Um dia, a criança singelamente olhou para sua mãe e perguntou:
O que você quer ganhar no dia das mães? A mãe ajoelhou-se para poder olhar nos seus olhinhos, segurou delicadamente em seus ombros e respondeu, beijando-lhe a testa: todo ano, e para sempre, você.
E, apesar do amor estar presente naquela relação, aconteceu um erro de comunicação: o filho entendeu que a mãe o queria apenas no Dia das Mães.
O triste episódio propiciou a separação e, conta a tradição, que a mãe, desde aquele dia, viu o filho distanciar-se dela para reaproximar-se uma vez por ano, no Dia das Mães. Mas, nesse dia o filho lê em seu rosto um contentamento tão grande que se lhe afigura que a alma da mãe canta em seu corpo senil e o canto transborda preenchendo os sulcos profundos do seu rosto, amaciando-lhe a pele, suavizando e dando leveza a seus movimentos. Ele a vê rejuvenescida e forte.
Nesse dia, apenas nesse dia, o filho ouve as orações que do coração da mãe, sobem, diariamente, aos céus, agradecendo a vida, as oportunidades e o tempo de convívio com ele. Compreende, então, que é para festejar a sua presença que a mãe atualiza as riquezas potenciais do seu ser modificando o cenário que os abriga; por ele, ela transforma medo em coragem, tristeza em alegria, dor em esperança, funeral em festa.
Por ele, sim, seus olhos, numa explosão de luz, fertilizam os solos sagrados das consciências que povoam a terra; por ele, do coração da mãe a paz germina e se alastra abarcando outros corações, antes ressequidos, que então se abrem em flores perfumosas; é, ainda, por ele que sua boca semi-aberta denuncia os dentes límpidos que libertaram a língua para entoar a música da liberdade de falar e cantar. É por ele que a mãe sincroniza o belo, o justo e o verdadeiro!
O filho a observa e se observa no intrigante ciclo da vida. Em sua plenitude, a mãe se esquece para dedicar-se a ele que cumpre o sagrado destino dos recém-nascidos: chorar, rir, reclamar atenção, cuidados. Ele é o centro de suas atenções. Ela é a central do seu Amor. Não importa o quanto estejam separados fisicamente, sempre estarão juntos pela própria natureza do Ser que cada um é. São partes inseparáveis um do outro, não poderão cumprir suas vidas na Terra desvencilhados. Amadurecido com a descoberta, desta vez, é ele que se inclina para beijar a mãe. À medida que se aproxima em silêncio, ele ouve que o seu silêncio fala alto do desejo de parar aquele instante para sempre.
Mas, o Tempo, como em todos os tempos, sem compreender a importância do momento, apressa o passo, traz a noite e encobre o dia.
O sol da manhã encontra a mulher orando na beira da praia. O filho se foi, mas novamente, ela o gestará com serenidade e esperança de que um dia o Dia das Mães se eternizará em todos os dias .
Aí, sim, com ele, será feliz para sempre!
Um comentário:
Que o amor de nós transborde.
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