O filme é uma forma delicada, sensível e inteligente que Fernando
Meirelles encontrou para, não somente denunciar o descaso dos governos que
parecem estar mancomunados ou ignorando a
ação das grandes empresas nos países subdesenvolvidos, mas sobretudo,
para conscientizar o povo de seu poder de fazer alguma coisa para coibir esses
abusos. O móvel romântico da película é um casal, ele , Justin Quayle ( Ralph
Fiennes) diplomata do baixo escalão e ela, Tessa (Rachel Weisz), uma ativista social, que se muda para a África
(Quênia), onde ela descobrirá uma máfia de laboratórios que acoberta ação
utilitarista de testagens de drogas contra a tuberculose sob difusa campanha de
ajuda humanitária no tratamento de portadores do vírus HIV.
Apesar de ser diplomata, o marido a principio, não parece muito envolvido
com as questões sociais, ao contrário da mulher que leva avante um plano de
desvendar e indiciar os implicados na ação, contando, para isto, com a ajuda de
um médico negro Arnold Bluhm ( Hubert Koundé), ali radicado.
Impetuosa, vigorosa na crítica ela, tem sua vida na África caracterizada
pela identificação com o povo, tanto assim, que ao engravidar vai ter o filho
no mesmo lugar que as mulheres negras. Perde o filho. Conhece uma jovem de
quinze anos que estava morrendo vitimada pelo uso da droga, amamenta sua
criança e, ao deixar o hospital, se envolve, ainda mais, na elaboração de um
relatório para combater a conspiração contra os africanos indefesos.
Encaminha o relatório ao governo; como não recebe resposta, procura um
amigo do marido responsável pela ação do governo britânico naquele pais, e pede ajuda para saber a resposta de seu
relatório, prometendo-lhe uma noite de amor em troca da leitura do documento.
Ele permite e ela rouba a carta que é comprometedora. Assim, ela que incomoda tanto o Alto Comando Britânico a que o marido
estava vinculado, quanto às empresas que fabricam e testa a droga aparece
assassinada, juntamente com o médico.
Ao marido é dada as noticias da morte de ambos e de que ela era amante
do médico.
A trama começa a ganhar “vida” logo após o diplomata descobrir nos
objetos pessoais da esposa um bilhete do amigo do casal em que ele faz alusão,
não somente ao amor que sente por ela, mas ao fato dela lhe ter subtraído
alguma coisa muito importante e valiosa que “se caísse em mãos alheias poderia
acabar com a carreira dele”. É um golpe muito forte. Inicia busca de provas da sua infidelidade e, aos
poucos vai conhecendo a mulher, sua causa, seus dilemas, seus silêncios que tem
como finalidade mantê-lo afastado de suas atividades e não comprometê-lo junto
ao governo, a calúnia de que foi vítima, uma vez que o médico era gay e só
escondia o fato, porque na África o homossexualismo é crime.
À medida que vai desvelando a mulher, concomitantemente, vai se
envolvendo na mesma causa e dando continuidade ao trabalho que ela iniciou. Viaja por vários países em busca de prova para
incriminar e coibir a ação das empresas.
Consegue, encaminha-a através da ajuda de um piloto ao advogado da mulher e
logo em seguida é, também, assassinado. Todavia, no seu velório o advogado lê a
carta diante da imprensa e de grande número de pessoas.
Este filme contem espaço para várias
abordagens filosóficas, mas duas são extremamente visíveis aos meus
olhos de iniciante e, especialmente devem ser tratadas no momento em que discutimos na Rio+20, questões envolvendo possibillidades de melhorias de vida em toda a Terra.
a) a Ética Utilitarista,
principalmente, no que diz respeito às ações dos laboratórios e dos governos
britânico e africano. Algumas falas chamaram minha atenção, a primeira ,quando ,
Sandy, o amigo, se dirige a Justin, e fala: “ não seja ingênuo , você sabe da
conveniência do acordo com estes laboratórios que renderiam mais de l500
empregos” e, logo em seguida, “eles
matavam pessoas com vidas em riscos . ”
As 62 mortes eram
muito poucas, comparadas ao lucro financeiro e de vidas que a droga
proporcionaria. Eles se consideravam que suas ações deveriam produzir o maior
bem para o maior número de pessoas. E, por bem, entende-se além da saúde (a
cura da tuberculose), mas o econômico, ou seja, “l500 empregos”. O objetivo
deveria ser alcançado a qualquer custo. Os empregados seguiam à risca as
ordens, retirando pessoas do programa, “limpando o terreno”. Existe aí um
caráter supra-individual movendo as ações. Importa a felicidade do maior número
de pessoas. A ética tentando ser elevada
à categoria de ciência e, claro, se esbarrando nas dificuldades em conciliar os
diferentes interesses e necessidades.
b) A segunda leitura pauta nos imperativos categóricos
kantianos e se configura,na conduta de Tessa, mas principalmente, na conduta do
marido, Justin.
É muito mais através
dele que, no meu entendimento, o filme enfoca a ética moralista kantiana, e o
imperativo categórico ficará bem demarcado em suas condutas. Ele, sim, representa o modelo de moral, de
ética que Kant descreve; ele é o jardineiro fiel, aquele que viveu de modo intenso
a lei moral, com cunho universalista, suas ações valem tanto para ele como para
todas as pessoas. Justin dá uma pequena mostra da forma de agir:
Num determinado
trecho do filme surge a seguinte oferta: “ em qualquer lugar sempre haverá a
possibilidade de um pequeno consulado, pare com isto enquanto é tempo,ouça o
conselho de um amigo” (Imperativo hipotético), mas ele nem responde. Continua
sua peregrinação, convicto de que é assim que deve agir, por que o imperativo
que o guia é categórico é uma ordem formal que nunca está condicionada a situações
ou a particularidades.
Sua razão lhe diz que
assim deve ser e ele se submete a ela, livremente. Sua autonomia está
subordinada ao critério de
universalidade. Como em Kant, Justin
identifica boa vontade e razão. Sua razão o conduz pelo mundo em busca de provas,
que finalmente ele consegue, porque para ele, a moral tem valor em si mesma.
Seu único fim é a própria natureza racional do homem.
Suas atitudes visavam
o interesse de todos,. Pagou o preço ao perder a vida em favor da dignidade
humana. Realizou a sua essência, pois sua ética estava vinculada ao eu puro;
sua missão, o respeito incondicional e
categórico à dignidade e à vida humana.
Ficha técnica
- Nome: O Jardineiro
Fiel
- Nome Original: The Constant
Gardener
- Cor filmagem: Colorida
- Origem: EUA
- Ano de produção: 2005
- Gênero: Suspense
- Duração: 129 min
- Classificação: 14 anos
- Direção: Fernando
Meirelles
- Elenco: Ralph Fiennes, Rachel Weisz, Hubert Koundé
- Roteiro : Jeffrey Caine
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