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domingo, 6 de julho de 2008

Eros Mítico

Dalva de Fátima Fulgeri

“Então no princípio era o caos; depois a terra de largos flancos, base oferecida para sempre a todos os seres vivos, e Eros, o mais belo dentre os deuses imortais, aquele que desequilibra os membros e subjuga, no peito de todos os deuses e de todos os homens, o coração e a sábia vontade.”
(Hesíodo, Teogonia, in: Enciclopédia de Mitologia Greco-romana, pág.32, v. I).


O Eros primitivo é uma força de natureza espiritual. É ele quem assegura a coesão do universo nascente. É o dominador, o elemento primordial, o liame que une os elementos entre si; princípio e fonte de todo impulso gerador. Sua força fertilizadora rege o destino de todo o universo.

Eros preside a mistura das essências primárias.
Eros é o desejo insaciável, desejo de tudo unir, de tudo conhecer, a via de acesso ao reino do perfeito equilíbrio. Figura como o agente que interfere na constituição do universo e do próprio mundo. Nesta perspectiva é um principio que exerce seu poder sobre os homens, força obscura e potente, poder saudável criador de virtude. Força que não tem origem por conter em si mesma o princípio de tudo. Elemento de união entre os mortais e os imortais. Sua natureza é ao mesmo tempo forma, sentido e símbolo impalpável. O Eros de raiz cósmica, esse Eros que invade e informa, é um conceito de valor contínuo e influente.
Aparentemente não há uma separação radical, e muito menos contraposição, entre o conceito de Eros e a phisis (natureza), tendo presente o espírito em que o grego compreendia essas naturezas. Aspectos de uma mesma força vital, física, espiritual e intelectual, na qual o elemento humano, sentindo-se imerso na natureza, anseia por desvendá-la e descobrir seus mistérios; uma ânsia que visa seu desejo de imortalidade. O Eros é essa força que a tudo une em uma mesma natureza, mesma dinâmica, pertencente ao mesmo impulso que faz com que as coisas perceptíveis e sensíveis busquem assemelharem-se às verdades eternas.
A concepção mítica do Eros, entretanto, sofreu grandes transformações através dos tempos. Filósofos e poetas atribuem-lhe pais: um o faz filho da Pobreza e do Recurso, outros de Zeus e Afrodite. Primitivamente, sua representação como princípio incriado figurava como pedras toscas, despidas de qualquer elaboração. Em época posterior, por sua associação com Afrodite, Eros perde seu caráter original e passa a ser representado como um menino travesso, caprichoso, tormento dos deuses e dos hímens; estando assim de ora em diante, inseparavelmente associado à Afrodite tanto no mito quanto nas artes.

“Todos, com efeito, sabemos que sem amor não há Afrodite. Se, portanto, uma só fosse esta, um só seria o amor; como porém são duas,é forçoso que dois também sejam os amores.
E como são duas deusas. Uma a mais velha, sem dúvida, não tem mãe e é filha de Urano, é à ela que chamamos de Urânia, a Celestial;a mais nova filha de Zeus e de Dione, chamamo-la de Pandêmia, a popular. É forçoso então que também o Amor coadjuvante de uma,se corretamente Pandêmio, o Popular,e o outro Urânio, o Celestial.” (Platão,Banquete,180d.e.).


Eros enquanto associado à Afrodite figura com um duplo aspecto: Um Eros Popular que representa o instinto irrefletido que tende a satisfação dos apetites sensuais. O outro aspecto, o Eros Celestial, é o que serve à verdade, ao bem e a perfeição do amado.
Afrodite nessa simbologia, enquanto manifestação pandêmica encarna o amor erótico em seu mais amplo significado, o próprio impulso amoroso, a infinitude do amor; tanto no sentido humano da procriação, da eternização do processo de perpetuidade da geração da vida humana, bem como o próprio sentido de atração universal dos seres!
Já a Afrodite Celeste ama as belas almas, o amante de caráter bom e constante. Um Eros que não compactua com o feminino, por isso não participa do mesmo apetite sensual do Eros Pandêmio. Uma ordem espiritual promotora da atração e geração universal, harmonia dos contrários que no amor habitam.
Enquanto associada a Eros, Afrodite seria a própria revelação do mundo enquanto amor. A presença infinita do amor universal, a universalidade das possibilidades de ser.
Nessa concepção, como genitora de Eros, Afrodite personifica a que da a vida ao amor, o sentido forte da geração, gênese transcendental atuando no universo físico como processo de criação material da vida, onde Eros figura como filho e súdito.
Eros é assim, o duplo, amor e paixão, inteligível e ininteligível sob o mesmo momento e aspecto. O apelo sensual da carne e a sobriedade calma dos instintos mais elevados. Atestando que não há amor despido de paixão, atração geração, corrupção; seja divina ou humana, sensual espiritual ou intelectual, há sempre a excelência e equilíbrio do ciclo vital que o amor preside.

Dalva de Fátima Fulgeri
Licenciada em Filosofia/Unisantos

http://www.paradigmas.com.br/parad05/p4.5.htm

Foto: A jovem se defendendo de Eros - Adolphe Bouguereau - Enciclopedia livre -Wikipedia

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