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sexta-feira, 18 de julho de 2008

Mil Mãos. Simplesmente Divino!

Símbolo do Amor.


Taj Mahal
Símbolo do amor incomensurável de Kurram por sua mulher, Muntaz Mahal, que morreu ao dar a luz ao 14º. filho do casal.
A dor do apaixonado marido foi tão grande que ele determinou a construção de um monumento sem igual, para que o mundo jamais esquecesse o amor intenso que eles dedicaram um ao outro.
Não se sabe ao certo quem foi o arquiteto, mas as maiores riquezas da terra foram utilizadas na construção dessa monumental obra que se transformou numa das sete maravilhas do mundo.


Filosofia Indiana

Ao contrário dos gregos, os hindus desprezaram a física e a cosmologia em favor da ontologia e podem ser considerados os verdadeiros fundadores da lógica e da metafísica. Taranto narra a visita de um filósofo hindu a Sócrates, e o Timeu de Platão é de nítida inspiração hinduísta.
Filosofia indiana é a denominação genérica que se dá ao conjunto de concepções, teorias e sistemas desenvolvidos pelas civilizações do subcontinente indiano. Três conceitos fundamentam o pensamento filosófico indiano: o eu, ou alma (atman), as ações (karma), e a libertação (moksha). Exceto pelo charvaka (materialismo radical), todas as filosofias indianas lidam com esses três conceitos e suas inter-relações, embora isso não signifique que aceitem sua validade objetiva precisamente da mesma maneira.
Dos três conceitos, o karma, que representa a eficácia moral das ações humanas, parece ser o mais tipicamente indiano. O conceito de atman corresponde, de certa maneira, ao conceito ocidental do eu espiritual transcendental ou absoluto. O conceito de moksha como o mais alto ideal igualmente aparece no pensamento ocidental, especialmente durante a era cristã, embora talvez nunca tenha sido tão importante quanto o é para a mente hindu. A maioria das filosofias indianas aceita o moksha como algo possível, e a "impossibilidade do moksha" (anirmoksha) é tida como uma falácia material que pode tornar viciosa uma teoria filosófica.
Textos sagrados. Os escritos sagrados da cultura hindu, sobretudo os Vedas (os mais antigos textos sagrados da Índia), os Upanishads e o Mahabharata, há muito influenciam o pensamento filosófico indiano. Os hinos védicos, escrituras hindus datadas do segundo milênio antes da era cristã, são os mais antigos registros remanescentes, na Índia, do processo pelo qual a mente humana produz seus deuses, bem como do processo psicológico da produção de mitos, que leva a profundos conceitos cosmológicos.
Os Upanishads (tratados filosóficos indianos) contêm uma das primeiras concepções da realidade universal, onipresente e espiritual que conduzem ao monismo radical (absoluto não-dualismo, ou unidade essencial da matéria e do espírito). Também contêm antigas especulações dos filósofos indianos sobre a natureza, a vida, a mente e o corpo humanos, além de ética e filosofia social.
Sistemas ortodoxos. Os sistemas clássicos, ou ortodoxos, chamados darsanas, discutem questões como o status do indivíduo finito; a distinção, assim como a relação, entre corpo, mente e indivíduo; a natureza do conhecimento e os tipos de que conhecimento válidos; a natureza e a origem da verdade; os tipos de entidades que se pode dizer existem; a relação entre realismo e idealismo; a questão sobre se os universos ou as relações são básicos; e o importantíssimo problema do moksha, ou libertação, sua natureza e os caminhos que a ela conduzem.
As várias filosofias indianas apresentam, no entanto, tal diversidade de visões, teorias e sistemas, que se torna quase impossível distinguir características comuns a todas. A aceitação da autoridade dos Vedas caracteriza todos os sistemas ortodoxos (astika): Nyaya, Vaisesika, Samkhya, Ioga, Purva Mimansa e Vedanta. Os sistemas não-ortodoxos (nastika) entre eles o charvaka, o budismo e o jainismo, rejeitam a autoridade védica. Mesmo entre os filósofos ortodoxos, porém, a fidelidade aos Vedas limitou muito pouco a liberdade das especulações, e os Vedas podiam ser citados para legitimar uma vasta diversidade de idéias, fossem monistas ou atomistas.
Mimansa, ou Purva Mimansa, é o sistema que fornece regras para a interpretação dos Vedas e oferece uma justificativa filosófica para a observância do ritual védico. O Vedanta forma a base da maioria das escolas modernas do hinduísmo e seus principais textos são os Upanishads e o Bhagavad-Gita. Ao contrário do Mimansa, é um sistema interessado na interpretação filosófica dos Vedas, mais que com seus aspectos ritualísticos.
Em sânscrito, Vedanta significa a "conclusão" (anta) dos Vedas. Como eram muitas as interpretações, desenvolveram-se várias escolas de Vedanta que, no entanto, têm muitas crenças em comum: transmigração do eu e o desejo de libertar-se do ciclo de renascimentos (samsara); a autoridade dos Vedas como meio para essa libertação; Brahma como motivo da existência do mundo; e o atman como agente de seus próprios atos e, portanto, receptor das conseqüências da ação (phala). Todas as escolas de Vedanta rejeitam tanto as filosofias heterodoxas do budismo e do jainismo como as conclusões das outras escolas ortodoxas. Sua influência no pensamento indiano é tão profunda que se pode dizer que, em qualquer de suas formas, a filosofia hindu se tornou Vedanta.
A Nyaya examina em profundidade o método de raciocínio conhecido como inferência. Essa escola é importante por sua análise da lógica e da epistemologia. Já o Vaisesika sobressai por suas tentativas de identificar, inventariar e classificar as entidades da realidade que se apresentam à percepção humana. A Samkhya adota um dualismo coerente entre as ordens da matéria e as do eu, ou alma. Nessa escola, o conhecimento correto consiste na habilidade do eu de se distinguir da matéria. A Ioga influenciou muitas outras escolas por sua descrição da disciplina prática para realizar intuitivamente o conhecimento metafísico proposto pelo sistema Samkhya, a que a Ioga está intimamente relacionada.
Cada uma dessas escolas de pensamento foi sistematizada por meio dos conjuntos de sutras. Ao reunir um determinado número de aforismas, fórmulas ou regras breves e de fácil memorização, os sutras resumem cada uma das doutrinas.

