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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Platão e a Educação



Através dos programas descritos em duas das grandes obras de Platão, a República e as Leis, sabemos o que Platão pensava que deveria ser a educação.Platão, o mais famoso discípulo de Sócrates, divergiu do mestre num aspecto: não acreditava na difusão ampla, democrática da sabedoria. Para ele, ela só poderia ser alcançada pelo confinamento voluntário de aprendiz, da separação do iniciado do restante da sociedade. Nada de andar caminhando em meio a ágora (agora) tentando converter a gente comum às grandes idéias, embaraçando-as com exercício dialéticos como Sócrates costumava fazer. O conhecimento, episteme (episteme), era apanágio de alguns poucos, mantendo-se no alto, afastado do comum, como a acrópole encontra-se em relação à cidade. A fortaleza do saber demandava uma arte especial para conquistá-la, uma técnica que requeria o domínio da geometria, do raciocínio, da meditação e da reflexão disciplinada.
Na sociedade que Platão idealizou existem três classes: a classe dos artífices e comerciantes, cuja virtude é a temperança; a classe dos guerreiros, cuja virtude é a coragem e a classe dos filósofos cuja virtude é a sabedoria. Se a classe dos filósofos governar, se a classe dos guerreiros se encarregar da defesa e a classe dos artífices e comerciantes mantiver as duas outras classes, existirá harmonia e equilíbrio e a justiça poderá ser alcançada.Na República e nas Leis, para além de desenhar o seu estado ideal, Platão também define o sistema educacional que o manterá, apresentando assim as suas ideias sobre a educação, o valor da poesia e da música, a utilidade das ciências, da filosofia e do filósofo.
Platão começa por defender uma sólida formação básica que evolui até elevados estudos filosóficos, considerando que só indivíduos especialmente dotados poderiam chegar à filosofia.
Para se chegar a este nível de educação é necessário passar por um nível de formação básica, à qual terá dado o nome de educação preparatória. Esta terá por função desenvolver de forma harmoniosa o espírito e o corpo.
Segundo Platão, Atenas negligenciava a educação da juventude, desinteressava-se e deixava-a nas mãos dos particulares. O estado deveria preocupar com a formação daqueles que seriam os futuros cidadãos.
Para ele, a educação deveria tornar-se algo público, os mestres deveriam ser escolhidos pela cidade e controlados por magistrados especiais. Platão defendia ainda que a educação deveria ser igual para rapazes e raparigas, mas só até aos seis anos. A partir desta idade teriam mestres e classes diferentes.
Platão defendia que o ensino deveria durar 50 anos.Nos primeiros anos de vida, dos 3 aos 6 anos, as crianças deveriam participar em jogos educativos, em jardins especialmente concebidos para elas e sob atenta vigilância.
No entanto, para Platão, como para todos os gregos, a educação propriamente dita, só começaria aos 7 anos.
Como formação inicial, Platão conservou a antiga Paideia grega, escolha que se revestiu de enorme importância para o desenvolvimento da tradição clássica, permitindo a sua continuidade e o seu enriquecimento com a cultura filosófica.
A educação antiga da Grécia, era constituída por duas partes: gymnastiké (ginástica) para o corpo e mousiké para alma. Em relação à ginástica, Platão recrimina a função de competição que lhe fora atribuída ao longo dos tempos. Segundo ele, a ginástica deveria regressar à sua forma original, incidindo exclusivamente em exercícios de carácter militar, desempenhados tanto por rapazes como por raparigas, preparando-os para o combate. O seu programa de jogos incluia a luta, as corridas a pé, os combates de esgrima, os combates de infantaria pesada e de infantaria leve, o arremesso de flecha com arco, a funda, marcha e manobras tácticas, a prática do acampamento e a caça.
Esta preparação militar deveria ocorrer nos ginásios e nos estádios públicos, sob a direcção de monitores profissionais cujos honorários seriam pagos pelo Estado.
