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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

REFLEXÕES SOBRE A AMIZADE

Suely Monteiro
Sou naturalmente acolhedora e isto faz com que as pessoas desabafem comigo seus segredos, seus problemas, suas mágoas. Inúmeras vezes eles são tão graves que me limito a ouvir com atenção sem pretensão de ajudar.
Problemas financeiros, com vizinhos, com colegas de trabalhos, cônjuges, filhos e outros eram muito constantes. Mas, ultimamente as queixas tem sido em relação à solidão, ao vazio na alma, a falta de amigos.
Ontem, uma pessoa me disse que possuía quase tudo para ser feliz: bom emprego, bela casa, dinheiro para viajar e atender aos seus desejos de comprar, mas nada disso adiantava, pois o seu sonho de consumo não estava à venda: a amizade.
Eu, que até então,  nunca havia parado para pensar sobre a amizade disparei a perguntar mentalmente: podemos situar a amizade na lista de bens de consumo? O que significa ser amigo? O que uma pessoa precisa fazer pelo outro para ser considerada amiga? Amigo é o que abre mão de si para agradar o outro? É aquele que vive fazendo graças? É o que empresta dinheiro, carros, celulares etc.?
No livro “Ética a Nicômaco” Aristóteles discorre sobre três espécies de amizades: amizade segundo o prazer, segundo a utilidade e segundo a virtude.
Vamos ver o que significa isto?
A amizade segundo o prazer é aquela amizade cujo elo se dá pelo prazer de estar juntos, ou seja, amigos que fazem rir contando piadas, que são engraçados que deixam tudo “correr frouxo” e estão sempre de "bem com a vida". Os amigos segundo o prazer fazem programas juntos, vão às danceterias, aos bares, futebol etc.
Compartilham todos os prazeres, e nesse tipo de amizade não se leva em conta o caráter. O foco da relação está na quantidade, na qualidade e na durabilidade do prazer que se proporcionam mutuamente.
O segundo tipo de amizade é a amizade segundo a utilidade. E, ainda desta vez o caráter da pessoa não conta na seleção. Conta o que ela pode receber.
Eu conheci duas pessoas que se relacionavam com base nessa amizade.
Elas trabalhavam juntas, faziam supermercados juntas, iam ao cinema juntas e, aos domingos a mais jovem sempre almoçava na casa da mais velha.
Elas não eram namoradas. Tinham interesses mútuos: uma tinha carro e não gostava de dirigir, a outra adorava dirigir, mas não tinha dinheiro para comprar carro. Uma cozinhava divinamente, a outra não sabia fritar um ovo e por aí vai...
Finalmente, a amizade segundo a virtude é baseada na bondade já desenvolvida na pessoa, ou dizendo de outra maneira, é a amizade despretensiosa entre pessoas que se buscam por que têm em comum os mesmos ideais, os mesmos gostos, o mesmo padrão de conduta. O bem manifestado nessa relação é originário da evolução alcançada. Tem poder de atrair pelo ser que é.
Diferentemente das duas primeiras que acabam tão logo tenham conseguido realizar seus objetivos, a amizade com base na virtude é duradoura, pois está fundamentada em valores que não são perecíveis e que se realimentam constantemente.   Ela  é fruto do auto-desenvolvimento, do aprimoramento da alma, além de ser essencial à vida.
Esta breve reflexão me faz concluir que para termos amigos verdadeiros, pelo menos segundo Aristóteles, precisamos desenvolver a virtude, elevar o padrão de nossos pensamentos, de nossos comportamentos e de nossas ações e atos pessoais e socias.
Não significa virar santo.  Significa sermos, pelo menos, éticos.

ARTE


William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)
A cena Retrata Homero no Monte Ida seguido por  cães e guiado pelo criador de cabras Glaucus.
Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/mylinks/viewcat.php?cid=0&letter=H&min=560&orderby=titleA&show=10

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Filosofia Política


                     Poder, Violência e Política                    
Jairo Salles
O presente ensaio é uma breve reflexão sobre as visões de Hannah Arendt e Max Weber sobre as intrincadas questões que envolvem as relações de poder, violência e liberdade. Tudo realmente dependerá do poder por trás da violência ? Como identificar estes fenômenos e compreendê-los como são? Como examinar suas raízes e sua natureza ? O que é Poder ? Quem detém o poder? Qual o papel da filosofia política ?