Filosofia indiana e pensamento ocidental. Entre os temas considerados pelo pensamento indiano e ignorados pelo ocidental estão a origem (utpatti) e a apreensão (jnapti) da verdade (pramanya). Os problemas que os filósofos indianos na maioria ignoraram, mas que ajudaram a dar forma à filosofia ocidental, incluem a questão se o conhecimento surge da experiência ou da razão, além das distinções entre o juízo analítico e sintético e entre verdades contingentes e necessárias.
A filosofia indiana começou a interessar o Ocidente no século XVIII, quando foi feita a tradução do Bhagavad-Gita. No século seguinte, Anquetil-Duperron traduziu do persa, em latim, cinqüenta dos Upanishads. Foi também no século XIX que a Índia entrou em contato com o pensamento ocidental, especialmente com as filosofias empiristas, utilitaristas e agnósticas da Grã-Bretanha. No fim do século, John Stuart Mill, Jeremy Bentham e Herbert Spencer eram os pensadores mais influentes nas universidades indianas.
As idéias influenciadas pelo pensamento ocidental serviram para criar uma vertente de orientação secular e racional, ao mesmo tempo em que estimularam movimentos sociais e religiosos, entre os quais o movimento Brahmo (Brahma) Samaj, fundado por Rammohan Ray. No fim do século XIX, o grande santo Ramakrishna Paramahamsa de Calcutá renovou o interesse pelo misticismo, e muitos jovens racionalistas e céticos se converteram à fé que ele representava. Ramakrishna pregava uma diversidade essencial de caminhos que levam à mesma meta. Seus ensinamentos ganharam forma intelectual no trabalho de Swami Vivekananda, seu famoso discípulo.
Século XX. A primeira faculdade de filosofia da Índia surgiu na Universidade de Calcutá, no início do século XX, e o primeiro catedrático da matéria foi Sir Brajendranath Seal, acadêmico versátil que dominava diversas disciplinas científicas e humanísticas. Sua principal obra publicada é As ciências positivas dos antigos hindus, que discorre sobre a história da ciência e relaciona os conceitos filosóficos hindus a suas teorias científicas.
Em pouco tempo, porém, os filósofos mais estudados nas universidades indianas passaram a ser os alemães Kant e Hegel, e os sistemas filosóficos antigos foram avaliados à luz do idealismo alemão. A noção hegeliana do espírito absoluto encontrou ressonância na antiga noção vedanta de Brahma. O mais eminente estudioso hindu hegeliano é Hiralal Haldar, que abordou o problema da relação da personalidade humana com o absoluto, como se evidencia em seu livro Neo-hegelianismo. O acadêmico kantiano que se tornou mais conhecido foi K. C. Bhattacharyya.
Alguns indianos que viveram na primeira metade do século XX merecem menção por suas contribuições originais ao pensamento filosófico. Sri Aurobindo, ativista político que mais tarde se tornou yogin, vê a ioga como uma técnica não apenas de libertação pessoal, mas também de cooperação com a necessidade cósmica de evolução que levará o homem a um estado de consciência supramental. Rabindranath Tagore caracterizou o absoluto como a pessoa suprema e colocou o amor acima do conhecimento.
Para Mahatma Gandhi, líder social e político, a unidade da existência, que ele chamou de "verdade", pode realizar-se pela prática da não-violência (ahimsa), em que a pessoa atinge o limite máximo da humildade. Sob a influência do idealismo hegeliano e da filosofia da mudança, de Henri Bergson, o poeta e filósofo Mohamed Iqbal concebeu uma realidade criativa e essencialmente espiritual.
Texto originalmente publicado em: http://www.estudantedefilosofia.com.br/.
Imagem de Vishnu retirada de: w.sangha.net/messengers/all-pantheon.htm

Pablo Neruda Encanta com o Poema 18.

A Palavra na Arte.

Artur Bispo do Rosário
Imagem Retirada de http://gramatologia.blogspot.com/search/label/as%20palavras%20na%20pintura

Poesia Visual


Antonio Felipe Galvão da Silva , Antonio Miranda , Sofía Galvão Baptista


Entre as possibilidades de acesso à arte destaca-se a poesia. Este tipo de gênero literário está disponível na rede de variadas formas: um texto, um texto e figuras e um texto com imagens cinéticas, com possibilidades de navegação dentro do texto ou da figura poética.

Para Miranda (2005) a poesia visual é conceituada como:

[...]uma tentativa de romper com a ditadura da forma discursiva do poema, de vencer o domínio da gramática ou mesmo de superar a construção prosística na poesia. Faz sentido quando se pretende explicar o fenômeno das vanguardas, mas não é o suficiente para entender a questão da forma como preocupação fundante de toda e qualquer poesia, desde suas origens.

Ou
“[...] produto literário que se utiliza de recursos (tipo)gráficos e/ou puramente visuais, de tendência caligramática, ideogramática, geométrica ou abstrata, cujo centramento gráfico-visual não exclui outras possibilidades literárias (verbais, sonoras etc.). (Sá & CIRNE 1978, p.49)

Sobre o assunto existe, paralelamente, o conceito de poesia virtual:

A poesia virtual é possível em razão das características próprias da computação: 1) Pode produzir os signos tridimensionais no espaço virtual e 2) Pode programar suas configurações comportamentais. Necessitando-se de um desenho em três dimensões consegue-se fazer o que, normalmente, se faz com um objeto real, quando se deseja conhecê-lo: manipulando-o em todas as direções e em todos os pontos de vista possíveis. A isto se chama "realidade (virtual)" pois o "objeto virtual", semelhante ao "objeto real", responderá sempre da mesma forma porque contém em si mesmo toda a informação necessária sobre si mesmo. No entanto, não é um "objeto real", mas um conjunto de dados inscritos em uma memória eletrônica a qual se pode aplicar a "física", real ou imaginada, que se desejar. (PADIN, 2005)

E, ressaltando o aspecto hipertextual o autor acrescenta:

É digna de atenção a forma em que varia o conceito de leitura do texto lingüístico. Em nossa cultura a leitura se realiza na direção da esquerda para a direita, passo a passo, analiticamente. Nestes poemas virtuais, a sintaxe linear é substituída por uma sintaxe não somente visual como, também, hipertextual, sendo que cada secção se organiza no âmbito de uma seqüência de significados diferentes uns dos outros.

Percebe-se que os poetas têm usado a Internet para expressar a sua arte, usando textos, textos e figuras e textos ou figuras com possibilidades de navegação. A natureza hipertextual da rede permite, de uma maneira privilegiada, o uso de vários recursos para a transmissão do conteúdo de um poema e a interação com os apreciadores dessa forma de arte.



Autores: Antonio Felipe Galvão da Silva , Antonio Miranda , Sofía Galvão Baptista
Trecho retirado A poesia visual e os conceitos de hipertextualidade, interatividade e hipermediação da informação: relato de pesquisa .
http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/conceitos_de_hipertextualidade.html
Imagem : Clemente Padín.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Abstração.


A Necessidade da Arte
Ernst Fischer

A arte pode levar o homem de um estado de fragmentação a um estado de ser íntegro, total.
A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la, como a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torna-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade.
A arte, ela própria, é uma realidade social.
A sociedade precisa do artista, este supremo feiticeiro, e tem o direito de pedir-lhe que ele seja consciente de sua função social.

Luar Na Lubre - Terra .

A Técnica e o Mundo no Pensamento da Terra.

