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terça-feira, 8 de julho de 2008

A Décima Deusa - Safo com Alceo.




Ricardo Sérgio

Irremediavelmente, como à noite estrelada segue a rosada aurora, a morte segue todo o ser vivo até que finalmente o alcança...
Psappha - como assinava, no dialeto eoliano - foi a maior poetisa lírica da Antigüidade. Nasceu em Eresso, na ilha grega de Lesbos, por volta do ano de 612 a.C. (século VII). Ainda menina mudou-se para Mitilene, capital da lésbia e ativo centro cultural grego. Na capital, Safo estudou dança, retórica e poética, o que era, então, permitido só a mulheres da aristocracia. Em 593 a.C., juntamente com Alceu e outros cidadãos influentes, foi deportada para a cidade de Pirra (ilha de Lesbos) por conspiração urdida contra o ditador Pitacos. O ditador, temendo-lhe a escrita, condenou-a a um exílio mais distante, na Sicília.
No primeiro exílio, consta que Alceu lhe enviou um convite amoroso:

" Oh! pura Safo, de violetas coroada e de suave sorriso, queria dizer-te algo, mas a vergonha me impede."

Safo lhe respondeu:

"Se teus desejos fossem decentes e nobres e tua língua incapaz de proferir baixezas, não permitirias que a vergonha te nublasse os olhos - dirias claramente aquilo que desejasses".

Não se sabe se esta “paquera” de Alceu teve conseqüências. Mas, certo é, que ele lhe dedicou muitas odes e serenatas.

Safo não era dotada da chamada beleza grega - embora Sócrates a houvesse denominado "A Bela" –, pois, era baixa e magra, olhos e cabelos negros, e de refinada elegância.

Em Metilene, Safo montou uma escola para moças, onde lecionava poesia, dança e música - a primeira escola de aperfeiçoamento da História. E a mestra apaixona-se por suas alunas, que eram chamadas de hetairai (amigas) e não de alunas. Em especial, aquela que viria a tornar-se sua maior amante, Átis. Mas Atis apaixona-se por um jovem e, Safo, com ciúmes, dedica a amante os versos “À Amada”, considerados até hoje como um dos mais perfeitos versos líricos de todos os tempos (tradução de Castilho):

Ventura que iguala aos deuses,
Em meu conceito desfruta
Quem junto de ti sentada,
As doces falas te escuta,
Goza teu mago sorrir.
Quando imagino em tal gosto
É minha alma um labirinto;
Expira-me a voz nos lábios;
Nas veias um fogo sinto;
Sinto os ouvidos zunir.
Gelado suor me inunda;
O corpo se me arrepia;
Fogem-me as cores do rosto,
Como ao vir da quadra fria
Entra a folha a desmaiar.
Respiro a custo, e já cuido
que se esvai a doce vida!
Arrisquemo-nos a tudo...
Contra uma angustia sofrida
Tudo se deve tentar.

Diz a lenda (recolhida por Ovídeo) que Safo, já na idade madura, voltou a amar os homens. Existem duas versões: a primeira, é de que, apaixonada por um marinheiro chamado Faon e por ele desprezada, suicidou-se pulando, ao mar, de um rochedo da Leucádia. Na outra, Safo serenamente resignada com a sua sorte - segundo manuscrito achado no Egito - recusa um pedido de casamento:

"Se meu peito ainda pudesse dar leite e meu ventre frutificasse, iria sem temor para um novo tálamo. Mas o tempo já gravou demasiadas rugas sobre minha pele e o amor já não me alcança mais com o açoite de suas deliciosas penas."

A investigação moderna, porem chegou à conclusão que a suicida era uma homônima, igualmente de Lesbo, que foi famigerada prostituta de luxo e que viveu posteriormente. O certo é que não se sabe como, nem quando morreu Safo.

Sua poesia era considerada das mais sublimes. No entanto, devido ao conteúdo erótico, foi censurada na Idade Média por parte dos monges copistas, e sua obra (nove volumes) foi queimada pela igreja em Constantinopla, misturadas as de Anacreonte, no pontificado de Gregório VII. Só em fins do século XIX dois arqueólogos ingleses descobriram, por acaso, em Oxorinco, sarcófagos envoltos em tiras de pergaminho, num dos quais eram legíveis uns seiscentos versos de Safo. Isso é tudo o que restou de sua obra poética. Safo passa por ter inventado o modo mixolidiano, que se baseia no [si], e que se tornou o genuíno modo eólio.
Dizem que há nove musas, que falta de memória! Esqueceram a décima, Safo de Lesbos.
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Autor: Sergio Ricardo
Publicado Originariamente no Recanto das Letras em 01/04/2008Código do texto: T926790
Obs.: O título foi mudado para atender às necessidades do Blog, mantendo-se o conteúdo.
Safo de Lesbos, Poesia Completa. Rio de Janeiro, 1990.
FONTES, J.B. Eros, A Poesia de Safo de Lesbos. São Paulo: Estação Liberdade, 1991.
MALHADAS, D. & MOURA NEVES, M.H. Antologia de Poetas Gregos de Homero a Píndaro - Araraquara: FFCLAr-UNESP, 1976
SAFO DE LESBOS. Trad. P. Alvim. São Paulo: Ars Poetica, 1992.
S. Caticha Ellis, Safo, versos imortais; in, http://kplus.cosmo.com.br
Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe.


















2 comentários:

Celeste Carneiro disse...

Su,
como sempre, muito refinado, como tudo o que você faz!...
Parabéns, o blog está muito bom de se ler e gosto da cor clara.
Que os Deuses do Olimpo e o Deus do Céu continuem lhe inspirando.
Beijos,
Celeste Carneiro

Anônimo disse...

Suely: Parabéns pelo blog. De muito bom gosto. As matérias excelentes. Caso lhe interesse, dê uma passadinha pelo blog Leitora Crítica www.leitoracritica.blogspot.com de Gerana Damulakis, crítica literária. Ela publica minhas crônicas. Aplausos para você e um beijo.

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Amores na bela Capital Catarinense.