo-se à Lei (ou Torá), de Moisés, sem os livros dos profetas e por conseguinte sem os acréscimos doutrinários recentes, em que figuravam, por exemplo, os anjos.
Os fariseus, que acresciam à Lei, os livros dos profetas, tinham mais viva a idéia de um Messias. Já se vê, que Jesus se ligava mais aos fariseus que aos saduceus. Ainda os fariseus admitiam a conversão dos gentios para o judaísmo; era mais um precedente de importância, que haveria de ser adotado pelo cristianismo.
Os zelotas acresciam à doutrina dos fariseus uma visão mais agressiva do Messias, como restaurador do Reino de Israel. Promoviam guerrilhas contra os romanos. É possível que muitos, como Judas, acreditassem que Jesus fosse um zelota oculto, abandonando-o quando viram nele um pacifista.
Finalmente, os essênios são os mais representativos das idéias de que eram também portadores os primeiros cristãos.
João Batista é um essênio típico. E Jesus apresenta aspectos similares.
Os essênios viviam no celibato. Organizavam-se em comunidades de doze e tinham a chefia geralmente de três, dos quais um era o tesoureiro. Comiam a Páscoa sob a presidência de um deles e em calendário que não era o oficial (o helênico, este já em vigor entre os saduceus).
Ora, tudo isto se mostra claro no grupo de Jesus. Os essênios ainda se acreditavam inspirados e receptadores de revelações. Curavam e perdoavam os pecados, além de batizar. Outra vez, tais são as maneiras de ver de Jesus e de seus discípulos. O conceito de Messias dos essênios é espiritual. Outra coincidência com os cristãos.

Fonte:
Enciclopédia Simpozio
http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/novo/2216y098.htm#TopOfPage

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

ARTE: PINTURA.

A MADONA DOS CRAVOS - RAFAEL - SEC. XVI - ÓLEO SOBRE TELA.

sábado, 18 de setembro de 2010

DOUTRINA SOCIAL E DO DIREITO, DO PERÍODO HELÊNICO-ROMANO

Como tema de especulação, foi o social uma peculiaridade do período helênico-romano, e que foi patrocinado sobretudo pelo estoicismo e epicurismo, platonismo e cristianismo. Ainda que houvesse tido tratamento em Platão e Aristóteles, o social passa agora a ser um objetivo claramente proposto como transformação a ser efetivada.

Desde Alexandre até ao final do Império Romano, progrediu paulatinamente e sempre o espírito da lei natural, dos direitos da pessoa humana, vindo finalmente tudo configurar-se no código de Direito Romano, publicado em 529 d.C., sob o imperador Justiniano. Filósofos e juristas são os transformadores de seus princípios, mas também muitos dos seus lances foram representados por sangrentas lutas e habilidades dos políticos. Também as religiões, como o cristianismo, influíram.

Com a supressão do Estado-Cidade (após Aristóteles), o homem animal político perdeu esta vinculação com o seu grupo. Desde então o homem se sentiu mais como indivíduo. Teve que viver junto, com outros homens, de maneira mais impessoal e ampla, juntamente com todos os homens da humanidade e que circulavam por toda a parte.

Especial importância adquiriram as organizações particulares e religiosas, as quais substituíram a preocupação anterior com o Estado-Cidade.

Cresceu assim a preocupação Ética e Religiosa. Inquiria-se que fazer, para ser feliz, - e a resposta vem da filosofia, agora predominantemente ética. E como tratar os seres transcendentes, - e cada vez mais assumiram importância as religiões orientais, que prometiam algo para o futuro, seja em forma de fatalidade e fortuna, seja na modalidade de vitória sobre o mal, como na religião de Mitra ou de ressurreição, como na igreja cristã. Os deuses gregos e romanos (Zeus e Júpiter e Cia.) perdem simpatia sobre as massas, porque não tinham, mensagem para as novas situações criadas pelos tempos; eram antes Deuses com interesses sobre os homens do que soluções para os seus problemas.

