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sábado, 26 de junho de 2010

PRIMEIRO PERÍODO DA FILOSOFIA ANTIGA: ESCOLA ELEÁTICA

Elea está situada entre Roma e Nápoles. Pequena embora, foi palco da mais profunda escola pré-socrática, em vista do desenvolvimento que deu à doutrina do ser, portanto à Ontologia.
Tal como acontecia com a escola pitagórica, estabelecida em Crotona, a filosofia dos eleatas vem da Ásia menor, de onde continuavam a emigrar gregos, agora porque insatisfeitos com o domínio persa.
Xenófanes (c. 576-480 a.C.), fundador da escola eleática, veio de Colófon, da Ásia menor, como pouco antes para Crotona, Pitágoras de Samos. Como rapsodo, tivera trânsito fácil pelas cidades, radicando-se finalmente em Elea.
Suas idéias sobre a unidade do ser imprimem a orientação básica do sistema eleático. A multiplicidade é apenas uma representação dos sentidos.
A metafísica é a glória de Xenófanes. Por mais ligeiros sejam os conceitos enunciados, eles são especificamente metafísicos. A partir deles, os filósofos seguintes atingirão novas alturas.
A diversidade múltipla da natureza, ordenada por Xenófanes em água e terra, finalmente é reduzida a algo de eminentemente fundamental, atingido pela razão, - o ser.
Percebendo a unidade da natureza, intuiu Xenófanes o conceito do todo, simplesmente como um todo entitativo, que transcende à estreiteza dos elementos determinados pela particularidade. O ser se oferece como um conceito raciocinado, instituído por uma especulação abstrata, que se alteia acima das diferenciações sensíveis.
Este ser, o qual se qualifica como uno, eterno, imutável, infinito, também se diz Deus. A infinitude é na ordem da extensão material, o que resulta, portanto, em monismo materialista.
Combateu a concepção antropomórfica que se fazia de Deus:
"Não há Deus parecido com o homem. O todo vê, o todo ouve, porém não respira. Ele é ao mesmo tempo todas as coisas, inteligências, pensamento, eternidade" (D. Laércio, IX).
Os deuses não existem; eles têm a imagem dos homens, porque são os homens que os criam. Os trácios os fazem com olhos azuis, porque eles mesmos os têm azuis. Os cavalos, se pudessem pintar, os fariam como cavalos.
Parmênides (c. 540-470 a.C.), de Eléia, é reconhecido já na antiguidade como um sábio importante, a maior figura da escola a que pertenceu, talvez o mais profundo de todos pré-socráticos.
Platão, em O Sofista, o denomina O Grande Parmênides.
Sabe-se que deu leis aos seus concidadãos, o que significa haver ocupado posição de destaque em sua cidade e que era uma recente fundação dos jônicos.
Dos fragmentos que ainda restam de seu poema Da natureza, dois terços se referem à metafísica e um terço à física, num total de cerca de 6 páginas.
Tratou do ser como objeto da inteligência, do problema da mutação do ser (declarando-o imutável), da questão da unidade e multiplicidade do ser (decidindo-se pela unidade). Colocava assim os temas mais decisivos da filosofia geral; não se restringiu tanto quanto os seus antecessores aos problemas dos entes particulares da natureza.
O objeto da inteligência é o ser; e o objeto dos sentidos são as qualidades sensíveis. Esta distinção incisiva referente à especificidade do conhecimento se contrapõe ao sensismo, que se tornará o ponto de vista dos sofistas. Fazendo a metafísica do ser, Parmênides destaca a oposição deste ao nada: -o ser é, o nada nada é.
Em função a esta oposição discute o problema da mutação. Se algo se fizesse, o elemento novo teria de proceder, ou do ser, ou do nada. Ora, do ser não pode vir, porque o ser já é seu ser; o que se houvesse pois de tirar dele, já existe. Também não poderá vir do nada; este nada é, nele nada se podendo achar para tirar.
O problema se perenizou na filosofia. Heráclito contesta a imutabilidade, mas apenas apresenta o fato do devir. De futuro Aristóteles tentará rejeitar a afirmativa de que do ser nada poderá vir; acredita haver no ser aquilo que atualmente já é ato e aquilo que está em potência para ser. Opõe-se, portanto, contra si a doutrina do ser em ato, de Parmênides e a doutrina do ato e potência de Aristóteles.
Nos tempos modernos, Hegel tentará incluir o próprio nada na estrutura do ente, de tal maneira que o ente e o nada se combinam em síntese, chamada devir.
Continua ainda hoje o problema de Parmênides. Ainda que em nova forma, a doutrina de Sartre, afirmando o ato, sem a potência, é uma sobrevivência do eleaticismo. Mas é sobretudo nas doutrinas atomísticas que se dá o paradoxo, pois discutem as mudanças sem se advertirem do problema do movimento em si mesmo.
Não menos grave é a questão sobre a unidade e a multiplicidade do ente; a ela se aliam as perguntas conexas da infinitude e outras. Monismo e pluralismo dos entes, está ali uma problemática, dividindo entre si os filósofos de todos os tempos.