Carneiro Leão

A Terra é mais antiga do que o homem e a história. Por isso a terra não pode ter nem lugar nem data nem certidão de nascimento. O Homem é mais antigo do que o mundo e a técnica. O mundo e a técnica têm lugar e data marcada, possuem certidão de nascimento. Por isso a técnica pretende submeter o homem com a tecnologia, dirigindo a história e substituindo a terra pelo mundo.
TÉCNICA aqui, nestas colocações de pensamento, não é sinônimo de instrumentação nem de um sistema mecânico, elétrico ou eletrônico de ferramentas nem um conjunto de procedimentos, de meios é modos de fazer.
TÉCNICA é uma vigência universal e o vigor de um comportamento unidimensionalizante. As máquinas, os equipamentos, os aparelhos não podem escravizar o homem! Só o homem pode escravizar o homem! Por isso a TÉCNICA vai reduzindo progressivamente os níveis de relacionamento dos homens com o real e recolhendo a totalidade do real a um padrão único de realização, a saber: à realização controlada, reprocessada e sistematizada do real. Como avalanche histórica desta realização, a TÉCNICA é de data recente e pertence às transformações da modernidade. E sempre MODERNA. E, como MODERNA, nasceu na "Europa dos Povos" e somente na Europa. Trata-se de uma força, ao mesmo tempo, constituinte e resultante da história ocidental-européia que chegou a impor-se e consolidar-se num processo imperial de tendência planetária. Todos os demais povos conheceram e possuíram uma técnica artesanal mas somente os povos europeus desenvolveram a técnica moderna.
MUNDO diz aqui a conjuntura limpa dos homens, das coisas e relações, oriunda e sustentada pela técnica e sua tecnologia.
O eixo, em que giram todos os empenhos do mundo, é o reprocessamento. Empenhado em reprocessar todo o processo de suas dependências, o mundo instala uma armação, cujo sistema controla a civilização e a cultura, "o princípio e o fim de todas as coisas".

TERRA evoca a proteção de que necessita o mundo para, se construir em meio a dependências. Como quer que se determine a posição do mundo na história da humanidade, a TERRA lhe opõe sempre as tensões de sua proteção.

E é na força desta oposição que a TERRA deixa de ser apenas um planeta do sistema solar para ocupar um lugar privilegiado no universo das realizações. Trata-se de um lugar tão extraordinário que converte o espaço dos lugares em possibilidades de espacializar e localizar.

O exercício desta conversão se estende a todas as peripécias da evolução do mundo. Ao longo da história, a TERRA tem proporcionado aos homens os recursos com que eles sempre puderam viver, morrer e criar sem grandes desvios, mesmo nas maiores dependências de meios artificiais.

É que, no mundo da técnica, a vida não pode nem entrar nem sair totalmente. Ser vivo, o homem permanece inevitavelmente ligado à vida, de cujos laços seu "peito doído de poder" sempre tem procurado separá-lo.

Nas peripécias da tecnologia, a procura se vale dos recursos de reprocessamento, tentando construir o mundo sem TERRA da técnica total. Desta pretensão já nos advertiu Hoelderlin em 1795 com palavras proféticas:"Mas só que ninguém diga: que nos separe o destino! Nós o somos! Nós! Nós mesmos que temos prazer em nos precipitar na noite do desconhecido, no estranho frio de um outro mundo qualquer. E, se fosse possível, abandonaríamos a região do sol e nos precipitaríamos para fora da região da Estrela Errante.

É que para o peito doido do homem nenhuma pátria é possível!
Com este "peito doído" de poder nos encontramos hoje por toda parte.

A cada passo se pretende produzir tudo. Para uma produção total se encaminham todos os esforços nas diversas áreas da civilização e da cultura. Qualquer coisa ou é uma produção ou está a serviço de uma produção, seja na economia, na política, na ciência, na tecnologia, seja na arte, na religião ou na filosofia. Esta a envergadura que cobre o horizonte do mundo sem terra da técnica total.
("A Técnica e o Mundo no Pensamento da Terra", Revista Tempo Brasileiro n°94).
http://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/modules/articles/article.php?id=35

Imagem retirada de: http://blogmais.files.wordpress.com/2008/05/terra-3.jpg

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Reflexões sobre Matrix

A Conversão de São Paulo - Basílica Santa Maria de Popolo.


Filosofia da Religião

AS CINCO VIAS DA DEMONSTRAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE DEUS

“Que Deus existe, pode-se provar por cinco vias.

Primeiro Motor Imóvel - Do Ato à Potencial.
A primeira e a mais manifesta é a procedente do movimento. É evidente, sendo atestado pelos nossos sentidos, que, neste mundo, alguns seres são movidos. Ora, tudo o que se move é movido por um outro. Com efeito, nada é movido a não ser que esteja em potência em relação ao termo do seu movimento, enquanto, pelo contrário, um ser move enquanto está em acto. Pois o movimento não é mais do que a passagem da potência ao acto e nada pode ser levado ao acto a não ser por um ser em acto. Assim, o que está quente em acto, como o fogo, faz com que a madeira, potencialmente quente, se torne actualmente quente e, desta forma, move­‑a e muda-a. Ora, não é possível que o mesmo ser, considerado sob o mesmo ponto de vista, seja simultaneamente em acto e em potência, mas só sob outros pontos de vista; por exemplo, o que é quente em acto não pode ser simultaneamente quente em potência, mas, é, ao mesmo tempo, potencialmente frio. É pois impossível que, sob a mesma relação e do mesmo modo, algo seja simultaneamente motor e movido, isto é, que se mova a si próprio. Logo, se a coisa que move é também movida, é preciso que seja movida por um outro e, este último, por um outro. Ora, não se pode proceder, assim, até ao infinito, pois, neste caso, não haveria um primeiro motor e, por consequência, nenhuns outros motores; com efeito, os motores segundos só movem a não ser que sejam movidos pelo motor primeiro, do mesmo modo que o bastão só se move se for movido pela mão. Logo, é necessário chegar a um primeiro motor, sem ser posto em movimento por nenhum outro, o qual todos compreendem ser Deus.

Causa Incausada
A segunda via procede da natureza da causa eficiente. Verificamos, observando as coisas sensíveis, que há uma ordem nas causas eficientes. Mas, não se encontra, nem é possível que assim seja, uma coisa que seja a causa eficiente dela mesma, pois seria anterior a si, o que é impossível. Ora, também não é possível proceder‑se até ao infinito, porque em todas as causas eficientes ordenadas entre elas, a primeira é causa das intermédias e as intermédias são causas da última, sejam muitas as causas médias ou apenas uma só. Ora, ao remover-se a causa, remove‑se o efeito. Por conseguinte, se não há primeira causa na ordem das causas eficientes, não haverá nem última nem intermédia. Procedendo‑se ao infinito na série das causas eficientes, não haverá primeira causa eficiente; por consequência, não haveria efeito último nem causa eficiente intermédia, o que é evidentemente falso. Logo, é necessário afirmar que existe uma primeira causa eficiente que todos chamam Deus.

