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quinta-feira, 7 de julho de 2016

A Canção do Brasil


Suely Monteiro


Dos vários tipos de sociedade que existem entre os homens, Cícero estabelece como universal, a sociedade do gênero humano, e a de círculo mais limitado, a da familia.  Ele ressalta, no entanto, que a ”mais bela e a mais sólida das sociedades são as que a amizade, pela conformidade de inclinação, estabelece entre pessoas de bem”.  

Sua fala não é novidade hoje, tanto quanto não era na sua época, pois muitos outros sábios que o antecederam a enalteceram na prosa, na poesia, na filosofia. Na teoria e na prática.

Curiosamente, observo que o desenvolvimento desta última, além de ampliar os limites da sociedade dos laços consanguíneos consagra à sociedade universal, uma grande dose de distinção, à medida que tornam seus membros espontaneamente compromissados com o bem. Ora, uma sociedade de homens de bem, não engana, não humilha, não espolia, não destitui uns e outros de seus valores materiais e não pleiteia a unicidade comportamental e ideológica.

Pelo contrário, reconhece e valoriza o valor individual de seus membros, sabe que o alicerce da justiça é a boa vontade e que esta é estimulada pelo exemplo, pela fé que, segundo, ainda, o grande pensador, vem da palavra fazer, por que se diz o que se faz.

Forçando um pouco a barra para adaptar a sociedade Brasil ao texto de Cícero, podemos  dizer que, teoricamente, formamos uma sociedade distinta, pois nossas leis, os discursos de nossos políticos em suas assembleias ou nas mídias diversas, conformam com este estado de coisa. Todavia, quão longe disso estamos na prática!

Para alcançar a glória e o poder, nossos governantes insensatamente, substituem demonstrações de amor, confiança e admiração que o povo lhes votam, por ações injustas, e, conforme diz Ennius: ” traem a amizade, desprezam conselhos."

Ouso acrescentar que eles roubam do povo. Roubam não apenas os recursos materiais, muitas vezes necessários à sua subsistência, mas a esperança e o sonho, sentimentos sem os quais os passos em direção à ordem e progresso são fortemente reduzidos e fragilizados.  

Em conformidade com suas más inclinações, desqualificam aqueles que lhes emprestaram, temporariamente, o poder com a condição de promoverem uma sociedade justa e igualitária.

Metem os pés pelas mãos. Levam às comunidades internacionais a vergonha ao serem estampados nas páginas policiais. A tudo isto parecem insensíveis.

Infelizes, não percebem que a sociedade está amadurecendo e, que como eles, embora em direção oposta, vem substituindo o ardor jovial que nem sempre examina os atos, pela solidez e assídua presença na cobrança dos deveres que lhes instituíram através do voto.

Os passos são lentos eu disse, mas isto não significa que não estejam sendo dados.

Mais de duzentos milhões cantam “Pra frente Brasil” de diferentes formas, com diferentes  palavras e  diferentes acentos, indiferentes que já se tornaram às mentiras e promessas eleitoreiras.

Pra frente Brasil, cantemos, rumo a construção da mais bela e mais sólida das sociedades, constituída pela amizade em conformidade de inclinação entre pessoas de bem!


quinta-feira, 31 de março de 2016

O Cão e a Carroça

                                                                                

