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sábado, 18 de maio de 2013

Não, Platão não defende o Objetivismo Estético!

                                                                                 
Platão aponta para cima. Para o Mundo das Ideias. É lá que está a beleza, não nos objetos que vemos.
 

Um colega enviou-me um email pessoal com uma dúvida sobre estética, pedindo a nossa opinião sobre o assunto. Parece-nos que vale a pena responder aqui, pois pode interessar a outros também. A dúvida era a seguinte:


Comecei a dar a estética e fui ver o que os novos manuais diziam sobre o subjetivismo/objetivismo estético. Num deles li que o objetivismo estético é a perspetiva defendida por Platão, defendendo este que um objeto é belo em virtude das suas propriedades intrínsecas, as quais se encontram no objeto e só no objeto. Acho estranho Platão defender isto. Mas como já encontrei o mesmo noutro manual, pergunto se isto é mesmo assim.

             A primeira coisa a sublinhar é que se o objectivismo é a perspectiva segundo a qual a beleza (ou as propriedades que fazem algo ser belo) se encontram no objecto e só no objecto, então Platão nunca poderia ter defendido o objectivismo estético. Pela simples razão de que a tese de que a beleza está nas coisas é inconsistente com a bem conhecida teoria platónica das ideias. De acordo com a teoria das ideias, o que nos faz dizer que um dado objecto é belo não é o que nele vemos, mas a ideia imutável de beleza que esse objecto imita. Ora, como sabemos, as ideias — incluindo a ideia de beleza, em virtude da qual chamamos «belos» a certos objectos — encontram-se num mundo à parte, diferente do mundo dos objectos sensíveis.

            Sendo assim, como se pode dizer que Platão é objectivista? Dizer que Platão é objectivista é o mesmo que dizer que Platão não defende a teoria das ideias, de acordo com a qual a beleza não está nos objectos.

            Mas será que, por não estar nos objectos, a beleza deixa de ter uma existência real e independente de quaisquer sujeitos? A resposta de Platão é que a beleza tem uma existência real, mas não está nos objectos nem depende de sujeitos: ela está no mundo transcendente das ideias perfeitas. Assim, o que Platão defende é o realismo estético, não o objectivismo estético, que são coisas diferentes.

Em suma: não, Platão não defende o objectivismo estético. Nem é preciso ler mais do que a passagem da Alegoria da Caverna para se concluir isso.

 

Nota: No meu texto não aplico o novo acordo ortográfico, o que não acontece na citação acima

Fonte: Cinquenta Lições de Filosofia. Platão. Disponível em:
http://50licoes.blogspot.com.br/search/label/Plat%C3%A3o
Acesso em: 19 Mai.2013.

Acesso em: 18 Mai.2013.