Ser Necessário
A terceira via tem a ver com o possível e o necessário e é a seguinte. Vemos na natureza coisas que podem ser ou não ser, visto que podem nascer e desaparecer [corromper] e que, por consequência, têm a possibilidade de existir e de não existir. Mas é impossível que tudo o que é de tal natureza exista sempre, visto que, o que pode não existir, não existe num certo momento. Logo se tudo é possível não ser, então, num momento dado, poderia não haver nada na existência. Ora, se isto fosse verdade, mesmo agora não haveria nada na existência, porque aquilo que não existe apenas existe por algo já existente. Por conseguinte, se num dado momento, nada existia, seria impossível a algo começar a existir; e, deste modo, mesmo agora nada existiria, o que é absurdo. Por consequência, nem todos os seres são meramente possíveis e deve haver algum cuja existência seja necessária. Ora, tudo o que é necessário, ou extrai de outrem a causa da sua necessidade ou não. Mas é impossível proceder até ao infinito nas coisas necessárias que têm a sua necessidade causada por outrem, como se provou em relação às causas eficientes. Deste modo, é forçoso afirmar a existência de um ser por si próprio necessário, sem a receber de outrem, mas, antes, sendo causa da necessidade de outros; a tal ser, todos os homens chamam Deus.

Ser Perfeitíssimo
A quarta via procede da gradação que se encontra nas coisas. Vê-se, com efeito, nas coisas, maior ou menor bem, verdade, nobreza e outros atributos semelhantes. Ora, uma qualidade é atribuída em maior ou menor grau a coisas diversas segundo a diferente proximidade em relação à coisa na qual esta qualidade é realizada no seu grau supremo; por exemplo, dir-se-á mais quente o que se aproxima mais do que é superlativamente quente. Há, assim, algo que é soberanamente verdadeiro, bom, nobre e, por conseguinte, soberanamente ser, pois, como é dito no segundo livro da Metafísica [Aristóteles; 993b 30], o mais alto grau de verdade coincide com o mais alto grau de ser. Por outro lado, o que está no cume da perfeição de um determinado género, é causa desta mesma perfeição em todos aqueles que pertencem a este género; assim, o fogo, que é superlativamente quente, é causa do calor do tudo o que é quente, como é dito no mesmo Livro [993b 25]. Há, pois, um ser que é, para todos os seres, causa de ser, de bondade e de toda a perfeição. É a ele que nós chamamos Deus.

Inteligência Ordenadora
A quinta via procede do governo das coisas. Vemos que os seres privados de conhecimento, como os corpos naturais, agem em vista de um fim, o que é manifestado pelo facto de que, sempre ou frequentemente, agem da mesma maneira, de forma a realizar o melhor resultado; é claro que eles chegam ao seu fim não por acaso, mas, sim, em virtude de uma intenção. Ora, o que é privado de conhecimento não pode chegar a um fim, a não ser dirigido por um ser conhecedor e inteligente, como a flecha através do arqueiro. Logo, há um ser inteligente através do qual todas as coisas naturais são ordenadas ao seu fim e este ser é o que nós chamamos Deus.
São Tomás de Aquino, Suma Teológica, Primeira Parte, q.2, a.3
Imagem retirada de http://www.iglesia.org/imagenes/santos/s_tomas-aquino.jpg

Eí-la que surge!

A fundação de São Paulo se deu por iniciativa do Padre Nóbrega, com a ajuda de Anchieta. Nenhum outro o excedeu no zelo, no senso da oportunidade e na avaliação dos recursos intelectuais e morais disponíveis para a grande obra de trazer a fé cristã as almas dos aborígines, mobilizando para isso a palavra persuasiva no ensino dos meninos, que as tribos confiavam aos Jesuítas, para lhes darem abrigo e alimentação, além de ensino da doutrina e aos pais amparo contra seus inimigos.
O Padre Manoel da Nóbrega teve papel importantíssimo na educação e catequeses dos Brasis, da gente da terra. Nóbrega aportou em São Vicente no começo de 1553, dando início por inspiração própria a catequese dos indígenas. Para que tudo fosse mais eficiente em seus objetivos, Nóbrega decidiu evitar a dispersão dos centros de catequese, por ser também diminuto o número de Irmãos para o ensino e resultar menos custosa em dispêndios a obra missionária e mandou que se unissem numa só as Três Aldeias dos Campos de Piratininga, lugar que lhe pareceu por muitas razões o mais propício, pelo clima, da feracidade e até mesmo por facilidades estratégicas da defesa contra as sempre perigosas incursões das tribos rebeldes (Tupinambás do Vale do Paraíba e Litoral Norte). Não lhe faltaram companheiros do mais alto quilate para o trato dos catecúmenos e progressiva conquista dos aborígines e entre eles um jovem de nome José de Anchieta, vindo das Canárias e ligado à família de Ignácio de Loyola, o fundador da austera, conspícua e venerável Companhia de Jesus.
Nele Nóbrega encontrou o entusiasmo, a tenacidade, o talento de bem servir, pendores para a criação poética a que juntava o dom carismático de impor-se não só à sensibilidade infantil dos meninos e dos chefes das tribos, mas inda e sobretudo a seus companheiros pela amabilidade associativa, espantosa resistência física em corpo aparentemente de tanta fragilidade, que o tempo e o clima tornaram mais vigoroso, em viagens conciliatórias e uma vis política e trabalhos literários impressionantes pela diversidade de suas competências, veio de fato a ser um dos pilares mestres da nacionalidade, em toda a região que se estendia da Bahia às ribas vicentinas, incluindo-se o Rio de Janeiro. Nóbrega divide com Anchieta a dura tarefa de levar adiante o Colégio em São Paulo de Piratininga naquele tempo difícil , no início da colonização, em meados do século 16.