Realmente no momento histórico em que vivemos, temos condições no século XXI  reformular estas perguntas e avaliar de forma mais clara onde nasce a violência e que correntes profundas movem o iceberg destes fenômenos,  onde nascem,  quais suas faces e sobre o que exatamente se discute?

"Portanto, fiquemos alerta - alerta em duplo sentido. Desde Auschwitz nós sabemos do que o ser humano é capaz. Desde Hiroshima nós sabemos o que está em jogo.”(Viktor E. Frankl).

Hannah Arendt levanta a questão da violência no campo da política referindo-se a relutância geral em tratar este tema como um fenômeno em seu próprio direito.  Discutindo o fenômeno do poder depara-se com um consenso político de que a violência nada mais é do que uma flagrante manifestação de poder, citando C. Wrigth Wills que diz  que “Toda política é uma luta pelo poder; a forma básica de poder é a violência” que reforça a definição de estado de Max Webber: “ domínio do homem pelo homem por meio da violência legítima, isto é, supostamente legítima.”  Arendt friza a estranheza de tal conceito que iguala poder político com “organização da violência”, o que só faz sentido se aceitarmos a estimativa de Marx de estado como um instrumento de opressão nas mãos da classe dominante.

Se violência e poder estão relacionados precisamos compreender o que entendemos por poder, se é propriamente um instrumento de domínio, e domínio, logo deveria  assim sua existência “ao instinto de dominação”.  Arendt cita Alexander Passerin d´Entrèves, como o único autor de seu conhecimento que diferencia as duas coisas: “ Temos que decidir quando , e em que sentido “poder” pode ser diferenciado de “força” para averiguarmos de que forma o fato de usar força dentro da lei altera a qualidade  da força em si e nos sugere uma imagem totalmente diferente das relações humanas” já que a “força pelo próprio fato de ser qualificada, deixa de ser força”.  Porém sinaliza que mesmo nesta distinção não se chega a raiz da questão.

As descobertas sobre um congênito instinto de dominação e uma inata agressividade do animal humano foram precedidas por afirmações filosóficas muito semelhantes. Sabe-se que o instinto de submissão, um desejo ardente de obedecer e ser dominado pelo mais forte é tão proeminente na psicologia humana quanto o desejo de poder, e politicamente, talvez segundo Arendt, seja mais relevante, e certamente estão interligados.

Citando John Stuart Mill “Submissão pronta a tirania” não é causada sempre por “extrema passividade” , uma forte indisposição a obedecer é freqüentemente acompanhada igualmente por uma forte indisposição para dominar e mandar.

Leva esta reflexão tomando como ponto de partida o campo da tradição da experiência democrática da cidade-estado Atenas onde se tinha em mente um conceito de poder e lei que essencialmente não identificava poder na relação ordem-obediência ou lei com ordens.  Inspirados neste, os revolucionários do século dezoito, procuraram constituir uma forma de governo onde o domínio da lei repousaria sobre o poder do povo, tencionando por um fim ao domínio do homem sobre o homem, infelizmente ainda enfatizavam a obediência – as leis em vez de aos homens; sendo que o que realmente queriam era apoio as leis com o aval da coletividade.  Este apoio do povo empresta poder às leis, e em respeito à obediência difere da “incondicional obediência” que um ato de violência pode exigir.  Uma das diferenças que Arendt sinaliza entre poder e violência neste sentido é de que o poder necessita de quantidade, enquanto a violência que é baseada em implementos pode ocorrer sem isto., mesmo um controle legalmente irrestrito da maioria, pode ser terrível na supressão dos direitos das minorias e eficaz na sufocação de dissensões sem lançar mão de violência, e ainda assim não significa que sejam a mesma coisa.

A forma extrema de poder para Arendt é Todos contra Um, a forma extrema de violência é Um contra Todos, e esta não é possível sem instrumentos.

Arendt sinaliza que o mais crucial dos problemas políticos sempre foi e é a questão de “Quem domina Quem?” e Poder, fortaleza, força, autoridade, violência, apenas palavras consideradas sinônimos servindo para indicar os meios pelos quais o homem domina o homem.  Quando cessarmos de reduzir assuntos políticos a questão de domínio aparecerão ou será resgatada  em  sua autêntica diversidade os termos dados originais no campo dos assuntos humanos.