Este texto faz parte do capítulo de Alain de Botton em "As consolações da filosofia" (editora Rocco) com citações de filósofos estóicos. Tradução de Eneida Santos. As notas ao final são minhas.
Os estóicos lançavam mão de uma imagem para evocar nossa condição de criaturas fortuitamente capazes de efetuar mudanças, apesar de sujeitas às necessidades extremas. Somos como cães amarrados a uma carroça que, a qualquer instante, pode se colocar em movimento. O comprimento de nossa trela é suficiente para nos permitir uma certa liberdade de movimento, mas não nos concede a autonomia necessária para vagarmos a nosso bel-prazer.
A metáfora foi formulada pelos filósofos estóicos Zenão de Cício (fundador da escola estóica) e Crisipo e relatada pelo sacerdote romano Hipólito: 
“Quando um cão atrelado a uma carroça quiser acompanhá-la, ele é puxado por ela e avança, fazendo com que seu gesto espontâneo coincida com a necessidade. Mas se o cão decidir não se mexer, o movimento da carroça o obrigará a segui-la, de qualquer maneira. O mesmo acontece com os homens: mesmo que não queiram, eles são forçados a obedecer o que o destino lhes reservou.”
Naturalmente, um cão é livre para ir onde bem entender. Mas, como sugere a metáfora de Zenão e Crisipo, se seus movimentos estão tolhidos é melhor trotar para acompanhar a carroça do que ser arrastado e estrangulado por ela. Embora o primeiro impulso do animal talvez seja o de lutar contra a guinada repentina do veículo que o obriga a tomar uma direção imprevista, seu sofrimento só dura enquanto durar sua resistência.
Assim Sêneca se posicionou sobre o assunto [1]:
“Ao lutar contra o laço, o animal o aperta mais... qualquer cabresto apertado irá machucar menos o animal se ele se mover com ele do que se lutar contra ele. Somente a capacidade de resistência e a submissão à necessidade proporcionam o alívio para o que é esmagador.”
Para reduzir a violência de nossa insubordinação contra acontecimentos que tomam rumos opostos ao que desejávamos, devemos refletir que também nós temos um cabresto em volta do pescoço. O sábio aprenderá a identificar de imediato o que é necessário e o seguirá, em vez de deixar-se exaurir em protesto. Quando um homem sábio é informado de que sua mala se perdeu em trânsito, ele precisará de poucos segundos para resignar-se. Sêneca relatou de que forma o fundador do estoicismo se comportou quando soube que havia perdido todos os seus pertences:
“Ao ser avisado sobre um naufrágio e ser alertado para o fato de que sua bagagem havia afundado, Zenão comentou: ‘A Fortuna [2] me desafia a ser um filósofo menos sobrecarregado.’”
Isso pode soar como uma receita para a passividade e a placidez, um incentivo à resignação diante das frustrações que poderiam ter sido vencidas. Mas a argumentação de Sêneca é mais sutil. Existe o mesmo grau de irracionalidade em se aceitar como necessário algo que não é necessário e em se rebelar contra algo que é necessário. Podemos, com a mesma facilidade, cometer o mesmo erro, ao aceitarmos o desnecessário e negarmos o possível, e negarmos o necessário e desejarmos o impossível. Cabe à capacidade de raciocínio estabelecer a distinção.
Não importa que semelhanças possam existir entre nós e um cão atrelado, nós possuímos uma vantagem crucial: podemos raciocinar e o cão, não. O animal sequer percebe de imediato que foi amarrado a uma trela e nem entende a relação entre as guinadas da carroça e a dor que sente no pescoço. Ele se sentirá confuso com as mudanças de direção e será difícil para ele calcular a trajetória da carroça, portanto sofrerá puxões constantes e dolorosos. Mas a razão nos capacita a teorizar com precisão sobre a rota de nossa carroça e isto nos oferece uma oportunidade, única entre os seres vivos, de aumentar nosso senso de liberdade ao assegurar uma boa folga entre nós e a necessidade [3]. A razão nos permite determinar quando nossos desejos estão em conflito irrevogável com a realidade e nos desafia a não sentir revolta ou amargura, e sim a nos submetermos de bom grado às necessidades. Talvez sejamos impotentes para alterar determinados acontecimentos, mas permanecemos livres para escolher que atitude tomar em relação a eles, e em nossa aceitação espontânea da necessidade encontramos uma liberdade característica.