No livro da matrícula da Universidade de Coimbra, fl. 135, Nóbrega descreve ser filho do desembargador Balthazar da Nóbrega, já falecido. Seu pai foi muito estimado d'El-rei, D. João o Terceiro. Por ser homem de muita inteireza, El-rei lhe recomendava assuntos importantes. Em Coimbra, Nóbrega se graduou como Bacharel mesmo sendo muito gago. Continuou seus estudos em Coimbra e tomou ordens de missa. Naquela época se lançavam os alicerces da Companhia de Jesus em Coimbra, havendo grandes fervores de espírito em todos pela salvação das almas. No tempo em que o Padre Nóbrega estava em missão na província de Beira, determinou El-rei D. João com os Superiores da Companhia mandar padres ao Brasil para ajudar aos portugueses como para converter à nossa fé aos Brasis. Thomé de Souza, de partida para o Brasil, leva então Nóbrega consigo, além de alguns outros padres e Irmãos. Ele aporta na Bahia em 1549: "Chegamos a esta Bahia a 29 dias de mez de Março de 1549. Andamos na viagem oito semanas. Achamos a terra de paz e 40 ou 50 moradores na povoação que antes era".
Entrou o Padre Nóbrega neste mundo novo com os padres Leonardo Nunes, João de Aspicuelta Navarro, Antonio Pires e com os Irmãos Vicente Rodriguez e Diogo Jacome, todos eles homens de singular virtude e dignos fundadores de uma tão santa e dilatada província. Já depois da chegada, Nóbrega dava notícias sobre a nova terra. Afirmava haver notícias de Santo Tomé nessas terras (na verdade um mito ameríndio que depois foi verificado em diversas partes da América):
"Dizem eles (os índios) que São Thomé, a quem eles chamam Zomé, passou por aqui. E isto lhes ficou por dito de seus passados e que suas pisadas estão signaladas junto de um rio, as quaes eu fui ver por ter mais certeza da verdade e vi com os proprios olhos quatro pisadas mui signaladas com seus dedos, as quaes algumas vezes cobre o rio quando enche. Dizem tambem que quando deixou estas pisadas, ia fugindo pelos Indios, que o queriam frechar, e chegando ali se abrira o rio e passara pelo meio a oura aprte sem semolhar e dalli fora para a India. Assim mesmo contam que quando o queriam freacahr os Indios, as frechas se tornavam apra eles e os matos lhes faziam caminhos por onde passasse. Dizia tambem que prometeu que havia de tornar a vel-os." Noutra carta diz: "Tambem me contou pessoa fidedigna que as raizes de que cá se faz pão, que Santo Thomé as deu, porque cá não tinham pão nenhum e isto se sabe da fama que anda entre eles."
No ano de 1553, indo o Governador Thomé de Souza para visitar a costa do sul, foi com ele o padre Nóbrega, assim para ajudar os das naus, como para visitar os nossos Religiosos, que ali estavam em diversas partes. Indo para São Vicente, não longe do porto, houve uma cruel tempestade, na qual se foi ao fundo o navio em que ia o padre Nóbrega. Bem se vê o sentimento que haveria, sendo tão amado e venerado por suas excelentes virtudes. Porém não quis o Senhor que o tinha para cousas grandes que alli acabasse; com espanto de todos e do mesmo Padre, por andar elle mui fraco e não saber nadar, foi visto sobre as ondas, com grande socego, até que uns Indios nadadores cortando as ondas o tomaram em braços e puzeram em salvo em uma ilhota; onde o vieram buscar e foi levado a S. Vicente com alegria tão geral em todos como se a cada um lhe resustára seu pae.
Mandara o padre Nóbrega á Bahia, para conduzir os novos obreiros ao Padre Leonardo Nunes. Este trouxe comsigo alguns dos quaes era o Irmão Joseph de Anchieta. Achando-se o Padre com este novo socorro, por boas razões e muitas conveniencias (...) em Janeiro de 1554 mandou Padres e Irmãos, que déssem principio a um collegio nos campos de Piratininga, distane de S. Vicente a 12 ou 13 léguas (...) Padeceram alli muitos on nossos Religiosos em fundar esta nova colonia, d'onde ao depois se recolheram fructos copiosos. Correu o Padre Nobrega grandes perigos em querer tirar daqueles barbaros o insaciavel appetite de comer carne humana; no que teve mui gloriosas victorias. Nas partes de S. Vicente se deteve o padre Nobrega até os principios do anno de 1556, e deixando alli em seu logar ao padre Luiz da Grã que lhe era collateral no governo com iguaes poderes, elle se voltou a ter cuidado com as cousas da Bahia.
No anno de 1558, indo por Governador do Estado Men de Sá, teve com elle o padre Nobrega estreita amisade. Fez leis mui proveitosas ao bem dos Indios, como foram prohibir-lhe aos confederados conosco comerem carne humana; que não fizessem guerra, sem que elle e o seu conselho o aprovasse; que vivessem em aldeias grandes, fizessem igrejas e a casas aos Padres, que os cultivassem. Tambem promulgou outra lei em favor dos Indios, que fossem postos em liberdade os que estavam em captiveiro injusto feitos escravos dos Portuguezes.
Corria o anno de 1560 e davam aos Portuguezes muito cuidado as cousas do Rio de Janeiro, porque tendo alli os annos antes entrado os Francezes, se iam fortificando e si não se acudisse a este mal, seguir-lhe-hia grande detrimento aos Portuguezes. Continuava o padre Nobrega na capitania de S. Vicente,na qual havia muito desassossego por causa das invasões dos Tamoyos. Andavam em canoas mui equipadas de remeiros, faziam crueis assaltos e captiveiros. Entendia o Padre que tudo era castigo de Deus por muitos desmandos dos Portuguezes. Correndo o anno de 1563, depois de renovados os votos na oitava Paschoa, se despediu dos mais Padres e Irmãos e tomando por companheiro ao padre Joseph de Anchieta, que ainda era Irmão, se pôz em caminho para os Tamoyos. Levou em sua embarcação João Francisco Adorno, Genovez, homem rico da terra e grande amigo da Companhia. Tendo partido a 21 de Abril, a 4 de Maio do dito anno chegaram ás praias do principal logar dos Tamoyos. Ao principio se assustaram, cuidando serem inimigos. Porém vendo os Padres, dos quaes entre elles era cousa sabida sere amigos dos Indios, fallando-lhes o padre Anchieta na sua lingua, tomaram confiança e entraram na barca sem algum assombro. No dia seguinte acudiram os prinicpaes, entendendo vinham a tratar de pazes. Deram por refens 12 mancebos, que foram na barca para S. Vicente elles levaram para suas terras os Padres. Foram hospedados na casa de um principal chamado Caoquira.
Primeiro que tudo armaram um arvoredo uma igreja coberta de palmas: nesta se disse aos 9 de Maio a primeira missa que viram aquellas terras. Foi em acção de graças pelos benefícios recebidos e para pedir a Deus o bom successo de cousas tanto do seu serviço. Assim foam continuando co grande espanto dos Tamoyos: porque nao havia sino, a vozes chamavam os meninos e mais gente, para ouvir a santa doutrina, que o padre Josepch lhes explicava com phrases e demonstrações de sua lingua, de que eles gostavam tanto, que si a terra fosse outra, segundo tomavam bem o que lhes dizia, poderiam ser baptizados muitos delles. Fazia nelles grande impressão o terror dos castigos que diziam estar apparelhados aos maus que comiam carne humana e faziam outras maldades.