Importa ler Parmênides no seu próprio texto, ainda que fragmentário. Imaginou-se poeticamente que fora conduzido, depois de uma longa viagem, em carruagem conduzida por velozes corcéis, até junto dos portais do grande céu. Aproximando-se do trono da deusa, esta lhe ensinou sobre o assunto do ser:
"É preciso que conheças tudo, tanto o coração imperturbável da verdade bem rotunda, como as opiniões dos mortais, nas quais não reside a verdadeira crença... As aparências são um saber parente" (Frag. 1,25).
"Pois bem, eu te quero instruir sobre os quais os únicos caminhos da investigação que são pensáveis: o primeiro, o que é, é, não ser, não é; esta é a vereda da convicção. O outro: o não ser é; e o ser necessariamente não é; esta vereda, eu te digo, é totalmente impraticável. Pois não conheceria o não ente, nem o expressarias" (Frag. 2).
"Pois o mesmo é pensar e ser" (Frag. 3,1).
"É necessário dizer e pensar que o ente permanece; pois o ser é, o nada não é" (Frag. 6,1).
"Pois é impossível conseguir que o ser não seja; afasta, pois, teu pensamento deste caminho de investigação" (Frag. 7,5).
"Resta, então, um só caminho para o discurso: é. Há nele muitos sinais: que é ente ingênito e imperecível, é completo, imóvel e sem fim.
Não terá sido e nem será, pois é agora tudo de uma vez, uno, contínuo. Pois que nascimento lhe acharias? Como, de onde teria nascido? Nem do não-ente permitirei que digas ou penses. Porque não é nem expressável, e nem pensável que o é, seja como o não é.
Que necessidade teria de nascer, antes ou depois, se procedesse do nada? Assim é necessário que seja todo ou nada.
Tão pouco a força da verdade permitirá que do não-ser nasça algo. Por isso, a justiça não relaxa as cadeias, nem para que engendre, nem para que pereça algo, porém as mantém firmes.
O juízo sobre isto, a este respeito, é: é ou não é. Decidido está, como fora necessário, que um (caminho) é impensável e inexpressável (pois não é o caminho da verdade), em vista de que o outro avança e é verdadeiro. Como poderia, aliás, o ente perecer? Como poderia nascer? Se tem nascido, não é, nem mesmo é se houver de ser alguma vez. Assim, está extinto o nascimento e inacreditável a destruição.
Nem é tão pouco divisível, pois é todo homogêneo.
Nem é mais aqui, pois impediria fosse contínuo; nem é menos ali, pois tudo está pleno de ente.
Todo ele é contínuo, pois o ente toca o ente.
É imóvel entre o vínculo de poderosas cadeias; é sem começo e nem fim, pois o nascimento e a destruição foram afastados mui longe, rechaçados pela verdadeira crença.
Ele mesmo permanece e descansa sobre si mesmo, e assim residirá imutável ali mesmo. A poderosa necessidade o mantém nas cadeias envolventes, cercando-o inteiramente. Por isso não é permitido ao ente ser incompleto (indefinido), pois não é indigente; e se o fosse, de tudo careceria.
O mesmo é pensar e aquilo por o que é o pensamento. Pois sem o ente, em que ele é expresso, não encontrarás o pensar.
Não há, pois, o nada, ou será outro, que o ente, visto que o fado o encadeou para que permaneça inteiro e imóvel.
Por isso são apenas nomes, o que os mortais em sua linguagem têm como sendo verdade: nascer e morrer, ser e não ser, troca de lugar e alteração de cores resplendentes.
Sendo o seu limite o último, ele está completo por todos os lados, à maneira da massa de uma esfera bem redonda, desde o centro igual em equilíbrio. Não é nem maior e nem mais pesado aqui ou ali. Já que não é, nem o não-ente, que o pudesse impedir de ser homogêneo; nem um ente que tivesse mais de ente aqui, menos lá, porquanto é todo inviolável. Em sendo igual em todas as direções, encontra de igual maneira todos os seus limites" (Frag. 8, 1-49).
A física de Parmênides não deixa de ser menos subtil e oferece semelhanças com a dos Pitagóricos como elementos constitutivos das coisas o quente e o frio, correspondendo ao fogo e à terra.
"Destes dois princípios reduz o quente ao ente, o outro ao não ente" (Arist., Metaf. 987a 2).
A concepção cosmogônica de Parmênides é excepcional. Defendeu a esfericidade da terra e seu interior ígneo. O universo teria a terra como centro; em torno se formariam círculos sucessivos de fogo e terra, com sucessões, ora de fogo puro, ora de misturas.
"Foi o primeiro a demonstrar a esfericidade da terra e sua posição no centro do mundo " (D. Laércio, IX).
Notável é ainda a conceituação da lua como "luz noturna, em torno à terra, errante e com lua de outro" (Frag. 14) e "sempre olhando para os raios do sol" (Frag. 15).
Alcançados estes avanços especulativos e tais teorias científicas superavam os filósofos eleáticos de maneira extraordinária os antropormorfismos das cosmogônias religiosas.
Zenão de Elea (c.490-430 a.C.), se fez conhecido pelos seus sofismas, visando provar a doutrina da imutabilidade do ser. Filósofo de expressão grega nascido em Elea, Itália. Cronologicamente situado entre Parmênides e Melisso, foi também o segundo em importância da escola a que pertence, destacando-se mais que todos pela sua dialética e retórica.
Platão deu a um dos seus diálogos o nome de Zenão, como também a outro o de Parmênides.
No contexto do diálogo, Platão atribui a Parmênides a idade de 65 anos, enquanto a Zenão 40.
Como bom cidadão, opôs-se Zenão de Elea à tirania, razão porque foi morto por um tirano.

