Suely Monteiro
Estamos sentados na beira da estrada, sem rumo, entre muitas opções, pois não temos lembranças de nosso roteiro de viagem que ficou perdido, lá atrás, num tempo diferente do contado cronologicamente; tempo em que o tempo não existia como agora, e que a fantasia gerava tantos seres extraordinários quanto a nossa capacidade de imaginá-los e conviver com eles.
Perdemos nosso roteiro e com ele, na mesma sacola, ficou o doce encanto da fantasia que tornava nossa jornada mais bela, mais agradável, mais assertiva e, sobretudo não nos deixava perder a consciência do ser que éramos.
Perdemos nosso roteiro e com ele, na mesma sacola, ficou o doce encanto da fantasia que tornava nossa jornada mais bela, mais agradável, mais assertiva e, sobretudo não nos deixava perder a consciência do ser que éramos.
Distanciados da história de nossa origem, não sabemos quem somos e, claro, nem para onde vamos. Fingimos acreditar que estamos no caminho certo. No entanto, nossos mergulhos nas sensações, nas emoções de superfície, nas muitas roupagens exageradamente descompostas, mostram somente o quanto fomos enganados pelo orgulho, pela vaidade e pela presunção de acreditar saber mais do que de fato sabíamos.
Elevamos a mais alta hierarquia um conjunto de pressupostos mal examinados que nos tornavam capazes de realizar inventos grandes, mas de maus sortilégios que nos afastavam cada vez mais do nosso centro a que nos dirigíamos.
Fomos ficando atrás do ser que éramos.
Fomos perdendo a elegância de fazer grandes versos que nos tornavam o centro das atenções dos corações. Voltamos nossa face para o cérebro e com ele realizamos grandes obras que, no entanto, não servem para nos colocar de volta ao nosso caminho.
Encontramos o desespero, a dor, a desconfiança, o medo e a solidão muitas vezes disfarçados para nos enganar. Vezes sem conta caímos em suas pérfidas armadilhas, entregando-lhes os poucos recursos que nossa alma ainda possuía. Mas a vida seguindo seu curso, nos seus fluxos nos arrastou até que um dia, cansados, machucados, humilhados, nos vimos sem outra opção a não ser deixar o coração voar e com ele seguir por sobre os montes, montanhas e florestas, numa estrada, aparentemente sem fim.
Depositados ali, sentados, depauperados, nos demos conta de que havíamos nos afastado do roteiro porque havíamos negado nossa origem e negar a origem é perder a caminhada.
Nossa saída, é encontrar entre as várias opções, a serenidade para, da maneira mais delicada possível, desobrigar-nos dos compromissos com o fútil e obsoleto, voltarmos as costas para as tiranias do poder e do ter, e, finalmente, reconhecer, em meio a eloqüência da sinfonia do silêncio, a fantasia que brota dos lábios da criança, as canções dos amantes, as pedras do caminho, as flores da estrada, as dores sofridas e compensadas, que o mapa do caminho tão ardentemente procurado estava guardado nos mitos da infância.
Feito isso, nenhum encantamento nos livrará de retomar o caminho que nos conduzirá à Perfeição.
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