segunda-feira, 4 de junho de 2012



                  EURÍPEDES E SOPHIA

                Suely Monteiro

                  A jovem entra na biblioteca e, aleatoriamente, toma um livro e se dirige com ele, a uma mesa. Só então lê o título: Genealogia da Moral, de F. Nietzsche. Abre-o ao acaso. Começa a ler e aprisionada pelo tema, não se dá conta da passagem do tempo. Avança, concentrada pelas páginas, acompanhando o autor em suas investigações a respeito dos valores morais e suas mudanças ao longo da história...
               Nietzsche faz duras críticas ao ascetismo,  que propugnava a renúncia ao prazer como forma de alcançar a elevação espiritual.  Resguarda-se de todos os Antigos  e acusa Platão de ser  é o maior inimigo da arte que a Europa jamais produziu. Para ele a arte é condição da natureza humana. É  através dela que o homem supera o niilismo.  A razão não é um guia seguro para o homem se orientar na sua busca de conhecimento, porque de alguma forma ela o obriga a seguir normas que não são de sua vontade e sem liberdade ele se torna  apenas um escravo.
            Mas, -  ela se perguntava internamente -   não estaria Nietzsche sendo imparcial e apressado no seu julgamento? A imagem que tinha de Platão não se ajustava muito à descrição, todavia, não tinha conhecimentos profundos e se sentia pouco à vontade em discordar do grande pensador moderno, ainda que no silêncio de sua alma.
           Ah! - suspirou sonhadora - como seria bom voltar no tempo, percorrer as  ruas de Atenas, conversar com o antigo pensador, ouvir-lhe suas razões e, de lá, depois de atendidos os seus objetivos em relação a ele,  tomar um avião  diretamente até a Alemanha moderna e, aí sim, dialogar com Nietzsche... 
             Mal havia terminado de formular seu desejo e aterrissou ao seu lado um jovem descontraído, e bastante atrevido, diga-se de passagem. Ele interrompe suas reflexões e a convida para um café.  Sem esperar resposta,  toma o livro de sua mão. Coloca-o de lado depois de ler o título  e sai arrastando-a para o barzinho da biblioteca,  saltitante  e falante como um personagem do ditirambo. Conta que a observava desde a hora que entrou na livraria e  que não resistiu à tentação de se aproximar, que não o interpretasse mal.
             Quase cantando anuncia-se como Eurípedes, poeta e estudante de Filosofia.  Fala-lhe sobre Nietzsche, empolgado, descrevendo-lhe, sucintamente sua obra.
          Mais tranquila, ela  o provoca com prazer: 
          - Ele tem uma rixa danada contra Platão!.
         Relaxe, não é só contra ele, não! Nietzsche era um inquieto e comprou briga, com Sócrates, Platão e até com o Cristianismo!
        No Nascimento da Tragédia, ele deixa bem claro, sua interpretação da cultura grega e o seu posicionamento em relação à Filosofia e o Cristianismo.
       Você conhece os dois grandes deuses, Apolo e Dionísio?
       - Sim, claro! -  ela respondeu.  Dionísio é o deus do êxtase, da música.
         Segundo Nietzsche, o homem dionisíaco tinha um modo de ser carregado de sentimento que se coadunava muito mais com a imagem da vida, da saúde e da juventude.
        O  homem apolíneo, ao contrário, lembra muito a escultura de Apolo: Belo, harmonioso, mas também, muito isolado. Através da consciência ele se determina um papel moderado e racional.  Mas, o mais instigante nisso , minha querida, é que apesar de todas essas diferenças, eles não se excluíam. Conviviam em harmonia formando dois lados de uma mesma face que se complementavam e davam força à tragédia grega, antes da Filosofia se imiscuir na relação, causar a ruptura entre eles e estragar tudo...
       Quer ver outra coisa?
       A cidade idealizada por Platão fechou as portas aos poetas, e você sabe por quê?
      - Por que Platão não gosta deles?
       Porque para Platão, a arte, do ponto de vista ontológico é uma mimese, ou seja, uma imitação de realidades sensíveis. Ora, se o sensível, para ele, é cópia do mundo inteligível, podemos concluir que a arte é cópia da cópia. E com a poesia não diferente, pois a poesia é arte. É uma cópia da cópia e, por isso se afasta do verdadeiro. Este afastamento pode conduzir ao engano, os educandos que dela  fizer uso, através dos poetas. E na cidade justa..
        Mas - ela o interrompeu, fazendo cara de muito inteligente e tentando ficar em cima do muro entre Platão e Nietzsche até poder se definir -, você não acha que a obra de Platão é mimética e que, a considerar esse seu raciocínio, ele estaria fazendo o mesmo que critica no outro, por exemplo, em Homero?
       - De fato, esta é uma questão controversa.  Mas eu penso, e conheço outras pessoas que pensam como eu, que a condenação de Platão a Homero integra o seu projeto de restabelecer, na sua cidade, uma Paidéia autêntica e politicamente justa.  A sua ideia era recuperar os valores preconizados pela poesia homérica, e,  mais precisamente, revitalizar o papel da própria poesia enquanto prática e discurso pedagógicos. 
Em si, a poesia não era má. Ela  necessitava de uma repaginada ... Faltava, no entendimento dele, as  bases filosóficas. Ela precisava ser  mais investigadora, você compreende?
          Caramba, eu nem me lembrava, mas, outro dia,  li um artigo bem interessante, que contribui com o que  você está dizendo – emendou ela -, pois o autor diz que a crítica de Platão aos poetas tem o sentido de discernir a verdadeira da falsa mimese. Ou, repetindo suas palavras: da boa ou má mimese, o que equivale mais ou menos, a fazer a distinção entre dois tipos de artistas , o ignorante de um lado e o esclarecido do outro.
          Ele diz, no seu texto, que a poesia tomada nela mesma, a que mimetiza a natureza sensível na sua aparência, estaria no gênero da má mimese, pois é praticada sem reflexão. Esta, Platão não quer na sua cidade.
           Mas tem livre passagem os poetas da boa mimese. Aqueles capazes de poetizar (gostou?) poesias intermediadas pelo pensamento dialético. Poesias voltadas para a Forma, mais próximas de realidade.
           Na verdade, Eurípedes, em minha opinião, a discussão acerca da poesia, independentemente do seu tipo, é muito mais uma oposição entre a poesia e a filosofia. Compreendo, agora, que Platão não descarta de todo a mimese, assim como não descarta de todo a poesia. Ele reconhece que ela é poderosa, até faz uso dela. E, é exatamente pelo seu poder que ela precisa ser usada por aqueles que sabem o que estão fazendo.
O espertinho estava preocupado mesmo era com a função ético-política da poesia na educação, -  ele complementou gracejando.
        Afinal de contas, não é muito diferente nos nossos dias e a cidade dele é bem parecida com a nossa, dirigida por políticos que se preocupam com a Educação, Saúde, Segurança e outros itens basiquinhos para a população.  Predominam em ambas o Belo, o Justo e o  Nobre  você não acha?  –  pergunta ele, fazendo novo gracejo, na tentativa de agradar a bela.
     - Virgem do Céu ! perdi a hora - ela gritou interrompendo-o.
     Vamos. Eu lhe dou uma carona, “mademoiselle” sem nome.
     - Oh eu me esqueci. Meu nome é Sophia.
    Sophia? Tá brincando comigo?!
     - Por que? Você prefere Medeia? - ela riu um riso estonteantemente belo.
    Oh  que Zeus me proteja de mais uma tragédia!