***
[1] Este trecho faz parte do capítulo intitulado “consolação para a frustração”, baseado no pensamento do Sêneca. Como este livro também deu origem a um documentário da BBC, é possível ver o capítulo inteiro – incluindo a metáfora do cão, onde a carroça é sutilmente substituída por uma bicicleta pilotada pelo próprio Alain – no vídeo abaixo (e suas seqüências).

domingo, 10 de março de 2013

ROMANTISMO

Suely Monteiro

           Ao voltarmos nosso olhar para o passado, dificilmente, poderemos identificar um período em que o homem esteve totalmente estacionado em todos os aspectos. Criado para a perfeição, ele busca, ao logo dos milênios cumprir sua sina de crescer e ser feliz. A arte, nos seus variados aspectos, tem sido sua companheira de viagem e, como ele, sofreu, ao logo dos tempos, muitas transformações, algumas vezes recebendo influências dos costumes sociais e em outras, reagindo a eles em busca de novos modelos.

           O Romantismo foi um movimento reacionário com características tanto de protesto quanto progressista, surgido na Europa por volta de 1800. Inicialmente, se fez sentir na literatura e Filosofia, para depois expandir-se nas outras variantes da arte, conservando, porém, em todas elas, nos diversos momentos que marcaram o movimento: a) cunho pessoal e subjetivista em detrimento do coletivo; b) liberdade de criação, de expressão; c) nova concepção da natureza; d) crítica social, principalmente na sua ultima fase; e) sentimentalismo: emoção, paixão exagerada, que se desdobram em tendências e temas voltados para o nacionalismo, indianismo, o confessionalismo, o individualismo e o pessimismo exagerados, entre outros, e que são grandemente marcados na literatura, por autores que levam seus personagens mais evidentes a optar pela morte como forma de solucionar suas dores, seus problemas.
        Na literatura europeia, Lorde Byron, Goethe, Schiller, Stendhal, Walter Scott, Victor Hugo, Almeida Garret e Camilo Castelo Branco são importantes representantes de diferentes períodos do Romantismo, tomado aqui, também, como extensão do pré-romantismo, cujas obras influenciaram muitíssimo a literatura romântica brasileira, como por exemplo, o byronismo de Álvares de Azevedo e ultrarromantismo de Casimiro de Abreu, ambos pertencentes à segunda geração de românticos. Na primeira geração, sobressaltam o nacionalismo-indianismo de Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto Alegre.

       Além de Sousândrade e Tobias Barreto, a terceira geração de românticos no Brasil, conta como principal representante o poeta baiano Castro Alves.

       Em relação à música, além de manter as características de valorização da liberdade, da expressão e das emoções, próprias do movimento, não poucas vezes os compositores românticos se inspiraram na literatura e na pintura para se expressarem musicalmente.  Vale lembrar que, historicamente, a Revolução Francesa, recém-ocorrida, havia causado grandes mudanças sociais e que a classe burguesa, em ascensão, tornara-se, portanto, um público ideal, que acorria às salas de concertos, em busca da nova música que incorporava canções populares e instrumentos como o piano e a orquestra, “numa explosão de cores sonoras” (Wikillerato, 2013).
Ainda hoje, nomes como Beethoven, iniciador do Romantismo na Alemanha, Schubert (Sinfonia inacabada); Schulman (Poemas Sinfônicos), Liszt (Rapsódia Húngara), Chopin (Noturnos), fazem muitos corações balançarem emocionados. Wagner, mais tardiamente, encanta Nietzsche. Na ópera, Rossini (O Barbeiro de Sevilha), Verdi (Aída), dentre outros, continuam a ser executados e levam um grande público aos teatros, mesmo em plena época da estonteante música eletrônica.
 
 
Mas, para concluir é preciso vestir a túnica do confessionalismo romântico e dizer que olhar um quadro, como por exemplo, “A Liberdade guiando o povo”, de Eugène Delacroix, a “Maja Nua” ou a “Maja Vestida”, de Francisco Goya, ou mesmo ler uma bela página de Goethe ao som de Tchaikovsky, gera uma sensação de bem estar e plenitude que, são certamente, motivos suficientes para que o Romantismo continue tão atual e justificam, o leigo, chamar de Romântica, toda música erudita de sucesso.


OBRA DE ARTE

OBRA DE ARTE
Amores na bela Capital Catarinense.