Doutrinariamente Zenão retomou o pensamento central de Parmênides, colocando o ser como objeto específico da inteligência.
O ser é visto pela inteligência como uno e imutável, ao contrário do que o observam os sentidos, os quais são subjetivos, ou seja, falsos. Demonstra-o dialeticamente Zenão mediante argumentos, que se fizeram conhecer por isso memo como os sofismas de Zenão.
Mencionando-os em sua Física, Aristóteles procurou dar aos mesmos uma resposta, com vistas a readmitir a multiplicidade do ser e seu movimento.
"O primeiro (argumento) é o da impossibilidade de se mover, em vista do móvel dever alcançar o meio, antes que o fim" (Física, 239b 12).
"O segundo é o chamado de Aquilles: o mais lento jamais será alcançado pelo que corre mais velozmente: antes é necessário que o perseguidor chegue de onde se moveu o fugitivo. Desta sorte o mais lento está sempre um pouco à frente " (219b 14-18).
"O terceiro diz que a flecha, ao ser posta em movimento, está imóvel. Decorre isto do fato, de que o tempo se compõe de instantes. Mas, se isto não for pressuposto, não haverá argumento" (239b 30).
"O quarto trata de elementos iguais que se movem em sentido contrário no estádio ao longo de outros elementos iguais, uns a partir do fim do estádio, outros do meio, com velocidades iguais: a consequência pretendida é a de que a metade do tempo seja igual ao seu dobro. O paralogismo consiste em se pensar que uma grandeza igual, com velocidade igual, se movimente num tempo igual, tanto ao longo do que está em movimento como ao longo do que está em repouso" .
Escreveu Zenão 4 obras, das quais restam apenas fragmentos, mas cujos títulos se conservaram: Discussões: Contra os físicos: Sobre a natureza: ...
Teve a escola eleata continuadores em Meliso de Samos (c. 485-425 a.C. 5) e outros, os quais tenderam a conciliações. O significado maior de Melisso como filósofo eleata é o fato mesmo de seu situamento no outro lado do mundo helênico, revelando a expansão das idéias de Parmênides. Nascido na Ilha de Samos, teve parte na vida política, como comandante da frota. Não se sabe todavia como teria tomado contato com as doutrinas da escola ocidental. Tratou de ajustar os extremismos do eleaticismo com a filosofia jônica, além de mudar alguns pontos de vista. Contra o ser rotundo de Parmênides, estabeleceu que o ser é infinito, tal como é infinito no tempo, ou seja eterno. Simplício se referiu a um seu livro, denominando-o Tratado sobre a física ou do ente (E L ( ( D V : : " J @ H B , D Â N b F , T H ³ B , D Â J @ Ø Ð < J @ H ).
Sem concessões consideráveis foi seguidora do eleaticismo a escola socrática menor de Euclides, em Megara (vd), frequentada inclusive por Platão. A filosofia deste frisa a imutabilidade dos arquétipos e menospreza o mundo sensível como sombra daquele.
Também o atomismo foi influenciado pela imutabilidade do ser eleático, ao estabelecer aos átomos como em si mesmos consistentes.
Mas foi, sobretudo, Aristóteles o herdeiro da filosofia do ser defendida pelos eleatas. Por acréscimo, definiu a Filosofia Primeira como tendo por tema o ser como tal. Quanto aos problemas do movimento e da multiplicidade, procurou manter os fatos, passando a explicá-los a partir do próprio ser.

Fonte: Fonte: Enciclopédia Simpoziohttp://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/novo/2216y013.htm#BM2216y018

Um comentário:

Thai Rampazo disse...

sou estudante de direito e estou no primeiro período, estou pesquisando sobre a escola eleática...encontrei seu blog e foi ótimo, me ajudou a esclarecer meu ponto de vista sobre esta escola tão diferente...obgs

OBRA DE ARTE

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Amores na bela Capital Catarinense.