Obs.
Texto livremente baseado em:
SOUZA, J. M. R. de. PLATÃO E A CRÍTICA MIMÉTICA  Á MÍMESIS. Cadernos UFS – Filosofia, São Cristóvão: EdUFS, ano 5, v. 5, jan./jun. 2009.  Disponível em: <http://200.17.141.110/periodicos/cadernos_ufs_filosofia/revistas/ARQ_cadernos_5/jovelina.pdf>. Acesso em: 05/05/2012.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O BELO EM PLATÃO


Segundo Moderno (1997) o senso comum na Grécia Antiga usava a palavra kalón como significando a qualidade daquilo que agrada, que causa admiração ou satisfação à sensibilidade. O conceito de kalón foi para os gregos antigos muito mais amplo que o nosso conceito de Belo estético. Apesar disso considera-se a palavra kalón como referente ao que designamos como belo.
Segundo Platão, para se encontrar a verdade sobre o belo deve-se seguir o caminho da investigação do conhecimento, que é capaz de conduzir a todas as verdades do mundo real, onde o conhecimento é irrefutável e sem contradições. Assim, Platão acredita que a verdade sobre o belo seja um conhecimento racional. Veja onde Platão afirma a existência do belo como conhecimento verdadeiro, o belo em si, a verdade eterna, universal, irrefutável e sem contradições
O BELO EM SI: O BELO COMO "CONHECIMENTO VERDADEIRO"

—E que existe o belo em si, e o bom em si, e, do mesmo modo, relativamente a todas as coisas que então postulamos como múltiplas, e , inversamente, postulamos que a cada uma corresponde a uma idéia, que é única, e chamamo-la a sua essência.
—É isso.
—E diremos ainda que aquelas são visíveis, mas não inteligíveis, ao passo que as idéias são inteligíveis, mas não visíveis.
—Absolutamente.
(Platão, p. 204).
- Os amadores de audições e de espetáculos encantam-se com as belas vozes, cores e formas e todas as obras feitas com tais elementos, embora o seu espírito seja incapaz de discernir e de amar a natureza do belo em si.
- É assim, realmente.
- Mas aqueles que são capazes de subir até ao belo em si e de o contemplar na sua essência, acaso não serão muito raros?
- Mesmo muito.
- Ora quem acreditar que há coisas belas, mas não acreditar que existe a beleza em si nem for capaz de seguir alguém que o conduzisse no caminho do seu conhecimento, parece-te que vive em sonho ou na realidade? Repara bem. Por ventura sonhar não é quando uma pessoa, quer durante o sono, quer desperta, julgar que um objeto semelhante a outro não é uma semelhança, mas o próprio objeto com que se parece?
- Eu, por mim, chamaria sem dúvida sonhar a uma coisa dessas.
- Pois bem! Aquele que, ao contrário deste, entende que existe o belo em si e é capaz de o contemplar, na sua essência e nas coisas em que tem participação, e sabe que as coisas não se identificam com ele, nem ele com as coisas, uma pessoa assim parece-te viver em sonho ou na realidade?
- Claro que na realidade.
- Por conseguinte, diríamos com razão que o pensamento deste homem era conhecimento, visto que sabe, ao passo que o do outro era opinião, visto que se funda nas aparências?
- Absolutamente.
(Platão, p.173).