A mesma doutrina pregavam nas aldeias circumvizinhas. Tinham os Tamoyos respeito aos Padres e como se os reconheciam por paes dos Indios, lhes descobriram seus segredos, dizendo o modo com que tinham disposto a guerra, para acabar com os Portuguezes; era este por duzentas canôas por mar, e or terra no mesmo tempo muitos mila rcos dos que habbitavam as margens do ri Parahiba. Aqui viram os Padres o perigo da capitania de S. Vicente, pois não havia nella poder que pudesse resistir a tanto apparato de guerra.
Logo se divulgou pelos Indios da costa a chegada dos Padres e a causa de sua vinda. Com esta nova se alteraram os Indios do Ri de Janeiro, a quem a guerra servia mais que a paz. De diversas partes acudiram em suas canoas com intento de matar os Padres e impedir as pazes. Chegou primeiro logar Aimbiré, amigo dos franceses e aparentado com elles, inimigo cruel do nome Portuguez. Trazia este bravo Tamoyo 10 canoas, todas a ponto de guerra. le chegando tomou por melhor assaltar de noite os Padres, matal-os e tomar o barco que os trouxera, o qual ainda não era partido.
Estando o barbaro neste pensamento, se ajuntaram os Principaes da terra a tratar das pazes. Pareceu bem estar no conselho Aimbiré. Assistiu á junta com muitos Indios armados. Bem viram os Padres o seu perigo, porém estavam muito confiantes em Deus. indo correndo os votos, o de Aimbiré foi em primeiro logar que lhe haviam os nossos de entregar tres Indios seus para os matar e comer, porque lhe tinham feito guerra com os christãos.
Depois de varios dares e tomares, se acabou Aimbiré, que este ponto dos tres que queria fossem entregues, se propuzesse aos Prinicpaes da capitania de S. Vicente. Vindo elle neste partido, quiz ser o embaixador da proposta. Tomaram os Padres este conseho para metter tempo, o qual costuma em negocios intrincados desfazer grandes embaraços e descobrir novos caminhos. Os Padres escreveram aos Principaes de S. Vicente, que por nenhum caso fizesem o que Aimbiré requeria, ainda lhes houvessem por isso de ser comidos dos Tamoyos, em cujo poder estavam. Fizeram-se em S. Vicente tão boas passagens a Aimbiré, que depoz sua fereza e se contentou com as razões que lá se lhe deram.
Após este perigo, veiu outro mais apertado. Andando ambos na praia viram que vinha voando com trinta remeiros uma canoa e nella certo Indio, filho do Principal da aldeia, em que estavam os Padres; ficaram atraz outras oito canoas desta sua esquadra. Os intentos era matar os Padres por serem, como dizia, perniciosos ao bem commum com as pazes que intentavam. Dera ordem aos seus que em chegando lançassem mão dos Padres, que elle os mataria.
Vendo os padres o fio que trazia a canoa, suspeitaram o que poderia ser. A toda pressa se foram recolhendo para a aldeia. Apressou-se o padre Nobrega quanto poude e mais do que poude até passar a praia; no fim da qual havia um ribeiro (Rio da Perobas em Ubatuba) que dava pela cinta. Não tendo o padre Nobrega tempo para descalçar as botas que trazia por cauisa de muitas chagas, o irmão Joseph de Anchieta o tomou ás costas, mas como ellas eram fracas, não odendo acabar de passar, deu o Padre comsigo no meio do ribeiro e passou todo ensopado em agua. Apenas houve tempo de se encobrirem no mato. Como a aldeia estava em um oiteiro alto e o Padre não podia ir por deante, tioru o fato, descalçou-se, até ficar em camisa. O Irmão que todo estava molhado, tomou ás costas o fato do padre Nobrega e começaram a andar: mas nem com isso o Padre podia ir, sinão de vagar e lançando a alma pela boca. Vendo o Irmão seu trabalho e que era impossivel daquella maniera chegar á aldeia, lhe disse, que se escondesse no matto. NEste aperto acudiu Nosso Senhor, porque vindo da aldeia um Indio, a poder de promessas acabou o Irmão com elle, que lhe ajudasse a levar o Padre. Assim meio ás costas, meio puxado por um bordão, entrou na aldeia mui pouco antes que chegassem da canôa.
Era isto em conjuração que ahi não estava o Principal que os abrigava, por ser mais o evidente favor de Deus. Entrou o da canoa em casa de seu pae, que estava ausente; um seu tio lhe deu conta das pazes. Não se deteve mais que emquanto o Padre resou vesperas de Corpus Christi, que era no dia seguinte. Dissimulou o barbaro seus intentos, fallou com os Padres sobre as pazes e se tornou quieto; confessou depois todo o proposito em que viera do Rio de Janeiro. mas que vendo aquele velho e ouvindo suas palavras, ficara fraco e sem forças e de todo mudado, dizendo que similhantes pessoas não vinham com traição e bem podiam fiar dellas.
Os Indios destas aldeias, principalmente o maioral desta chamado Pindobuçú, trataram largamente com o Padre e o Irmão, assim das pazes como do seu modo de viver. Por tudo lhe perguntavam mui particularmente. Offereciam-lhes suas filhas e irmãs por mulheres como costumavam aos mais christãos, quando tratavam com elles de pazes, porque tinham este uso por mais firmeza das mesmas pazes. Porém, entendendo o modo de vida continente, que os Padres guardavam, ficavam espantados. Quasi incredulos nisto lhe chegava a perguntar pelos pensamentos e desejos dizendo: Nem quando vedes mulheres formosas não as desejais? A isto respondeu o Padre Nobrega mostrando-lhes umas disciplinas e dizendo-lhes: Quando vêm similhantes pensamentos e tentações acudimos com este remédio.
Ficaram com esta resposta mui espantados e tinham para si que os Padres fallavam com Deus e que lhes descobria tudo quanto pasava. Este Principal pregava aos da sua aldeia como aos do Rio de Janeiro, que com seu filho iam a matar os Padres, que os Padres eram muito amados de Deus; que si algum agravo se lhes fizesse, logo havia de vir mortandade sobre elles. Com isto os maus se intimidavam e o bom Indio lhes rogava pedissem a Deus por elle, já que os defendia e fallava em seu favor.
Tratando das pazes, dizia o bom velho aos Padres: "Antigamente fomos vossos amigos e compadres; mas os vossos tiveram toda a culpa das nossa guerras, porque nos começaram a saltear e tratar mal. Quando nós começamos a ter guerra com os Temiminós, gente do Mato Grande, os nossos confiados na multidão de nossos inimigos que eram muito mais do que nós e juntamente inimigos vossos, que tinham mortos muitos de vós outros, se metteram com elles contra nós; mas Deus ajudou-nos e pudemos mais."
