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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Apologia de Sócrates - Resenha do livro de Platão.


Pois é, não é de hoje que vivemos mergulhados em dúvidas e incertezas. Bem lá atrás, antes de Cristo (exemplo de julgamento histórico), o homem já se dispunha a pensar a possibilidade do julgamento ao próximo, já havia a chama do fervor à justiça e ao suposto poder de condenar à persona non grata.
Pensando neste assunto, ao ler matéria em jornal, sobre detentos que já poderiam estar em liberdade tentando se reabilitar, mas que pela justiça morosa, apodrecem em celas como ratos, devaneios vieram povoar minha cabeça nesta manhã.
Bom, mas este é assunto contemporâneo, “todo-mundo-sabe-que-todo-mundo-sabe”. Então, numa vã expectativa de tentar entender um pouco mais a nós mesmos, seres humanos, me remeti à Sócrates e senti que falando de seu julgamento, eu poderia, ao menos, dividir com vocês minha aflição frente a tantas verdades confusas, tantos erros sociais, e tantas injustiças.
Quando Começou
Há 399 a.C., Sócrates, diante do tribunal popular, é acusado pelo poeta Meleto, pelo rico curtidor de peles, influente orador e político Ânito, e por Lícon, personagem de pouca importância.
A Acusação
A acusação era grave: não reconhecer os deuses do Estado, introduzir novas divindades e corromper a juventude. O relato do julgamento feito por Platão (428-348 a.C.), a Apologia de Sócrates , é geralmente tido como bastante fiel aos fatos. É dividido em três partes. Na primeira, Sócrates examina e refuta as acusações que pairam sobre ele, retratando sua própria vida, procurando mostrar o verdadeiro significado de sua “missão”. Dirige aos homens palavras que contestam o enriquecimento sem virtude, afirmando que a riqueza deverá vir através da virtude.
Noutro momento de sua defesa, Sócrates dialoga com um de seus acusadores, deixando-o bem embaraçado quanto ao significado da acusação “corromper a juventude”. Demonstra que está sendo acusado por Meleto de algo que este mesmo não sabe ao certo o que significa.
Em nenhum momento de sua defesa - segundo o relato platônico - Sócrates apela para a bajulação ou tenta captar a misericórdia daqueles que o julgavam - linguagem de quem fala em nome da própria consciência e não reconhece em si mesmo nenhuma culpa.
“Parece-me não ser justo rogar ao juiz e fazer-se absolver por meio de súplicas; é preciso esclarecê-lo e convencê-lo.”
Talvez justamente por essas manifestações de altaneira independência de espírito, Sócrates foi condenado.
Como era de praxe, após o veredicto da condenação, Sócrates foi convidado a fixar sua pena.
Mas Sócrates, ignorando qualquer sugestão de pena mínima ou mesmo multas, se deixa condenar a morte.
Segunda parte da Apologia
“Ora, o homem (Meleto) propõe a sentença de morte… Que sentença corporal ou pecuniária mereço, eu que entendi de não levar uma vida quieta? Eu que negligenciei riquezas, negócios, postos militares, tribunas e funções públicas, conchavos e lutas que ocorrem na política…”
Então Sócrates não deixa saída para os juízes. Ou a pena de morte, pedida por Meleto, ou ser alimentado no Pritaneu, enquanto fosse vivo, como herói ou benemérito da cidade.
O Que Significa Morrer?
Essa é a terceira parte da Apologia que pretende ser a transcrição das últimas palavas de Sócrates dirigidas aos que o condenaram. Diz, gemendo e lamentando-se:
Não foi por falta de discursos que fui condenado, mas por falta de audácia e porque não quis que ouvísseis o que para vós teria sido mais agradável, coisas que considero indignas de mim, coisas que estás habituados a escutar de outros acusados.
Nesta altura, Sócrates começa a fazer comparações com a morte:
[...] Mais difícil que evitar a morte, é evitar o mal [...]
[...] A morte pode ser uma dessas duas coisas: “Ou aquele que morre é reduzido ao nada, e não tem mais qualquer consciência, ou então, conforme ao que diz, a morte é uma mudança, uma transmigração da alma do lugar onde nos encontramos para outro. Se a morte é a extinção de todo sentimento, assemelha-se a um desses sonos nos quais nada se vê, mesmo em sonho, então morrer é um ganho maravilhoso [...]”
[...] “Mas eis a hora de partimos, eu para a morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo, ninguém o sabe, exceto o deus.”
Mas o querido Sócrates teve de esperar trinta dias para sua execução, pois a cidade estaria em festa pela chegada de Teseu que vencera o Minotauro.
No livro Fédon, Platão descreve as conversações que, durante os dias de espera na prisão, Sócrates mantivera com seus discípulos e amigos.
Amigos lhe imploram que fuja em vésperas de sua execução, no que Sócrates responde:
“A única coisa que importa é viver honestamente, sem cometer injustiças, nem mesmo em retribuição a uma injustiça recebida.”
Que tal se nosso legislativo (todo político), tivesse como obrigação, ler e discutir “A Apologia de Sócrates”? Possivelmente eu não teria acordado hoje com pena dos encarcerados e injustiçados.

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OBRA DE ARTE

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