(...) me dê a réplica esse honrado homem que não acredita que exista algo de belo em si e na idéia do belo absoluto que se mantém sempre da mesma maneira, mas entende que há muitas coisas belas, esse amador de espetáculos que não consente de modo nenhum que alguém diga que o belo é um só, e o justo, e do mesmo modo as outras realidades. “Ora, dentre estas coisas, meu excelente amigo, diremos que, das muitas que são belas, acaso haverá alguma que não pareça feia? E, das justas, uma que não pareça injusta? E, das santas, uma que não seja ímpia?”.
— Não, mas é preciso que as mesmas coisas pareçam, de certo modo, belas e feias, e bem assim as outras por que perguntas.
— E agora as quantidades duplas? Podem parecer menos metades do que
duplas?
— De modo nenhum.
— E as coisas grandes ou pequenas, leves ou pesadas, não lhes cabem mais estas qualificações que lhe damos do que as inversas?
— Não, mas cada uma delas terá sempre algo de ambas.
— Ora então cada uma destas numerosas coisas é antes aquilo que nós dizemos que é, ou não o é?
(...) Também estas coisas podem ter dois sentidos, e não é possível ter delas uma concepção fixa como sendo ou não sendo, nem como sendo as duas coisas, ou nenhuma delas.
— Que hás de então lhes fazer?
— perguntei eu. — Ou poderás dar-lhes melhor colocação do que entre o Ser e o Não-ser? Porquanto não parecerão mais obscuras do que o Não-ser relativamente a terem mais existência que o Não- ser, nem mais claras do que o Ser relativamente a terem mais existência que o Ser.
— É verdade.
— Descobrimos, portanto, ao que parece, que as múltiplas noções da multidão acerca da beleza e das restantes coisas como que andam a rolar entre o Não-ser e o Ser absoluto.
— Descobrimos.
— Mas estabelecemos previamente em que se uma coisa destas nos aparecesse, teríamos de a considerar do domínio da opinião, e não da ciência, pois, como objeto errante no espaço intermédio, é apreendida pela potência intermediária.
— Sim.
— Por conseguinte, dos que contemplam a multiplicidade de coisas belas, sem verem a beleza em si, nem serem capazes de seguir outra pessoa que os conduza até junto dela, e sem verem a justiça. E tudo da mesma maneira, desses, diremos que têm opiniões sobre tudo, mas não conhecem nada daquilo sobre que as emitem.
— Exatamente.
— E agora os que contemplam as coisas em si, as que permanecem sempre idênticas? Porventura não é isso conhecimento, e não opinião?
— Também isso é evidente.
— Não diremos também que tem entusiasmo e gosto pelas coisas que são objeto de conhecimento, ao passo que aqueles só o têm pelas que são do domínio da opinião? Ou não nos lembramos que dissemos que esses apreciam e contemplam vozes e cores belas e coisas no gênero, mas não admitem que o belo em si seja uma realidade?
— Lembramo-nos.
— Logo, não os ofenderemos de alguma maneira chamando-lhes amigos da opinião em vez de amigos da sabedoria? Acaso se irritarão fortemente conosco, se dissermos assim?
— Não, se acreditarem no que eu digo, porquanto não é licito irritar-se contra a verdade.
— Portanto, devemos chamar amigos da sabedoria, e não amigos da opinião, aos que se dedicam ao ser em si?
— Evidentemente.
(Platão,p.177).
Platão desejava que o ser humano vivenciasse o mundo pelo caminho da razão. Segundo Platão, o desenvolvimento racional é a chave para o desenvolvimento humano. Sem a razão não há desenvolvimento moral nem estético ou qualquer outro possível.
Na filosofia de Platão, o elemento racional está contido apenas na “alma” ou na “psique” do Homem. E o corpo é a morada dos elementos que induzem o Homem ao caos ou à desordem. As emoções e as paixões atrapalham a capacidade de bem pensar e de se perceber a diferença entre a realidade e a ilusão. Pensando assim, Platão procura mostrar que o conhecimento é sempre a vitória da ordem sobre o caos. Alguns provérbios populares são produtos dessa concepção filosófica:
“Quando a cabeça não pensa, o corpo padece.”
“Não se deixe iludir: as aparências enganam.”
Pode-se afirmar que para Platão não existe coisa melhor ou que cause mais prazer à alma do que ver a vitória da ordem sobre o caos. Não há nada que dê mais prazer ou agrade mais à alma. Essa afirmação não é coerente com as afirmações platônicas de que o belo é o útil, de que belo é o bem, de que o belo é a harmonia, a simplicidade, a simetria, de que o belo é o bem pensar e a ordem? Todas essas afirmações sobre o belo estão em “A República” e pode-se sintetizá-las numa frase como a seguinte:
O belo é sempre a expressão de uma ordem que sensibiliza pela força que consegue emergir do caos
Fonte:

KALOKAGATHIA
O BELO E A JUSTIÇA SEGUNDO PLATÃO EM "A REPÚBLICA

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Alma na Filosofia Platônica.

A alma, assim como o Demiurgo, desempenha papel de mediador entre as idéias e a matéria, à qual comunica o movimento e a vida, a ordem e a harmonia, em dependência de uma ação do Demiurgo sobre a alma. Assim, deveria ser, tanto no homem como nos outros seres, porquanto Platão é um pampsiquista, quer dizer, anima toda a realidade. Ele, todavia, dá à alma humana um lugar e um tratamento à parte, de superioridade, em vista dos seus impelentes interesses morais e ascéticos, religiosos e místicos.
Assim é que considera ele a alma humana como um ser eterno (coeterno às idéias, ao Demiurgo e à matéria), de natureza espiritual, inteligível, caído no mundo material como que por uma espécie de queda original, de um mal radical. Deve portanto, a alma humana, libertar-se do corpo, como de um cárcere; esta libertação, durante a vida terrena, começa e progride mediante a filosofia, que é separação espiritual da alma do corpo, e se realiza com a morte, separando-se, então, na realidade, a alma do corpo.
A faculdade principal, essencial da alma é a de conhecer o mundo ideal, transcendental: contemplação em que se realiza a natureza humana, e da qual depende totalmente a ação moral. Entretanto, sendo que a alma racional é, de fato, unida a um corpo, dotado de atividade sensitiva e vegetativa, deve existir um princípio de uma e outra. Segundo Platão, tais funções seriam desempenhadas por outras duas almas - ou partes da alma: a irascível(ímpeto), que residiria no peito, e a concupiscível (apetite), que residiria no abdome - assim como a alma racional residiria na cabeça. Naturalmente a alma sensitiva e a vegetativa são subordinadas à alma racional.
Logo, segundo Platão, a união da alma espiritual com o corpo é extrínseca, até violenta. A alma não encontra no corpo o seu complemento, o seu instrumento adequado. Mas a alma está no corpo como num cárcere, o intelecto é impedido pelo sentido da visão das idéias, que devem ser trabalhosamente relembradas. E diga-se o mesmo da vontade a respeito das tendências. E, apenas mediante uma disciplina ascética do corpo, que o mortifica inteiramente, e mediante a morte libertadora, que desvencilha para sempre a alma do corpo, o homem realiza a sua verdadeira natureza: a contemplação intuitiva do mundo ideal.
Fonte:

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O QUE É FILOSOFIA DA LINGUAGEM - William P. Alston

Parte VII

A Filosofia como Análise

A questão final diz respeito à noção de que a tarefa primordial, senão integral, da Filosofia consiste na análise conceptual. A análise de conceitos básicos foi sempre uma preocupação dominante dos filósofos. Nos Diálogos de Platão, Sócrates é representado como se passasse a maior parte do tempo fazendo perguntas como "0 que é justiça?" e "0 que é sabedoria?"