Para Arendt, Poder corresponde à capacidade humana não somente de agir, mas de agir em comum acordo. O poder não pertence à alguém, sim a um grupo e sustenta-se enquanto este grupo permanece unido.  Dizer que alguém está no poder, quer dizer que este alguém está autorizado por um certo número de pessoas a atuar em nome delas. Poder é uma realização, para Arendt a política não é um meio, é um fim, e necessita de constante atualização, sob este ponto de vista de poder, significa o agir de forma plural, no campo na palavra e da decisão.

Afirma que jamais existiu um governo baseado exclusivamente nos meios da violência. Mesmo o mandante totalitário, que tendo como maior instrumento de domínio a tortura precisa de uma base de poder.  Mesmo homens sozinhos, sem apoio de outros nunca terão suficientemente poder para usar a violência com sucesso.

O poder está realmente na essência de todo governo, a violência não. O poder não necessita de justificação, pois é inerente a existência de comunidades políticas, e necessita sim de legitimidade.  A violência poderá ser justificada porém jamais será legitima e sua justificação perderá plausibilidade conforme seu fim pretendido se esvai no tempo.

Enfim, apesar de fenômenos distintos, poder e violência aparecem juntos com freqüência.  Não basta dizer que não são a mesma coisa.  Poder e violência se opõem para Arendt, onde um dominar totalmente o outro se extinguirá. Quanto maior a violência, menor o poder e vice-versa. A violência aparecerá onde o poder estiver em perigo, e se permitirem que ela siga seu caminho sem controle, ela destruirá o poder.  Enfatiza ainda que pensar no oposto da violência como não violência é uma redundância.  A violência pode sim destruir o poder, mas será totalmente incapaz de criá-lo.

Diferente de Hannah Arendt, para Max Weber, a violência poderá no campo político e somente nele ocorrer de forma legítima precisamente para evitar que haja violência em outros campos, cita Trotski que diz  que “Todo o Estado se funda na violência”. Weber afirma que naturalmente que a violência não é nem o meio normal nem o único meio de que o Estado se serve, mas é realmente o seu meio específico..e há intima relação do Estado com a violência.  Assim diz, que o Estado seria a comunidade humana que, dentro de um determinado território (tendo este como elemento definidor “domínio”), reclama (com êxito) para si o monopólio da violência física legítima,o próprio estado só permite o uso da violência quando legitimada por ele próprio  Para Weber  em nenhuma outra forma de poder (pedagógico, econômico...) haverá possibilidade desta legitimação da violência.

Falando em liberdade, enquanto para Weber a liberdade ocorre no campo político quando os governantes não estão submetidos à lei, por exemplo no estado de sítio (só assim o poder é decisivo), como no período da Revolução Francesa, a liberdade tem espaço enquanto a revolução se dá, em contrapartida para Hanna Arendt a liberdade é o exercício da política, partindo de um pressuposto consensual a partir do campo da opinião, viver politicamente é aceitar que se vive neste campo que é o da liberdade, da possibilidade do plural, que também inclui o discenso.

Webber fala sobre motivações internas de justificação para a relação de domínio do homem sobre o homem suportada pelo meio da violência legitima, sendo:

Em primeiro lugar a legitimidade tradicional, do costume consagrado, com validade imemorial para determinado grupo, como a que exerciam os patriarcas de regimes antigos.

Em segundo lugar; a autoridade do encanto, do carisma, a entrega puramente pessoal e a confiança, igualmente pessoal na capacidade e heroísmo que um indivíduo possui.  É a autoridade que tiveram os profetas, os heróis, os guias, chefes guerreiros.

E por último, a legitimidade baseada na legalidade dos preceitos legais e na competência objetiva, ou seja fundada sobre normas racionalmente criadas, ou seja, na orientação para uma obediência à obrigações legalmente estabelecidas.

Weber não é defensor claro de nenhuma destas três formas de legitimidade.

De toda forma vivenciamos em nossa civilização como citados anteriormente, fatos tão contundentes  nos alertando para a urgência de refletirmos sobre poder, violência, liberdade, delimitarmos isto , atuar sobre e evoluir no campo das relações. 