A ginástica seria iniciada neste nível mais elementar e continuaria até à idade adulta. A sua finalidade não era alcançar a força física de um atleta, mas contribuir para a formação do carácter e da personalidade. Platão considerava que os homens que se dedicavam exclusivamente à ginástica, acabavam por se tornar insensíveis à cultura e eram pouco mais do que selvagens.
Ainda em relação à ginástica, refira-se que Platão inclui nela todo o domínio da higiene, as indicações em relação ao regime de vida e especialmente ao regime alimentar, assunto intensamente tratado na literatura médica do tempo.
À ginástica Platão acrescentava ainda a dança, insistindo bastante na sua prática e ensino, pois considerava-a um meio de disciplinar a espontaneidade dos jovens, contribuindo para a disciplina moral.
No ciclo entre os 10 e os 13 anos, a criança deveria aprender a ler e a escrever, iniciando em seguida o estudo dos autores clássicos, integralmente ou em antologias (trechos escolhidos). Para além dos poetas, Platão defende também o estudo de autores em prosa.
Platão criticava o ensino dos poetas como Homero pois considerava que os mitos pervertiam a criança e não lhe ensinavam a virtude. Assim, para ele, as obras de poetas como Homero e Hesíodo davam uma ideia maliciosa das divindades. No período dos 13 aos 16 anos, a música ocupa um lugar de distinção. Para Platão a pessoa rectamente educada pela música, pelo facto de a assimilar espiritualmente, sente desabrochar dentro de si, desde a sua mocidade e numa fase ainda recuada do seu desenvolvimento, uma certeza infalível de satisfação pelo belo e de repugnância pelo feio, a qual o habilita mais tarde a saudar alegremente, como algo que lhe é afim, o conhecimento da verdade, quanto ele se apresentar.
A música contribui, assim, para a formação harmoniosa da alma. Segundo Platão, ela não abrange apenas o que se refere ao tom e ao ritmo, mas também, e até em primeiro lugar, a palavra falada, o logos.
O estudo das matemáticas foi sempre reservado a um grau superior do ensino. Para Platão, no entanto, as matemáticas deveriam encontrar o seu lugar em todos os níveis, começando pelo mais elementar, sendo aprofundada a partir dos 16 anos e prolongada nos estudos superiores.
Esta inovação de Platão inspira-se provavelmente nas práticas egípcias a que a ele teve acesso. Assim, à aritmética, acrescentou a prática dos exercícios de cálculo ligados a problemas concretos da vida e dos negócios. Estes primeiros exercícios possuíam já uma virtude formadora, sendo seu objectivo a aplicação da matemática à vida prática, à arte militar, ao comércio, à agricultura e à navegação.
Para além da geometria, a que dava a maior importância, Platão defende também o ensino uma ciência totalmente nova, a estereometria (cálculo do volume de sólidos). Prevê o estudo da astronomia que deveria permitir adquirir os conhecimentos mínimos para o uso do calendário. Segundo Platão, são precisamente as matemáticas que servem como meio de pôr à prova os espíritos mais aptos a tornarem-se um dia dignos da filosofia. Ao mesmo tempo que seleccionam os futuros filósofos, formam-nos e preparam-nos para os seus futuros trabalhos.
Aos 17 e aos 18 anos os estudos intelectuais interrompem-se por dois ou três anos porque aos jovens era imposto o serviço militar. Neste período, segundo Platão, a fadiga e o sono impedem qualquer estudo.
Aos 20 anos realiza-se uma selecção por meio da qual os menos dotados eram destinados ao exército; numa segunda selecção, levada a efeito mais tarde, a maioria dos jovens era encaminhada para diversas profissões e ofícios civis e só os mais dotados iniciariam os estudos superiores, mas não directamente para a filosofia. Durante ainda 10 anos, continuam o estudo das ciências, mas agora a um nível superior.
