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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O QUE É FILOSOFIA DA LINGUAGEM - William P. Alston

Parte II

Encontramos também Aristóteles, em sua Metafísica, argumentando da seguinte maneira;

"E assim, poder-se-ia até levantar a questão de saber se as palavras caminhar , ter saúde , sentar , implicam que cada uma dessas coisas seja existente, e do mesmo modo em outros casos deste gênero; pois nenhuma delas subsiste por si própria nem é capaz de manter-se separada da substância mas, antes, se realmente é alguma coisa, é aquilo que anda, ou se senta ou é saudável que é uma coisa existente. Ora, tais palavras são tidas na conta de mais reais porque existe algo definido que lhes é subjacente (isto é, a substância, ou indivíduo), que está implícito nesse predicado; pois nunca usamos a palavra "bom" ou "sentado" sem subentender isso". ( Livro Zeta, capítulo 1. )

Neste caso, Aristóteles parte do fato de que nunca usamos verbos a não ser em conexão com sujeitos, de que não dizemos "Senta", "Caminha" etc., mas, antes, "Ele está sentado" ou "Ela caminha". Deste fato conclui que as substâncias, as "coisas", têm uma espécie independente de existência que as ações não têm, que as substâncias são ontologicamente mais fundamentais do que as ações.

Um exemplo mais exagerado vamos encontrar no filósofo alemão do fim do século XIX, Meinong, que parte da suposição de que toda a expressão significativa numa frase ou proposição (pelo menos, qualquer expressão significativa que tenha a função de referir-se a algo) deve ter- 11m referente; caso contrário, nada haveria que pudesse significar. Logo, quando temos uma expressão obviamente significativa que não se refere a coisa alguma no mundo real, por exemplo, "a Fonte da Juventude", na frase "De Soto está à procura da Fonte da Juventude" , devemos supor que se referia a uma entidade "subsistente", que não existe mas tem algum outro modo de ser. Esta doutrina, assim como a posição platônica acima apresentada, baseia-se numa assimilação confusa de significado e referência, que tentaremos destrinçar no primeiro capítulo.

0 pressuposto contido nesses padrões de argumentação metafísica tornou-se patente no movimento filosófico do século XX conhecido como atomismo lógico,, cujos expoentes mais destacados foram Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein (no seu período inicial). Em sua série de artigos, "A Filosofia do Atomismo Lógico", Russell explica com clareza o princípio;


 
". . . num simbolismo logicamente correto haverá sempre uma certa identidade fundamental de estrutura entre um fato e o seu símbolo respectivo; e... a complexidade do símbolo corresponde intimamente à complexidade dos fatos por ele simbolizados."1

Note-se que essa identidade de estrutura é postulada como válida não entre qualquer linguagem existente e a estrutura metafísica básica do mundo, mas somente entre uma "linguagem logicamente perfeita" e a estrutura metafísica.. A hipótese formulada é de que, quando criamos tal linguagem ou adquirimos, pelo menos, uma idéia sumária do que essa linguagem poderia ser, estaremos então aptos a tirar várias conclusões sobre os tipos de fatos de que a realidade é feita e a estrutura de cada um desses fatos. Verificaremos quais diferentes tipos de proposições possuímos nessa linguagem para afirmar fatos, por exemplo, simples frases de sujeito-predicado como "Este livro é pesado" e frases existenciais como "Há um gato na varanda"; e veremos como esses vários tipos de proposições estão logicamente correlacionados. Isso nos dirá quais são os tipos básicos de fatos de que a realidade é feita e como os fatos desses vários tipos estão correlacionados.

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