Será realmente possível esta organização no campo plural?  A realização não de um poder sobre, mas de um poder com, que dê continente a uma resignificação destes conceitos e caminhe em direção a uma organização política que vá além da corporiedade e contemple o que todos buscamos juntos.

É o retrato de uma realidade chocante quando Arendt fala, citando o exemplo de um incidente em uma universidade alemã, que trago agora para o âmbito de uma realidade atual e mais abrangente, sobre a recusa da maioria em tomar partido e atuar em algumas decisões, porque  ninguém tem vontade de fazer qualquer outra coisa pelo status quo além de levantar o dedo para votar.  Há o desejo de mudança, porém poucas atitudes que tragam concretude neste campo, tomando por modelo nosso contexto sócio-político atual, entre os que realmente desejam mudanças, percebe-se a fraqueza de investidas intermitentes e tímidas em relação a realidade que queremos mudar e revela-se tão clara a partir destas reflexões.

Já estabelecemos os limites, e apesar da possibilidade de invocarmos o paradigma da “situação extrema” na tentativa de avançar da teoria para a prática neste campo, retomo a observação de Karl Barth, citado por Giorgio Agambem em “ O que resta de Auschwitz”:

De acordo com o que podemos observar hoje – escrevia ele em 1948 – pode-se afirmar com certeza que, até no dia depois do Juízo Final, se fosse possível, cada bar, ou dancing, cada grupo carnavalesco, cada editora ávida de assinaturas e de publicidade, cada grupo de politiqueiros fanáticos, cada reunião mundana, assim como cada cenáculo cristão agrupado em torno de sua imprescindível xícara de chá, e qualquer sínodo eclesiástico, procurariam reconstruir da melhor forma possível e continuar como antes sua atividade, sem serem absolutamente afetados nem anulados, sem ficarem seriamente modificados de ontem para hoje.  Nem os incêndios, nem as inundações, nem os terremotos, nem as guerras, nem as epidemias da peste, nem sequer um eclipse do sol ou qualquer outra coisa que se queira imaginar podem levar-nos por si mesmos à angústia verdadeira e, posteriormente conduzir-nos, talvez, à verdadeira paz.”

Há necessidade de compreender que o oposto à paz, não é o conflito, mas como já preconizava o milenar Livro das Mutações Chinês há 3000 anos, a partir do hexagrama exatamente oposto ao hexagrama da paz, que seu oposto é a estagnação.  O conflito, o bom combate sim é um caminho para a paz, e certamente no campo da opinião, da decisão, da pluralidade em que Hannah Arendt situa o poder, pode-se estabelecer o poder com e a partir deste atuar sobre os conflitos sem  a necessidade do uso da violência, sem dúvida haverá debate, que pode evoluir ao diálogo, e o que não encontrar diálogo há de encontrar convivência pacífica.  Na arena mundial, o olhar sobre a história e a “situação extrema” já carregam material suficiente para saber o que queremos e o que não queremos como humanidade, podemos seguir aniquilando os oásis dispensadores de vida, alimentando tudo o que generaliza as condições do deserto ou nesta mesma arena havendo boa vontade, ação e bom combate encontrar o campo é fértil para dissolver a separatividade, a inércia e a estagnação.

De que forma a filosofia poderá contribuir com a política, para além da mera teorização acerca dos fenômenos ?  Quais são as ferramentas disponíveis ? Insistindo que o passado já nos legou mais que o suficiente e conforme Arendt vivemos hoje em um mundo em que nem mesmo o senso comum faz mais qualquer sentido, e percebo isto como muito atual, isso significa que, o que Hannah Arendt mesmo afirma, o problema com relação à filosofia e a política, ou a necessidade de uma atualizada filosofia política da qual pudesse surgir uma nova ciência da política, está novamente e cada vez mais em pauta.


