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domingo, 12 de setembro de 2010

TERCEIRO PERÍODO DA FILOSOFIA ANTIGA: O PLATONISMO PÓS-SOCRÁTICO.

Neoplatonismo

Desenvolveu-se o neoplatonismo a partir da cidade de Alexandria, sobretudo com Amônio Saccas (c.175-242). Será levado para Roma por Plotino (204-269), onde leciona também Porfirio, o Fenício (233-c.300), este autor da famosa Eisagogé, novos desenvolvimentos dados à doutrina das categorias de Aristóteles.
A importância do neoplatonismo está em haver dado apoio intelectual às religiões orientais e finalmente ao próprio cristianismo, sobretudo na forma concebida pelo neoplatonismo de Agostinho de Hipona.

Amônio Saccas (c.175-242).
Filósofo de língua grega, com atuação em Alexandria. Seu nome Saccas, que geralmente se interpreta como carregador de sacas, pode entretanto ser um toponímio egípcio; neste caso nos informaria seu país de origem, como sendo o Egito. Inicialmente cristão, aderiu depois ao helenismo. Foi mestre de Plotino entre os anos 232 a 243. Dado como fundador da Escola Neoplatônica de Alexandria.
Muito genericamente terá ensinado o que de maneira geral significa o neoplatonismo: a interpretação trinitária da divindade e por via de processão, isto é, colocando em sequência gerativa os princípios eternos já estabelecidos por Platão.
Considerando que os neoplatônicos variaram muito entre si, não podemos atribuir a Amônio Saccas nenhuma doutrina particular deles. Atribuiu-se, entretanto, a Ammônio a declaração de que Platão e Aristóteles coincidem no essencial. Nada deixou escrito.

O neoplatonismo judaico (a que se associará depois o neoplatonismo cristão) resultou da fusão do platonismo e do judaísmo formulada em Alexandria, onde os intelectuais judeus tinham contato com a cultura helênica. Entre o 2-o e 3-o séculos traduziram do hebraico para o grego a Bíblia, e que se fez conhecida como a Septuaginta. Escrevem os judeus livros religiosos em grego. São de Alexandria alguns livros em grego do Velho Testamento, como o Livro da Sabedoria, acolhidos pelos cânon católico. Neles é evidente a melhoria dos conceitos teológicos mais depurados dos grosseiros antropomorfismos bíblicos dos textos bíblicos mais antigos.

Aristóbulo, que uns põe a nascer pelo ano 200 a.C. e outros pelo ano 100 a.C., é o mais antigo filósofo judeu, conhecido todavia apenas através de fragmentos deixados pelos cristãos Clemente de Alexandria e Eusébio de Cesaréia.
Ensinou Aristóbulo a transcendência da divindade, o que é platônico. Admitiu seres intermediários, o que também é neoplatônico, mas sobretudo neopitagórico e oriental. A revelação divina é peculiar sobretudo dos mais purificados. Imaginou que Platão houvesse recebido de Moisés, mais antigo, a filosofia, tese que o judeu Filon repetirá, e que os cristãos Taciano, Justino e Clemente de Alexandria também difundirão. Aceita, como os pitagóricos, a revelação à personalidades mais purificadas e santas.

Filo de Alexandria (c. 20 a.C. - c. 40 d.C.), viveu exatamente no tempo em que atuava Jesus (c.6 a.C. - 30 d.C.). O cristão Eusébio de Cesaréia escreveu:
"Nos tempos deste Imperador (Tibério) floresceu Filo, varão tido em máxima estima, não somente por muitos dos nossos, senão também dos gentios..." (História eclesiástica, II, 5).

A atuação de Deus, não podendo ser direta, como dizia o neoplatonismo, se faz através de um Logos, que é o termo com que Filo denomina as forças intermediárias entre Deus e a matéria. Estas forças se afiguram, ora como propriedades de Deus, como idéias e pensamentos, ora como mensageiros e demônios (=anjos), executores das ordens de Deus.

O Logos é concebido por Filo como algo um tanto separado dele, quase como segundo Deus. Filo compara o Logos à palavra (ou verbo); tem esta num só tempo fisionomia sensível e significação inteligível, de onde ter contato simultâneo com Deus e a matéria.

Ocorre assim que, ao mesmo tempo que nascia na Judéia o cristianismo, como um movimento de crenças singelas, já se formava em Alexandria o embasamento racional de sua teologia trinitária. De ecletismo em ecletismo, haveria de encontrar três séculos depois uma formulação mais coerente para a concepção de Deus com pluralidade de pessoas.

Plotino (c. 205- c. 270).
Filósofo de expressão grega, n. em Licópolis, Egito. Estudou em Alexandria, com Amônio Saccas, de 233 a 244, a cujas doutrinas neoplatônicas aderiu e cultivou, fazendo-se o principal filósofo do neoplatonismo, ao mesmo tempo que asceta e celibatário.
Plotino se integrou, em 244, na expedição romana do imperador Gordiano na guerra de conquista da Pérsia. Mas Gordiano foi assassinado na Mesopotâmia e Plotino se refugiou em Antioquia, transladando-se em 245 para Roma, e ali fundou uma escola. Celibatário, por último se retirou para uma localidade próxima, na Província de Campânia, onde faleceu.

O sistema neoplatônico de Plotino abandonou as idéias reais de Platão, situando estes exemplares arquétipos na mente do Logos divino. Desdobrou o ser em sucessões, que emanam na forma de uma trindade divina, - o Uno, o Logos, a Alma do mundo. Esta última, finalmente, faz emanar as almas humanas e a matéria.