O programa é a aritmética, a astronomia e a música, a geometria (plana e no espaço). Todas estas ciências devem eliminar qualquer experiência prática tornando-se totalmente racionais, por exemplo, a astronomia deve ser uma ciência matemática e não uma ciência da observação.
As matemáticas são o instrumento da formação dos filósofos, que através dos problemas elementares de cálculo, devem ser encaminhados para um grau superior de abstracção. Platão diz que as matemáticas não devem preencher a memória com conhecimentos úteis, mas formar um espírito capaz de receber a verdade inteligível.
É interessante verificar que Platão não esquece o papel da educação literária, artística e física na personalidade e na harmonia do todo, mas este papel não tem comparação com o desempenho pela matemática na iniciação da cultura que leva à busca da verdade.
Somente aos 30 anos, no fim de um ciclo de matemáticas transcendentes e depois de um última selecção, se inicia o método propriamente filosófico, a dialéctica, discussão do problema do bem e do mal, do justo e do injusto, caminho para o conhecimento e a verdade.
Passados cinco anos os estudantes estarão na plena posse deste instrumento, o único que conduz à verdade. Os que chegarem a esta fase devem ser capazes de ultrapassar a percepção dos sentidos e penetrar o próprio Ser.
Durante quinze anos ainda, o homem já assim formado deve adquirir experiência participando na vida activa da cidade.
Aos cinquenta anos, estará completa a sua educação, se tiver sobrevivido e superado todas as provas. Ele reconhecerá a possibilidade de atingir a meta suprema que é a ideia do Bem. Poderá então exercer um cargo na direcção do estado, não como uma honra mas como um dever.
Este plano de Platão, que abarca a vida inteira, tem unicamente como objectivo formar um pequeno grupo de governantes - filósofos, aptos a tomar as rédeas do governo para o bem do estado.
Em suma, todo o sistema educativo de Platão se baseia na procura da Verdade cuja posse definirá o verdadeiro filósofo e também o verdadeiro político.
O curso de estudos, para Platão deveria ser de cinco períodos:
1º- dos 3 aos 6 anos:Prática do pentatlo (Nome colectivo de cinco exercícios que constituíam os jogos da Grécia, em que entravam os atletas: salto, carreira, luta, pugilato e disco. Dança e música para ambos os sexos).
2º- dos 7 aos 13 anos:Introdução paulatina da cultura intelectual e acentuação dos exercícios físicos. A partir dos 10 anos, aprendizagem da leitura e escrita e cálculo por processos práticos. Afasta-se assim dos costumes atenienses que começavam a educação intelectual antes dos 10anos.
3º- dos 13 aos 16 anos:Período da educação musical. O programa é dividido em duas secções: uma literária, compreendendo gramática e aritmética; outra musical, compreendendo poesia e música. Ensina-se a tocar a cítara e prefere-se a música dórica, enérgica e viril.
4º- dos 17 aos 20 anos:Período da educação militar. Os jovens deverão adquirir resistência e uma saúde a toda a prova. Será preciso harmonizar a música à ginástica, faziam-se os homens ferozes. Somente com a música, produzir-se-iam os afeminados.
5º- dos 21 anos em diante:Apenas os jovens mais capazes devem continuar a educação já com carácter superior e baseada nas Matemáticas e Filosofia. Entre eles, seleccionam-se os futuros governantes, prosseguindo sua educação até os 50 anos.
Essa educação pode ser distribuída da seguinte forma:· Dos 21 aos 30 anos: estuda-se com profundidade: aritmética, geometria e astronomia.· Dos 31 aos 35 anos: predomínio da formação filosófica e dialéctica, sem prejuízo dos estudos matemáticos.· Dos 35 aos 50 anos: O magistrado será incumbido de uma função pública e empregará os seus talentos para a prosperidade do Estado. Ninguém será admitido ao governo, antes dos 50 anos de idade.
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Texto e imagem retirados de:

http://www.beatrix.pro.br/educacao/platao.htm

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