Como padre Nobrega sabia ser tudo verdade, cada vez folgava mais de ter tomado entre suas mãos esta empresa desejando aplacar a ira de Deus contra os Portuguezes. Por isso, quando tratava com elles nesta materia dizia: "Porque sei que Deus está irado contra os meus pelos males que vos têm feito, sendo vos seus amigos, vi cá a fazer pazes com vós outros para aplacar a Deus e fazer que perdoa aos meus, os quaes da sua parte não hão de quebrar estas pazes; por isso trago cá minha cabeça e de meu irmão sem medo nenhum porque trato verdade; mas si vós outros as quebrais, entendei que a ira de Deus se ha de virara contra vós outros e ha Dizia estas cousas não como ameaças e medo, que lhes quizesse metter, si nao com tanta certeza e firmeza que parecia ter-lh'o Deus revelado. elles assim o criam. Portanto estes fronteiros nunca tornaram atraz, antes quebrando as pazes os do Rio de Janeiro e Cabo Frio, que era toda multidão dos Tamoyos, estes se foram apra o sertão, pelos não ajudar contra os Portuguezes. A prophecia do padre Nobrega ficou tão cumprida nos demias que toda aquella nação por temos foi destruida, excepto alguns que no Rio de Janeiro se tornaram christãos e os descendentes dos Indios destas aldeias. Esteve o Padre Nobrega com os Tamoios quasi dous mezes. Nelles dizia missa todos os dias. Neste tempo jámuitos do rio de Janeiro caminhavam para S. Vicente e estavam lá alguns dias: portanto parecendo já ao Capião que estvam as pazes fixas, mandou um bergantim ao padre Nobrega, em que pudesse retirar. Portanto consentiram os Indios que fosse só o padre Nobrega e que ficasse o irmão Anchieta, sabendo que em quanto consigo o tivessem não receberiam damno algum dos Portuguezes.veis de ser destruidos de todo".
Não havia acabar com o padre Nobrega ir-se e deixar alli o Irmão só; mas enfim á instancia do mesmo Irmão se embarcou e partiu. No caminho padeceu uma noite tal tempestade, que já todos se davam por perdidos e dous valentes mestiços tratavam entre si de levar o Padre á praia sobre uma escotilha; porém abrandandoa tormenta,no fim de Junho chegaram a S. Vicente. Com sua chegada se dava tal tractamento aos Tamoyos, que se deixavam estar lá muitos dias, como sem suas casas. O padre Nobrega levou ás aldeias dos Indios nossos discipulos, onde se abraçavam uns aos outros sem lembrança das guerras passadas. O mesmo se fazia em Piratininga, indo os Tamoyos do sertão muito seguros, tractando com muita paz com os Portuguezes e com os nossos Indios.
O irmão Anchieta ficou entre os Tamoyos, dizendo-lhe o padre Nobrega, que quantos meios se lhes offerecessem para se poder ir, todos lh'os deixava mandados. Deteve-se alli o Irmão quasi tres mezes, nos quaes lhes succederam cousas mui notaveis, que se contam em sua prodigiosa vida e não são d'este logar. Depois os mesmos Tamoyos o levaram para S.Vicente, ode chegou dia d S. Matheus. Estas tão proveitosas pazes quebraram depois os Tamoyos do Rio de Janeiro, do que se lehs originou sua destruição e o principio da cidade, que alli têm hoje os Portuguezes e do nosso Collegio, que nella ha. Aquele bom Indio, que foi amparo dos padres entre os tamoyos, em premio desta sua obra o fez Deus filho pelo batismo e veiu a morrer como bom christão.
Havendo em Portugal noticia do estado das cousas no Rio de Janeiro (...) mandou a Rainha D. Catharina alguns galeões e por capitão delles Estácio d Sá, sobrinho de Men de Sá, o qual sujeito em tudo ás ordens do tio fosse povoar o Rio de Janeiro e lançar de todo fóra os Francezes. nada mais desejava Men de Sá. avisou com presteza o sorinho e o despediu para o Rio nos princípios do anno de 1564, com regimento que tudo se regesse pelo conselho do padre Nobrega e lhe obedecesse como a elle em pessoa, tendo para si, que pelo grande ser que reconhecia no padre Nobrega, teriam as coisas o desejado acerto, como em verdade o tiveram.
Em chegando Estacio de Sá ao Rio, despediu um barco a S. Vicente a chamar o padre Nobrega. Logo se embarcou com dous companheiros e chegou ao Ri em Abril, sexta-feira da Semana Santa,á meia noite, com grande tempestade, onde correu evidente perigo de ser tomado dos tamoyos, que tinham já quebrado as pazes. Acudiu Deus neste aperto, porque amanhecendo viu entrar no porto a armada de Estacio de Sá, que o padre Nobrega imaginára estar dentro. Fôra o caso que Estacio de Sá cuidando pelo que lhe disseram um tamoyo, que a capitania de S. Vicente estava em guerra e que esta era a causa da tardança do padre Nobrega, se resolvêra o dia antes partir para ella e quiz Deus que o mesmo vento tempestuoso que meteu ao Padre Nobrega dentro do rio, obrigou os galeões a nella se recolherem. Em que bem se viu o favor que Deus fizer a todos, pois o Padre por não poder sahir para fóra, seria tomado dos tamoyos e Estacio de Sá faria a jornada debalde porque nem S. Vicente estava em guerra em lá acharia ao padre Nobrega.
Em dia de Paschoa se disse missa na ilha dos Francezes (já tomada pelos Portugueses), onde o padre Nobrega fez uma pratica a todos, em que procurou tirar-lhes o grande medo que tinham dos Tamoyos, pelo que delles tinha experimentado. Exortou-os a cofiar em Deus, cuja vontade era que se povoasse o Rio. Ficaram todos mui animados. Houve contudo muitas difficuldades em continuar a empresa, assim por falta de canoas sem as quaes nada si podia obrar, como de mantimentos; e de tudo estava o inimigo mui pujante como em paiz proprio. Portanto, assentaram ir-se a S. Vicente, para onde se partiram com boa viagem.
O padre Nobrega como tinha por mui certo ser vontade de Deus esta empresa e grandissima confiança, por não dizer certesa, que se havia de povoar o Rio, se poz contra todos em invencivel constancia, assim nas pregações como em praticas particulares. Ia muitas vezes a S. Vicente a outra villa, que distava dahi duas leguas, onde estava o Capitão-mór, a esforçal-o e animal-o, ajudando em tudo.
Não contente com isso, levou-o com muitos dos seus a Piratininga, onde havia mais abundancia de mantimentos: alli os proveu muitos dias com o de casa e mandou mensageiros aos Principaes do sertão, que ainda estavam de guerra, dando-lhes seguro da parte do Capitão-mór que viessem a fazer pazes. Elles vieram e as fizeram e tornou a ficar o serão quieto, como antes: d'onde se seguiu tambem virem muitos a receber o santo baptismo.
Com ajuda de Deus e zelo incansavel, acabou de vencer todos os impedimentos que difficultavam a jornada: ella se veiu a pôr em effeito no Janeiro seguinte de 1965, dia de S. Sebastião, a quem logo tomaram por Padroeiro da empresa. Nesta armada mandou o padre Nobrega a dous nossos, o Padre Gonçalo de Oliveira e Irmão Joseph de Anchieta. Nos principios de Março, lançou ancora junto as ilhas visinhas á barra do Rio de Janeiro, esperando até chegar a capitanea, que vinha mais devagar.
