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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A AUTENTICIDADE SARTREANA.


           Suely Monteiro

         Jogado no mundo como um projeto condenado a se realizar, o homem é livre para fazer escolhas, é o único responsável pelas escolhas que faz e, à medida que faz escolhas vai se construindo como pessoa.

         Desta forma, e diferentemente, do ser potencial que se atualiza, na concepção  Aristotélica, para Sartre o ser é somente aquilo que é, e mais nada. A este ser que apenas é, ele chama de ente-em-si e o contrapõe ao ser especificamente humano que é o ente-para-si. O ente-para-si não tem a plenitude do ente-em-si. Ele é um espaço sem nada, “aberto”, às múltiplas possibilidades.  Com este entendimento, Sartre faz do nada a principal característica humana e, consequentemente,  se impossibilita de falar da existência humana como uma coisa universal, entendendo-a somente como uma condição humana.

           Voltando às escolhas, para Sartre, se cabe ao homem fazer escolhas e adotar comportamentos auto realizadores, auto constituidores, cabe a ele, também, respeitar os limites do outro, ou dizendo de outro modo, ele não pode fazer o que quiser, pois existem obstáculos que precisam ser superados (situação) ao longo do tempo, na busca da sua construção a partir do projeto. Portanto, para Sartre Projeto, Liberdade, Situação e Responsabilidade são vigas estruturadoras da realidade do homem, da mesma forma que para ele, a existência precede a essência, na medida em que o homem só se realiza através da existência e o desvelamento da sua essência está subordinada à sua realização.

           Por tudo o que foi dito, a busca constante de si mesmo, a autoconstrução, o caminhar em direção à realização é o que se pode considerar como autenticidade no sentido sartreano, pois se é verdade que para Sartre a autenticidade é adquirida de vez, em bloco, não é menos verdadeiro que ele considera que é preciso inventá-la a cada minuto novo, a cada nova situação, do mesmo modo que o homem se realiza, no mundo, de minuto a minuto a cada escolha. 
 
          É importante considerar, nesta análise, que a autenticidade não apenas, livra o homem de ser inautêntico, de não realizar o seu projeto, como também, lhe confere a responsabilidade pelo seu modo de agir e de construir –se como pessoa.
        
          Todavia, e isto é uma questão bem pessoal,  este modo de compreender a autenticidade vinculada ao modo de agir, de se autoconstruir, também  favorece o desenvolvimento do egoísmo, do individualismo, uma vez que, se o homem  não pode acusar Deus, a família e o Estado pelas consequências de suas escolhas, ele se desobriga de ajudar, de colaborar com o outro, porque vê nas escolhas do outro, os seus desejos de realizar sua essência e entende que não deve interferir. O amor solidário poderia virar uma opressão.
 
 

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