As escolas socráticas menores, de que as pós-socráticas dos epicuristas e estóicos são as continuadoras, deram o sinal de abertura para os tempos novos.

Os cínicos, chefiados por Antístenes (444 - 370), são os anarquistas da antiguidade, porque condenam a distinção baseada no nascimento, no sexo, nas classes. Diógenes, o cínico, perguntado de onde era, respondeu, - sou cidadão do mundo!

O epicurismo, com sua Ética associada à natureza, favoreceu o individualismo e a descrença nas formas sociais, sobretudo daquelas cultivadas anteriormente pela sociedade do Estado-Cidade.

Mas foi sobretudo no estoicismo, herdeiro do cinismo, que se formaram os filósofos e juristas que plasmaram a filosofia social do mundo helênico e do direito romano. Zenão de Citium é fenício, embora atuasse em Atenas; mas só isto bastava para que sua filosofia não adotasse a diferença entre nações, como entre gregos e bárbaros. Rompendo com o cinismo, por causa de seu espírito anarquista, manteve o seu moralismo rijo e fundado na natureza universal do homem. A atenuação se deu só ao tempo dos estóicos, do segundo pórtico, que admitiram as honras da pátria e a glória; esta peculiaridade era uma concessão ao espírito romano.

Ainda que as religiões pregassem o bom tratamento aos servos, foram os estóicos os primeiros a conceberem uma sociedade sem servidão.

As lutas políticas conduzem paulatinamente o desenrolar das melhorias sociais.

No que se refere aos diferentes níveis de direito do Estado político, não foi possível de início mais que distinguir entre o direito local e o direito da cidade universal.

A República neste plano geral era difícil, porque deveria resultar de um Estado Jurídico. As circunstâncias favoreceram o regime de Império, à base de uma aristocracia militar. O Monarca seria pois uma figura imposta pelas circunstâncias, em vista da dificuldade de coordenar de outro modo populações muito distintas. Se em Roma ocorreram inicialmente tentativas de República, elas foram definitivamente abandonadas ao tempo dos primeiros Césares.

Conquistas sociais dos romanos:

Lex canuleia (do tribuno do povo romano Caio Canuleio), de 445 a.C. que votou pela validade dos casamentos entre patrícios e plebeus, as duas classes que dividiam a cidade. É a lei da igualdade civil.

Lei das Doze Tábuas (450 a.C.), em doze tábuas de bronze, as primeiras leis escritas de Roma; ainda que primitivas e rudes, serviram como ponto de partida do Direito Romano.

Declara:

"Aquilo que o povo mandar, por último será a lei".

Lei agrária (487a.C.) de proteção aos trabalhadores agrícolas.

As leis licínias estabeleceram a igualdade de patrícios e plebeus no plano militar, para ocupar o cargo de tribuno militar (366 a.C.), e no plano religioso, para exercer o sacerdócio (302 a.C.), antes privilégio dos patrícios.

Lei semprônia (133 a.C.) (dos Gracchos Tibério e Caio), -

"Ninguém poderá possuir mais de quinhentas geiras de fazenda. Quem tiver filhos poderá conservar 500 para si e 250 para cada um dos filhos; o que sobrar será devolvido à República".

Ainda ao tempo da era pré-cristã se conhecem as lutas liberticidas dos escravos, sob a chefia de Espartaco (+ 71 a.C.) e as reformas de César favorecendo a Plebe. Seguiu-se o tempo feliz de César Augusto (30 a.C. - 14 d.C.).

O imperador Caracala (211 - 217) estendeu o direito de cidadania a todos os habitantes das Províncias (212); de outra parte isto trouxe melhorias para o tesouro.

Paralelamente desenvolveram-se os direitos da mulher.

Depois da publicação do Código Justiniano (530-534), adquiriu a Igreja vários privilégios e ainda outros, quando finalmente na Idade Média se desviou para o Direito Feudal.

São conhecidos juristas romanos:

Gaio ou Caio (c. 100 - 180); Paulo; Papiniano; Ulpiano; Modestino; Triboniano (codificador chamado pelo Imperador Justiniano).