Houve nesta guerra cousas mui notaveis e toda ella foi cheia de prodigios e favores do ceu; em que em se via elejava alli Deus pelos Portuguezes, para desempenhar a seu servo. Podem vê-las os curiosos no livro terceiro da primeira parte da Historia de nossa Provincia do Brasil. Durante esta conquista mandou o padre Nobrega ao Irmão Joseph de Anchieta, que fosse tomar ordens á Bahia e elle em pessoa acudiu ao ri de Janeiro; aonde de S. Vicente de continuo fazia acudir com bastimentos e canoas, que de novo or sua agencia se armavam, em fórma que se póde bem dizer que o muito que alli tem o reino, se deve ao zelo deste santo Padre.
Havendo na Bahia muito miudas noticias de todas estas cousas por relação do padre Joseph de Anchieta, e que ainda que os sucessos eram prosperos de nossa parte, por ser muito o inimigo ajudado dos Francezes, a guerra se dilataria mais do que era conveniente, tomou resolução Men de Sá de passar com novo poder em pessoa e acabar de uma vez com o inimigo. Em 18 de janeiro de 1567 entrou com uma boa armada pelo rio. Logo dia de S. Sebastião deu com tal furia nos inimigos, que estavam bem fortificados, que os entrou e desbaratou e poz fim a tão portifiada guerra. Como não ha gosto prefeito, houve geral sentimento de perda de Estacio de Sá, o qual no conflicto foi no rosto ferido com uma frecha, e desta ferida veiu a morrer dahi a um mez. Era um homem de tanta christandade, que quando se transladaram seus ossos despediam de si um cheiro sauvissimo.
Achou-se nesta conquista o santo varão Ignacio de Azevedo, que viera de Portugal por Visitador do Brasil e passára a estas partes com Men de Sá e com grandes ancias de tratar ao padre Nobrega. Portanto, acabada a conquista, partiu para S. Vicente em companhia do bispo D.Pedro Leitão e dos padres Luiz da Grã, Provincial, e do Padre Joseph de Anchieta. Não é explicavel o gosto que houve entre estes santos homens. Andava o padre Nobrega mui gastado de trabalhos, annos e enfermidades. Alli assentaram entre si a fundação de um Collegio no Rio de Janeiro, conforme a vontade e dote que para isso dava El-rei D. Sebastião.
De S. Vicente voltou o Padre Visitador ao rio. levando consigo o padre Nobrega, que pois era pae daquella Provincia, o fosse do novo Collegio e alli como em doce remanso, grangeado com suas fadigas e orações passasse o restante de sua cansada velhice. Nesta viagem succedeu junto a uma paragem chamda Britioga, que sahindo os quatro Padres a terra em um batel para diserem missa, se chegou ao batel uma baleia assanhada e esteve a ponto de o metter no fundo; mas por orações de taes servos de Deus, a tempo que tinha a cauda levantada para descarregar no batel, se foi saindo sem lhe fazer mal.
Chegando ao rio, acaharam Men de Sá dando ordem á nova cidade. Deu sitio aos Padres para o Collegio no logar que escolheram e em nome d'El-rei, cuja era a fundação, lhes assignou dote para cincoenta Religiosos. Ficou o padre Nobrega por Superior deste novo Collegio e das outras casas, que havia para aquellas partes. Men de Sá deixando por capitão-mór a seu sobrinho Salvador Corrêa d Sá, lhe ordenou se governasse pelo conselho do padre Nobrega.
Andando o Padre dispondo das cousas do Collegio e ajudando a fundação da nova cidade, sentiu vir-se chegando seu ultima hora: padecia de muitas enfermidades com todas ellas não affrouxava em seu zelo.
Acudia aos Portuguezes com pregações, dirigia ao governador Salvador Corrêa de Sá. Junto com isto, teve cuidado de doutrinar os Indios, que da capitania do Espirito Santo tinham vindo á conquista. Fez que se ajuntassem em uma grande aldeia nas terras do Collegio, pelos ter mais quietos. Esta aldeia foi sempre em grande aumento e veiu a ser um valente defensão da cidade contra Tamoyos, Francezes e Inglezes.
Passou no Rio o padre Nobrega o restante de sua vida, que foram tres annos, sempre com muito trabalho; porque como era muito doente e a terra nova, na qual não se ousavam os moradores ainda estender com medo dos inimigos, havia muita falata do necessario para o sustento corporal. Os maiores mimos que tinha eram alguma esmola que lhe mandava o Superior de S. Vicente. E assim quiz Nosso Senhor delles carecesse de tudo abraçado com a cruz da obediencia, que alli o deixou falto do corporal, mas mui cheio de consolações espirituaes.
Sentindo elle muito antes que se lhe acabava a vida, assim o escreveu para S. Vicente. Quanto mais se lhe chegava o tempo, tanto mais se chegava a Deus, recolhendo-se com as meditações de Santo Agostinho e gastando muita parte do dia em colloquios e suspiros, porque era mui terno, devoto e facil nas lagrimas. Dois dias ou tres antes de seu fallecimento se andou pela cidade despedindo dos amigos e devotos da Companhia: perguntando-lhe elles onde queria ir, pois não havia no porto embarcação ? Respondia: À nossa patria celestial.
Sobrevieram-lhe umas grandes dôres causadas do sangue, que havia muito tempo se lhe não sangrava. Cahiu em cama, onde esteve um só ou dous dias. Logo se preparou com os Sacramentos que no tal aperto costumam receber. Chamou um Padre dando-lhe muita pressa, para logo o ungisse. Recebia a extrema unção, disse a um dos Padres que disesse logo missa, antes que elle expirasse e o outro ficasse para depois.
D'ahi apouco espaço de tempo, lançando um pouco de sangue corrupto pela bocca, deu seu espirito ao Senhor, em 18 de Outubro de anno 1570, dia de S. Lucas, no qual dia elle nasceu. O santo padre Anchieta tem que nelle entrára também na Companhia; mas o disse no principio desta vida, é o que consta dos livros das entradas dos noviços do Collegio de Coimbra.
Foi sua morte mui sentida, porque era como pae de toda aquella nova cidade do Rio de Janeiro, em cujo Collegio falleceu e na sua Igreja foi sepultado, entre as lagrimas de seus filhos e dos seus Indios e Portuguezes, que muito o amavam. Era este grande homem como um pae universal das christandades do Brasil, que viu copiosamente fundadas e feitas numerosas aldeias de gente bruta trazida dos matos , onde vivia a modo de feras e a viu cultivada com costumes christãos. ”
(Excertos do texto do P. Antonio Franco, na grafia original in Cartas Jesuíticas 1 - Coleção Reconquistando o Brasil, 2º ed., Belo Horizonte, Itatiaia; São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1988).
Coleção Reconquistando o Brasil, 2º ed., Belo Horizonte, Itatiaia; São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1988).
Retirado de http://www.itanhaemvirtual.com.br/Historia_Nobrega.htm

OBRA DE ARTE

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Amores na bela Capital Catarinense.