Mariana Caminha
Foi pelos pensamentos de Cândido e de seu mentor, Pangloss, que conheci
Voltaire, e me encantei com a obra desse que é um dos ícones do Iluminismo.
O filósofo e escritor nasceu na
França e produziu ao longo da vida mais de duas mil obras, entre livros e
panfletos. Cândido, ou O Otimismo, um dos seus textos mais conhecidos,
era leitura obrigatória para calouros que, naquele ano de 1998, ingressaram no
curso de Letras da Universidade de Brasília.
A herança de Voltaire, no entanto,
não se resume a livros. Ele também foi autor de cartas de grande importância
histórica, mais de 20 mil. Nelas, o filósofo defende a liberdade individual,
critica os dogmas religiosos, prega a separação entre estado e igreja, entre
outras ideias avançadas para a época.
Muitas delas, sabe-se agora com
certeza, foram frutos do contato de Voltaire com a sociedade inglesa durante o
período de três anos em que morou no país, no final da década de 1720.
É o que revelam as 14 cartas
recém-descobertas por um professor da Universidade de Oxford, quando fazia
pesquisa em bibliotecas nos Estados Unidos.
Entre os documentos de maior valor
está um recibo no valor de duzentas libras, assinado por Voltaire, decorrente
de uma troca de favores entre o escritor e a família real inglesa.
Para especialistas, trata-se de uma
prova concreta do talento de Voltaire no que se refere ao trato social. Isso
porque o escritor veio para a Inglaterra ainda no início da carreira,
desconhecido portanto, embora com uma recomendação do embaixador inglês na
França.
Para outros, no entanto, o documento
é uma mostra do caráter duvidoso do filósofo, que para se fazer conhecer
uniu-se rapidamente aos ricos e poderosos ingleses, logo se infiltrando na
intimidade da realeza.
Quer fruto de uma inteligência
brilhante ou de um caráter oportunista, o fato é que as experiências britânicas
de Voltaire foram reunidas no livro Philosophical Letters on the English,
publicado primeiro em inglês (Voltaire era fluente na língua), e depois em
francês.
Quanto à descoberta das cartas pelo
acadêmico de Oxford, essa é parte fundamental para a conclusão de um projeto de
meio século de duração, elaborado pela Voltaire Foundation, que visa a reunir a
obra completa do autor em uma edição definitiva até 2018.
Será uma justa homenagem ao pai de
Cândido, personagem que costumava repetir "tudo vai pelo melhor no melhor
dos mundos possíveis"… E não é mesmo?
Mariana Caminha é formada em
Letras pela UnB e em jornalismo pelo UniCEUB. Fez mestrado em Televisão na
Nottingham Trent University, Inglaterra. Casada, mora em Londres,
de onde passa a
escrever para o Blog do Noblat sempre às segundas-feiras. Publicou, em 2007, o
livro Mari na Inglaterra - Como estudar na ilha...e se divertir
Blog do Noblat
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