As obras de Aristóteles foram dedicadas, em grande parte, a tentativas para chegar à definição adequada de termos como "causa", "bem", "movimento'' e "conhecimento". Tradicionalmente, tem-se considerado que, por mais importante que seja essa atividade, é ainda preliminar às tarefas básicas do filósofo - as de chegar a uma concepção adequada da estrutura fundamental do mundo e a um adequado conjunto de normas para a conduta e organização social humanas. Mas, em nosso tempo, vem-se fixando a convicção de que o método usado na Filosofia, que pode ser sucintamente definido como reflexões de gabinete, sem a suplementação de observações ou experimentações especiais, não é realmente suficiente para produzir quaisquer conclusões substantivas sobre a natureza do mundo ou as condições em que a vida é bem ou mal vivida; e de que o que está apto a produzir é a clareza no tocante aos conceitos básico em cujos termos pensamos no mundo e na vida humana. Essa transferência maciça do centro de gravidade da atividade filosófica é de particular relevância para a filosofia da linguagem, por causa de uma concomitante mudança da própria idéia da análise conceptual. Há três maneiras muito diferentes de formular um problema em filosofia analítica, quer estejamos tratando de causação, verdade, conhecimento ou obrigação moral. Tomando o problema do conhecimento para nosso modelo, podemos dizer que ; 1. estamos investigando a natureza do conhecimento; 2. estamos analisando o conceito de conhecimento; ou 3. estamos tentando tornar explícito o que uma pessoa está dizendo quando afirma saber que uma coisa é dessa ou daquela natureza. É possível que 1 e 2 sejam metodologicamente falazes. 1 sugere, falsamente, que a tarefa consiste em localizar e examinar uma certa entidade chamada "conhecimento", uma entidade que existe e é o que é independentemente do nosso pensamento e discurso. Infelizmente, ninguém descobriu até hoje uma técnica aceitável para localizar e examinar tais entidades. 2 está sujeito a nos desorientar se não for simplesmente reconhecido como uma forma alternativa de 3, pois sugere que a tarefa consiste em analisar introspectivamente algo chamado "conceito" e descobrir as partes que o compõem e o modo como estão reunidas. Também, neste caso, parece não ser possível desenvolver uma técnica objetiva para fazer tal coisa. Aumenta a convicção de que mesmo quando um filósofo, ao tratar do conhecimento, formula os seus problemas como 1 ou 2, o que ele realmente faz, à medida que os seus resultados têm qualquer valor, é refletir sobre os vários aspectos do uso de "saber" e seus cognatos.

domingo, 15 de junho de 2008

Platão

Nasceu em Atenas, por volta de -428, e era membro de uma aristocrática e ilustre família. Descendia dos antigos reis de Atenas, de Sólon e era também sobrinho de Crítias (-460/-403) e Cármides, dois dos "Trinta Tiranos" que governaram Atenas em -404. Lutou na Guerra do Peloponeso entre -409 e -404, e a admiração por Sócrates, que conheceu em algum momento desse período, foi decisiva em sua vida.
Saiu de Atenas em -399, após a execução de Sócrates, e passou os 12 anos seguintes viajando. Por volta de -387 visitou a Magna Grécia, e em Taras conheceu o político e matemático Arquitas (c. -400). Em Siracusa tornou-se amigo de Díon (-408/-354), jovem parente de Dionísio I, o tirano que governou a cidade de -405 a -367. Em razão de atritos com o tirano, foi expulso da cidade e vendido como escravo em Egina, então inimiga dos atenienses.
Resgatado por um amigo, retornou a Atenas e fundou por volta de -385 a Academia, protótipo de todos os colégios e universidades atuais. A escola era dotada de alojamentos, refeitório e salas de leitura, onde Platão e seus alunos passavam o tempo estudando e discutindo matemática, astronomia, música e, é claro, filosofia. Sua intenção era formar homens de princípios elevados, preparados para exercer funções políticas de destaque em suas comunidades.
Em -365 e em -361 esteve novamente em Siracusa, a pedido do amigo Díon, numa tentativa inútil de transformar o jovem Dionísio II (-367/-342), filho e sucessor de Dionísio I, no "rei-filósofo" que idealizara. Desiludido com a dificuldade de colocar em prática suas idéias filosóficas, Platão não mais saiu de Atenas. Dedicou-se somente à Academia e aos seus escritos até -347, quando morreu.
GRIBEIRO JR., W.A. Platão. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. Disponível em http://greciantiga.org/fil/fil03.asp. Data da consulta: 15.06.2008.

OBRA DE ARTE

OBRA DE ARTE
Amores na bela Capital Catarinense.