Bibliografia:

1.      A política segundo Max Weber: conceito de política; ética e política -Texto: A política. In: O político e o cientista. Trad. port. Lisboa, 1979, pp.7-41; 73-99.(Há outras traduções, inclusive aquela, mais acessível, da Editora Martin Claret

2.      .O conceito de poder segundo Hannah Arendt: poder e violência - Texto: Da violência (excerto). In: Crises da República. S. Paulo, Perspectiva, 1973, pp.166-133.Subsídio/comentário: DUARTE, André. Modernidade, biopolitica e violência. Acessível em:http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/1558,1.shl. Auxiliar: ARENDT, H. Filosofia e política. In: A dignidade da política. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1993, pp.91-115;

3.      ARENDT, Hannah. Sobre o deserto e os oásis. Trad. port. de S.A In:  LEIS, H.R. & ASSMANN, S.J. Críticas minimalistas. Florianópolis, Cidade Futura, 2007.;
 AGAMBEN, Giorgio O que resta de Auschwitz. O arquivo e a testemunha. Trad. port. Selvino Assmann. S. Paulo, Boitempo, 2008, pp. 9-17 (apresentação de Jeanne M. Gagnebin), e pp..19-48, e pp.165-169

domingo, 9 de outubro de 2011

ARTE



CAMINHADA PELAS TRILHAS DA ARTE
Suely Monteiro
                     A primeira vez que vi O Grito, do norueguês Edvard Munch, eu achei horrível. Tive uma péssima impressão e imaginei se alguém teria coragem de comprar e, em caso afirmativo, pendurar numa residência uma obra com um aspecto tão infeliz.
                    Impressão pior eu tive do quadro Construção Mole com Feijões Cozidos, do pintor espanhol Salvador Dalí. Eu estava acostumada a um tipo de arte mais representativa do ideal de beleza grego. Nas poucas visitas que fiz aos museus europeus eu me deixava enternecer diante daquelas obras gigantescas, perfeitas. Não visitava outros salões e estilos.  Estava satisfeita.  Não despertara, ainda, para o universo imenso e diversificado que é o mundo da Arte. Agia como o peixinho que, por nunca ter saído do lago, imaginava ser ele o centro do mundo. Eu não conhecia e, portanto, não sabia “ler” os vários dialetos da alma.
             Um dia eu estava fazendo fisioterapia, com a janela aberta e de repente olhei para o céu muito azul com nuvens brancas. Relembrei meus anos antigos quando deitava na grama com minhas irmãs e, juntas, ficávamos lendo o grande livro de desenho de Deus. Comovida, desviei os olhos para a floresta (moro próximo à mata atlântica) e, desta vez, observei que o Desenhista das nuvens fazia desenhos na floresta e que estes eram muitas vezes torcidos, de cores fortes, com traçados variados, tamanhos distintos e alguns muito feios conviviam de maneira harmoniosa com outros muito bonitos. Nesse instante comecei a pensar no significado do feio e do belo, na importância do diferente, e na minha ingenuidade pensei que essas diferenças na natureza podiam sim refletir os diferentes momentos “psicológicos” do Criador.
                          Hoje, passados muitos anos, me vejo escrevendo sobre o Expressionismo como uma arte que reflete um momento especial da humanidade, seu estado psicológico e que, neste sentido, algumas vezes se reveste de uma deselegante e chocante beleza.
                           Assim pensando, olho novamente os quadros de Munch e Salvador Dalí e não sinto o mesmo impacto. Consigo ler as cores fortes, as formas deformadas, contorcidas e desesperadas. Consigo entender um pouco o sentimento que animou os artistas enquanto pintavam suas dores, suas visões do mundo e suas maneiras de reagir aos fatos.
                            Nietzsche que estudou profundamente a cultura grega, fala que a arte se desenvolveu da dicotomia entre os aspectos apolíneo e dionisíaco que permeavam o mundo cultural grego. Mas o que significa isto?  De maneira sucinta e apressada eu diria que Apolo era a representação grega do ideal do Belo e Dionísio, a representação da força da natureza em sua mais pungente forma. 
Em O Grito o artista deixa vir à tona essa força poderosa que irrompe abruptamente de sua alma. Ele não tenta esconder a angústia sob máscaras, ao contrário, revela-a em sua plenitude. Os traços e cores fortes, as formas deformadas podem sim serem vistas como o esforço que a natureza das coisas faz para chegar à superfície, a vontade de se impor à vida, típico do caráter dionisíaco.
O Grito é um pedido de ajuda? 
É um lancinante choro de desesperança ? É um dialeto da revolta?
               Para mim pode ser tudo isto, pois este quadro, tanto quanto o quadro Construção Mole com Feijões Cozidos, de Salvador Dalí, suscita em mim muito mais perguntas do que apresenta respostas. 
             Todavia, do quadro de Dalí, a morte, parece-me, salta, deixando seu aspecto lúgubre ressaltado pelo quase total monocronismo em que se expressa. Na minha visão, ao contrário do que ocorre na obra de Munch, a pulsão de vida, no dizer freudiano, esvaiu-se da figura desguarnecida no quadro de Dali, como se mais do que um pressentimento, ele tivesse antecipado e transferido pare esse quadro, os horrores que a guerra civil acarreteria mais tarde ao seu povo, causando morte, fome e muito desespero. A dor psiquica de Dali é uma antevisão da dor que sua gente enfrentará numa luta fratricida. O quadro, desse ponto de vista, não poderia  ser diferente.