O tom gnosiológico de Plotino é o do racionalismo platônico, segundo o qual o pensamento opera independizado da experiência. Nesta forma racionalista o neoplatonismo se retransmitiu aos primeiros cristãos em geral, notadamente a Agostinho e ao agostinianismo medieval. Na oposição está o racionalismo moderado de Aristóteles, com a experiência como ponto de partida da inteligência, que a partir dela, mediante abstração, sobe aos universais. A peculiaridade do sistema de Plotino é, pois, o seu monismo panteísta por emanação. O pleno existe antes dos graus menores de perfeição. O nosso conhecimento percorre o caminho inverso; vai dos graus menores de perfeição, subindo de retorno ao conhecimento do pleno.

Por acréscimo, o neoplatonismo de Plotino inseriu a doutrina da emanação mediante processões entre os seres eternos. Enquanto Platão havia estabelecido 3 categorias de seres eternos não interdependentes (Ideías reais, Demiurgo, matéria eterna), os neoplatônicos os colocam num processo de sucessão.

O neoplatonismo de Plotino se reduz à escola neoplatônica de Alexandria, porque obedece ao esquema trinitário ali desenvolvido anteriormente por Filo e Numênio. O situamento de Plotino em Roma difundiu amplamente no Ocidente romano, inclusive na África latina, a filosofia neoplatônica.

Na ordem das processões desenvolvidas por Plotino, no início está o Uno (tò Hén) . Entre as características do Uno se destacam a bondade e a total transcendência em relação à matéria. Esta, no extremo oposto, não é nem una, nem boa.

Do Uno emana o Lógos, com caráter de pensamento hipostasiado, substancializado. Nesta primeira processão eterna ocorrem as idéias, já contendo a dualidade, peculiar ao conhecimento.

A Alma do Mundo procede do Logos, o que também acontece desde sempre. Até aqui temos o modelo neoplatônico aproveitado pelos cristão para montar uma doutrina racionalizada da Trindade das pessoas divinas. Na continuação do processo emanativo proposto por Plotino, a Alma do Mundo gera as almas individuais e respectivamente a matéria.

Consiste a moral e a ascese no esforço de retorno desde esta última irradiação material do ser. A degradação se inverte em reunificação.

A doutrina da transcendência radical não permitiu a criação direta do mundo material, porque o Uno não poderia tocar a extremidade inferior. A idéia da intermediação é também visível na doutrina cristã, segundo a qual o Lógos (como João denomina a Jesus) é o intermediário entre a humanidade e a pessoa do Pai Eterno. É também ao Lógos que se atribui a sabedoria que governa o mundo. É ainda ao Espírito Santo que se incumbe a santificação. Numerosos temas particulares são tratados por Plotino. A alma existe antes da vida presente e se conserva depois. O belo, já definido por Platão, pelos estóicos e tantos outros, recebe especial tratamento de Plotino, cujo texto se tornou por isso apreciável, a Enéada I,6. Situa o belo na proporção das partes. Encontra-se mais nos objetos vistos, mas também está nos objetos dos demais sentidos, bem como na ciência e na virtude.

Proclo (Proklos) (410-485).
Filósofo de expressão grega, nascido em Constantinopla. Filho de um advogado da Lícia, foi por isso denominado também o Lício. Pelos 20 anos veio para Atenas, estudando sob Plutarco, da Academia, e logo pelo seu sucessor Siriano, a quem se referiu com admiração (Teologia platônica I,1). Em 437 o mesmo Proclo assumiu a direção da Academia. Esta aliás não demoraria de ser fechada repressivamente em 529 pelo imperador Cristão, Justiniano, de Constantinopla.
Foi Proclo o último grande representante do neoplatonismo pagão, que então acabava de se substituir pelo neoplatonismo cristão, dos patrísticos.
Inspirado embora em Plotino, desenvolveu uma nova forma triádica de processão emanativa. O primeiro momento é o repouso, o permanecer (moné). O segundo produz o sair (próodos). O terceiro é o retorno (Epistrofé).
Em cada nível da processão, mesmo no primeiro, se dão derivações dos deuses da mitologia clássica.
Com referência à matéria, que em Plotino deriva da alma, em Proclo já deriva do uno inicial e infinito.
Notadamente sistemático, Proclo se tornou o escolástico do helenismo e um precursor da escolástica medieval, como comentador que foi principalmente dos livros de Platão, e ainda de Aristóteles, do qual foi o editor .
Obras:
Comentários aos diálogos platônicos República, Parmênides, Timeu, Alcibíades I (os quais se conservam ainda hoje), Fedon, Górgias (desaparecidos); Comentários aos Oráculos caldaicos (desaparecidos); Teologia platônica (didaticamente similar a um comentário); Elementos de teologia (Stoicheíoosis theologiké), sistemático, impresso 1-a vez 1618; Elementos de física (sistemático).
Ensaios menores e de circunstância, dos quais alguns subsistem apenas em traduções medievais de Guilherme de Moerbeke:
Sobre dez dúvidas a respeito da providência (De decem dubitationibus circa providentiam); Sobre a providência e a sorte (De providentia et fato); Sobre a permanência do mal (De malorum subsistentia).
Ainda entre as obras perdidas: Dos símbolos míticos; Da teurgia; Contra os cristãos; Teologia órfica; harmonia de Orfeo; Pitágoras; Platão, etc. As edições modernas completas atingem cerca de 6 volumes.

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