SUELY MONTEIRO
A questão que se coloca é quanto à
posição de Popper em relação à inferência indutiva na prática cientifica e,
este trabalho defenderá a tese de que ele é radicalmente contrário à sua
validade. Para isto, portanto, é preciso
esclarecer, inicialmente que por inferência indutiva entende-se a prática da
ciência empirista, baseada na repetição dos fatos observáveis para alcançar às
leis, de modo generalizado. Ou como no dizer do próprio Popper citado por
Silveira (Silveira, 1994, pg. 200):
“É comum dizer-se “indutiva” uma
inferência, caso ela conduza de enunciados singulares (...), tais como
descrições dos resultados de observações ou experimentos, para enunciados
universais, tais como hipóteses ou teorias.”
Na concepção de Popper esta é
uma maneira equivocada de proceder cientificamente, e ele se opõe a ela
radicalmente, alegando dentre alguns de seus muitos argumentos que
“Está
longe de ser óbvio, de um ponto de vista lógico, haver justificativa no inferir enunciados universais singulares,
independentemente de quão numerosos sejam estes; com efeito qualquer conclusão
colhida desse modo sempre pode revelar-se falsa; isto não justifica a conclusão
de que todos os cisnes são brancos” (Silveira, pág. 200 .1994).
Ou seja basta um dado, neste caso, o
aparecimento de um único cisne não branco para a teoria perder a validade abrir
campo para novas perquirições. Ou dizendo de outro modo, tanto a indução
repetitiva que se baseia em observações de fatos muito bem observados para daí
concluir uma teoria, quanto a indução eliminatória que, aparentemente se
aproxima da posição de Popper, mas que difere dela na medida em que é
impossível eliminar, indefinidamente, toda teoria rival e firmar uma verdade
única é carente de validade cientifica.
No entendimento de Popper as observações não são puras. São mescladas
dos pressupostos e teorias com as quais os cientistas se harmonizam e, à partir
delas, fazem testes que as confirmam ou não.
Por outro lado, a posição
de Popper em relação aos problemas da indução, e consequentemente, de
verificação, também não se assemelha às dos céticos uma vez que ele não
suspende juízo de valores diante de duas teorias com igual valor de verdade e
aceita que uma teoria pode “ser mais
verdadeira do que a outra sem que jamais se possa afirmar estar-se contemplando
a verdade finalmente desvelada”. (Lacoste, 1998, pg.71).
Popper tem uma posição que
aproxima de certo modo, ciência e metafísica na medida em que aceita o
conhecimento cientifico como um saber não somente objetivo, mas também,
conjectural, possível de ser refutável. Fazer ciência implica uma dose de
imaginação criadora, de capacidade de gerar hipóteses.
Também para Targa a
postura de Popper é radicalmente contrária à inferência indutiva na prática
cientifica na medida em que afirma que
“...nenhuma
teoria pode ser considerada verificada ou definitivamente verdadeira. Mesmo as
mais consagradas teorias cientificas consistem em conhecimento provisórios,
explicações bem sucedidas, que a qualquer momento, podem ser derrubadas por
novos problemas ou teorias mais adequadas “(Targa.2011, pág. 83).
E, para concluir, nada
melhor do que as palavras do próprio Popper, citado por Lacoste “... Não existe indução: jamais argumentamos
fatos à teoria a não ser por intermédio da refutação ou da
‘falsificação’.” (Lacoste, 1998.
pg.169).
Bibliografia:
TARGA,
Dante Carvalho. Filosofia da Ciência:
Livro Didático Disciplina de Modalidade à Distância. 1ª. Ed. Revista. Ed.
Unisul Virtual. Palhoça, Santa Catarina. 2011.
LACOSTE,
Jean. A Filosofia no Século XX: Ensaios
e textos. 2ª. Ed.Papirus Editora. Campinas. SP. 1998.
SILVEIRA.
Fernando Lang. A Filosofia da Ciência de
Karl Popper: o Racionalismo Crítico. Disponível em: http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/view/7046/6522. Acesso em 18.ago.2013.