Fonte das Imagens:
http://fazendohistoriaa.blogspot.com/2009/08/construcao-mole-com-feijoes-cozidos.htm


terça-feira, 27 de setembro de 2011

E por Falar em Rock in Rio...

Tenho ouvido muitas críticas às  últimas edições do Rock in Rio e, em especial, à atual.
Não sou especialista em música, mas gosto de ouvir.
Gosto de ficar por dentro desse fantástico universo, embora não me arrisque a enfrentar a loucura de um movimento desse porte nem se me pagarem muito dinheiro.
Assim, bisbilhotei um ou outro programa de TV, assisti alguns clips de artistas que eu conhecia de outros carnavais, quero dizer, de outros  Rock in Rio. Busquei informações sobre as novidades e selecionei para representar o maior show de música que o Brasil produz, aquele que considero  sempre irrepreensível no estilo elegante de fazer shows: Elton John. Fiquem com ele, ouçam Rocket Man e depois me contem!
  

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sonhos


Eu estava ansiosa com tantas atividades em andamento que resolvi largar tudo e, por uns instantes, fechar os olhos e seguir Akira Kurosawa  nos seus Sonhos dentro da indescritível beleza dos “delírios” de Van Gogh.  Veja que belo!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A ARTE DE SALVADOR DALI.


A semelhança entre a figura de Narciso e a imagem da mão de pedra e do ovo leva-as a se fundir numa espécie de imagem dupla ."

Dali decidiu pintar o instante da transformação de Narciso em flor .Na parte esquerda do quadro , um jovem ajoelhado mira o próprio reflexo nas águas .
A medida que o expectador olha para essa imagem , decodificando a complicada pose dos joelhos e dos braços , vai ficando evidente que ela tem um formato exatamente igual à imagem da parte direita , que mostra uma mão de pedra que segura um ovo de onde nasce um narciso . Uma vez percebida essa forma , tendo a vista percorrido toda a superfície da tela , torna-se difícil retornar a Narciso sem rever involuntariamente , projetada sobre seu corpo , a imagem da pedra segurando o ovo . É o seu destino . A punição ocorre enquanto o espectador vê a pintura . É o expectador o responsável pela metamorfose de Narciso.

Fonte:
http://nanamada.blogspot.com/2007/06/arte-e-psicanlise-freud-e-salvador-dali.html

domingo, 18 de setembro de 2011

Filme Histórico





Sr.Carlos Murilo, primo de JK, faz a entrega da medalha ao professor da UnisulVirtual Charles Cesconetto


Uma foto registra a reação de um dos personagens políticos mais emblemáticos da históriado Brasil ao ler a manchete do jornal: “Cassado JK”, em letras maiúsculas. Diante da notícia, em 1964, Juscelino Kubitschek decidiu sair do país e se mudar para a França.

Esse período da vida do ex-presidente que construiu Brasília, antes registrada por poucas imagens e restrita a memória de amigos e conhecidos, é tema do documentário “JK no exílio”, produzido e dirigido pelo coordenador do curso de Tecnologia em Multimídia Digitalda UnisulVirtual, Charles Cesconetto.

O pré-lançamento do filme ocorreu na cidade de Diamantina (MG), onde nasceu JK, dia 12 de setembro, data em que completaria 109 anos. No evento, Cesconetto recebeu a medalha JK, que foi instituída em 2005 e se destina a premiar o mérito cívico de personalidades e entidades que tenham prestado serviço de excepcional relevância à coletividade do Município, do Estado e do País.

