CAMINHADA PELAS TRILHAS DA ARTE
Suely Monteiro
Suely Monteiro
A primeira vez que vi O Grito, do norueguês Edvard Munch, eu
achei horrível. Tive uma péssima impressão e imaginei se alguém teria coragem
de comprar e, em caso afirmativo, pendurar numa residência uma obra com um
aspecto tão infeliz.
Impressão pior eu tive do
quadro Construção Mole com Feijões
Cozidos, do pintor espanhol Salvador Dalí. Eu estava acostumada a um tipo
de arte mais representativa do ideal de beleza grego. Nas poucas visitas que
fiz aos museus europeus eu me deixava enternecer diante daquelas obras
gigantescas, perfeitas. Não visitava outros salões e estilos. Estava satisfeita. Não despertara, ainda, para o universo imenso
e diversificado que é o mundo da Arte. Agia como o peixinho que, por nunca ter
saído do lago, imaginava ser ele o centro do mundo. Eu não conhecia e,
portanto, não sabia “ler” os vários dialetos da alma.

Hoje, passados
muitos anos, me vejo escrevendo sobre o Expressionismo como uma arte que
reflete um momento especial da humanidade, seu estado psicológico e que, neste
sentido, algumas vezes se reveste de uma deselegante e chocante beleza.
Assim pensando, olho
novamente os quadros de Munch e Salvador Dalí e não sinto o mesmo impacto.
Consigo ler as cores fortes, as formas deformadas, contorcidas e desesperadas.
Consigo entender um pouco o sentimento que animou os artistas enquanto pintavam
suas dores, suas visões do mundo e suas maneiras de reagir aos fatos.

Em O
Grito o artista deixa vir à tona essa força poderosa que irrompe
abruptamente de sua alma. Ele não tenta esconder a angústia sob máscaras, ao
contrário, revela-a em sua plenitude. Os traços e cores fortes, as formas
deformadas podem sim serem vistas como o esforço que a natureza das coisas faz
para chegar à superfície, a vontade de se impor à vida, típico do caráter
dionisíaco.
O Grito é um pedido de
ajuda?
É um lancinante choro de desesperança ? É um dialeto da revolta?
É um lancinante choro de desesperança ? É um dialeto da revolta?
Para mim pode ser tudo isto, pois este
quadro, tanto quanto o quadro Construção
Mole com Feijões Cozidos, de Salvador Dalí, suscita em mim muito mais
perguntas do que apresenta respostas.
Todavia, do quadro de Dalí, a morte, parece-me, salta, deixando seu
aspecto lúgubre ressaltado pelo quase total monocronismo em que se expressa. Na minha visão, ao
contrário do que ocorre na obra de Munch, a pulsão de vida, no dizer freudiano, esvaiu-se da figura desguarnecida no quadro de Dali, como se mais do que um pressentimento, ele tivesse antecipado e transferido pare esse quadro, os horrores que a guerra civil acarreteria mais tarde ao seu povo, causando morte, fome e muito desespero. A dor psiquica de Dali é uma antevisão da dor que sua gente enfrentará numa luta fratricida. O quadro, desse ponto de vista, não poderia ser diferente.
Fonte das Imagens:
http://fazendohistoriaa.blogspot.com/2009/08/construcao-mole-com-feijoes-cozidos.htm
Fonte das Imagens:
http://fazendohistoriaa.blogspot.com/2009/08/construcao-mole-com-feijoes-cozidos.htm