O diretor considerou a medalha um prêmio pelo filme e a dedicou a toda a equipe, além de dividi-la principalmente com Carlos Alberto Maciel, idealizador do documentário, e a Maria Alice Gomes Berengas, secretária de JK na ocasião do exílio e principal fonte de informações.

O filme de 51 minutos começou a ser rodado em 2008 e foi finalizado no fim de 2010. Mostra cenas na capital francesa, no Rio de Janeiro e em Brasília e traz depoimentos inéditos de pessoas próximas a JK, como o jornalista Carlos Heitor Cony e a filha Maria Estela Kubitschek.

Personalidades como a escritora Maria Maria Adelaide Amaral já deram depoimentos sobre a produção: “JK no Exílio é um documentário brilhante e sensível sobre uma fase sofrida e praticamente desconhecida na vida de Juscelino Kubitschek”, afirmou ela.

O lançamento oficial do filme ocorre no próximo domingo, 18, no Museu Nacional, em Brasília.

Sinopse: Em 1964, depois de ter seus direitos políticos cassados, Juscelino Kubitschek teve que seguir pelos caminhos do exílio. Este episódio, um dos mais dramáticos em sua vida, é aqui reconstituído a partir dos relatos de amigos, parentes e, principalmente, por meio do testemunho de sua secretária, Maria Alice, exilada até hoje. Cenas únicas de JK no exílio, recuperadas nos arquivos franceses, fotos e cartas nos proporcionam uma viagem no tempo. Este documentário é uma homenagem a JK e à sua fiel secretária no exílio.


Fonte: Site Unisul Virtual acessado em 17/09/2011.
www.unisulvirtual.com.br

sábado, 17 de setembro de 2011


Lógica da exclusão I - Deus mora na gramática.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

POESIA

JOEL E CARMITA

Charles Fonseca



Teus anos já são sessenta
De casados sob o amor
Baluartes contra a dor
Sois exemplo para quem entra

No doce convívio casal
No drama do que é humano
Ser mais que ter cada ano
Juntos até o final

Desta vida que de abrolhos
Que também é de ventura
Vossa herança é a pura
Vivência, abrem-nos olhos.

FOTOGRAFIA

MEUS PAIS COM OS NETOS
NO DIA EM QUE FIZERAM 60 ANOS DE CASADOS.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

AS VANTAGENS DE ESTUDAR LÓGICA.

Há duas vantagens principais conferidas pelo estudo da lógica. Primeiro, o indivíduo com conhecimento de lógica tem mais facilidade em organizar e apresentar suas ideias. Ele distingue entre o essencial e o não essencial, usando raciocínio claro e coerente para transmitir suas conclusões às outras pessoas. O uso da lógica na pesquisa facilita a fundamentação nas conclusões das investigações, nos dados obtidos, aumentando-se assim tanto a inteligibili­dade do relatório quanto a credibilidade das conclusões. Além disso, a lógica ajuda o indivíduo a aprimorar seu raciocínio, ao refletir sobre suas ideias.
Segundo, a lógica facilita a análise das ideias apresentadas por outros. O não iniciado frequentemente se perde em argumentos complexos e, mesmo em casos mais simples, confunde as premissas e as conclusões, rejeitando ou aceitando argumentos através de reações não bem refletidas. Não questiona­mos a naturalidade nem a importância de reações emocionais em diversas situações, inclusive como elementos importantes na argumentação. Às vezes, os sentimentos, emoções e percepções subjetivas de indivíduos devem ocupar um lugar central na argumentação. Muitas vezes, porém, a maneira pela qual se resolve questões reflete uma influência excessiva e negativa do envolvimento psicológico do indivíduo, o que pode levar a posições irrefletidas e distorcidas.
O principiante de lógica frequentemente contesta ideias não fundamentais num argumento e questiona casos apresentados para servirem apenas como exemplos ilustrativos que poderiam ser perfeitamente substituídos por outros, sem afetar basicamente a estrutura do argumento. Como no jogo de xadrez, o iniciante não tem uma visão clara da estrutura do jogo e do significado dos movimentos do outro, atacaiïdo peças protegidas e deixando de enxergar os pontos fracos – fazendo o que o grão-mestre enxadrista Bobby Fischer cha­mava de “empurrar os toquinhos” -, o neófito em argumentação deixa de compreender a estrutura subjacente às afirmações dos argumentos, tratando cada afirmação como uma
ideia isolada.
O pensador com experiência em argumentação, entretanto, reduz as ideias ao seu essencial, sabendo que, muitas vezes, um discurso de meia hora pode ser resumido em 5 ou 6 frases que “captam” aquilo que o falante argu­mentou. Quem tem essa capacidade terá muito mais facilidade em debater as ideias apresentadas e, se discordar de algumas delas, saberá refutá-las ao invés de atacar cegamente o argumento todo de uma vez.
Artigo do Livro Senso Crítico, do dia-adia às ciências humanas. David W Carraher. Ed Cengage Learnin, retirado do blog  

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Reflexão sobre o Sentir e o Existir.

Suely Monteiro

Curiosamente ao  refletir sobre o sentir e sua importância  fundamental para o existir humano, me vejo de volta ao passado, ao tempo em que o homem possuía somente rudimentos de inteligência.
Observo o quanto o sentir era fundamental para ele que deveria abrigar-se de todos os perigos naturais das regiões agrestes em que vivia.
Seu corpo era seu termômetro. Através dos sentidos -  instrumento maior do seu corpo-,  ele ouvia e identificava o  tamanho da tempestade que se aproximava.
Reconhecia a fera que deveria ser abatida apenas pelo reconhecimento de suas pegadas.
Por seus sentidos ele sabia os dias.  Sabia o momento certo para sua cria vir à luz, sabia o momento de plantar  e de colher.
Seus sentidos eram guias seguros para o enfrentamento das grandes distâncias. 
Toda a inteligência dos sentidos era utilizada por ele.
Com o decorrer do tempo, as formas físicas foram aperfeiçoadas, o corpo sutilizado e a inteligência desenvolvida somaram para superar os sentidos em importância.
O homem  passou a pensar os sentidos muito mais do que a utilizá-los. 
A inteligência criou instrumentos que foram suprindo suas necessidades e ultrapassando o desempenho dos sentidos para a sua proteção, sua segurança, sua sobrevivência. 
As máquinas, os computadores, os carros e tantas outras construções da modernidade abafaram os sentidos, que foram esquecidos, adormecidos,  adormecendo o corpo.
Um corpo adormecido é similar a um corpo sem vida, um  corpo morto. Por isto, é necessário acordar os sentidos, esses velhos companheiros  de jornada. Realinhá-los com a inteligência em papel de igualdade, para que eles possam ajudar na condução da vida com mais equilíbrio, mais sensações e mais vitalidade.  Nossos olhos, nossos sensores de tato, nossas percepções sensoriais do mundo são nossos mapas que refletem o outro o nos dão a dimensão de sua importância na nossa formação.
Sentir o outro é reencontrar-nos no mais íntimo de nós mesmos. Através do outro   identificamos o modelo de nós mesmos e através da nossa aceitação do outro construímos com base no modelo refletido.
Sentir o corpo, reconhecer o belo, admirar o novo não se faz somente com a razão, com a inteligência, mas, também, com a força anímica dos sentidos. 
A virtualidade  moderna  não pode dispensar os sentidos; precisa revivê-los, dar-lhes importante status próprios, redefinindo seus papéis para evitar que no futuro, homens cada vez mais fragmentados,  se psicotizem e se transformem em monstros perigosos.

domingo, 4 de setembro de 2011

Filosofia da Ciência

A filosofia da ciência consiste no estudo da natureza da própria ciência, entendendo-se por natureza os métodos, conceitos, pressuposições e o seu lugar num esquema geral de disciplinas.
Esta vertente filosófica divide-se, sumariamente, em três domínios:
a) o estudo do método, da natureza, dos símbolos científicos e da sua estrutura lógica;
b) classificação e definição dos conceitos da ciência; e o
c) estudo dos limites das várias ciências com o objectivo de especificar as relações entre elas.
Nos últimos anos, surgiram outros problemas como o das relações sociais da ciência, ou seja, a sua relação com a sociedade do momento, em termos políticos, laborais, artísticos , religiosos ou morais.


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Se vc  for o autor, queria se identificar que farei a referência.
grata.
Suely

OBRA DE ARTE

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Amores na bela Capital Catarinense.